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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Eleicoes 2014: o curral eleitoral vai ficando cada vez mais caro

50 reais para ser claque em comício dos mafiosos? Muito pouco...
Paulo Roberto de Almeida 

Eleições 2014

Comício com Lula tem drone, militantes pagos e Dilma 'esquecida'

Em Recife, presidente-candidata virou coadjuvante durante discurso de seu cabo eleitoral. Na plateia, beneficiários do Bolsa Família pagos para estar lá

Felipe Frazão, de Recife
04/09/2014 - A candidata do PT à reeleição, Dilma Roussef, o ex-presidente Lula e o candidato ao governo de Pernamabuco, Armando Monteiro, durante comício em Recife
04/09/2014 - A candidata do PT à reeleição, Dilma Roussef, o ex-presidente Lula e o candidato ao governo de Pernamabuco, Armando Monteiro, durante comício em Recife   (Alexandre Gondim/Folhapress)
O comício que o ex-presidente Lula e a presidente-candidata Dilma Rousseff promoveram na noite desta quinta-feira no Recife (PE) foi o maior evento da campanha petista até o momento. Com ares de superprodução, o ato político teve queima de fogos e foi gravado para a propaganda de Dilma no horário eleitoral gratuito com um drone, que captou imagens aéreas da multidão aglomerada à beira-mar na favela Brasília Teimosa. Apesar de ser reduto petista, o local vive sob influência do PSB de Marina Silva, candidata à Presidência, e Paulo Câmara, candidato ao governo do Estado escolhido pelo ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13 de agosto. Bandeiras amarelas do partido flamulavam entre as do PT. Era só o primeiro sinal de que a mobilização em prol de Dilma não era tão espontânea.
À tarde, dezenas de ônibus vindos do Agreste, da Zona da Mata e da Região Metropolitana do Recife desembarcaram cabos eleitorais na orla de Brasília Teimosa. Parlamentares e prefeitos de PT e PTB organizaram as caravanas com a missão de levar 20.000 pessoas ao comício. O acesso foi tumultuado. Beneficiárias do Bolsa-Família, as donas de casa Edneuza Alcides, de 42 anos, e Santa Maria da Silva, de 44 anos, disseram ter recebido 50 reais para ir ao comício noturno. Elas relataram ter sido arregimentadas por correligionários de João da Costa (PT), ex-prefeito de Recife e candidato a deputado federal. As duas moram em bairros pobres na periferia da cidade: Casa Amarela, maior favela pernambucana, e Dois Irmãos, e pediram para não serem fotografadas com medo de perder o bico que lhes complementa a renda em época eleitoral. "Aqui veio gente de várias favelas. Pagam 50 [reais]. Dando um 'troquinho' fica mais fácil", disse Edneuza esfregando o indicador no polegar. "Eu quero mudança. Já são 12 anos de PT e nada. Quero ver aumentar o Bolsa-Família", cobrou Santa Maria.
Elas empunhavam bandeiras por João da Costa e contaram que equipes pediram que amarrassem nas costas a bandeira branca de Dilma, como se vestissem uma capa. Admiradoras de Lula, Miguel Arraes e Eduardo Campos, não demonstraram afinidade com a presidente-candidata, que foi a última a discursar para um público já esvaziado e disperso. Não havia mais tanta aglomeração nas janelas e nas lajes das casas, como os que pararam para ouvir o ex-presidente. Lula chegou a ofuscar Dilma no início do ato, que começou com duas horas de atraso. Ele foi aclamado e "convocado" pelo público a vestir um chapéu de sertanejo. Desceu do palco para abraçar eleitores e buscar o chapéu. Quando voltou ao palanque, onde Dilma "esquecida" batia palmas tímidas, deu um jeitinho de colocar a sucessora em evidência: pôs o chapéu nela, em vez de vesti-lo. Lula tentou aproximar Dilma do público. Chamou-a de "essa moça" ou "essa mulher". Apresentou Dilma como uma defensora dos pobres, dentro da retórica do "nós contra eles". "Essa mulher pode fazer o pobre subir mais alguns degraus na escada social desse país. Ela sabe que um quinhãozinho maior tem que ser dado aos mais pobres". O ex-presidente também lembrou de dizer que "pobre vale mais no dia da eleição" e que o "povo sem sabedoria é tangido como se fosse gado".

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Eleicoes 2014: vem ai o guia genial dos povos (e da burguesia)


LULA OUVIU E FICOU MUDO
O Estado de S.Paulo, 16/2/2014

Os atritos na relação de Dilma com os empresários foram responsáveis, na sexta-feira, pelo recuo do usineiro Maurílio Biagi Filho no compromisso verbal assumido com o PT. Recém-filiado ao PR, Biagi anunciou a desistência de ser vice na chapa de Padilha. "É difícil ganhar a eleição em São Paulo com o agronegócio ruim como está", afirmou Biagi. "O problema é causado pela política do governo federal e não adianta mais promessa. O governo tem de propor solução para o setor."

Biagi promoveu um jantar com representantes do agronegócio em sua casa, em Ribeirão Preto, no dia 7. Ali seria dada a largada festiva da campanha de Padilha, ex-ministro da Saúde.

Diante de Lula e do candidato, porém, o clima foi de constrangimento com as críticas.

Um empresário que participou do jantar em Ribeirão Preto conta que assistiu o seguinte monólogo de um representante da indústria de base com o ex-presidente Lula:

"O senhor tem responsabilidade por esta crise pois colocou Dilma na Presidência da República. Esta mulher demonstrou total incompetência e prejudicou praticamente a todos os setores da economia brasileira. Ela quebrou a Petrobras e toda cadeia produtiva sucroenergética e vamos dar o troco nas urnas".

Disse mais: "Nem de energia ela entende, haja vista o colapso iminente em que está colocando todo o sistema elétrico nacional. Para piorar, depois de desmerecer a bioeletricidade, agora sequer haverá bagaço de cana para ajudar, como ocorreu durante o 'apagão' do governo Fernando Henrique".

Para concluir: "Se o senhor tem o prestígio que todos alardeiam, mande esta mulher pro inferno. Ou melhor, mande-a pra Cuba, Venezuela ou Argentina e seja o senhor o candidato nas eleições de outubro. Do contrário, vamos fazer campanha contra todos os candidatos da base de apoio a este que está sendo o pior governo da história do País. Chega!"

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O mito e a fraude: a doenca como arma politica...

Nota liminar: mais um post que tinha ficado escondido na seção de rascunho do meu blog. Muitas vezes, seja por absoluta falta de tempo, seja por problemas de conexão, uma postagem não vai levada a termo. Estou revisando as que ficaram no estoque dos rascunhos, eliminando as puramente conjunturais, e postando as que merecem divulgação, por sua atualidade permanente, se ouso dizer.
Esta aqui é sobre a exploração da doença pelo ex-presidente, como sempre explorada politicamente, como ele sempre fez com tudo, no seu exacerbado oportunismo e caráter mais do que duvidoso.
O comentário abaixo, tinha sido feito à época, e o mantenho tal qual.
Paulo Roberto de Almeida 


Já tínhamos a mentira, a propaganda enganosa, o autoengano, a mistificação, a fraude, numa só palavra, encarnadas num personagem exemplar de tudo o que existe ... na política brasileira (os três pontinhos ficam para cada leitor preencher segundo suas conveniências, crenças, preferências, etc.). 
Agora teremos tudo isso em dose dupla, tripla, multiplicadas por "n" vezes, com a ajuda da imprensa, dos médicos, dos colunistas a soldo, das almas piedosas, dos oportunistas e carreiristas, enfim, do próprio personagem, que não vai se eximir, um único segundo, de explorar suas novas virtudes de sobrevivente de uma doença ela mesma mítica.
Ele já era um símbolo de alguma coisa mitificada e mistificada pela imprensa e pelos partidos e militantes de certa esquerda fraudulenta. Depois se tornou um mito, alimentado a milhões de propaganda oficial, paga com nosso dinheiro, claro.
Agora está a caminho de se converter em semideus. Imbatível.
Teremos a fraude por mais alguns anos, e o Brasil vai ficando o que é graças a ele e a personagens como ele, e toda a sua tribo de seguidores e crentes ingênuos (e muitos menos ingênuos).
Paulo Roberto de Almeida 

NA POLÍTICA E NA DOENÇA

Lula vai virar o novo Padim Ciço?

Lula não se fará de rogado para usar a sua luta contra o câncer para tentar fazer aumentar a devoção à sua figura? Por Hugo Souza

Opinião e Notícia, 1/12/2011 
Uma observação nada sutil do articulista do jornal O Estado de S.Paulo José Nêumanne sobre a doença do ex-presidente Lula feita na última segunda-feira, 28, está causando grande ronrom. Participando de um evento intitulado “Liberdade de Imprensa vs. Politicamente Correto”, em São Paulo, Nêumanne profetizou: “O câncer vai fazer Lula se tornar o Padre Cícero”.
Talvez entusiasmado com o tema do seminário do qual participava, José Nêumanne colocou de uma forma mais, digamos, midiática, ou pelo menos politicamente incorreta, o que muito já se comentou na imprensa nacional e internacional sobre o efeito que o tumor na laringe do ex-presidente terá sobre a vida política brasileira.
Vide a recente reportagem da principal revista de econômica e política do mundo, a The Economist, sobre as implicações políticas do diagnóstico de Lula, na qual se diz que “as palavras que ele proferir serão difíceis de ignorar. O sentimento de solidariedade com ele dará mais peso às suas indicações de candidatos e pedidos de unidade na coalizão”.
Devoção e mistificação
“Ele vai fazer o que quiser com o PT e com o Brasil”, disse ainda José Nêumanne, prevendo que Lula se tornará um colosso político ainda maior depois da cura, desfecho bastante provável do tratamento do ex-presidente, segundo os médicos.
Tais afirmações de José Nêumanne têm como substrato a suspeita de que Lula e seu círculo político não se farão de rogados para usar a sua luta contra o câncer a fim de tentar fazer aumentar a devoção à sua figura. Para alguns, o estratagema já está em curso, tendo começado mais exatamente quando o ex-presidente apareceu em um vídeo gravado no hospital Sírio-Libanês após a primeira sessão de quimioterapia para agradecer “a solidariedade e o carinho do povo brasileiro” e para dizer que a luta contra a doença “não é a primeira nem última batalha” que ele irá enfrentar.
No vídeo sobre o câncer, falou o político messiânico: “Não existe espaço para pessimismo, para ficar lamentando que o dia não foi bom. Sem perseverança, sem muita persistência, sem muita garra, a gente não consegue nada. Nós temos que lutar. Foi para isso que eu vim, para lutar, para melhorar a vida de todo mundo”.
O mistério do mindinho
A dita devoção a Lula foi construída, sim, com um carisma que o faz quase que imantado, mas também com boas doses de mistificações que foram se criando em torno de sua história de vida e de sua vida política.
Acerca de tais mistificações, o próprio Nêumanne questiona a história que Lula conta sobre a perda do dedo mindinho da sua mão esquerda. Segundo o ex-presidente, ele estaria trabalhando no torno quando um colega bêbado chegou e prensou seu dedo. Lula teria sido obrigado a seguir trabalhando porque o patrão não o teria deixado ir ao médico. Quando finalmente chegou ao pronto-socorro, depois do expediente, o plantonista teria amputado seu dedo por puro comodismo.
“Aí, eu pergunto: quem era esse bêbado? Quem era o patrão? Quem eram esses amigos? Quem era o médico? Ninguém sabe!”, disse Nêumanne em sua noite politicamente incorreta em São Paulo. A mesma noite na qual ele levantou a bola de que o Lula de câncer curado, será o novo “Padim Ciço”, como diz a gente pobre do sertão. E completou: “É a mesma história das outras contadas pelo Lula: ele sempre é o herói e sempre tem um filho da p… para atrapalhar”.
Caso se confirme o cenário de uso político do câncer de Lula pelo próprio doente, algo como uma volta por cima “como nunca antes na história deste país”, o ex-presidente estará legitimando por completo as campanhas que surgiram desde o seu diagnóstico pedindo que ele trate seu tumor pelo SUS, e não no Sírio-Libanês – campanhas diante das quais muita gente se escandalizou exatamente por não admitir a mistura de Lula com Luis Inácio, ou seja, da política com a doença.

domingo, 8 de maio de 2011

Mediocrizacao do empresariado (depois da academia, os novos idiotas se apresentam)

Concedo em que a burguesia - como gostam de chamar os empresários seus mais novos e surpreendentes aliados -- lucrou barbaramente durante os oito anos do "nunca antes". Banqueiros e industriais em geral nunca ganharam tanto, como falou aquele mesmo que se aliou gostosamente aos "exploradores da classe operária". Eles podem ser gratos, assim, a quem lhes fez um pouco mais ricos (ainda que eles não tenham consciência de que entregaram um pouco dos seus novos ganhos àqueles mesmos que permitiram essa nova afluência, tanto diretamente, ou seja, pela via expropriatória, como oficialmente, via Receita Federal).
A única coisa que eu não entendo é como empresários medianamente inteligentes concedam pagar não sei quantas centenas de reais para ouvir banalidades, bobagens e outras gracinhas sem sentido.
Deve ser para se exibirem uns aos outros -- "Eu também estava lá!" -- ou para continuarem com a ilusão de que melhor esse regime de companheiros camaradas com o capital do que algum capitalista liberal, que poderia -- oh, ideia maluca -- introduzir um verdadeiro regime de mercado no Brasil.
Em todo caso, eu sempre fico surpreendido com pessoas que cultivam a burrice e a banalidade...
Paulo Roberto de Almeida

Empresários aglomeram-se em pé por uma hora para ouvir Lula no Fasano
Vanessa Adachi
Valor Econômico, 06/05/2011, p. A5

Lula em palestra para banqueiros: "Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato" (foto)

São Paulo - "Eu nunca votei no Lula e nunca votarei. Mas vim por causa dele." Essa era a afirmação mais repetida na noite de quarta-feira em dezenas de rodinhas formadas por empresários, banqueiros, executivos e advogados que lotaram o amplo salão da Casa Fasano, templo de festejos luxuosos da elite paulistana.
Pouco mais de 450 pessoas se espalharam pelo espaço de pé direito altíssimo e paredes de intrigante transparência, que deixam ver os aviões que cruzam o céu. O Bank of America Merrill Lynch, um dos maiores bancos dos Estados Unidos, era o anfitrião da noite e comemorava a autorização do Banco Central do Brasil para que a instituição passe a operar como banco múltiplo, ampliando sua atuação no país.

Alexandre Bettamio, presidente do BofA no Brasil, provavelmente também não votou em Lula em 2002 ou 2006. Mas elegeu o ex-presidente para ancorar o mais importante evento já realizado pela instituição no país apostando que seria um grande chamariz. A escolha foi certeira.

Lula tem cobrado cachê de "palestrante global". No caso, o valor não confirmado pelos assessores do presidente ou pelo banco, de quase R$ 200 mil, incluía discurso de 45 minutos seguido de mais meia hora de "social" pelo salão. O contrato foi cumprido à risca e, talvez sensível à praxe do setor financeiro, o ex-presidente concedeu um bônus aos banqueiros e falou por 1 hora e dois minutos. Parte da plateia nunca havia tido a oportunidade de estar tête-à- tête com o ex-presidente. Outros queriam vê-lo falar de novo e esperavam "se divertir" com o discurso bem humorado. Pouco depois das 20 horas o salão já estava cheio e, por volta das 21h30, quando Lula começou a falar, o público se aglomerou ao seu redor, abrindo um clarão ao fundo. Aguentaram firme, em pé, por mais de uma hora.

Na "primeira fila", dois ex-ministros de Lula: Luiz Fernando Furlan, que ocupou a Pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; e o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles. Logo a seu lado, o atual presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Ricardo Flores. Sentada à uma discreta mesinha ao lado direito do pequeno palco montado, dona Marisa assistiu a metade do discurso acompanhada de uma outra mulher. Lá pelas tantas, foi escoltada por seguranças até uma sala reservada e de lá não mais saiu.

Ao introduzir Lula à plateia, o presidente de mercados globais do Bank of America, Tom Montag, referiu-se a ele como "o político mais popular da Terra". O "gancho" para a presença de Lula em um evento do banco americano foi o enorme desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro durante seu governo. O BofA foi um dos bancos que lideraram a gigantesca capitalização da Petrobras no segundo semestre do ano passado. Único ponto de contato entre o ex-presidente e seu contratante, o fato foi fartamente lembrado nos discursos da noite.

Lula fez uma palestra sob medida para o público presente. Temas como a explosão do crédito consignado e o desenvolvimento do mercado de capitais foram cuidadosamente escolhidos para rechear a fala. Munido de um discurso oficial de cinco páginas, Lula fez a alegria dos presentes ao abusar de seus famosos improvisos. "He speaks very well", dizia um executivo brasileiro a outro, estrangeiro, no meio do salão.

Arrancou gargalhadas sinceras e mesmo aplausos, em diversos momentos, ao debochar do que seria o estereótipo da forma de pensar da elite brasileira. "Tem gente que fala: esse Lula colocou os pobres no lugar que só nós viajávamos", afirmou, por exemplo, ao referir-se ao fato de "os pobres" estarem viajando de avião. Mais tarde, disse que muita gente começa a falar inglês antes mesmo de sair do aeroporto, só para mostrar que sabe.

Apelou para a emoção e deixou a plateia silenciosa ao falar do Programa Luz para Todos e descrever que "quando chega a luz elétrica na casa de uma pessoa é como se você, num passe de mágica, pegasse uma pessoa do século 18 e trouxesse para o século 21. É como se fosse a máquina do tempo."

Lula queria provar, caso alguém ali ainda tivesse dúvida, que a política de seu governo fez bem ao empresariado. Já perto das 22h30 e do fim de sua palestra, quando a audiência se mostrava um pouco cansada com a longa fala do ex-presidente, ele arrematou: "Eu sei que tem gente que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês: eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato."

E nesse momento talvez tenha cometido a única gafe da noite, ao exemplificar: "Pode pegar qualquer empresa, pode pegar a empresa do Furlan." A Sadia, empresa antes controlada pela família do ex-ministro Furlan, como bem sabem todos os presentes, praticamente quebrou em 2008. Não por conta de políticas econômicas, é verdade, mas por problemas de gestão. Mas os cochichos ao pé do ouvido foram inevitáveis.

"Ele é muito bom", "ele é muito inteligente", "agora dá para entender [a sua popularidade]", saíram falando aqueles que nunca votariam nele.

Das poucas pessoas dentro da Casa Fasano que haviam votado em Lula, duas copeiras não escondiam a excitação com a presença de seu ex-presidente. Difícil foi encarar a frustração de não poder vê-lo: muito profissionais, não abandonaram o posto e ficaram confinadas no banheiro feminino durante quase toda a noite, prestando assistência às convidadas.

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Complemento (PRA):

Blog de Ricardo Noblat - 7.5.2011

Reli, há pouco, a frase do dia postada ontem neste blog. Dizia assim: "Quando peguei esse país só tinha miserável. E eu, operário sem um dedo, fiz mais que o Bill Gates, Steve Jobs e esses aí."

Foi pinçada da palestra dada por Lula na última quarta-feira para convidados do Bank of America/Merrill Lynch reunidos na Casa Fasano, em São Paulo.

Lula recebeu R$ 250 mil pela palestra. Onde disse coisas do tipo "Wall Street não gosta de mim, mas o chefe deles gosta". Ou "tem que falar português em aeroporto americano, eles têm que entender o que a gente fala".

A expressão "nunca antes neste país" deu lugar "a nunca antes neste planeta", anotou Sonia Racy, colunista de O Estado de S. Paulo.

Quando Lula resolveu falar sobre o principal problema que aflige o governo - a inflação - foi para dizer que Dilma saberá resolvê-lo porque é competente. Invocou o testemunho de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, ali presente.

E como de costume, elogiou o que fez em oito anos.

Perguntei então aos meus botões (não é só o jornalista Mino Carta que se socorre dos próprios botões): até quando empresários importantes continuarão pagando fortunas a Lula para só ouvir bobagens, disparates, autoelogios e trivialidades?

Como palanqueiro, falando para o povão, Lula é imbatível.

Como conferencista para platéias sofisticadas pode ser razoável quando lê o que lhe dão.

Mas se improvisa, é raso como um pires. No máximo provoca risadas. Algumas de puro constrangimento.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A "argentinizacao" do Brasil? - Marcelo de Paiva Abreu

O título é meu, e não tem nada a ver com o que escreve Marcelo de Paiva Abreu em seu excelente artigo, que analisa um escrito medíocre que já circulou por aqui anteriormente, de um patético "marxista" inglês -- as aspas vão por conta de não se saber, exatamente, o que representam os marxistas atualmente -- sobre o governo Lula.
Concordo inteiramente com o articulista brasileiro, e até agravaria o caso da "argentinização" do Brasil, que é essa República sindical, mafiosa e corrupta (mas eu me repito), que infelizmente domina atualmente o sistema político brasileiro.
A Argentina ainda não conseguiu se libertar de sua maldição peronista.
Esteremos embarcando no mesmo caminho?
Talvez...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil para "inglês ver" Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de S.Paulo, 18/04/2011

Perry Anderson, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles e antigo editor da New Left Review, publicou na London Review of Books de 31/3 o artigo Lula"s Brazil, recheado de ideias equivocadas e tendenciosas. É importante contestá-lo para evitar que se consolidem análises absurdas. O Brasil que existe de fato pouco tem que ver com o de Anderson, que é um Brasil para "inglês ver".
Do ponto de vista econômico, a análise é totalmente distorcida. Nada há no artigo que indique que a ridícula plataforma econômica que fazia parte do programa do PT até a Carta ao Povo Brasileiro teve influência dominante na deterioração dos indicadores macroeconômicos em 2002. A julgar pelo artigo, foi tudo culpa de seu predecessor. A louvação acrítica do Estado produtor e os lamentos quanto à "desindustrialização" são igualmente patéticos.

No afã de minimizar as consequências do "mensalão" sobre a legitimidade do PT como partido renovador na política brasileira, o autor se escora na menção a práticas fisiológicas empregadas na eleição presidencial de 1998. A assimetria é óbvia. O intuito é desqualificar críticas que possam ser feitas em relação ao naufrágio do partido na fisiologia. Afinal, se as práticas de corrupção política são generalizadas, o PT estava apenas fazendo o que todo mundo fazia. Estamos acertados: não há pecado do lado de baixo do Equador.

Em sintonia com a tentativa de minimizar os respingos do "mensalão" se enquadram seus comentários sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). São na mesma linha da cínica menção de Lula ao provável julgamento do assunto lá por volta de 2050. Embora o STF tenha notórias deficiências, os comentários de Anderson são desatinados: "O que pensar do STF que absolveu Palocci? Daumier teria dificuldades em retratá-lo. Supostamente trataria apenas de questões constitucionais, mas processa, se esta é a palavra correta, 120 mil casos por ano, ou 30 por dia por membro da corte. Advogados transacionam privadamente com juízes e há casos em que, favorecidos por seus veredictos, os abraçam à vista de todos e lhes pagam jantares copiosos em restaurantes sofisticados. Dos 11 atuais membros do tribunal, 6 deles indicados por Lula, 2 foram condenados por cortes inferiores. Um deles, escolhido por seu primo Collor, fez história ao garantir imunidade a um acusado antes do julgamento, mas foi salvo de remoção pelos seus pares "para preservar a honra da corte". Outro, amigo de Cardoso, apoiou o golpe de 1964 e não pode se jactar nem mesmo de um diploma de bacharel de Direito. Um terceiro, ao votar em julgamento crucial para absolver Palocci, recebeu agradecimentos do presidente por assegurar a governabilidade. Eros Grau, que se aposentou recentemente, foi condenado por tráfico de influência, é um favorito especial de Lula, chamado de "Cupido" por colegas, autor de uma novela pornográfica de quinta categoria, tentou incluir um associado na corte em troca de voto para enterrar o "mensalão"".

Apesar da última afirmação, a saraivada de críticas cheira a tentativa orquestrada de enfraquecer o STF, dificultando um julgamento sério do caso. A truculência do autor certamente ajuda os que temem os resultados do julgamento. E contrasta com a sua leniência persistente em relação ao Executivo.

A severidade dos juízos de Anderson também é claramente atenuada quando se trata de alisar egos de intelectuais alinhados ao PT. Após elogios a gente séria, o autor descamba para elogios a cupinchas seus do calibre de Emir Sader e Márcio Pochmann, cujas atuações no âmbito da Casa de Rui Barbosa (CRB) e do Ipea são de conhecimento público. Curiosamente, a proposta de programa de pesquisas de Sader na CRB era exatamente "O Brasil de Lula".

O artigo está repleto de erros factuais e omissões que a falta de espaço impede listar exaustivamente. Embora muito longo, ele é curiosamente inconclusivo. O autor não consegue superar seu banzo em relação ao recuo da esquerda em escala global nem esconde sua melancolia quando constata que as perspectivas de mudanças radicais no País são modestas. E, no entanto, há razões suficientes para preocupações com a estabilidade do controle político exercido pela atual coalizão governamental. Lula, arguto e carismático, foi capaz, em 2002-2003, de ejetar o estapafúrdio programa econômico do PT, apropriar-se do cerne do programa econômico do predecessor, mobilizar sua veia populista e ampliar o escopo das políticas sociais. Tudo isso em ambiente em que o PT se propunha, com credibilidade, como paradigma para a reconstrução de outros partidos políticos não fisiológicos. O Brasil iria, enfim, ficar sério politicamente. Após o "mensalão", entrou em colapso o PT paradigmático e ganhou espaço o Lula carismático, amparado na inflação baixa e no Bolsa-Família. Mas no segundo mandato houve considerável "flexibilização" da política econômica, que culminou nas atuais dificuldades quanto à aceleração inflacionária e sustentação do crescimento.

O problema hoje é como Dilma Rousseff, sem o carisma do antecessor e em ambiente político dominado pela fisiologia, terá condições de debelar o recrudescimento inflacionário que certamente minará a popularidade do seu governo. Caso fracasse, até mesmo a volta de Lula, o nosso d. Sebastião, poderia ser ameaçada.

*Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-RIO