Extrema-direita
Notas sobre uma falsificação
AUGUSTO DE FRANCO
ID, OUT 13
A esquerda - origem da clivagem esquerda x direita como esquema explicativo universal - insinua que a direita é, no fundo, a mesma coisa que a extrema-direita; ou os fascistas - sendo que todos os que não são de esquerda são ou serão fascistas (ou serão capturados por eles).
O que chamam, porém, de extrema-direita é o populismo-autoritário ou nacional-populismo (Trump, Salvini, Farage, Wilders, Chrupalla, Le Pen, Orbán, Bukele, Erdogan, Bolsonaro), mas quantos países no mundo de hoje são governados por esses líderes?
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Pouquíssimos países são governados hoje por populistas-autoritários ditos de extrema-direita. Dificilmente acharemos meia dúzia (na verdade, achamos três ou quatro, se não incluirmos Putin - aliado também da esquerda). Orbán na Hungria, Bukele em El Salvador e, talvez, Erdogan na Turquia. Como exceção, Meloni - que, todavia, não alterou o regime político da Itália (que continua sendo uma democracia liberal).
Trata-se de um inimigo universal construído (a tal "internacional fascista") para justificar que todos devem se juntar ou se subordinar à esquerda para não sucumbir ao ataque da direita (tomada como extrema-direita) e "salvar a democracia".
O objetivo da falsificação é claro. É para que esqueçamos as 89 autocracias reais (V-Dem 2024), boa parte das quais de esquerda (como Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coréia do Norte, China, Vietnam, Laos) ou fundamentalistas religiosas, que atacam igualmente as democracias liberais (como as ditaduras de Irã, Gaza, Síria, Afeganistão, Arábia Saudita, Bareim, Catar, EAU, Iémen, Jordânia, Kuwait, Líbia, Marrocos, Omã, Somália e Sudão, para não falar da Cisjordânia, com a AP e de partes do Líbano, com o Hezbollah e do Iraque, com as milícias xiitas).
É bom estudar o relatório 2024 do V-Dem (da Universidade de Gotemburgo), um dos mais reconhecidos institutos que monitoram os regimes políticos no mundo. Clique no link para baixar o PDF (em português): Relatório da Democracia 2024.
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