NL 0027 - 13/10/2016
O que as eleições mostraram Especificamente em relação ao PT, as eleições de domingo (2 de outubro de 2016) mostraram:
1) Que a imensa maioria das pessoas não engoliu a farsa do golpe.
2) Que não há nenhuma restrição à democracia no Brasil, ao contrário das alegações de Lula na ONU.
3) Que tudo está ocorrendo no Brasil dentro da normalidade democrática (com mais de 100 milhões comparecendo às urnas em paz e sem qualquer constrangimento).
4) Que Lula não tem mais capacidade de transferir votos para ninguém. Todos que ele apoiou perderam. Nem o seu próprio filho conseguiu se reeleger vereador em São Bernardo.
5) Que o PT vai abandonar rapidinho a tese de novas eleições.
6) Que o PT vive num universo paralelo composto por: universidades, escritórios de advocacia, "movimentos sociais" e sindicalismo pelego e gente como Duvivier e seus admiradores.
7) Que a Universidade, em especial, está fora do mundo real.
8) Que o PT vai perder cerca de 50 mil cargos de confiança, ficará sem os milhões da receita do dízimo e terá 80% menos possibilidade de roubar.
9) Que o PT ficou aproximadamente 61% menor em termos eleitorais, voltando a 1985, quando elegeu Maria Luiza Fontenele.
10) Que quem derrotou o PT não foi o PSDB, não foi Ackmin, não foi Temer ou o PMDB e sim a sociedade brasileira, que escolheu cuidadosamente em quem não votar (os candidatos petistas).
11) Que, mesmo fragorosamente derrotado nas urnas, o PT não se conformará com o resultado eleitoral e tentará inviabilizar de todos os modos o governo constitucional de transição.
12) Que se o governo Temer for inviabilizado pela obstrução e agitação petistas, mesmo assim as pessoas não votarão no PT em 2018.
13) Que estamos assistindo o início do fim do projeto neopopulista.
Abaixo um breve comentário sobre cada um dos pontos listados.
1 - A imensa maioria das pessoas não engoliu a farsa do golpe. Se tivessem aceitado essa falsa narrativa do PT, certamente se manifestariam em solidariedade aos golpeados e injustiçados. A farsa do golpe é a explicação universal de todos os autocratas: Maduro usou, repetidamente, a mesma alegação solerte contra seus adversários políticos e contra as manifestações populares que começaram a encher as ruas da Venezuela a partir de 12 de fevereiro de 2014. Erdogan também aplicou o truque para transformar a Turquia numa ditadura, acusando seus opositores de quererem dar um golpe de Estado. Putin, de quando em vez, lança a mesma acusação sobre a sociedade que ousa protestar, sobretudo em Moscou, contra seu governo. Pois bem. Todos os partidos e candidatos que pregaram a tese de que o impeachment foi golpe não alcançaram 20% da preferência do eleitorado.
2 - Não há nenhuma restrição à democracia no Brasil, ao contrário das alegações de Lula na ONU. Se houvesse, a rede suja de blogs e sites a serviço do PT não poderia continuar espalhando versões mentirosas sobre o golpe. Se houvesse, os institutos de pesquisa de opinião não poderiam fornecer anabolizantes para a engrossar a boca de urna da militância, ou seja, praticar abertamente o dopingeleitoral. Se houvesse, candidaturas seriam cassadas e candidatos seriam constrangidos pelo Estado. Se houvesse, alguma lei teria sido violada para prejudicar as vítimas (o PT e seus aliados), o que não ocorreu.
3 - Tudo está ocorrendo no Brasil dentro da normalidade democrática (com mais de 100 milhões comparecendo às urnas em paz e sem qualquer constrangimento). Não houve nenhum tipo de constrangimento aos petistas (as supostas vítimas do imaginário golpe): nem antes, nem durante, nem depois da campanha eleitoral, quer por parte do Estado, quer por parte de grupos organizados da sociedade. O não-voto (abstenções + brancos + nulos), que alcançou cerca de 30%, foi a manifestação de um insatisfação difusa da sociedade com o velho sistema político, tal como está organizado e funciona e atingiu igualmente todos os partidos, não se caracterizando em um protesto contra os supostos golpistas (e tanto é assim que o PT encolheu 60,9% em relação às eleições de 2012). Vejamos os números que não mentem (salvo eventual erro nas contas ou se os dados estiverem incorretos):
Votos recebidos por todos os partidos em 2012 = 104.696.354 (os eleitores aptos a votar eram 138.544.348).
Votos recebidos por todos os partidos em 2016 = 102.486.556 (os eleitores aptos a votar eram 144.088.912).
O não-voto (abstenções + brancos + nulos) pulou de 24,43% (em 2012) para 28,87% (em 2016).
Votos recebidos pelo PT em 2012 = 17.448.801
Votos recebidos pelo PT em 2016 = 6.822.964
Variação (negativa) = - 60,90%
Porcentagem dos votos recebidos pelo PT em 2012 = 16,67%
Porcentagem dos votos recebidos pelo PT em 2016 = 6,66%
4 - Lula não tem mais capacidade de transferir votos para ninguém.Todos que ele apoiou perderam. Nem o seu próprio filho conseguiu se reeleger vereador em São Bernardo. Fica assim esvaziado o argumento - repetido ad nauseam pelos petistas - dos 54 milhões de votos de Dilma. Se Dilma tem 54 milhões de votos e Lula foi o melhor presidente do Brasil por que os candidatos que eles apoiaram perderam?
5 - O PT vai abandonar rapidinho a tese de novas eleições. Na verdade, já abandonou. Antecipar eleições gerais ou para presidente da República em 2016 (pois a partir de 2017 as eleições seriam indiretas) levaria o PT a outra derrota, ainda pior do que a que amargou no pleito municipal. Não se fala mais no assunto.
6 - O PT vive num universo paralelo composto por: universidades, escritórios de advocacia, "movimentos sociais" e sindicalismo pelego e gente como Duvivier e seus admiradores. Do contrário teria percebido que a imensa maioria da população não aceita mais o partido. O universo paralelo em que vive o PT é composto, aliás, pelos bunkers em que se refugiou para exercer sua resistência antidemocrática, a saber:
1) partidos estatistas (PT, PCdoB, PSOL, REDE, PSTU, PCO, PCB, PDT etc.);
2) rede suja de veículos a serviço da guerra de propaganda e contra-informação (movida pelos partidos estatistas);
3) parte da grande mídia (criptopetistas e criptolulistas infiltrados na imprensa, rádio e TV);
4) universidades e escolas (aqui se concentra o maior contingente);
5) centrais, sindicatos, associações profissionais e assemelhadas (que atuaram de forma pelega na última década);
6) meios artísticos e culturais (designados acima pela expressão "Duvivier e seus admiradores");
7) "movimentos sociais" que atuam como correias de transmissão de partidos estatistas (MST, MTST, UNE etc.);
8) organizações não-governamentais (que atuaram como organizações neo-governamentais na última década);
9) governos federal e instituições sob sua influência: empresas estatais, agências reguladoras etc. (com o impeachment, começou a desinfestação, mas os aparelhadores infiltrados que ainda restam são milhares) e governos estaduais e municipais (comandados pelo bloco da esquerda autocrática);
10) organismos internacionais do sistema das UN no Brasil e organizações regionais (como OEA e todas que terminam com as letras SUR);
11) empresas operadoras do esquema criminoso de poder (como as empreiteiras Odebrecht e OAS, que estão sendo desbaratadas pela operação Lava Jato).
7 - A Universidade, em especial, está fora do mundo real. Nenhuma análise consistente, prevendo ou analisando o desastre eleitoral do PT, saiu das universidades controladas pelo petismo. Deu-se o oposto: os professores marxistas acalentavam a esperança de que o PT se manteria no seu patamar histórico de 30% de preferência popular. E, depois do leite derramado, enfureceram-se acusando o povo de não saber votar, de estar alienado pela grande mídia monopolista e dominado pelos aparelhos controlados pela direita. As universidades, sobretudo nas áreas de humanas, viraram antros de celerados e autoritários, pátios fétidos para o surgimento e difusão de ideologias escabrosas, caracterizando-se como ambientes que permitem o surgimento de organismos agressivos e perigosos para a convivência humana amigável. De tribunais epistemológicos, que já eram, degeneraram-se como alfândegas ideológicas.
8 - O PT vai perder cerca de 50 mil cargos de confiança, ficará sem os milhões da receita do dízimo e terá 80% menos possibilidade de roubar.Desalojado pelo impeachment, o PT começou a perder, a partir de maio deste ano, os cargos de confiança no governo federal. Agora esse desaparelhamento vai alcançar também os governos municipais (com a perda de 374 prefeituras, inclusive a maior do país) e as câmaras de vereadores (com a perda de 2.377 representantes eleitos). Estima-se que o volume de receitas administradas pelos petistas será agora 84% menor.
9 - O PT ficou aproximadamente 61% menor em termos eleitorais, voltando a 1985, quando elegeu Maria Luiza Fontenele. A história se repetindo: em 2016 o PT conseguiu eleger apenas 1 prefeito de capital (Rio Branco, no Acre: a nova "fortaleza" revolucionária).
10 - Quem derrotou o PT não foi o PSDB, não foi Ackmin, não foi Temer ou o PMDB e sim a sociedade brasileira, que escolheu cuidadosamente em quem não votar (os candidatos petistas). Os analistas políticos ficam procurando saber quem ganhou as eleições de 2016, mas na verdade só podemos saber quem perdeu: incontestavelmente, o PT. As pessoas que preferiram votar em outros partidos, distribuíram seus votos, majoritariamente, por cerca de 10 legendas: e as mais aparelhadas para receber esse voto não-petista, como o PSDB, o PMDB, o PSD e o PP, foram naturalmente beneficiadas.
11 - Mesmo fragorosamente derrotado nas urnas, o PT não se conformará com o resultado eleitoral e tentará inviabilizar de todos os modos o governo constitucional de transição. Embora tendo perdido força, a narrativa do golpe vai continuar, quando menos para manter acesa a chama da militância petista. E o PT continuará tentando obstruir os projetos para recuperar a economia no parlamento e tentanto criar o caos nas ruas, tudo com o objetivo de inviabilizar o governo Temer e salvar o seu grande líder (que sofre hoje cinco inquéritos por corrupção, lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio, tráfico de influência internacional, obstrução da justiça e organização criminosa) das garras da justiça. Um professor de ciência política da UnB declarou recentemente (resumindo a vibe que prevalecerá nas hostes petistas):
"Defender Lula contra a perseguição criminosa que ele sofre, protestar contra a arbitrariedade de que ele é alvo, contribuir para, sim, incendiar o país quando ele for preso - esses são compromissos de qualquer pessoa que se queira de esquerda, progressista ou democrata no Brasil".
12 - Se o governo Temer for inviabilizado pela obstrução e agitação petistas, mesmo assim as pessoas não votarão no PT em 2018. Ao que tudo indica, o encanto lulopetista foi quebrado em todos os estratos da população, classificados por idade, sexo, faixa de renda, região do país. O PT foi reprovado pela imensa maioria da população e essa rejeição universal parece ser definitiva (ou, se não for definitiva, não permitirá uma recuperação tão rápida que habilite o PT a voltar à presidência da República daqui a dois anos). Mesmo que o governo Temer se saia muito mal, mesmo assim as pessoas votarão em candidatos de outros partidos, ou seja, o voto não-PT se repetirá, para evitar o risco da volta do PT ao poder.
13 - Estamos assistindo o início do fim do projeto neopopulista. Qualquer projeto neopopulista - eleitoralista e presidencialista - passa necessariamente pela eleição de um presidente (para dar um "curto circuito" nas instituições do Estado democrático de direito, eliminando as mediações para fazer uma ligação direta entre o Führer e as massas, deprimindo o sistema imunológico da democracia e neutralizando seus mecanismos de checks and balances para poder conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido com o fito de nunca mais sair do governo). Sem um líder com potencial para vencer eleições presidenciais o projeto neopopulista fica desabilitado.
O PT não tem esse líder (além de Lula). Até porque ele, Lula, se dedicou durante décadas a matar qualquer líder que emergisse (assim fez com Erundina, Mercadante, Tarso, Suplicy e... Dirceu: seu principal inimigo íntimo). Todos os que pudessem, em alguma circunstância, lhe fazer sombra, foram sutilmente "queimados" por ele ao longo de suas carreiras. E agora, que envelheceu (não em razão da idade, mas de perda de criatividade e de capacidade de adaptação) e que está sendo investigado em vários processos, sem foro privilegiado, Lula não pode mais se segurar no topo (como fez Fidel, até onde deu). Perdeu capacidade de transferir votos (e isso é decisivo num projeto eleitoralista). Consequentemente, perdeu gravitatem, ou seja, capacidade de converter todos os seus correligionários em satélites, orbitando em torno dele e potência para deformar o campo social com a sua presença, criando verdadeiros buracos negros para fazer abismar, para dentro de si, toda a luz.
E não há luz no fim desse túnel. Talvez o PT se reconstrua em uma década, mas não será a mesma coisa. Se insistir nas suas ideias ultrapassadas, virará uma espécie de organização autoritária e cínica como o PCdoB. Se aggiornar suas propostas, será mais um partido da segunda divisão querendo subir para a primeira, obrigado a conviver como igual no concerto dos partidos sem alma. Em qualquer caso terá de abandonar o projeto neopopulista.
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