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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 15 de outubro de 2016

Pesquisa sobre a diplomacia lulopetista (se algo assim existiu) - Paulo Roberto de Almeida

Pesquisa sobre a diplomacia lulopetista: 2003-2016 (maio, RIP)

Paulo Roberto de Almeida
 [Pesquisa voluntária, aberta a opositores, aderentes, indiferentes, interessados, etc.]

Explicito desde já os objetivos desta minha consulta: recolher opiniões sinceras dos interessados no tema, tanto do ponto de vista profissional, quanto acadêmico. E adianto desde já minha posição quanto ao tema: condenação, in limine e total.
Não tenho porque esconder ou minimizar minha oposição à chamada diplomacia lulopetista, ainda que eu duvide que se possa, a qualquer título, caracterizar esse longo intervalo de tempo (treze anos e meio, três governos e meio, do mesmo grupo no poder) como conformando uma diplomacia stricto et lato sensi, no mesmo molde do que foram e de como ficaram designados, por exemplo, em seu tempo (e por quaisquer motivos subjacentes), a chamada diplomacia do “pragmatismo responsável” (da dupla Silveira e Geisel, entre 1974 e 1979), ou a “ecumênica” do chanceler Saraiva Guerreiro (durante a presidência Figueiredo, 1979-1985).
Os próprios formuladores e executores dessa diplomacia a chamavam de “ativa, altiva e soberana”, mas não temos por que aceitar um título auto atribuído, com alta dose de arrogância, por sinal, que foi feito pro domo sua, como se apenas ela tivesse o monopólio dessas virtudes, sendo que todas as outras, especialmente a anterior, teriam os vícios de terem sido submissas ao império, obedientes aos ditames de Washington (especialmente a um tal de Consenso que dele deriva), neoliberais (My God!, quanto simplismo), ou qualquer outra pecha maldita que a elas tenham pretendido colar.
Não tenho porque esconder nada disso porque desde antes dos companheiros assumirem o poder, eu já estava identificando no programa político, nas plataformas eleitorais, nos objetivos de governo do partido que monopolizou  o poder entre 2003 e 2016 os mesmos vícios, equívocos e concepções deformadas de outros partidos esquerdistas latino-americanos, em seu antiamericanismo anacrônico, em seu anti-imperialismo infantil, em suas pretensões a continuar dividindo o mundo entre ricos arrogantes, hegemônicos e unilateralistas, e pobres oprimidos e dominados, estes necessitados de uma boa liderança política para se libertarem dos grilhões imperiais e formularem suas políticas nacionais com toda autonomia. Escrevi tudo isso.
Também denunciei, desde o início, os vínculos (muitos deles secretos), entre o partido que se pretendia ético, justiceiro e distributivista, com ditaduras do continente e de outros continentes, suas imensas ilusões quanto a certas “alianças estratégicas” e certas parcerias duvidosas (do ponto de vista do desenvolvimento do Brasil, assim como da credibilidade de sua política externa). Como antigo true believer, e participante ativo de algumas das aventuras malucas que se fizeram nos anos 1960-70 para derrubar o “terrível” regime militar que nos “oprimia”, sei do que estou falando.
Por tudo isso fui levado a efetuar uma pequena travessia do deserto, que levou exatamente treze anos e meio, durante a qual fui obstado de trabalhar na Secretaria de Estado, limitado a ficar fazendo da Biblioteca meu escritório funcional e meu refúgio estudioso, dedicando-me, ao longo desse período, à leitura, à reflexão e à produção de muitos escritos que devem ter confirmado naqueles mesmos promotores da diplomacia lulopetista o acertado de sua decisão de afastar-me de qualquer tarefa executiva (onde estou até hoje, por sinal). Aproveito para agradecer pela oportunidade de escrever...
Expressei minhas opiniões e análises em um sem número de artigos e notas publicadas, em diversos veículos, e até publiquei alguns livros a respeito dessa política externa, sendo o mais recente este aqui: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014). 
Minha intenção agora é a de reincidir – não por vício ou animosidade especial – na análise dessa diplomacia que, à falta de melhor caracterização, poderia efetivamente ser chamada de lulopetista, pois foi do partido e de seu chefe incontestável (e, até aqui, incontestado) que emanaram as principais ideias e iniciativas que transformaram, por vezes de forma radical a política externa brasileira nesse período (ainda que o que permaneceu como anteriormente possa ser creditado à própria diplomacia profissional do Itamaraty, que nunca deixou de existir). Eles mesmos fazem questão de confirmar de modo explícito esse caráter de ruptura da velha diplomacia para a “nova”, a “altiva”.
Para isso gostaria de empreender uma pesquisa de opinião aberta (ou fechada, segundo o desejo de cada um), seja entre like-minded people, seja entre apoiadores sinceros ou opositores declarados, sobre o que foi essa diplomacia, o que ela representou para cada um, qual a avaliação que cada respondente faz de seus principais episódios. Os próprios responsáveis podem amavelmente colaborar, se assim o desejarem, e eu até os incito, ou desafio, a isto: que floresçam as mil flores, como diria o Mao Tsé-tung (mas prometo não tratar meus respondentes como ocorreu na China).
Por inépcia deste escrevinhador, não domino técnicas de pesquisa online para montar um desses formulários formidáveis que permitem a cada um ir clicando em listas de múltipla escolha ou escrever suas opiniões e argumentos numa janela auto-formatável. Por isso, deixo a critério de cada um a colaboração com esta pesquisa, da forma como melhor desejarem.
Tentei montar um formulário de resposta no Google+, mas não tenho certeza de que funcionará a contento para todos (nem sequer para mim, sou capaz de aferir). Em todo caso, o link para esse documento parece ser este aqui:
O link curto (pelo menos assim o sistema me disse) é este aqui:

Também estou disponível em meu blog Diplomatizzando, ou por e-mail, para receber, responder, interagir com os benevolentes respondedores, comentaristas, aderentes ou opositores a esta pesquisa, que, como disse, se destina a continuar minha avaliação, tanto quanto possível objetivo (mas não necessariamente imparcial) sobre essa diplomacia que reputo um ponto fora da curva na trajetória dos últimos cem, ou duzentos, anos de diplomacia nacional.
Agora, quanto às motivações. Costumo comparar a cronologia do Brasil nas últimas duas décadas da mesma maneira como seguido na historiografia ocidental, ou cristã, desde que se adotou esse costume (que não sei quando foi): AC e DC, ou seja, Antes ou Depois de Cristo. Acho que já está consagrada a datação, mesmo entre aqueles que não seguem as tradições cristãs, mas assim é o imperialismo dos padrões de data.
Pois bem, sem querer atribuir demasiada importância ao peronismo de botequim que contaminou a história política do Brasil entre 2003 e 2016, creio que se pode, da mesma forma, dividir nossa trajetória em AC e DC, Antes e Depois dos Companheiros.
Esse longo intervalo de tempo – pequeno em termos históricos, mas decisivo para uma única geração, suficiente inclusive para causar a GRANDE DESTRUIÇÃO na área econômica – foi um dos mais interessantes (se me permitem o termo) atravessados pelo Brasil: vivemos uma experiência de exacerbação nos instintos estatizantes de amplos setores da população (acadêmicos, militares, empresários, sindicalistas, povo em geral, funcionários públicos em particular, povinho miúdo provavelmente) e uma derrocada virtual em algumas instituições (sistema partidário certamente, Congresso provavelmente, tribunais superiores talvez, universidades muito fortemente), além dessa erosão terrível nos princípios éticos que deveriam (supostamente) guiar a condução política e as ações governamentais de nossas elites escolhidas pelo voto. O grupo que empalmou o poder, legitimamente pode-se dizer (na primeira vez sim, nas outras vezes graças às patifarias hoje conhecidas, de compra de votos, de mentiras e manipulações políticas, indo até a criminalidade pura e simples), revelou-se, ao fim e ao cabo, uma ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA no pleno sentido da palavra. Alguma dúvida disso?
Isso não impede que se examine, honestamente, a sua diplomacia, que foi por mais de uma metade elaborada pelas mentes alopradas dos apparatchiks do partido neobolchevique, pela outra metade guiada, orientada, ajudada pela própria máquina da diplomacia profissional, ou pelo menos por alguns de seus membros mais distinguidos (sendo que a grande massa do corpo funcional permaneceu passiva, ou aderiu de forma circunspecta, oportuna, ou simplesmente trabalhou normalmente, como se nada estivesse acontecendo no governo e país). Mas isto é próprio de certos regimes de tipo corporativo (alguns até diriam de “castas”, ou de mandarins) que soem existir.
Por todos esses motivos, empreendo esta pesquisa. Sei o que pretendo dizer, mas gostaria de ouvir a opinião sincera de acadêmicos, amigos, colegas, desconhecidos interessados, tutti quanti se julgam capazes de emitir um argumento interessante, alguma ideia inteligente sobre a diplomacia que pretendeu colocar o Brasil no mundo, e que de certa forma conseguiu, qualquer que seja o julgamento que se faça sobre ela.
Grato pela colaboração e atenção de todos.
  
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 15 de outubro de 2016 (dia do professor).
(Divulgado em diferentes formatos)