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sábado, 11 de dezembro de 2021

Explosão do número de brasileiros detidos na fronteira México-EUA - Bruno Lupion (DW)

Os migrantes ilegais do Brasil para os EUA são uma vergonha para o país, mas não do ponto de vista de quem tenta: eles estão em busca de uma vida melhor, o que tem sido praticamente impossível para alguns aqui no Brasil, tanto por retrocessos econômicos como pela corrupção e insegurança (que é o que motiva a classe média a sair do país, ou seja, não mais emigração de braços, mas de cérebros).

Vai demorar para consertar, infelizmente.

Paulo Roberto de Almeida

 

Por que a migração de brasileiros para os EUA explodiu

Bruno Lupion

Deutsche Welle, 10/12/2021

Sob pressão, México começa a exigir visto de brasileiros neste sábado. Em um ano, 56,7 mil foram detidos cruzando fronteira americana, um recorde. Decisão de partir envolve crise econômica, contatos e vontades pessoais.

https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-migra%C3%A7%C3%A3o-de-brasileiros-para-os-eua-explodiu/a-60084542?maca=bra-GK_RSS_Chatbot_Brasil-31509-xml-media


A partir deste sábado (11/12), brasileiros que querem viajar ao México precisarão de visto – e isso não tem a ver com a relação entre os dois países. A nova exigência é fruto de pressão do governo dos Estados Unidos, que tenta reduzir a entrada de brasileiros sem documentos em busca de uma vida melhor em solo norte-americano.

A preocupação de autoridades dos EUA com a imigração de brasileiros é relativamente nova. Até 2018, a apreensão anual de brasileiros na fronteira sul dos Estados Unidos nunca representou mais de 1% do total de detidos. Houve uma mudança importante em 2019, quando 17,9 mil brasileiros foram apreendidos (2,1% do total).

Em 2020, ano do auge da pandemia, as apreensões caíram para 6,9 mil (1,7% do total). E neste ano bateram o recorde da série histórica com 56,9 mil brasileiros detidos (3,3% do total). Os dados referem-se ao ano fiscal, que começa em outubro do ano anterior e termina em setembro do ano corrente.

O fenômeno ocorrido neste ano tem explicações locais, como a crise econômica que força as pessoas a buscarem alternativas e a rede de brasileiros cada vez mais estruturada nos Estados Unidos que facilita a atração de novos migrantes.

Mas não se trata de algo somente brasileiro. Neste ano fiscal de 2021, os americanos aprenderam 1,7 milhões de migrantes indocumentados na sua fronteira sul, o maior número da série histórica e o dobro do recorde anterior. Isso tem a ver com a crise social decorrente da pandemia em diversos países, e à expectativa de que o governo Joe Biden teria políticas mais favoráveis aos migrantes, que não se confirmou.

A maior preocupação dos americanos continua sendo os migrantes da América Central. Neste ano fiscal, foram apreendidos na fronteira sul dos EUA 655 mil mexicanos, 319 mil hondurenhos e 283 mil guatemaltecos.

Crise econômica como estímulo

Um dos aspectos que provocam a migração para outros países é a situação econômica na origem. E, nessa área, o Brasil tem apresentado resultados desanimadores. O atual PIB (Produto Interno Bruto) per capita do país é o mesmo do que o de 12 anos atrás, ou seja, mais de uma década de estagnação. A inflação deve atingir 10% neste ano, que corrói o poder de compra, e o desemprego também está alto.

O padre Jairo Guidini, diretor executivo da Rede Internacional para Migrações (SIMN, na sigla em inglês), sediada em Nova York, é responsável por uma rede de casas e centros de acolhida a migrantes nos Estados Unidos e em outros países que atua inclusive nas três cidades americanas com grandes comunidades de brasileiros: Boston, Nova Jersey e Miami. Ele afirma à DW Brasil que a deterioração das condições de vida no Brasil é um fator determinante por trás da alta de migrações.

"Falta de emprego, inflação, aumento da miséria. As pessoas são obrigadas a tentar sair, e algumas tentam aqui uma oportunidade", diz, ressaltando que muitas são ludibriadas por propagandas enganosas de quem oferece o serviço de travessia. "Os coiotes dizem que elas vão arrumar emprego bom, que vão atravessar a fronteira tranquilamente, mas chegam aqui e se deparam com outra realidade, e muitas vezes têm que pedir ajuda a igrejas, parentes e amigos para poder pagar aluguel e comer", diz.

Ele relata que os coiotes cobram de 10 a 20 mil dólares pelo serviço (R$ 56 mil a R$ 112 mil). "Eles prometem que vão hospedar a pessoa em hotel, mas chegam aqui ficam amontoados em casas, dizem que vão usar um barco na travessia, mas na hora é uma canoa, e às vezes abandonam alguns na travessia", lembrando o caso da brasileira Lenilda dos Santos, técnica de enfermagem de 49 anos que morreu em setembro após ter sido deixada para trás no deserto.

Atração das redes brasileiras

A decisão de se mudar para outro país, porém, não se baseia somente na situação econômica. Pesam também os contatos pessoais que cada um possui e o desejo de tentar fazer a vida em outro lugar.

O demógrafo Dimitri Fazito, professor de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em migrações, destaca que a rede de brasileiros hoje morando nos Estados Unidos que estimula e apoia a chegada de mais conterrâneos é muito maior do que nas décadas passadas. Essa rede incluiu familiares e parentes que já emigraram e podem ajudar financeiramente e o acesso a documentos falsos e ofertas de emprego.

"A questão econômica é um estopim. Mas não aconteceria esse volume de migrações se não tivesse já um sistema operando para isso", afirma. Ele diz que essa estrutura começou a ganhar corpo no final dos anos 90 e cresceu nas duas décadas seguintes, e hoje há brasileiros nos Estados Unidos que ganham dinheiro para facilitar a migração de pessoas indocumentadas.

Fazito cita também uma "cultura migratória estabelecida" em algumas regiões do país e o fator cultural de uma juventude "hoje muito mais disposta a esse deslocamento, sem aquelas famílias que te prendem". "E há uma nova geração que adquiriu mais capital humano nos últimos 10 a 15 anos e busca realização pessoal."

Mudança de política sob Bolsonaro

Se a crise econômica e as redes pessoais estimulam a migração, por outro lado a política externa do governo Jair Bolsonaro não ajuda os brasileiros indocumentados a receberem um melhor tratamento das autoridades americanas, afirma Alex Brum, especialista em migrações e pesquisador do Centro de Estudos Estadunidenses da Universidade Federal Fluminense.

Ele relata que, em 2006, após os trabalhos de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso sobre emigração que analisou a situação dos brasileiros vivendo no exterior e as vulnerabilidades a que estavam expostos, o Itamaraty passou a adotar uma "postura mais ativa" na defesa dessa comunidade. "A conclusão da CPI foi que nossos cidadãos estavam sendo tratados de maneira desrespeitosa e houve uma mudança na política, passou-se a aplicar reciprocidade", afirma.

No governo Bolsonaro, a política de reciprocidade deixou de ser aplicada e o Itamaraty, segundo Brum, "passou a se mostrar favorável à deportação e à repatriação" de brasileiros. Ele cita como exemplo a emissão de atestados de nacionalidade de brasileiros sem documentos no exterior, que começaram a ser emitidos pelo governo brasileiro a pedido das autoridades americanas.

"O brasileiro é preso nos Estados Unidos e as autoridades americanas querem deportá-lo. Mas precisa de um documento. E o Itamaraty tem colaborado com o governo americano nesse sentido. É algo sério, é como se fosse outra pessoa pedindo ao governo um documento que é seu", diz.

O aumento das apreensões de brasileiros também levou o governo americano a contratar voos fretados de repatriação. A política começou a ser implementada no governo Donald Trump, com um voo semanal. A gestão Biden tentou elevar para três voos semanais, e o governo brasileiro aceitou receber dois por semana. "Os brasileiros vêm algemados", diz Brum.

Decepção com Biden

O padre Guidini, da SIMN, relata que havia entre muitos migrantes que tentaram a sorte neste ano uma expectativa de que o governo Biden teria uma política mais benéfica nesse tema, mas isso não ocorreu. "Foi uma decepção, a política de estado continua fechando a fronteira e expulsando os migrantes. A política americana nos últimos anos é a mesma, mesmo que mude o governo e o novo presidente seja mais humano e racional", afirma. "A atuação da polícia de fronteira está muito exigente.".

Ele espera que, se houver alguma mudança no setor, será para os migrantes já estabelecidos há mais tempo nos EUA, e não para aqueles que estão atravessando a fronteira agora.

"A expectativa de que as políticas migratórias do Biden fossem mais brandas colaborou [para o aumento das migrações]", concorda Brum. "Mas o atual governo está mantendo bastante da política migratória do Trump."

A nova exigência do México de visto para os brasileiros não resolverá o problema da migração de pessoas indocumentadas, mas terá como consequência o aumento da vulnerabilidade dos que tentam se mudar para os Estados Unidos, segundo Guidini. "Não adianta colocar novas travas legais, a migração continua. Isso vai aumentar a irregularidade e a violência dos coiotes", diz.

Muros e cercas do mundo

Donald Trump quer um "grande e belo muro" entre os EUA e o México para frear a migração e o narcotráfico. Em outros lugares, barreiras de concreto e metal feitas para resolver problemas tiveram variados graus de êxito.

Foto: Getty Images/J. Moore

Muro americano cresce

Antes de Donald Trump, Bill Clinton já mandou construir cercas na fronteira. Após os atentados de setembro de 2001, George Bush acelerou a construção. Desde então, quase 1.100 quilômetros de fronteira receberam paredes de concreto, vigas de aço e outros tipos de obstruções. 

Foto: Getty Images/D. McNew

"Muro da separação"

Desde 2002, Israel está construindo uma barreira ao longo da Cisjordânia. O projeto, oficialmente justificado como proteção contra o terrorismo, é altamente controverso e muitas vezes chamado "muro da separação". Há mais de dez anos, a Corte Internacional de Justiça declarou que ele viola o direito internacional. Israel, no entanto, continua construindo o muro, que deverá ter 759 km de extensão.

Foto: A. Al-BazzErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

"Linha de controle"

Um muro de controle militar de mais de 700 km na região da Caxemira divide a Índia e o Paquistão desde 1971. Em muitos lugares, esta "linha de controle" é reforçada por minas e arame farpado. A barreira de arame, que em alguns locais tem 3 metros de altura, também pode ser eletrificada. 

Foto: Getty Images/AFPErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Dividindo classes

Paredes divisórias também separam classes econômicas. Como em Lima, onde uma parede de concreto de 3 m de altura separa os moradores pobres de um bairro de ricos. Aliás, "condomínios fechados" são frequentes na América Latina. Os moradores da capital do Peru chamam a parede de "muro da vergonha". 

Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/S. CastanedaErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Sunitas e xiitas

Na capital do Iraque, um muro de 4 metros de altura e 5 km de extensão corta a cidade. Ele foi construído pelos militares dos EUA na região dominada pelos xiitas em 2007. Hoje, o muro separa quase 2 milhões de pessoas. Também em outros bairros de Bagdá, paredes de concreto separam enclaves sunitas de bairros xiitas.

Foto: Getty Images/W. KuzaieErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Um muro para a paz? 

O governo britânico construiu os chamados "muros da paz" na Irlanda do Norte em 1969 para separar católicos e protestantes. Portões permitiam a passagem para o outro lado. Em caso de conflitos, eles eram fechados. Alguns moradores dizem, no entanto, que as paredes acentuaram ainda mais a divisão na mente das pessoas. 

Foto: picture-alliance/dpa/M. SmiejekErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Entre o Norte e o Sul

Desde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950, uma zona desmilitarizada separa a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista. A faixa de cerca de 4 km de largura e 250 km de comprimento é uma das áreas restritas mais vigiadas do mundo. Em alguns pontos, muros marcam a fronteira entre as duas Coreias.

Foto: Getty Images/AFP/E. JonesErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Fortaleza Europa

Também a Europa está se isolando. Desde outubro de 2015, a Hungria está fechando sistematicamente sua fronteira para evitar refugiados. No início, a cerca ainda não era hermética. Hoje, no entanto, quase ninguém consegue mais passar para o outro lado. A Hungria também quer construir uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia. 

Foto: picture-alliance/dpa/S. UjvariErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Ceuta e Mellila

Nos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila, no Marrocos, há fortificações especialmente altas. Para superá-las, é preciso passar por até três cercas. Para complicar, há detectores de movimento, câmeras infravermelhas e um arame farpado que penetra fundo na pele. Mesmo assim, muitos se arriscam e acabam se ferindo. 

Turquia e Síria

Bruno Lupion Repórter