O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador crimes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crimes. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A mafia no diva - Arnaldo Jabor

Não, não se trata de um remake do filme de Hollywod, com Robert de Niro no papel de um mafioso com problemas psicológicos (um pouco mais abaixo, na verdade).
Ou talvez seja, adaptado ao cenário nacional, em que mafiosos tem carreira solo, especializando-se em roubar o próprio Estado, o que é mais raro nos EUA.
Raramente aprecio as crônicas de Arnaldo Jabor, que tem um grande dom de repetição. Mas esta é uma das melhores...
Paulo Roberto de Almeida

‘Angústias de um colarinho-branco’

Arnaldo Jabor
O Estado de S.Paulo, 14/02/2012
“Doutora, eu procurei a psicanálise porque ando com um estranho sintoma: estou com o que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’… Tive essa ideia quando vi aquele seriado na TV, Os Sopranos, com o chefão da Máfia de New Jersey chorando para uma psicanalista de lindas pernas. Como a senhora…
Tenho tido pesadelos: sonho que morri assassinado por mim mesmo, que estou preso com traficantes estupradores. Não mereço isso, eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo… (sem veadagem… claro).
Não sou um ladrão de galinhas, mas já roubei galinhas do vizinho e até hoje sinto o cheiro das penosas que eu agarrava. Há há há… Mas hoje em dia, doutora, não roubo mais por necessidade; é prazer mesmo. Estou muito bem de vida, tenho sete fazendas reais e sete imaginárias, mando em cidades do Nordeste, tenho tudo, mas confesso que sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, vibro quando vejo os olhos covardes do empresário me pagando a propina, suas mãos trêmulas me passando o tutu, delicio-me quando o juiz me dá ganho de causa, ostentando honestidade e finge não perceber minha piscadela marota na hora da liminar comprada (está entre 30 a 50 mil dólares, hoje), babo ao ver juízes sabujos diante de meu poder de parlamentar e fazendeiro rico.
Como, doutora? Se me sinto superior assim? Bem, é verdade… Adoro a sensação de me sentir acima dos otários que me ‘compram’, eles se humilhando em vez de mim. Roubar me liberta. Eu explico: roubar me tira do mundo dos ‘obedientes’ e me provoca quase um orgasmo quando embolso uma bolada. Desculpe… a senhora é mulher fina, coisa e tal, mas, adoro sentir o espanto de uma prostituta, quando eu lhe arrojo mil dólares sobre o corpo e vejo sua gratidão acesa, fazendo-a caprichar em carícias mais perversas.
É uma delícia, doutora, rolar, nu, em cima de notas de cem dólares na cama, de madrugada, sozinho, comendo chocolatinhos do frigobar de um hotel vagabundo, em uma cidade onde descolei a propina de um canal de esgoto superfaturado. Gosto da doce volúpia de ostentar seriedade em salões de caretas que te xingam pelas costas, mas que te invejam pela liberdade cínica que te habita. Suas mulheres me olham excitadas, pensando nos brilhantes que poderiam ganhar de mim, viril e sorridente ─ todo bom ladrão é simpático. A senhora não tem ideia, aí, sentada nessa poltrona do Freud, do orgulho que sinto, até quando roubo verbas de remédios para criancinhas, ao conseguir dominar a vergonha e transformá-la na bela frieza que constrói o grande homem. E, agora, este sentimentozinho de ‘culpa’ tão chato…
Sei muito bem os gestos rituais da malandragem brasileira: sei fazer imposturas, perfídias, tretas, sei usar falsas virtudes, ostentar dignidade em CPIs, dou beijos de Judas, levo desaforo para casa sim, sei dar abraços de tamanduá e chorar lágrimas de crocodilo… Sou ótimo ator e especialista em amnésias políticas. Eu já declarei de testa alta na Câmara: ‘Não sei nem imagino como esses milhões de dólares apareceram em minha conta na Suíça, apesar destes extratos todos, pois não tenho nem nunca tive conta no exterior!’ Esse grau de mentira é tão íntegro que deixa de ser mentira e vira uma arte.
Doutora, no Brasil há dois tipos de ladrões de colarinho-branco: há o ladrão ‘extensivo’ e o ‘intensivo’.
Não tolero os ladrões intensivos, os intempestivos sem classe… Faltam-lhes elegância e finesse. Roubam por rancor, roubam o que lhes aparece na frente, se acham no direito de se vingar de passadas humilhações, dores de corno, porradas na cara não revidadas, suspiros de mãe lavadeira.
Eu, não. Eu sou cordial, um cavalheiro; tenho paciência e sabedoria, comecei pouco a pouco, como as galinhas que roubei na infância, que de grão em grão enchiam o papo… Eu sou aquele que vai roubando ao longo da vida política e, ao fim de décadas, já tem Renoirs na parede, iates, helicópteros, esposas infelizes (não sei por que, se dou tudo a ela), filhos estroinas e malucos… (mandei estudar na Suíça e não adiantou).
Eu adquiri uma respeitabilidade altaneira que confunde meus inimigos, que ficam na dúvida se me detestam ou admiram. No fundo, eu me acho mesmo especial; não sou comum.
Perto de mim, homens como PC foram meros cleptomaníacos… Sou profissional e didático… Considero-me um Gilberto Freyre da corrupção nacional…
Olhe para mim, doutora. Eu estou no lugar da verdade. Este País foi feito assim, na vala entre o público e o privado. Há uma grandeza insuspeitada na apropriação indébita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta não produz flores magníficas? O que vocês chamam de ‘roubalheira’, eu chamo de ‘progresso’. Não o frio progresso anglo-saxônico, mas o doce e lento progresso português que formou nossa tolerância, nossa ambivalência entre o público e o privado.
Eu sempre fui muito feliz… Sempre adorei os jantares nordestinos, cheios de moquecas e sarapatéis, sempre amei as cotoveladas cúmplices quando se liberam verbas, os cálidos abraços de famílias de máfias rurais… A senhora me pergunta por que eu lhe procurei?
Tudo bem; vou contar.
Outro dia, fui assistir a uma execução. Mataram um neguinho no terreno baldio. Ele implorava quando lhe passaram o fio de náilon no pescoço e apertaram até ele cair, bem embaixo de uma placa de financiamento público. Na hora, até me excitei; mas quando cheguei em casa, com meus filhos vendo High School Musical na TV, fui tomado por este mal-estar que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’…
Por isso, doutora, preciso que a senhora me cure logo… Tem muita verba pública aí, muita emenda no orçamento, empreiteiros me ligando sem parar… Tenho de continuar minha missão, doutora…”

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A segunda bomba atomica sobre o Japao: e se elas nao existissem?


Almas sensíveis em todo mundo mundo falam com horror das duas bombas atômicas despejadas sobre o Japão dia 6 e dia 9 de agosto de 1945 (vejam o primeiro post que eu coloquei no dia 6 de agosto sobre a bomba lançada em Hiroshima).
Almas menos sensíveis preferem condenar os EUA por esse gesto horroroso, um crime de guerra, ou um crime contra a humanidade, dizem essas pessoas, expressando indignação quanto ao ato em si, sem pensar nas alternativas.

Estou, neste mesmo momento, lendo um dos capítulos do livro More What If? (London: Pan Books, 2003), coordenado pelo historiador militar Robert Cowley (que já tinha editado um primeiro What If?, alguns anos antes). Como o nome indica, se trata de história virtual.
Esse capítulo, assinado por Richard B. Frank, "No Bomb: No End" (p. 366-381) confirma o que já se sabia por "especulações" de outros historiadores e especialistas em guerras.
Se a bomba não existisse, ou se os EUA tivessem decidido não lançar as bombas sobre o Japão e tivessem continuado, nesse caso, com a guerra por meios convencionais, o número de vítimas, japonesas e americanas, seria incomensuravelmente maior, muitas vezes maior.
Calcula-se que entre 100 e 200 mil vítimas resultaram das duas bombas atômicas, sobre Hiroshima e Nagasaki. Pois bem, os bombardeios com bombas incendiárias sobre Tóquio e outras cidades japonesas -- assim como os bombardeios sobre cidades alemãs, antes -- fizeram e fariam um número de vítimas bem mais amplo.
A conquista progressiva das ilhas japonesas custaria provavelmente meio milhão de mortos, entre japoneses e americanos, soldados e civis, provavelmente durante seis meses ou mais.
Richard Frank acha que a guerra inclusive poderia continuar por 2 ou 5 anos mais, sendo imprevisivel o seu final ou o número definitivo de mortos, a partir do momento em que as bombas foram lançadas.
Cabe recordar que o Japão recebeu um ultimatum logo depois de Potsdam, e que os militaristas japoneses se recusaram a aceitar a rendição. Quando, depois da bomba sobre Hiroshima, o Imperador sinalizou sua vontade de aceitar a rendição, ele quase foi assassinado pelos militaristas extremados. Mesmo depois da segunda bomba, os ultras recusavam a rendição, o que sinaliza como seria terrível um cenário de combates convencionais (com milhares de pilotos kamikazes prontos para se sacrificar pelo Japão e pelo imperador).
Ou seja, não querendo ser ou parecer cínico, a bomba atômica, ao fim e ao cabo, salvou vidas, japonesas e americanas.
Leiam a matéria do New York Times sobre a segunda bomba.
Paulo Roberto de Almeida

On Aug. 9, 1945, the United States exploded a nuclear device over Nagasaki, Japan, instantly killing an estimated 39,000 people. The explosion came three days after the atomic bombing of Hiroshima. (Go to article.)

Atom Bomb Loosed on Nagasaki
By W. H. LAWRENCE
Wireless to THE NEW YORK TIMES
August 9, 1945

2d Big Aerial Blow Japanese Port Is Target in Devastating New Midday Assault Result Called Good Foe Asserts Hiroshima Toll Is 'Uncountable' -- Assails 'Atrocity'

Guam, Thursday, Aug. 9 -- Gen. Carl A. Spaatz announced today that a second atomic bomb had been dropped, this time on the city of Nagasaki, and that crew members reported "good results."

The second use of the new and terrifying secret weapon which wiped out more than 60 percent of the city of Hiroshima and, according to the Japanese radio, killed nearly every resident of that town, occurred at noon today, Japanese time. The target today was an important industrial and shipping area with a population of about 258,000.

The great bomb, which harnesses the power of the universe to destroy the enemy by concussion, blast and fire, was dropped on the second enemy city about seven hours after the Japanese had received a political "roundhouse punch" in the form of a declaration of war by the Soviet Union.

Vital Transshipment Point
Guam, Thursday, Aug. 9 (AP) -- Nagasaki is vitally important as a port for transshipment of military supplies and the embarkation of troops in support of Japan's operations in China, Formosa, Southeast Asia, and the Southwest Pacific. It was highly important as a major shipbuilding and repair center for both naval and merchantmen.

The city also included industrial suburbs of Inase and Akunoura on the western side of the harbor, and Urakami. The combined area is nearly double Hiroshima's.

Nagasaki, although only two-thirds as large as Hiroshima in population, is considered more important industrially. With a population now estimated at 258,000, its twelve square miles are jam-packed with the eave-to-eave buildings that won it the name of "sea of roofs."

General Spaatz's communique reporting the bombing did not say whether one or more than one "mighty atom" was dropped.

Hiroshima a 'City of Dead'
The Tokyo radio yesterday described Hiroshima as a city of ruins and dead "too numerous to be counted," and put forth the claim that the use of the atomic bomb was a violation of international law.

The broadcast, made in French and directed to Europe, came several hours after Tokyo had directed a report to the Western Hemisphere for consumption in America asserting that "practically all living things, human and animal, were literally seared to death" Monday, when the single bomb was dropped on the southern Honshu city.

The two broadcasts, recorded by the Federal Communications Commission, stressed the terrible effect of the bomb on life and property.

European listeners were told that "as a consequence of the use of the new bomb against the town of Hiroshima on Aug. 6, most of the town has been completely destroyed and there are numerous dead and wounded among the population."

The United States Strategic Air Forces reported yesterday that 60 per cent of the city had been destroyed.]

"The destructive power of these bomb is indescribable," the broadcast continued, "and the cruel sight resulting from the attack is so impressive that one cannot distinguish between men and women killed by the fire. The corpses are too numerous to be counted.

"The destructive power of this new bombs spreads over a large area. People who were outdoors at the time of the explosion were burned alive by high temperature while those who were indoors were crushed by falling buildings."

Authorities still were "unable to obtain a definite check-up on the extent of the casualties" and "authorities were having their hands full in giving every available relief possible under the circumstances," the broadcast continued.

In the destruction of property even emergency medical facilities were burned out, Tokyo said, and relief squads were rushed into the area from all surrounding districts.

The Tokyo radio also reported that the Asahi Shimbun had made "a strong editorial appeal" to the people of Japan to remain calm in facing the use of the new type of bomb and renew pledges to continue to fight.

[A special meeting of the Japanese Cabinet was called at the residence of Premier Kantaro Suzuki to hear a preliminary report on the damage, The United Press said.]

A Propaganda Front
Voice broadcasts and wireless transmissions aimed at North America and Europe during the day apparently were trying to establish a propaganda point that the bombings should be stopped.

For example, a Tokyo English language broadcast to North America, accusing American leaders of fomenting an "atrocity campaign" in order "to create the impression that the Japanese are cruel people," as preparation for intensive Allied bombing of Japan, took up the subject of atomic bombing, and described it as "useless cruelty" that "may have given the United States war leaders guilty consciences."

"They may be afraid that their illegal and useless and needless bombing may eventually bring protest from the American people unless some means of hardening them can be provided," the broadcast continued.

The broadcast to the United States went on to ask: "How will the United States war leaders justify their degradation, not only in the eyes of the other peoples but also in the eyes of the American people? How will these righteous-thinking American people feel about the way their war leaders are perpetuating this crime against man and God?"

"Will they condone the whole thing on the ground that everything is fair in love and war or will they rise in anger and denounce this blot on the honor and tradition and prestige of the American people?"

The broadcast said that "authorized quarters in Tokyo made the following statement on Aug. 8 with regard to the United States disregard for humanity:

"International law lays down the principle that belligerent nations are not entitled to unlimited choice in the means by which to destroy their opponents.

"This is made clear by Article 22 of The Hague Convention. Consequently, any attack by such means against open towns and defenseless citizens are unforgivable actions. The United States ought to remember that at the beginning of the fighting in China, it protested to Japan on numerous occasions in the name of humanity against smaller raids carried out by Japan."

[Article 22 of The Hague Convention of 1907 Respecting the Laws and Customs of War on Land states: "The right of belligerents to adopt means of injuring the enemy is not unlimited."]

The Tokyo announcer used the French phrase "villes demilitarises," or "open towns," although Hiroshima was known to be a quartermaster depot and a garrison town of considerable military importance.

The description of the havoc followed the line offered earlier in the broadcast to the United States, the "disastrous ruin" that struck the city, crushed houses and buildings, and "all of the dead and injured were burned beyond recognition," said the broadcast.

OTHER HEADLINES
Soviet Declares War on Japan: Russia Aids Allies: Joins Pacific Struggle After Spurning Foe's Mediation Flea: Seeks Early Peace: Molotoff Reveals Move Three Months After Victory in Europe
Attacks Manchuria, Tokyo Says: Red Army Strikes: Foes Reports First Blow by Soviet Forces on Asian Frontier: Key Points Bombed: Action Believed Aimed to Free Vladivostok Area of Threat
Truman to Report to People Tonight on Big 3 and War: Half-Hour Speech by Radio to Cover a Wide Range of Problems Facing the World: He Signs Peace Charter: And Thus Makes This Country the First to Complete All Ratification Requirements
Foreigners Asked to Stay Home
Tammany Ousts Last of Rebels: County Committee Ratifies Executive Group's Action -- Meeting Picketed
Allies Cut Austria Into Four Zones With Vienna Under Joint Control
385 B-29's Smash 4 Targets in Japan: Tokyo Arsenal and Aircraft Plant Are Seared -- Fukuyama and Yawata Cities Ripped
U.S. Third Fleet Attacking Targets in Northern Honshu
Truman Reveals Move of Moscow: Announces War Declaration Soon After Russian Action -- Capital Is Started
Tokyo 'Flashes' News 3 Hours After Event
4 Powers Call Aggression Crime in Accord Covering War Trials