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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

A finalização da destruição do orçamento pelo trio JMB-PG-Centrão - Paulo Roberto de Almeida

A finalização da destruição do orçamento pelo trio JMB-PG-Centrão 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Sei que a coisa começou lá atrás, com as tais emendas parlamentares, que nada mais eram do que puro pork-barrel deformado, pois em lugar dos “restos para os porcos”, eram nacos de um orçamento superestimado no Congresso que serviam para atender à sanha da ratazana.

A “vantagem” do antigo sistema era que depois o ministro da Fazenda e o Tesouro “contigenciavam” a “fome” dos ratos, algo que nem era constitucional, apenas informal e à discrição dos guardiões dos recursos públicos.

Mas a chantagem era brava e recíproca e, sob o reinado do chefão mafioso, o que se fez foi comprar parlamentares e bancadas inteiras, com “fontes” diversas: cartão Visa e propaganda sob o Mensalão e, depois, aí sim, o grande assalto, cientificamente organizado, não só à vaca petrolífera e à caverna de Ali Baba da Petrobras, assim como a extorsão generalizada contra quaisquer empresas, estatais e privadas, como ocorreu no Petrolão (e aí entrou, tangencialmente, a Lava Jata, objeto do ódio eterno dos parlamentares corruptos). 

Mas a fome da ratazana não tinha mais limites, e eles aperfeiçoaram tremendamente o know-how meio rústico da cleptocracia companheira com novas ferramentas e tecnologia inédita de extração de recursos. Primeiro foi tornar as emendas compulsórias e incontigenciáveis, obra do supercorrupto Eduardo Cunha, o bandido que, sozinho, valia meio PT.

Depois, com a estúpida proibição de financiamento empresarial pelo STF, foi criado o Fundão Eleitoral, irmão siamês dessa outra excrescência e aberração orçamentária que é o Fundo Partidário, duas monstruosidades contra a nação.

E assim chegamos a praticamente QUATRO tipos de emendas, aperfeiçoadas nos últimos anos pelo Centrão — com a TOTAL conivência dessa “organização criminosa” (apud Celso de Mello), travestida de partido político — e que acabaram de submeter o desgoverno do capitão inepto, refém dos bandidos, além de ser, claro, um boçal completo, o último negacionista do planeta e um psicopata perverso.

A conclusão é uma só e se trata de uma constatação elementar: Não temos mais orçamento! O que temos é um assalto permanente aos recursos da cidadania transferidos aos cofres públicos e assaltados sistematicamente e “legalmente” por hordas de ratos esfaimados travestidos de parlamentares.

Ainda que isso só atinja 3 ou 5% do orçamento não carimbado, estamos falando não só de BILHÕES de reais — que poderiam estar indo para saúde, educação, infraestrutura e assistência social —, mas de uma destruição completa de qualquer noção de orçamento público, um processo de ESTUPRO CONTÍNUO dos recursos públicos. 

É o fim do Brasil, tal como o conhecíamos como nação e como Estado, e justo no ano do Bicentenário da Independência!

Tenho a impressão de que esse processo de Grande Destruição da Economia vai passar para os futuros livros de História, como a conjuntura de desmantelamento do Estado, quando o Brasil confirmou a sua fase de declínio estrutural e de retrocesso institucional: seria um pouco com se tivéssemos sofrido invasões contínuas, sucessivas, de mongóis, de hunos, de godos, visigodos, ostrogodos, vikings, piratas, corsários e todos os bárbaros reunidos. Nem Roma sofreu tanto. Só falta salgarem a terra, esses membros de elites predatórias, esses donos do poder que não têm nenhuma noção das responsabilidades associadas ao poder, apenas volúpia.

Como sempre, assino embaixo:

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4048: 17 dezembro 2021, 2 p.

 


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Mini-reflexões sob a forma de perguntas em torno do suicídio de uma nação - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexões sob a forma de perguntas em torno do suicídio de uma nação

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Ministros do STF, que “conversam” com parlamentares, tendem a apoiar uma acomodação em relação às emendas direcionadas pelo arbítrio dos “amigos” do dinheiro público. Estarão oficializando a imoralidade no processo orçamentário? Vão contribuir para um maior afundamento do Brasil?

Custo a crer que o rebaixamento oficial de qualquer critério ético e até mesmo racional na aplicação de recursos públicos se torne um padrão na administração dos negócios governamentais. 

O patrimonialismo sacramentado e garantido pelos três poderes passará a ser uma prática “normal” na gestão das contas públicas? 

Estamos assistindo à construção de um suicídio lento do que antes parecia ser uma promessa de democracia num país em desenvolvimento?

Como podem supostas elites políticas participar dessa montagem de um processo “legal”  e oficial de um estupro orçamentário permanente? 

Quando foi que o Brasil ingressou na bandalheira geral como norma de governo? A sociedade civil em geral, as elites econômicas em especial, os guardiões da constitucionalidade não estão se dando conta de que estão construindo um Estado monstruoso, um país inviável na simples organização das contas públicas?

As perguntas básicas são estas: quando foi, como foi, por que foi que o Brasil enveredou pela via do “jeitinho” imoral de decidir sobre a peça central de qualquer regime democrático, que é o orçamento público? Quem, quais foram os responsáveis pela morte de um Estado responsável?

Como é possível conviver com tais níveis de degradação moral como as que assistimos no momento do esquartejamento ritual do orçamento anual em centenas de emendas paroquiais que representam a irracionalidade suprema da aplicação das receitas dos impostos?

Os legisladores perderam definitivamente a vergonha e os órgãos de controle se eximem de suas responsabilidades? O planejamento do orçamento em projetos racionais de aplicação dos recursos arrecadados deixou de existir? 

Instalou-se o repasto das hienas como forma normal de repartição dos despojos do Estado?

Minhas perguntas são apenas o reflexo de minhas perplexidades em face do espetáculo contínuo de degradação do processo orçamentário no Brasil. As pessoas não repararam que estamos construindo um país inviável? Até quando persistiremos a ser os lemingues de mafiosos inconscientes?

Até quando continuará a derrocada institucional do Brasil? Como para os desafios climáticos, estamos legando apenas desastres orçamentários e na dívida pública para nossos filhos e netos? Eles irão se juntar aos milhões de refugiados econômicos que já transitam do Sul para o Norte do planeta? 

Os pobres já estão emigrando há muito tempo? E agora, além dos miseráveis, quadros formados, cérebros produtivos também já desistiram de conviver com a imoralidade e a desfaçatez dos políticos? Pessoas dignas já não suportam a imoralidade e a corrupção de nossos círculos dirigentes?

Os políticos estão finalmente conseguindo implantar seus desejos inconfessáveis? A canalização tranquila dos recursos da União para a miríade de esmolas particularistas com as quais vão viabilizar eternas reeleições? Estilhaçar dotações orçamentárias em milhares de emendas oportunistas é o seu projeto de nação? 

No momento, eu não tenho as respostas ao desafio que representa construir um país viável, mas já tenho muitas perguntas que, por enquanto, representam um questionamento pessoal. Não sei se os ilustres dirigentes e as elites econômicas também as têm para si. 

Este é apenas um exercício intelectual.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4013, 9 novembro 2021, 2 p.