O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador crise diplomática. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crise diplomática. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Bolsonaro cria crise com a Bolívia por oferecer asilo a ex-presidente golpista (RFI)

 Ex-presidente da Bolívia recusa proposta de asilo no Brasil feita por Bolsonaro


O governo boliviano afirmou que é ‘absolutamente impertinente’ o plano do presidente brasileiro

POR RFI | Carta Capital, 29.06.2022 07H51

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, enfureceu o governo boliviano ao oferecer asilo à Jeanine Áñez no último domingo 26.

A ex-chefe de Estado foi condenada a dez anos de prisão no início deste mês, por assumir a presidência da Bolívia irregularmente, após a renúncia de Evo Morales em 2019.

Áñez está detida em uma peninteciária feminina em La Paz desde março de 2021. Através das redes sociais, administradas por seus parentes, a ex-presidente boliviana agradeceu a Bolsonaro na terça-feira (28). No Twitter, ela ressaltou que “é inocente” e que “não saiu nem sairá do país”.

A ex-chefe de Estado também voltou a afirmar que “não conheceu Bolsonaro pessoalmente”, embora o presidente brasileiro garanta que se encontrou com ela. “Estive uma vez com ela apenas. Achei uma pessoa bastante simpática, uma mulher, acima de tudo”, declarou.

Esse contraponto tem sido usado pelo governo boliviano para concluir que a renúncia do então presidente Evo Morales, em novembro de 2019, foi um “golpe de Estado” arquitetado com a cumplicidade de agentes externos. Dessa suposta conspiração internacional teriam participado, segundo os aliados de Evo Morales, o Brasil, o Equador, a União Europeia e os Estados Unidos.

“Compartilhamos as preocupações da ONU quanto ao devido processo de Jeanine Áñez”, insistiu, nesta terça-feira (28), o secretário adjunto para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Brian Nichols, em referência aos questionamentos das Nações Unidas sobre a independência da Justiça boliviana.

Bolívia acusa Bolsonaro de intromissão
O governo boliviano afirmou na terça-feira que é “absolutamente impertinente” o plano de Bolsonaro de conceder asilo à Áñez. Legisladores governistas acrescentam que a ideia não cumpre com os requisitos internacionais e reforçam a acusação de que o presidente brasileiro teria sido cúmplice do “golpe de Estado” que levou Áñez ao poder em novembro de 2019.

O ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Rogelio Mayta, classificou como “inapropriada ingerência em assuntos internos” a proposta de Bolsonaro. “Lamentamos as desafortunadas declarações do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que são absolutamente impertinentes, constituem uma inapropriada ingerência em assuntos internos, não respeitam as formas de relacionamento entre Estados e não coincidem com as relações de boa vizinhança e de respeito mútuo entre o Brasil e a Bolívia”, definiu o chanceler durante uma coletiva, especialmente convocada para abordar a questão.

No domingo (26), durante uma entrevista ao programa “4 x 4” transmitido pela Internet, Bolsonaro revelou o plano de acolher a ex-presidente boliviana, condenada no último 10 de junho a dez anos de prisão por “não cumprir com deveres e por tomar decisões contrárias à Constituição e às leis”, num processo conhecido como “Golpe de Estado II”

“O Brasil está botando em prática a questão de relações internacionais, de direitos humanos, para ver se traz a Jeanine Áñez e oferece para ela o abrigo aqui no Brasil. É uma injustiça com uma mulher presa na Bolívia”, disse Bolsonaro.”Faremos tudo o que for possível. Está presa injustamente”, concluiu o presidente brasileiro.

“A senhora Áñez está sendo investigada e processada criminalmente no nosso país porque cometeu várias violações de direitos humanos e existem indícios suficientes de também ter cometido delitos de lesa humanidade”, recordou o chanceler boliviano em referência a outro processo, nesse caso o “Golpe de Estado I”, no qual Jeanine Áñez é acusada de sedição terrorismo, levantamento armado e genocídio.

Queixa diplomática
Rogelio Mayta afirmou ainda que o governo da Bolívia iniciará um processo contra o Brasil. “Já trabalhamos nessa queixa. Vamos cumprir com as regras do relacionamento internacional e, nesse caso, o correto é fazermos uma reclamação diplomática”, apontou o ministro.

Pelo lado dos legisladores governistas, o presidente da Câmara de Deputados, Freddy Mamani, interpretou que “a proposta de Bolsonaro confirma a sua cumplicidade no golpe de Estado de 2019”. “Estamos vendo, aos poucos, como todo o plano de um golpe de Estado fica visível.  Sabíamos que esse golpe não era só interno, mas também externo”, acusou Mamani.

O senador Luis Adolfo Flores também classificou a proposta de Bolsonaro como uma “aberta ingerência nas decisões de órgão independentes da Bolívia”. Segundo ele, o presidente brasileiro fere as regras internacionais para a concessão de asilo. “Um solicitante de asilo é aquele que ainda não foi processado”, destacou Flores.

Presidentes da região foram sondados
Para o seu plano de conceder asilo à ex-presidente Áñez, Bolsonaro esclareceu que depende “se o governo boliviano estiver de acordo” e que já conversou sobre o assunto, no começo do mês durante a Cúpula das Américas, com alguns líderes da América Latina, citando o presidente argentino, Alberto Fernández, um aliado do atual governo da Bolívia.

Bolsonaro também afirmou que Lula é “hipócrita” por não condenar a sentença contra Jeanine Áñez, indicando que a preocupação com os direitos humanos tem viés ideológico. “O ex-presidente [Evo Morales] e o atual [Luis Arce] são amigos do Lula e ele não diz absolutamente nada sobre esse caso”, frisou Bolsonaro.

A chegada de Jeanine Áñez ao poder
A então senadora Jeanine Áñez assumiu a presidência da Bolívia em 12 de novembro de 2019, depois da renúncia de Evo Morales, acusado de fraude durante as eleições daquele mês, em uma época em que o país vivia uma convulsão social.

Ao deixar o cargo, Evo Morales não denunciou um “golpe” e toda a linha sucessória – vice-presidente, presidente do Senado e presidente da Câmara de Deputados -, pertencente a seu partido, também renunciou. Jeanine Áñez era a seguinte dessa linha e a sua posse foi validada pelo Supremo Tribunal. O Brasil reconheceu sua legitimidade

Como presidente interina, Jeanine Áñez ficou um ano no poder até que Luis Arce, candidato de Evo Morales, ganhou as eleições. Em março de 2021, a ex-senadora foi presa preventivamente até ser condenada em 10 de junho passado.

Também foram condenados os ex-comandantes das Forças Armadas e da polícia que estão foragidos. “Se estiverem no Brasil, não vão sair daqui”, avisou Bolsonaro, estendendo a oferta de asilo.

https://www.cartacapital.com.br/mundo/ex-presidente-da-bolivia-recusa-proposta-de-asilo-no-brasil-feita-por-bolsonaro/

sábado, 20 de abril de 2019

Venezuela: embaixador russo rejeita a nova versão da doutrina Monroe de John Bolton (AP)

Putin envoy in Caracas rejects US revival of Monroe Doctrine

CARACAS, Venezuela (AP) — As Venezuela’s reliance on Russia grows amid the country’s unfolding crisis, Vladimir Putin’s point man in Caracas is pushing back on the U.S. revival of a doctrine used for generations to justify military interventions in the region.
In a rare interview, Russian Ambassador Vladimir Zaemskiy rejected an assertion this week by U.S. National Security Adviser John Bolton that the 1823 Monroe Doctrine is “alive and well.”
The policy, originally aimed at opposing any European meddling in the hemisphere, was used to justify U.S. military interventions in countries including Cuba, Nicaragua, the Dominican Republic and Grenada, but had been left for dead by recent U.S. administrations trying to turn the page on a dark past.
“It’s hard to believe that the U.S. administration have invented a time machine that not only allows them to turn back the clock but also the direction of the universe,” the 66-year-old diplomat told The Associated Press this week.
In an example of how the Cold War-like rhetoric on all sides of Venezuela’s crisis has quickly escalated, the ambassador compared hostile comments by Bolton, Secretary of State Mike Pompeo and Republican Sen. Marco Rubio to those of the al Qaeda leaders behind the Sept. 11, 2001, terrorist attacks.
“Their obsession in imposing their will, in this case on Venezuela’s internal affairs, reminds me of the declarations of the leaders of al Qaeda, who in carrying out the attack on the Twin Towers also tried to position themselves as the only bearers of the truth,” said Zaemskiy, who was senior counselor at Russia’s mission to the United Nations on 9/11. “The history of humanity has shown that none of us are.”
Those specific, written remarks were prepared ahead of the interview.
While the Trump administration led a chorus of some 50 nations that in January recognized opposition leader Juan Guaidó as Venezuela’s rightful leader, Putin has steadfastly stood by Nicolás Maduro, sending planeloads of military personnel and blocking condemnation of his government at the U.N. Security Council.
In a speech this week commemorating the anniversary of the disastrous CIA-organized invasion of Cuba in 1961 by exiles opposed to Fidel Castro’s revolution, Bolton warned Russia against deploying military assets to “prop up” Maduro, considering such actions a violation of the Monroe Doctrine.
What the U.S. considers Russia’s destabilizing support for Maduro hit a high point in December when two Russian bombers capable of carrying nuclear weapons touched down in Caracas. Then, last month, dozens of uniformed personnel arrived to service Sukhoi fighter jets and an S-300 missile system.
Zaemskiy said such military cooperation is perfectly legal and has been taking place for years — ever since the U.S. in 2006 banned all arms sales to the South American country. But he said the alliance has taken on added importance as the Trump administration repeatedly insists that a “military option” to remove Maduro remains on the table.
He was unwilling to say how far Russia would go to thwart an eventual U.S. attack, saying that as a diplomat he’s an optimist.
“I firmly believe that in the end reason will prevail and no tragedy will take place,” he said.
The soft-spoken, bookish Zaemskiy has specialized in Latin America since his days working for the Soviet Union and was posted to Washington for the first of two U.S. tours when the Cold War ended.
Because of his strong Spanish and English, he was a note-taker at the U.N. in September 2000 when Maduro’s mentor and predecessor Hugo Chavez met Putin for the first time. He said he recalls Chavez complaining to the newly elected Putin about the need to raise oil prices, then near three-decade low. The two petroleum powers gradually cemented a political, military and economic alliance over the next few years as oil prices surged to an all-time high, bringing riches to both.
Western diplomats describe Zaemskiy as an astute and affable interlocutor who even U.S. diplomats and leaders of the opposition are known to consult. He’s also the dean of foreign diplomats in Caracas’ dwindling diplomatic community, having presented his credentials in September 2009 — a few weeks before another staunch government ally, Cuban Ambassador Rogelio Polanco.
The aquamarine-colored Russian Embassy, where Zaemskiy also lives, was a mid-century mansion purchased in the 1970s from a wealthy military colonel trained in the U.S. It lies in the shadow the hilltop U.S. Embassy, whose flagpole has been bare since the last American diplomats pulled out of the country last month amid a feud with Maduro over its recognition of Guaidó.
He acknowledged that with hyperinflation raging and many goods in short supply, Venezuela is in a “very difficult” situation. Echoing Maduro, he blamed U.S. sanctions, as well as the stifling of private investment.
His first tour in Venezuela as a protocol officer came from 1976 to 1979, when modern skyscrapers paid for by a flood of petrodollars transformed Caracas’ skyline even as many outside the capital lived in what he described as a semi-feudal state. Zaemskiy said the legacy of Chavez’s economic and political revolution — that it restored dignity to the poor — remains intact.
“It’s perfectly clear to me that the economic situation of the country has deteriorated a great deal,” he said. “The way forward is to open more opportunities for the private sector, which still has a big role to play in the country and should be allowed to demonstrate that” — seemingly a veiled criticism of Maduro’s constant squeeze on private businesses.
To break the current stalemate, he urged something the government’s foes have so far rejected: burying the past and starting negotiations, perhaps with the mediation of the Vatican or U.N.
The U.S. and opposition insist that past attempts at dialogue have only served to give Maduro badly needed political oxygen while producing no progress.
“The lack of confidence is a problem on both sides, which is why they should think together on some innovative ways to create reassurances in this process,” he said. “To simply reject the possibility of dialogue and repeat that the only way forward is the ‘end of usurpation’ as the opposition says, won’t lead anywhere.”
Despite such outward care for Maduro, some have questioned the depth of Russia’s support.
Russia is major investor in Venezuela’s oil industry, but those interests have been jeopardized since the Trump administration in January imposed sanctions on state-run oil giant PDVSA and even went after a Moscow-based bank for facilitating its transactions. At the same time PDVSA last month moved its European headquarters to Moscow from Lisbon, Gazprombank said it was pulling out of a joint venture with the company, Russian state media reported.
“The core value of Russia’s association with Chavismo is a challenge to U.S. prerogatives in its supposed backyard,” said Ivan Briscoe, the head in Latin American for the Crisis Group, a Brussels-based think tank. “That said, Russian diplomacy is nothing if not realistic. They know Venezuela is plunging into an economic abyss with tragic humanitarian consequences. When the moment comes and tensions reach a height, they are likely to help negotiate a settlement, but will aim to exact the highest price they can.”
___
Follow Goodman on Twitter: https://twitter.com/APjoshgoodman
Copyright © 2019 The Associated Press. All rights reserved. This material may not be published, broadcast, written or redistributed.