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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A EA no Itamaraty, a Era dos Absurdos, censura o passado até o século 18 - livro sobre Alexandre de Gusmão

 Excesso de zelo do presidente da Funag, Roberto Goidanich, resultou numa censura absurda: a de um prefácio falando do século XVIII, apenas porque era assinada pelo embaixador Ricupero. Ou seja, os mentecaptos no comando do Itamaraty não seguem sequer as recomendações de Machado de Assis, que dizia que na avaliação de uma obra, deve-se concentrar na obra e esquecer o autor.

Diga-se, também, por precisão, que não foi o chanceler acidental quem fez a censura, pois ele sequer chegou a tomar conhecimento de que prefácio tinha sido vetado pelo presidente da Funag, um capacho do capacho. Obviamente, o chanceler acidental teria vetado igual, mas o zeloso guardão da pureza ideológica atuou preventivamente, para seu chefe censório não tivesse de exercer o veto (e sob risco de ser demitido, provavelmente). Dois paspalhos!

O subtítulo da matéria, aliás, está completamente errada: Ricupero não é desafeto de EA; é o contrário. Ricupero está onde sempre esteve, defendendo uma política externa compatível com os interesses do Brasil. Quem virou casaca e se aliou aos entreguistas, os que alienaram a soberania do Brasil a uma potência estrangeira, foram os aloprados bolsolavistas e o chanceler capacho, o que faz com que ele se volta contra todos os que criticam a diplomacia subserviente, servil, alinhada ao Império. 

Paulo Roberto de Almeida


LIVRO VETADO PELO ITAMARATY CHEGA ÀS LIVRARIAS EM FEVEREIRO

Escrita por diplomata, obra traz prefácio de Rubens Ricupero, desafeto de Ernesto Araújo

Época | 9/1/2021, 10h

O livro sobre a vida do diplomata Alexandre Gusmão que teve a publicação vetada pelo Itamaraty chegará às livrarias em fevereiro, pela editora Record.

Alexandre de Gusmão: O estadista que desenhou o mapa do Brasil foi escrito pelo embaixador Synesio Sampaio Goes Filho.

O livro tinha previsão de ser lançado pela Fundação Alexandre Gusmão, braço de estudos do Itamaraty.

No entanto, em 2019 a publicação foi vetada, após Goes Filho incluir um prefácio escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington, crítico da atual política externa brasileira e desafeto de Ernesto Araújo.

Após a negativa, o autor teve de procurar um selo comercial.

O livro conta a história de Alexandre Gusmão, diplomata do século XVIII, que foi secretário de D. João V e é considerado um dos patronos da diplomacia brasileira.

Gusmão atuou em negociações como a do Tratado de Madri, que definiu os domínios da América do Sul entre portugueses e espanhóis.

https://epoca.globo.com/guilherme-amado/livro-vetado-pelo-itamaraty-chega-as-livrarias-em-fevereiro-24828394

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Funag (não o IPRI) lança Cadernos de Política Exterior n. 8 - cenas de censura explícita

Leio a seguinte nota no boletim de avisos do Itamaraty, mais conhecido como "Bola do Dia": 

FUNAG - Lançamento - Cadernos de Política Exterior do IPRI número 8
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) lançou os Cadernos de Política Exterior do IPRI número 8, disponível para download gratuito no portal da FUNAG na internet. A publicação conta com dez artigos, de autoria do ministro de Estado das Relações Exteriores, do embaixador Alberto da Costa e Silva, do embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, entre outros.

O que eu teria a dizer sobre isso? 
Uma só palavra: CENSURA.
Por que? 

O IPRI, numa iniciativa lançada quando da diretoria do embaixador José Humberto Brito Cruz, cinco anos atrás, deu início à publicação dos Cadernos de Política Exterior, semestral, e foi assim de 2015 até o primeiro semestre de 2018.
(En passant, informo que foi no número 6 dos Cadernos, segundo semestre de 2017, que foi publicado o artigo possivelmente impulsionador da carreira do chanceler atual, chamado "Trump e o Ocidente"; ele era mais um ensaio de história das ideias do que propriamente um artigo sobre a política externa do Brasil, mas como não tínhamos um Conselho Editorial – que teria provavelmente vetado esse artigo, por introduzir derivações religiosas num texto que deveria ser, em princípio, científico –, eu, como Editor dos Cadernos não me opus que ele fosse publicado, ainda que achasse que a maior parte dos diplomatas fosse estranhar um texto que incensava Donald Trump como "salvador do Ocidente.)

Mas, continuo. No segundo semestre de 2018 eu havia deixado o número 8 preparado para ser publicado. Só não o foi porque houve uma demanda extra por certas publicações – inclusive um volume inteiro de discursos do então presidente Michel Temer – e o dinheiro acabou. Ficou então o arquivo desse número perfeitamente preparado para envio à Gráfica tão pronto houvesse o novo orçamento, de 2019, ou então algum complemento relativo a "restos a pagar" de 2018.
Já no início de 2019, ainda como Diretor do IPRI fui literalmente "congelado" em minhas atividades já inscritas na agenda do primeiro semestre, e com as atividades também a publicação do Cadernos 8 ficou congelada.
Passou-se mais dois meses, fui devidamente exonerado do IPRI, e o Cadernos 8 continuou congelado.
Ufa! Oito meses de mexe daqui, mexe dali, e finalmente o Cadernos 8 vem a público, mas não o que eu tinha preparado, relativo ao segundo semestre de 2018, correspondendo portanto ao governo anterior.
O que a nova administração fez foi censurar o passado, e fazer um número 8 como se ele pertencesse a este governo, o que provocou, portanto, uma ruptura na sequência cronológica da revista.

O link para consulta ao número 8 é este aqui:
http://funag.gov.br/biblioteca/index.php?route=product/product&product_id=976
Mas, o ano de edição, que deveria ser o segundo semestre de 2018, agora passou a ser 2019:
Ano de edição2019
Agora vamos ao que interessa: o que ficou, o que entrou, o  que saiu.

Cadernos de Política Exterior: o que era o n. 8, o que ficou
Cadernos de Política Exterior - Ano IV, N. 8 – Segundo semestre de 2018
O que ocorreu? o que mudou? o que sumiu? o que entrou?
Cadernos de Política Exterior - Ano V, N. 8 -
2019
Apresentação, Os editores
Supressão
Não consta Apresentação
1. Trial and error: why Brazil needs a grand strategy - Marcos Degaut
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo do Ministro de Estado (discurso)
1. Globalismo: uma visão a partir do pensamento de Nietzsche - Ernesto Henrique Fraga Araújo
2. Vinte anos da Ata de Brasília: o papel da diplomacia presidencial na resolução do conflito entre Equador e Peru - Ricardo dos Santos Poletto
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo do embaixador Alberto da Costa e Silva
2. A África no Brasil - Alberto da Costa e Silva
3. A observação eleitoral como mecanismo de melhoramento e consolidação da democracia na região americana - Gerardo de Icaza
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo de diplomata de carreira
3. Diretrizes para Difusão da Língua Portuguesa pelo Brasil no Exterior - Bruno Miranda Zétola
4. O direito de voto no exterior - Luíza Lopes
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo do embaixador Carlos Márcio Cozendey
4. O pedido de acessão do Brasil à OCDE: onde estamos - Carlos Márcio Cozendey
5. O Senador Epitácio Pessoa na Conferência de Paz de Paris: Os caminhos do "César de Umbuzeiro" até Versalhes - Marcílio Toscano Filho
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo de diplomata de carreira
5. Brasil e União Europeia nas negociações agrícolas da OMC: uma insólita parceria - Emerson Coraiola Yinde Kloss
6. Inteligência Artificial, Paz e Segurança: Desafios para o Direito Internacional Humanitário - Eugênio Vargas Garcia
Artigo preservado
6. Inteligência artificial, paz e segurança: desafios para o Direito Internacional Humanitário - Eugênio Vargas Garcia
7. O direito internacional dos conflitos armados como retaguarda jurídica de forças estatais no combate à criminalidade no Brasil - Eduardo Bittencourt
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo de especialista estrangeiro
7. Tribunal Penal Africano? A conflituosa relação entre o Tribunal Penal Internacional e a África - Michael Nunes Lawson
8. A competitividade brasileira na indústria de alta tecnologia: o modelo aeronáutico - Ricardo Correia dos Santos
Artigo preservado, mas deslocado na ordem; Substituição por um artigo integrando dossiê suprimido
8. Brasil e Índia: uma relação econômica a demandar ajustes - Renato Baumann
9. Diplomacia pública em tempos de guerra: uma ofensiva modernista - Hayle Gadelha
Supressão do artigo original;
Introdução de novo artigo de diplomata de carreira
9. Crime organizado transnacional: Convenção de Palermo e a contribuição brasileira - Ricardo dos Santos Poletto
10. Da rua larga à esplanada: diálogos entre palácios - Guilherme Frazão Conduru
Supressão do artigo original;
Introdução de artigo já incluído no planejamento original, em outra ordem
10. A competitividade brasileira na indústria de alta tecnologia: o modelo aeronáutico - Ricardo Henrique Correia dos Santos
Dossiê 70 Anos das Relações Brasil-Índia
11. Brasil e Índia: uma relação econômica a demandar ajustes - Renato Baumann
Dossiê 70 Anos das Relações Brasil-Índia suprimido;
Único artigo preservado, fora do contexto

(lacuna)
12. Leaping jaguar, crouching tiger: comparing Brazil’s and India’s strategic culture - Marcos Degaut
Supressão do artigo original, sem substituição

(lacuna)
13. Brazil-India energy panorama: thinking of scientific and technological approach for instigating opportunities to cooperate in renewable energy - Maria Cândida et al.
Supressão do artigo original, sem substituição

(lacuna)
14. Formalização do comércio bilateral de material biológico pecuário entre Brasil e Índia, com ênfase na segurança alimentar e redução de risco da introdução de agentes infecciosos exóticos no Brasil, à partir do comércio irregular de animais vivos, produtos de origem animal e material biológico - Eduardo Bastianetto
Supressão do artigo original, sem substituição

(lacuna)
Discursos; resenhas de livros; notas diversas

 (lacuna)
Elaboração/Comparação: Paulo Roberto de Almeida (23/09/2019)


 Nestes novos tempos, a conclusão a que podemos chegar é que a nova administração teve um acesso de stalinismo diplomático
Por fim: quem era o responsável pela edição dos Cadernos era o IPRI. Nesta nova administração parece que a Funag assumiu o encargo, mas na verdade quem manda é o Gabinete do ministro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de setembro de 2019