Paulo
Roberto de Almeida
Neste dia 15 de outubro, convencionalmente dedicado
aos professores, desejo prestar uma homenagem aos que se revelam essenciais às lides
docentes: os alunos. Sim! Se não fossem os estudantes, os professores não
teriam razão de ser, não apenas pelo fato dos alunos constituírem a “outra
parte” absolutamente indispensável à atividade dos professores, mas também porque,
sem alunos inquisidores, o encargo docente seria incrivelmente aborrecido. Minha
homenagem, portanto, aos alunos, a todos eles, os meus e os de todos os outros
professores. Obrigado, alunos, por me permitir existir como professor, o que
faço por prazer, não por obrigação ou necessidade.
Tenho com a atividade docente uma antiga relação de
dedicação parcial, no tempo, mas integral, no espírito. Salvo um ou outro livro
de literatura, em volume bem mais rarefeito, quase todas as minhas leituras, no
campo das humanidades, da história econômica são feitas – e anotadas – em
função daquilo que posso transmitir a meus alunos, diretos ou indiretos,
oralmente ou por escrito, em contato pessoal ou à distância. Estou sempre
anotando alguma coisa, em alguns dos meus muitos cadernos de notas, que servem
para leituras, reflexões, registros de viagens, contatos, enfim, uma variedade
de objetivos. Também estou sempre lendo algo, geralmente o que comprei no
minuto anterior: andando ou dirigindo, sempre dá para avançar alguns
parágrafos, talvez mesmo algumas páginas. Tudo isso é para ser revertido em
alguma aula ou algum escrito, que é também uma forma de aula, por extensão.
Preferiria, claro, ter mais alunos perguntadores do
que ouvintes passivos, mas cada um deve decidir o que é melhor para si,
independentemente da vontade do professor. Este só existe para tentar melhorar
os estudantes, e estes só existem, se forem conscienciosos e inquisitivos, para
melhorar o professor. Alguns creem que se trata de uma relação assimétrica, mas
para mim se trata de algo absolutamente relacional, com conivências recíprocas,
ainda que não isentas de contradições. O aluno contestador ajuda o professor a
ser responsável, ajustar o foco, preparar suas aulas de forma responsável, a
sempre fazer a síntese de suas leituras, a expor claramente os seus argumentos,
a embasá-los de forma pertinente em elementos factuais ou empíricos relevantes,
sob risco de não convencer e não persuadir. O professor precisa de alunos
iconoclastas, que contestem as meias-verdades e as afirmações puramente
opinativas ou impressionistas.
Alguns são chatos, é verdade, não por questionar o
professor, mas por desprezar o aprendizado, conversar ou ausentar-se de forma
ostensiva no meio da aula, não que isso represente uma ofensa absoluta ao
professor, mas porque perturba a aula pelo barulho do deslocamento, pela
conversa paralela, pelo zumbido intermitente da concorrência desleal. Muitas
vezes a culpa é do próprio professor, que não soube tornar a sua aula
suficientemente atraente para motivar e capturar a atenção dos alunos. Aqui
também se trata da lei da oferta e da procura num mercado pouco transparente: o
aluno “compra” aquilo que lhe parece de boa qualidade e suscetível de oferecer
algum prazer intelectual e se a aula é chata e pouco vinculada às realidades
cotidianas, merece o desapreço e desatenção que lhe dedicam os alunos.
São os alunos, portanto, que fazem um bom professor,
ainda que as qualidades deste também dependam de seu investimento preliminar no
estudo e na leitura, sua acumulação primitiva de conhecimentos e informações,
tudo isso apresentado com alguma pedagogia atrativa. De minha parte, não tenho
reclamações de meus alunos, apenas motivo de satisfação. Sinto que estou
contribuindo, ainda que modestamente, para o seu enriquecimento intelectual e,
quiçá, para a elevação de seus padrões morais. Algumas sementes só vão
frutificar alguns anos à frente, mas isso não importa para o professor, se ele
tem certeza de que fez corretamente o seu trabalho docente.
Por tudo isso, só tenho a agradecer sinceramente aos
meus alunos e prestar-lhes, neste dia, uma merecida homenagem por permitir-me
ser um simples professor.
Cheers...
Brasília, 15 de outubro
de 2009
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