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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Que delicia de reuniao! Esses empresarios fantasticos e suas sugestoes maravilhosas...

Parece que o PIB brasileiro está contente de ser recebido pela soberana. Ele aguarda ansiosamente medidas que permitam aos empresários ficarem um pouco mais ricos.
Ops, ricos eles já são. Eles só querem sobreviver à maré chinesa.
Que coisa hem?!
E eu pensava que eles estivessem submergidos é pela maré, pelo tsunami de impostos no Brasil.
Pelas dificuldades burocráticas, pelo fascismo da Receita, pela precariedade da infraestrutura, pelo chamado custo Brasil.
Por que esses empresários maravilhosos não fazem uma "fronda", como seus antigos colegas aristocráticos da Inglaterra e da França, quando confrontados à espoliação dos respectivos soberanos?
Eles são covardes?
Ou apenas acomodados?
Poltrões...
Paulo Roberto de Almeida 



O que quer Dilma, o que querem os empresários
Coluna/ Sergio Leo
Valor Econômico, 26/03/2012

Joesley Batista, da JBS /Friboi, pavoneou-se com sua fábrica de celulose, "a maior fábrica de celulose do mundo"; um diferente Batista, Eike, alardeou que investirá no Brasil R$ 56 bilhões até 2016; investimentos de US$ 46 bilhões até 2015 foram anunciados por outros dos 28 empresários, banqueiros e representantes de associações empresariais convidados na quinta-feira para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff. Ela não quis uma reunião com empresas, mas com líderes empresariais. Abílio Diniz, de viagem, tentou mandar representante do Pão de Açúcar e lhe informaram que o convite era intransferível.
A reunião coincidiu com uma semana infernal para Dilma, que sofreu derrotas no Congresso impostas por supostos aliados insatisfeitos com seu jeito de lidar com políticos. Marcado antes da rebelião parlamentar, a pedido do empresário Jorge Gerdau, que convenceu Dilma da necessidade de melhorar a interlocução com os empresários, o encontro juntou, no Planalto, expressiva coleção de figurões do setor privado, interessados em desencalhar decisões atoladas em terrenos pouco republicanos no Congresso.
Se como disse a presidente à revista "Veja" no fim de semana, crises institucionais se alimentam da "perda de legitimidade do governante", os empresários indicaram que essa perda, no caso dela, não está no roteiro da vida real. Como comparação, às vésperas da queda de Fernando Collor (que, recentemente, advertiu Dilma sobre os riscos de perder apoio parlamentar) Brasília foi palco de um almoço promovido pelas associações da indústria, com guardanapos e toalhas de mesa pretas, a cor da campanha pelo impeachment.
Dilma foi convencida a melhorar interlocução com os empresários
A intenção explícita da reunião no Planalto foi a de animar os empresários a manter e ampliar seus planos de investimento, dando a todos a garantia de que o governo tem, sim, um plano de longo prazo e compromisso em enfrentar os principais entraves à competitividade do Brasil e de suas empresas. Implicitamente, Dilma, com seu discurso e o encontro, reconheceu que não pode querer que a taxa de investimento no país chegue aos desejados 24% do Produto Interno Bruto mantendo como linha de ação as descoordenadas iniciativas pontuais do governo, em resposta a demandas setoriais ou eventos inesperados.
Os empresários desfiaram a pauta tradicional de queixas, expurgada, talvez, das reclamações habituais contra a taxa de câmbio, que já é alvo público das ações do governo, inclusive do Banco Central. Se houve um consenso gritante, foi a condução da política tributária. Os empresários veem como grande barreira às decisões de investimento e à sobrevivência das empresas o regime complexo, burocrático e opressivo de impostos.
O governo, até agora, apresenta como grande feito, na área, a promessa de "desoneração" das folhas de pagamento em troca de aumento da tributação sobre o faturamento. Os líderes do setor privado prestigiados pela presidente acham que se deveria ir bem além, reduzindo a carga de imposto e simplificando sua atuação. Deixaram claro que uma medida que reduzisse imposto em toda a cadeia de produção, não apenas em algumas de suas pontas seria bem-vinda.
Pragmático, Josué Gomes, da Coteminas, propôs a criação de uma meta de redução da carga tributária, dando prazo à máquina pública para acostumar-se com maior moderação nos gastos. André Esteves, do BTG Pactual, foi mais ambicioso: por que não um corte linear em todas as alíquotas? Dilma anotou, o que dá esperanças - tênues - de que cobre de sua equipe econômica resposta à demanda.
O absurdo custo da energia no Brasil também foi, como se esperaria, um tema de destaque. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu aproveitar o fim das atuais concessões do setor elétrico para atrair a competição e operadores com menores preços. Outros empresários aceitam medida mais modesta, com uma renegociação dura das tarifas na renovação das concessões, como parece ser o caminho do governo.
Também na manifestação das preocupações dos empresários, a coincidência entre a reunião com Dilma e a crise no Congresso serve para ressaltar a preocupante dissonância entre o que o setor privado considera as grandes questões nacionais e a lógica dos parlamentares, que, ao debater a questão tributária, por exemplo, levantam a voz com mais firmeza quando falam em receitas e distribuição de verbas. A necessidade de pressionar o Congresso surgiu na reunião de maneira discreta, até porque empresários já fazem isso.
Ao fim da reunião, o governo deixou claro que, na volta da viagem à Índia, onde estará nesta semana, Dilma anunciará medidas de apoio aos investimentos. Até agora, de certo há a receita pontual e insuficiente, com decisões como prorrogação de isenção do IPI de eletrodomésticos e "desoneração" parcial da folha. O compromisso de encontros trimestrais com os empresários obrigará o governo a maior ousadia, se não quiser transformar as reuniões em constrangedores sessões de desabafo do setor privado.

domingo, 8 de maio de 2011

Mediocrizacao do empresariado (depois da academia, os novos idiotas se apresentam)

Concedo em que a burguesia - como gostam de chamar os empresários seus mais novos e surpreendentes aliados -- lucrou barbaramente durante os oito anos do "nunca antes". Banqueiros e industriais em geral nunca ganharam tanto, como falou aquele mesmo que se aliou gostosamente aos "exploradores da classe operária". Eles podem ser gratos, assim, a quem lhes fez um pouco mais ricos (ainda que eles não tenham consciência de que entregaram um pouco dos seus novos ganhos àqueles mesmos que permitiram essa nova afluência, tanto diretamente, ou seja, pela via expropriatória, como oficialmente, via Receita Federal).
A única coisa que eu não entendo é como empresários medianamente inteligentes concedam pagar não sei quantas centenas de reais para ouvir banalidades, bobagens e outras gracinhas sem sentido.
Deve ser para se exibirem uns aos outros -- "Eu também estava lá!" -- ou para continuarem com a ilusão de que melhor esse regime de companheiros camaradas com o capital do que algum capitalista liberal, que poderia -- oh, ideia maluca -- introduzir um verdadeiro regime de mercado no Brasil.
Em todo caso, eu sempre fico surpreendido com pessoas que cultivam a burrice e a banalidade...
Paulo Roberto de Almeida

Empresários aglomeram-se em pé por uma hora para ouvir Lula no Fasano
Vanessa Adachi
Valor Econômico, 06/05/2011, p. A5

Lula em palestra para banqueiros: "Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato" (foto)

São Paulo - "Eu nunca votei no Lula e nunca votarei. Mas vim por causa dele." Essa era a afirmação mais repetida na noite de quarta-feira em dezenas de rodinhas formadas por empresários, banqueiros, executivos e advogados que lotaram o amplo salão da Casa Fasano, templo de festejos luxuosos da elite paulistana.
Pouco mais de 450 pessoas se espalharam pelo espaço de pé direito altíssimo e paredes de intrigante transparência, que deixam ver os aviões que cruzam o céu. O Bank of America Merrill Lynch, um dos maiores bancos dos Estados Unidos, era o anfitrião da noite e comemorava a autorização do Banco Central do Brasil para que a instituição passe a operar como banco múltiplo, ampliando sua atuação no país.

Alexandre Bettamio, presidente do BofA no Brasil, provavelmente também não votou em Lula em 2002 ou 2006. Mas elegeu o ex-presidente para ancorar o mais importante evento já realizado pela instituição no país apostando que seria um grande chamariz. A escolha foi certeira.

Lula tem cobrado cachê de "palestrante global". No caso, o valor não confirmado pelos assessores do presidente ou pelo banco, de quase R$ 200 mil, incluía discurso de 45 minutos seguido de mais meia hora de "social" pelo salão. O contrato foi cumprido à risca e, talvez sensível à praxe do setor financeiro, o ex-presidente concedeu um bônus aos banqueiros e falou por 1 hora e dois minutos. Parte da plateia nunca havia tido a oportunidade de estar tête-à- tête com o ex-presidente. Outros queriam vê-lo falar de novo e esperavam "se divertir" com o discurso bem humorado. Pouco depois das 20 horas o salão já estava cheio e, por volta das 21h30, quando Lula começou a falar, o público se aglomerou ao seu redor, abrindo um clarão ao fundo. Aguentaram firme, em pé, por mais de uma hora.

Na "primeira fila", dois ex-ministros de Lula: Luiz Fernando Furlan, que ocupou a Pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; e o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles. Logo a seu lado, o atual presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Ricardo Flores. Sentada à uma discreta mesinha ao lado direito do pequeno palco montado, dona Marisa assistiu a metade do discurso acompanhada de uma outra mulher. Lá pelas tantas, foi escoltada por seguranças até uma sala reservada e de lá não mais saiu.

Ao introduzir Lula à plateia, o presidente de mercados globais do Bank of America, Tom Montag, referiu-se a ele como "o político mais popular da Terra". O "gancho" para a presença de Lula em um evento do banco americano foi o enorme desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro durante seu governo. O BofA foi um dos bancos que lideraram a gigantesca capitalização da Petrobras no segundo semestre do ano passado. Único ponto de contato entre o ex-presidente e seu contratante, o fato foi fartamente lembrado nos discursos da noite.

Lula fez uma palestra sob medida para o público presente. Temas como a explosão do crédito consignado e o desenvolvimento do mercado de capitais foram cuidadosamente escolhidos para rechear a fala. Munido de um discurso oficial de cinco páginas, Lula fez a alegria dos presentes ao abusar de seus famosos improvisos. "He speaks very well", dizia um executivo brasileiro a outro, estrangeiro, no meio do salão.

Arrancou gargalhadas sinceras e mesmo aplausos, em diversos momentos, ao debochar do que seria o estereótipo da forma de pensar da elite brasileira. "Tem gente que fala: esse Lula colocou os pobres no lugar que só nós viajávamos", afirmou, por exemplo, ao referir-se ao fato de "os pobres" estarem viajando de avião. Mais tarde, disse que muita gente começa a falar inglês antes mesmo de sair do aeroporto, só para mostrar que sabe.

Apelou para a emoção e deixou a plateia silenciosa ao falar do Programa Luz para Todos e descrever que "quando chega a luz elétrica na casa de uma pessoa é como se você, num passe de mágica, pegasse uma pessoa do século 18 e trouxesse para o século 21. É como se fosse a máquina do tempo."

Lula queria provar, caso alguém ali ainda tivesse dúvida, que a política de seu governo fez bem ao empresariado. Já perto das 22h30 e do fim de sua palestra, quando a audiência se mostrava um pouco cansada com a longa fala do ex-presidente, ele arrematou: "Eu sei que tem gente que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês: eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato."

E nesse momento talvez tenha cometido a única gafe da noite, ao exemplificar: "Pode pegar qualquer empresa, pode pegar a empresa do Furlan." A Sadia, empresa antes controlada pela família do ex-ministro Furlan, como bem sabem todos os presentes, praticamente quebrou em 2008. Não por conta de políticas econômicas, é verdade, mas por problemas de gestão. Mas os cochichos ao pé do ouvido foram inevitáveis.

"Ele é muito bom", "ele é muito inteligente", "agora dá para entender [a sua popularidade]", saíram falando aqueles que nunca votariam nele.

Das poucas pessoas dentro da Casa Fasano que haviam votado em Lula, duas copeiras não escondiam a excitação com a presença de seu ex-presidente. Difícil foi encarar a frustração de não poder vê-lo: muito profissionais, não abandonaram o posto e ficaram confinadas no banheiro feminino durante quase toda a noite, prestando assistência às convidadas.

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Complemento (PRA):

Blog de Ricardo Noblat - 7.5.2011

Reli, há pouco, a frase do dia postada ontem neste blog. Dizia assim: "Quando peguei esse país só tinha miserável. E eu, operário sem um dedo, fiz mais que o Bill Gates, Steve Jobs e esses aí."

Foi pinçada da palestra dada por Lula na última quarta-feira para convidados do Bank of America/Merrill Lynch reunidos na Casa Fasano, em São Paulo.

Lula recebeu R$ 250 mil pela palestra. Onde disse coisas do tipo "Wall Street não gosta de mim, mas o chefe deles gosta". Ou "tem que falar português em aeroporto americano, eles têm que entender o que a gente fala".

A expressão "nunca antes neste país" deu lugar "a nunca antes neste planeta", anotou Sonia Racy, colunista de O Estado de S. Paulo.

Quando Lula resolveu falar sobre o principal problema que aflige o governo - a inflação - foi para dizer que Dilma saberá resolvê-lo porque é competente. Invocou o testemunho de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, ali presente.

E como de costume, elogiou o que fez em oito anos.

Perguntei então aos meus botões (não é só o jornalista Mino Carta que se socorre dos próprios botões): até quando empresários importantes continuarão pagando fortunas a Lula para só ouvir bobagens, disparates, autoelogios e trivialidades?

Como palanqueiro, falando para o povão, Lula é imbatível.

Como conferencista para platéias sofisticadas pode ser razoável quando lê o que lhe dão.

Mas se improvisa, é raso como um pires. No máximo provoca risadas. Algumas de puro constrangimento.