Pesquisa sobre a diplomacia lulopetista: 2003-2016
(maio, RIP)
Paulo Roberto de Almeida
[Pesquisa voluntária, aberta a opositores,
aderentes, indiferentes, interessados, etc.]
Explicito desde já os
objetivos desta minha consulta: recolher opiniões sinceras dos interessados no
tema, tanto do ponto de vista profissional, quanto acadêmico. E adianto desde
já minha posição quanto ao tema: condenação, in limine e total.
Não tenho porque esconder ou minimizar minha oposição
à chamada diplomacia lulopetista, ainda que eu duvide que se possa, a qualquer
título, caracterizar esse longo intervalo de tempo (treze anos e meio, três
governos e meio, do mesmo grupo no poder) como conformando uma diplomacia stricto
et lato sensi, no mesmo molde do que foram e de como ficaram designados,
por exemplo, em seu tempo (e por quaisquer motivos subjacentes), a chamada
diplomacia do “pragmatismo responsável” (da dupla Silveira e Geisel, entre 1974
e 1979), ou a “ecumênica” do chanceler Saraiva Guerreiro (durante a presidência
Figueiredo, 1979-1985).
Os próprios formuladores e executores dessa diplomacia
a chamavam de “ativa, altiva e soberana”, mas não temos por que aceitar um
título auto atribuído, com alta dose de arrogância, por sinal, que foi feito pro
domo sua, como se apenas ela tivesse o monopólio dessas virtudes, sendo que
todas as outras, especialmente a anterior, teriam os vícios de terem sido
submissas ao império, obedientes aos ditames de Washington (especialmente a um
tal de Consenso que dele deriva), neoliberais (My God!, quanto simplismo), ou
qualquer outra pecha maldita que a elas tenham pretendido colar.
Não tenho porque esconder nada disso porque desde
antes dos companheiros assumirem o poder, eu já estava identificando no
programa político, nas plataformas eleitorais, nos objetivos de governo do
partido que monopolizou o poder entre 2003 e 2016 os mesmos vícios, equívocos
e concepções deformadas de outros partidos esquerdistas latino-americanos, em
seu antiamericanismo anacrônico, em seu anti-imperialismo infantil, em suas
pretensões a continuar dividindo o mundo entre ricos arrogantes, hegemônicos e
unilateralistas, e pobres oprimidos e dominados, estes necessitados de uma boa
liderança política para se libertarem dos grilhões imperiais e formularem suas
políticas nacionais com toda autonomia. Escrevi tudo isso.
Também denunciei, desde o início, os vínculos (muitos
deles secretos), entre o partido que se pretendia ético, justiceiro e
distributivista, com ditaduras do continente e de outros continentes, suas imensas
ilusões quanto a certas “alianças estratégicas” e certas parcerias duvidosas
(do ponto de vista do desenvolvimento do Brasil, assim como da credibilidade de
sua política externa). Como antigo true
believer, e participante ativo de algumas das aventuras malucas que se
fizeram nos anos 1960-70 para derrubar o “terrível” regime militar que nos
“oprimia”, sei do que estou falando.
Por tudo isso fui levado a efetuar uma pequena
travessia do deserto, que levou exatamente treze anos e meio, durante a qual
fui obstado de trabalhar na Secretaria de Estado, limitado a ficar fazendo da
Biblioteca meu escritório funcional e meu refúgio estudioso, dedicando-me, ao
longo desse período, à leitura, à reflexão e à produção de muitos escritos que
devem ter confirmado naqueles mesmos promotores da diplomacia lulopetista o
acertado de sua decisão de afastar-me de qualquer tarefa executiva (onde estou
até hoje, por sinal). Aproveito para agradecer pela oportunidade de escrever...
Expressei minhas opiniões e análises em um sem número
de artigos e notas publicadas, em diversos veículos, e até publiquei alguns
livros a respeito dessa política externa, sendo o mais recente este aqui: Nunca
Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não
convencionais (Curitiba: Appris, 2014).
Minha intenção agora é a de reincidir – não por vício
ou animosidade especial – na análise dessa diplomacia que, à falta de melhor
caracterização, poderia efetivamente ser chamada de lulopetista, pois foi do
partido e de seu chefe incontestável (e, até aqui, incontestado) que emanaram
as principais ideias e iniciativas que transformaram, por vezes de forma
radical a política externa brasileira nesse período (ainda que o que permaneceu
como anteriormente possa ser creditado à própria diplomacia profissional do
Itamaraty, que nunca deixou de existir). Eles mesmos fazem questão de confirmar
de modo explícito esse caráter de ruptura da velha diplomacia para a “nova”, a “altiva”.
Para isso gostaria de empreender uma pesquisa de
opinião aberta (ou fechada, segundo o desejo de cada um), seja entre like-minded
people, seja entre apoiadores sinceros ou opositores declarados, sobre o
que foi essa diplomacia, o que ela representou para cada um, qual a avaliação
que cada respondente faz de seus principais episódios. Os próprios responsáveis
podem amavelmente colaborar, se assim o desejarem, e eu até os incito, ou
desafio, a isto: que floresçam as mil flores, como diria o Mao Tsé-tung (mas
prometo não tratar meus respondentes como ocorreu na China).
Por inépcia deste escrevinhador, não domino técnicas
de pesquisa online para montar um desses formulários formidáveis que permitem a
cada um ir clicando em listas de múltipla escolha ou escrever suas opiniões e
argumentos numa janela auto-formatável. Por isso, deixo a critério de cada um a
colaboração com esta pesquisa, da forma como melhor desejarem.
Tentei montar um formulário de resposta no Google+,
mas não tenho certeza de que funcionará a contento para todos (nem sequer para
mim, sou capaz de aferir). Em todo caso, o link para esse documento parece ser
este aqui:
O link curto (pelo menos assim o sistema me disse) é
este aqui:
Também estou disponível em meu blog Diplomatizzando, ou por
e-mail,
para receber, responder, interagir com os benevolentes respondedores,
comentaristas, aderentes ou opositores a esta pesquisa, que, como disse, se
destina a continuar minha avaliação, tanto quanto possível objetivo (mas não
necessariamente imparcial) sobre essa diplomacia que reputo um ponto fora da
curva na trajetória dos últimos cem, ou duzentos, anos de diplomacia nacional.
Agora, quanto às motivações. Costumo comparar a
cronologia do Brasil nas últimas duas décadas da mesma maneira como seguido na
historiografia ocidental, ou cristã, desde que se adotou esse costume (que não
sei quando foi): AC e DC, ou seja, Antes ou Depois de Cristo. Acho que já está
consagrada a datação, mesmo entre aqueles que não seguem as tradições cristãs,
mas assim é o imperialismo dos padrões de data.
Pois bem, sem querer atribuir demasiada importância ao
peronismo de botequim que contaminou a história política do Brasil entre 2003 e
2016, creio que se pode, da mesma forma, dividir nossa trajetória em AC e DC,
Antes e Depois dos Companheiros.
Esse longo intervalo de tempo – pequeno em termos
históricos, mas decisivo para uma única geração, suficiente inclusive para
causar a GRANDE DESTRUIÇÃO na área econômica – foi um dos mais interessantes
(se me permitem o termo) atravessados pelo Brasil: vivemos uma experiência de
exacerbação nos instintos estatizantes de amplos setores da população
(acadêmicos, militares, empresários, sindicalistas, povo em geral, funcionários
públicos em particular, povinho miúdo provavelmente) e uma derrocada virtual em
algumas instituições (sistema partidário certamente, Congresso provavelmente,
tribunais superiores talvez, universidades muito fortemente), além dessa erosão
terrível nos princípios éticos que deveriam (supostamente) guiar a condução
política e as ações governamentais de nossas elites escolhidas pelo voto. O
grupo que empalmou o poder, legitimamente pode-se dizer (na primeira vez sim,
nas outras vezes graças às patifarias hoje conhecidas, de compra de votos, de
mentiras e manipulações políticas, indo até a criminalidade pura e simples),
revelou-se, ao fim e ao cabo, uma ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA no pleno sentido da
palavra. Alguma dúvida disso?
Isso não impede que se examine, honestamente, a sua
diplomacia, que foi por mais de uma metade elaborada pelas mentes alopradas dos
apparatchiks do partido neobolchevique, pela outra metade guiada, orientada,
ajudada pela própria máquina da diplomacia profissional, ou pelo menos por
alguns de seus membros mais distinguidos (sendo que a grande massa do corpo
funcional permaneceu passiva, ou aderiu de forma circunspecta, oportuna, ou
simplesmente trabalhou normalmente, como se nada estivesse acontecendo no governo
e país). Mas isto é próprio de certos regimes de tipo corporativo (alguns até diriam
de “castas”, ou de mandarins) que soem existir.
Por todos esses motivos, empreendo esta pesquisa. Sei
o que pretendo dizer, mas gostaria de ouvir a opinião sincera de acadêmicos,
amigos, colegas, desconhecidos interessados, tutti quanti se julgam capazes de
emitir um argumento interessante, alguma ideia inteligente sobre a diplomacia
que pretendeu colocar o Brasil no mundo, e que de certa forma conseguiu, qualquer
que seja o julgamento que se faça sobre ela.
Grato pela colaboração e atenção de todos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de outubro de 2016 (dia do professor).
(Divulgado em diferentes formatos)
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