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sexta-feira, 17 de março de 2023

Crescimento da emigração impulsiona carreiras internacionais (Terra)

 Carreira internacional apresenta desafios em 2023

Terra - Notícias | Notícias
16 de março de 2023

Os dados mais recentes do Ministério das Relações Exteriores, o número de brasileiros morando em outras nações saltou de 1.898.762 em 2012 para 4.215.800 em 2020, o que corresponde a um aumento de mais de 20%


Que passos seguir para conseguir uma vaga no mercado internacional? Essa é a pergunta de mais de 47% da população brasileira entre 15 e 29 anos de acordo com uma pesquisa feita pela FGV Social (Fundação Getúlio Vargas). Segundo os dados mais recentes do Ministério das Relações Exteriores, o número de brasileiros morando em outras nações saltou de 1.898.762 em 2012 para 4.215.800 em 2020, o que corresponde a um aumento de mais de 20%.O processo para se conseguir uma vaga no mercado internacional parece difícil, contudo, profissionais que obtiveram sucesso nesta empreitada garantem que com suporte é possível. É o caso de Daniel Spitaletti, executivo da área de inteligência comercial, que em 2019 identificou uma necessidade de realizar uma transição de carreira e iniciou uma trajetória com foco no mercado internacional, no entanto, durante um processo de consultoria reestruturar a própria carreira deu lugar a empreender internacionalmente.

A análise mais cuidadosa de um especialista, que identifica pontos e consegue direcioná-los é o que faz a diferença: "Foi a partir do meu contato com uma empresa de consultoria, que a necessidade de reestruturar a minha carreira deu lugar a empreender internacionalmente", comenta Daniel. Muitas empresas fazem treinamentos, vão a feiras de negócios, missões internacionais, mas não desenvolvem, de fato, suas exportações e importações. Felizmente sobra consultoria, mas falta ação. E foi com isto em vista, que Daniel fundou a ExportUP empresa que tem como missão desenvolver o mercado internacional de aliados, que entendem como estratégicas suas atividades internacionais, sendo elas pequenas, médias ou grandes.

A revisão da balança comercial para 2022, divulgada pela Associação de Comércio Exterior do Brasil(AEB), aponta para um crescimento de 13,8% nas exportações, totalizando o valor de US$ 319,471 bilhões contra os US$ 280,633 bilhões efetivados em 2021. Já para a mão de obra e serviços as oportunidades também apontam crescimento: "É uma estratégia de governos europeus para manter o crescimento econômico, abrir suas portas para profissionais qualificados, que desejam emigrar, escassez de profissionais qualificados e envelhecimento da população, flexibilizaram as regras para a entrada de estrangeiros em busca de emprego", comenta Neiva Gonçalves, Diretora de Carreira da Success People, empresa que atua no território nacional e internacional, com mais de 14 mil seguidores.

Segundo o relatório Anual do Parlamento Canadense sobre imigração, o governo planeja admitir em 2023 até 176 mil imigrantes que possuem competências profissionais necessárias ao país. De acordo com o Itamaraty, entre os países mais procurados por brasileiros estão os Estados Unidos e Portugal, que tiveram um aumento de quase 200% na procura. Os dados do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal), em 2022, apontam, que o número de estrangeiros vivendo no país totaliza mais de 750 mil pessoas, sendo a maioria brasileiros. Entre os anos de 2021 e 2022, cerca de 150 mil deram entrada no processo para conseguir cidadania.

O governo de Portugal pretende beneficiar os brasileiros, em 2023, com uma nova lei que irá conceder residência de forma automática. Para Daniel, que vive hoje na Itália, a vantagem de ter um especialista no suporte da transição está na estruturação: "Estruturarmos a carreira é como um departamento de recursos humanos individual, por vezes, nos submetemos às condições do mercado por necessidade, o suporte de um especialista na transição, melhora suas práticas, entendendo as necessidades". Consumir conteúdo de orientação foi um dos critérios-chaves para o referencial de Daniel no processo de internacionalização e durante consultoria, que realizou na Success People: "não foi um processo fácil, foi um processo de ruptura, de aceitar os riscos e os desafios, propostos pela consultoria", comenta Daniel.

Quando se trata de traçar um planejamento de carreira internacional, é preciso analisar algumas questões conforme apontam especialistas: pesquisar o país, a qual se pretende, cultura, costumes, clima, estudar o local, aprender o idioma, muitos profissionais estudam todos os pontos e deixam para depois o inglês, que é fundamental e deve ser o primeiro passo, além de pesquisar sobre a sua área de atuação, quais as vagas oferecidas, os salários negociados e as habilidades solicitadas.

Para quem deseja ingressar no mercado internacional o momento é propício, basta vontade e preparação: "É muito importante ter em mente que a internacionalização se trata de um projeto a longo prazo, que é necessário assumir riscos. No meu processo de transição de carreira, na Success, passei por um período de estudo de metodologias, de se entender, ler perfis comportamentais e aprender a navegar com relacionamentos", comenta Daniel.

A metodologia da Success People está na aplicabilidade: "As dúvidas e os riscos surgem, nossos programas são focados em direcionar e capacitar criando conexões para os profissionais empreenderem e atingirem seus objetivos", completa Neiva.

www.successpeople.com.br

Website: http://www.successpeople.com.br 

sábado, 11 de dezembro de 2021

Explosão do número de brasileiros detidos na fronteira México-EUA - Bruno Lupion (DW)

Os migrantes ilegais do Brasil para os EUA são uma vergonha para o país, mas não do ponto de vista de quem tenta: eles estão em busca de uma vida melhor, o que tem sido praticamente impossível para alguns aqui no Brasil, tanto por retrocessos econômicos como pela corrupção e insegurança (que é o que motiva a classe média a sair do país, ou seja, não mais emigração de braços, mas de cérebros).

Vai demorar para consertar, infelizmente.

Paulo Roberto de Almeida

 

Por que a migração de brasileiros para os EUA explodiu

Bruno Lupion

Deutsche Welle, 10/12/2021

Sob pressão, México começa a exigir visto de brasileiros neste sábado. Em um ano, 56,7 mil foram detidos cruzando fronteira americana, um recorde. Decisão de partir envolve crise econômica, contatos e vontades pessoais.

https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-migra%C3%A7%C3%A3o-de-brasileiros-para-os-eua-explodiu/a-60084542?maca=bra-GK_RSS_Chatbot_Brasil-31509-xml-media


A partir deste sábado (11/12), brasileiros que querem viajar ao México precisarão de visto – e isso não tem a ver com a relação entre os dois países. A nova exigência é fruto de pressão do governo dos Estados Unidos, que tenta reduzir a entrada de brasileiros sem documentos em busca de uma vida melhor em solo norte-americano.

A preocupação de autoridades dos EUA com a imigração de brasileiros é relativamente nova. Até 2018, a apreensão anual de brasileiros na fronteira sul dos Estados Unidos nunca representou mais de 1% do total de detidos. Houve uma mudança importante em 2019, quando 17,9 mil brasileiros foram apreendidos (2,1% do total).

Em 2020, ano do auge da pandemia, as apreensões caíram para 6,9 mil (1,7% do total). E neste ano bateram o recorde da série histórica com 56,9 mil brasileiros detidos (3,3% do total). Os dados referem-se ao ano fiscal, que começa em outubro do ano anterior e termina em setembro do ano corrente.

O fenômeno ocorrido neste ano tem explicações locais, como a crise econômica que força as pessoas a buscarem alternativas e a rede de brasileiros cada vez mais estruturada nos Estados Unidos que facilita a atração de novos migrantes.

Mas não se trata de algo somente brasileiro. Neste ano fiscal de 2021, os americanos aprenderam 1,7 milhões de migrantes indocumentados na sua fronteira sul, o maior número da série histórica e o dobro do recorde anterior. Isso tem a ver com a crise social decorrente da pandemia em diversos países, e à expectativa de que o governo Joe Biden teria políticas mais favoráveis aos migrantes, que não se confirmou.

A maior preocupação dos americanos continua sendo os migrantes da América Central. Neste ano fiscal, foram apreendidos na fronteira sul dos EUA 655 mil mexicanos, 319 mil hondurenhos e 283 mil guatemaltecos.

Crise econômica como estímulo

Um dos aspectos que provocam a migração para outros países é a situação econômica na origem. E, nessa área, o Brasil tem apresentado resultados desanimadores. O atual PIB (Produto Interno Bruto) per capita do país é o mesmo do que o de 12 anos atrás, ou seja, mais de uma década de estagnação. A inflação deve atingir 10% neste ano, que corrói o poder de compra, e o desemprego também está alto.

O padre Jairo Guidini, diretor executivo da Rede Internacional para Migrações (SIMN, na sigla em inglês), sediada em Nova York, é responsável por uma rede de casas e centros de acolhida a migrantes nos Estados Unidos e em outros países que atua inclusive nas três cidades americanas com grandes comunidades de brasileiros: Boston, Nova Jersey e Miami. Ele afirma à DW Brasil que a deterioração das condições de vida no Brasil é um fator determinante por trás da alta de migrações.

"Falta de emprego, inflação, aumento da miséria. As pessoas são obrigadas a tentar sair, e algumas tentam aqui uma oportunidade", diz, ressaltando que muitas são ludibriadas por propagandas enganosas de quem oferece o serviço de travessia. "Os coiotes dizem que elas vão arrumar emprego bom, que vão atravessar a fronteira tranquilamente, mas chegam aqui e se deparam com outra realidade, e muitas vezes têm que pedir ajuda a igrejas, parentes e amigos para poder pagar aluguel e comer", diz.

Ele relata que os coiotes cobram de 10 a 20 mil dólares pelo serviço (R$ 56 mil a R$ 112 mil). "Eles prometem que vão hospedar a pessoa em hotel, mas chegam aqui ficam amontoados em casas, dizem que vão usar um barco na travessia, mas na hora é uma canoa, e às vezes abandonam alguns na travessia", lembrando o caso da brasileira Lenilda dos Santos, técnica de enfermagem de 49 anos que morreu em setembro após ter sido deixada para trás no deserto.

Atração das redes brasileiras

A decisão de se mudar para outro país, porém, não se baseia somente na situação econômica. Pesam também os contatos pessoais que cada um possui e o desejo de tentar fazer a vida em outro lugar.

O demógrafo Dimitri Fazito, professor de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em migrações, destaca que a rede de brasileiros hoje morando nos Estados Unidos que estimula e apoia a chegada de mais conterrâneos é muito maior do que nas décadas passadas. Essa rede incluiu familiares e parentes que já emigraram e podem ajudar financeiramente e o acesso a documentos falsos e ofertas de emprego.

"A questão econômica é um estopim. Mas não aconteceria esse volume de migrações se não tivesse já um sistema operando para isso", afirma. Ele diz que essa estrutura começou a ganhar corpo no final dos anos 90 e cresceu nas duas décadas seguintes, e hoje há brasileiros nos Estados Unidos que ganham dinheiro para facilitar a migração de pessoas indocumentadas.

Fazito cita também uma "cultura migratória estabelecida" em algumas regiões do país e o fator cultural de uma juventude "hoje muito mais disposta a esse deslocamento, sem aquelas famílias que te prendem". "E há uma nova geração que adquiriu mais capital humano nos últimos 10 a 15 anos e busca realização pessoal."

Mudança de política sob Bolsonaro

Se a crise econômica e as redes pessoais estimulam a migração, por outro lado a política externa do governo Jair Bolsonaro não ajuda os brasileiros indocumentados a receberem um melhor tratamento das autoridades americanas, afirma Alex Brum, especialista em migrações e pesquisador do Centro de Estudos Estadunidenses da Universidade Federal Fluminense.

Ele relata que, em 2006, após os trabalhos de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso sobre emigração que analisou a situação dos brasileiros vivendo no exterior e as vulnerabilidades a que estavam expostos, o Itamaraty passou a adotar uma "postura mais ativa" na defesa dessa comunidade. "A conclusão da CPI foi que nossos cidadãos estavam sendo tratados de maneira desrespeitosa e houve uma mudança na política, passou-se a aplicar reciprocidade", afirma.

No governo Bolsonaro, a política de reciprocidade deixou de ser aplicada e o Itamaraty, segundo Brum, "passou a se mostrar favorável à deportação e à repatriação" de brasileiros. Ele cita como exemplo a emissão de atestados de nacionalidade de brasileiros sem documentos no exterior, que começaram a ser emitidos pelo governo brasileiro a pedido das autoridades americanas.

"O brasileiro é preso nos Estados Unidos e as autoridades americanas querem deportá-lo. Mas precisa de um documento. E o Itamaraty tem colaborado com o governo americano nesse sentido. É algo sério, é como se fosse outra pessoa pedindo ao governo um documento que é seu", diz.

O aumento das apreensões de brasileiros também levou o governo americano a contratar voos fretados de repatriação. A política começou a ser implementada no governo Donald Trump, com um voo semanal. A gestão Biden tentou elevar para três voos semanais, e o governo brasileiro aceitou receber dois por semana. "Os brasileiros vêm algemados", diz Brum.

Decepção com Biden

O padre Guidini, da SIMN, relata que havia entre muitos migrantes que tentaram a sorte neste ano uma expectativa de que o governo Biden teria uma política mais benéfica nesse tema, mas isso não ocorreu. "Foi uma decepção, a política de estado continua fechando a fronteira e expulsando os migrantes. A política americana nos últimos anos é a mesma, mesmo que mude o governo e o novo presidente seja mais humano e racional", afirma. "A atuação da polícia de fronteira está muito exigente.".

Ele espera que, se houver alguma mudança no setor, será para os migrantes já estabelecidos há mais tempo nos EUA, e não para aqueles que estão atravessando a fronteira agora.

"A expectativa de que as políticas migratórias do Biden fossem mais brandas colaborou [para o aumento das migrações]", concorda Brum. "Mas o atual governo está mantendo bastante da política migratória do Trump."

A nova exigência do México de visto para os brasileiros não resolverá o problema da migração de pessoas indocumentadas, mas terá como consequência o aumento da vulnerabilidade dos que tentam se mudar para os Estados Unidos, segundo Guidini. "Não adianta colocar novas travas legais, a migração continua. Isso vai aumentar a irregularidade e a violência dos coiotes", diz.

Muros e cercas do mundo

Donald Trump quer um "grande e belo muro" entre os EUA e o México para frear a migração e o narcotráfico. Em outros lugares, barreiras de concreto e metal feitas para resolver problemas tiveram variados graus de êxito.

Foto: Getty Images/J. Moore

Muro americano cresce

Antes de Donald Trump, Bill Clinton já mandou construir cercas na fronteira. Após os atentados de setembro de 2001, George Bush acelerou a construção. Desde então, quase 1.100 quilômetros de fronteira receberam paredes de concreto, vigas de aço e outros tipos de obstruções. 

Foto: Getty Images/D. McNew

"Muro da separação"

Desde 2002, Israel está construindo uma barreira ao longo da Cisjordânia. O projeto, oficialmente justificado como proteção contra o terrorismo, é altamente controverso e muitas vezes chamado "muro da separação". Há mais de dez anos, a Corte Internacional de Justiça declarou que ele viola o direito internacional. Israel, no entanto, continua construindo o muro, que deverá ter 759 km de extensão.

Foto: A. Al-BazzErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

"Linha de controle"

Um muro de controle militar de mais de 700 km na região da Caxemira divide a Índia e o Paquistão desde 1971. Em muitos lugares, esta "linha de controle" é reforçada por minas e arame farpado. A barreira de arame, que em alguns locais tem 3 metros de altura, também pode ser eletrificada. 

Foto: Getty Images/AFPErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Dividindo classes

Paredes divisórias também separam classes econômicas. Como em Lima, onde uma parede de concreto de 3 m de altura separa os moradores pobres de um bairro de ricos. Aliás, "condomínios fechados" são frequentes na América Latina. Os moradores da capital do Peru chamam a parede de "muro da vergonha". 

Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/S. CastanedaErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Sunitas e xiitas

Na capital do Iraque, um muro de 4 metros de altura e 5 km de extensão corta a cidade. Ele foi construído pelos militares dos EUA na região dominada pelos xiitas em 2007. Hoje, o muro separa quase 2 milhões de pessoas. Também em outros bairros de Bagdá, paredes de concreto separam enclaves sunitas de bairros xiitas.

Foto: Getty Images/W. KuzaieErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Um muro para a paz? 

O governo britânico construiu os chamados "muros da paz" na Irlanda do Norte em 1969 para separar católicos e protestantes. Portões permitiam a passagem para o outro lado. Em caso de conflitos, eles eram fechados. Alguns moradores dizem, no entanto, que as paredes acentuaram ainda mais a divisão na mente das pessoas. 

Foto: picture-alliance/dpa/M. SmiejekErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Entre o Norte e o Sul

Desde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950, uma zona desmilitarizada separa a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista. A faixa de cerca de 4 km de largura e 250 km de comprimento é uma das áreas restritas mais vigiadas do mundo. Em alguns pontos, muros marcam a fronteira entre as duas Coreias.

Foto: Getty Images/AFP/E. JonesErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Fortaleza Europa

Também a Europa está se isolando. Desde outubro de 2015, a Hungria está fechando sistematicamente sua fronteira para evitar refugiados. No início, a cerca ainda não era hermética. Hoje, no entanto, quase ninguém consegue mais passar para o outro lado. A Hungria também quer construir uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia. 

Foto: picture-alliance/dpa/S. UjvariErro! O nome de arquivo não foi especificado.Erro! O nome de arquivo não foi especificado.

Ceuta e Mellila

Nos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila, no Marrocos, há fortificações especialmente altas. Para superá-las, é preciso passar por até três cercas. Para complicar, há detectores de movimento, câmeras infravermelhas e um arame farpado que penetra fundo na pele. Mesmo assim, muitos se arriscam e acabam se ferindo. 

Turquia e Síria

Bruno Lupion Repórter

 

sábado, 11 de setembro de 2021

A diáspora brasileira - Taísa Szabatura e Vinícius Mendes (IstoÉ)

 A diáspora brasileira

Nunca tantos brasileiros foram morar no exterior: são 4,2 milhões só na última década. E como expressão do desalento com o Brasil, a maioria deles não têm planos de voltar
Taísa Szabatura e Vinícius Mendes 
IstoÉ, 10/09/21 - 09h30 - Atualizado em 10/09/21 - 12h09

“Dificilmente voltaremos”, é a frase mais comum de se ouvir de famílias brasileiras morando fora do País. Ela tem sido dita também porque muitas delas engrossam um dado histórico: o número de brasileiros morando no exterior nunca foi tão alto como agora, segundo levantamento feito pelo Itamaraty. Até o fim de 2020, 4,21 milhões de pessoas haviam deixado o Brasil — um aumento de 35% em relação a 2010, quando este número era de 3,12 milhões. Foi o caso de Adriana Tanzi, de 49 anos: ela não pensava em morar fora até meados de 2019, mesmo possuindo cidadania europeia. No entanto, quando o orçamento doméstico caiu, em meio à crise econômica, ela e o marido, o soldador Edson Monteiro, de 54, resolveram partir junto com a filha, Vitória, de nove anos, para a Itália. “No começo foi difícil.Nós não falamos o idioma e ainda veio a pandemia”, relata. Hoje, um ano e meio depois, a situação é mais tranquila: vivendo em Mântua, na Lombardia, Edson voltou a trabalhar e Adriana já está no processo de validação de seu diploma.

A psicóloga Monise Valzacchi, de 32 anos, por sua vez, foi ao lado do namorado, o nutricionista Felipe Jorge Melo, de 31, para a Austrália em setembro de 2014, quando o Brasil já estava em crise. O objetivo inicial era estudar inglês, mas eles acabaram ficando em busca de uma residência permanente na cidade de Perth, uma das maiores do país. O processo demorou, mas saiu no começo desse ano, quando eles, enfim, compraram uma casa. Agora estão esperando a primeira filha, que vai nascer em novembro. “Nunca imaginamos que teríamos condições de comprar um imóvel como o nosso por aqui, mas deu certo”, diz Monise. Já o futuro pai, engenheiro, não quer deixar mais a vida australiana. “Mesmo na hipótese de que tudo desse errado, faríamos o possível para não voltar. Desde que nós chegamos, temos o mesmo pensamento: não estamos aqui para passear”.

Destinos brasileiros
Para o antropólogo Igor Renó Machado, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o crescimento da presença brasileira no exterior se explica, principalmente, pela falta de perspectivas no País. Esse fenômeno tem se acentuado nos últimos anos. Pelo levantamento do Itamaraty, por exemplo, apenas entre 2018 e 2020, cerca de 625 mil pessoas deixaram o Brasil em direção a outros países — o que representa 14% do total de saídas nacionais em toda a década passada. “No início de 2010 havia até gente voltando. Mas, depois de 2016, quando as condições por aqui se deterioraram, começou uma saída violenta em busca de uma nova vida lá fora”, diz. Os Estados Unidos abrigam quase metade (42%) da população. Em números absolutos, trata-se de 1,77 milhão de pessoas.

No Canadá, a ida de brasileiros capacitados, em grande parte no setor de tecnologia, é até incentivada pelo governo. Foi esse chamado que atraiu o casal de desenvolvedores Bárbara Lourenço, de 28 anos, e Thiago de Lima Pacheco, de 27, por exemplo. Quando ele conseguiu um emprego na área em Montreal, no fim de 2019, os dois se casaram correndo para terem acesso ao visto canadense. Hoje, não querem voltar. “Aqui há segurança até para esperar um ônibus à noite”, justifica Bárbara. “Apesar disso, a saúde pública é mais burocrática. Eu prefiro o SUS”, confessa Thiago.

Mas o fenômeno ganhou mesmo força em Portugal. O país concedeu residência a 42,2 mil cidadãos do Brasil somente em 2020, segundo números oficiais. Hoje, 183,9 mil brasileiros — quase um terço do total de estrangeiros — vivem no país europeu. “O boom dessas chegadas aconteceu entre 2014 e 2018, quando elas triplicaram”, diz o advogado Felipe Tramujas, que, de Lisboa, ajuda brasileiros que buscam estabilidade em solo português. Neste período, porém, ele viu o perfil dos migrantes se transformar. “São pessoas já formadas e com filhos, sem contar o alto número de aposentados”, conta.

Um desses brasileiros é o executivo William Silva, de 33 anos. Ele mandou mais de 500 currículos até conseguir ser contratado por uma empresa em Lisboa, em 2019. “Eu vivia bem no Rio de Janeiro, mas a corrupção e a violência eram intransponíveis”, explica. A esposa, Bianca Costa, busca agora a revalidação do diploma, enquanto a filha, Júlia, de cinco anos, já está matriculada em uma escola pública. Nessa toada, o prefeito de Braga tem incentivado a migração brasileira como forma de lidar com o envelhecimento da população local. Logo após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, ele escreveu um artigo que resumia esse acolhimento com um trocadilho: “Bem-vindos ao Braguil”.

https://istoe.com.br/a-diaspora-brasileira/


terça-feira, 13 de agosto de 2019

Ciência: fuga de cérebros é uma realidade no Brasil - presidente da ABC

Fuga de cérebros é realidade, diz chefe da Academia Brasileira de Ciências
Valor Econômico, 13/08/2019

Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o físico Luiz Davidovich tem assinado cada vez mais cartas de recomendação para pesquisadores que deixam o Brasil. Aves raras na academia, esses doutores não querem salários altos. Procuram, na verdade, insumos e equipamentos para os quais o governo brasileiro tem empenhado cada vez menos recursos nos últimos anos. O êxodo de cientistas, para Davidovich, é a ferida mais exposta do sistema de ciência e tecnologia (C&T) do país, que se agravou no governo Jair Bolsonaro e seus contingenciamentos, ausência de projeto tecnológico e negação da ciência. "A fuga de cérebros é muito concreta e dolorosa para mim", diz Davidovich. Recentemente ele viu quatro colegas concursados abandonarem seus cargos para tocar trabalhos em Austrália, Holanda, Portugal e Chile. "Três vão para universidades estrangeiras, outro vai para uma empresa australiana de computação quântica, mas aprendeu tudo aqui", diz apontando para o chão da Escola de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde leciona há 25 anos. Ele comanda os estudos da casa em computação e ótica quânticas, sendo colaborador do francês Serge Haroche, laureado com o Nobel de Física em 2012.
"Não nego as recomendações. Essas pessoas têm o direito de se preocupar com suas pesquisas, mas escrevo nas cartas que lamento o fato de estarem nos deixando", diz. A debandada, afirma, está diretamente ligada à queda nos repasses a universidades federais. Segundo Davidovich, as verbas têm caído todos os anos desde 2010. A exceção foi 2013, quando houve um pico que ele atribui ao programa Ciência sem Fronteiras. Em 2019, o golpe mais duro da década: contingenciamento de 30% no Ministério da Educação e 42% na pasta de Ciência e Tecnologia (MCTIC). O principal afetado é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que provê a maior parte dos recurso à pesquisa científica. "Com o corte, as bolsas de pesquisa só chegariam a junho, mas uma suplementação de R$ 300 milhões permitiu pagar até setembro. Ainda falta para o resto do ano", afirma Davidovich. De acordo com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ainda faltam R$ 340 milhões para o CNPq honrar as bolsas de 84 mil pesquisadores neste ano. 
Os cortes surpreenderam o chefe da Academia de Ciências. Ainda em campanha, Jair Bolsonaro respondera a um questionamento da entidade com a promessa de elevar o investimento em ciência a 3% do PIB até o fim do mandato, enquanto a entidade recomendava a reserva de 2% da riqueza nacional para a área. Segundo Davidovich, hoje em queda, o investimento total em ciência e tecnologia está um pouco acima de 1% do PIB, sendo igualmente dividido entre União e setor privado. Inicialmente encarado como auspicioso pelo cientista e seus pares, o compromisso de campanha do presidente se mostra cada vez mais distante. "O apagão de investimentos pode quebrar o sistema de C&T. Tudo que temos hoje começou a ser institucionalizado na década de 1950, mas vem de antes. A construção é um processo longo, mas a destruição pode ser muito rápida, menos de uma década". Questionado se o "Future-se", programa do governo para estimular a entrada de recursos privados nas universidades, pode solucionar o problema, Davidovich é claro: "Só funcionará se os repasses públicos forem restabelecidos".
Em sua leitura, as universidades só vão interagir mais com empresas na medida em que se modernizarem primeiro via recurso público. "A maior parte do orçamento universitário sempre virá do governo, como acontece no mundo todo. O ministro [Abraham Weintraub, do MEC] precisa de um choque de realidade", diz. O pesquisador, no entanto, vê com bons olhos aspectos da proposta como desvinculação de verbas privadas do orçamento e previsão de incentivos fiscais para quem investir. Caso o governo ainda queira honrar a promessa de investir duas vezes mais em ciência, Davidovich afirma que, além de rever os cortes, será preciso incentivar investimento direto do setor privado. Ele cita as experiências dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. Doutor pela Universidade de Rochester (EUA) e membro estrangeiro da Academia de Ciências dos Estados Unidos (NAC), lembra que na Coreia do Sul três quartos do investimento em P&D vêm de empresas, e um quarto, das universidades. "Não precisamos reinventar a roda. Basta olhar para o lado. Os EUA sempre usaram encomendas de Estado para grandes projetos nacionais", diz, citando como exemplos o programa espacial e a criação de bancos de dados para órgãos de governo. "Isso é muito melhor que subvenção, pois permite orientar os resultados."
Como um caminho natural, Davidovich aponta a biotecnologia baseada na pouco explorada biodiversidade nacional. "Conhecemos apenas 5% do potencial de nossos biomas", diz. Animado, ele fala de uma substância chamada bergenina, originalmente encontrada no caule de uma planta amazônica. Sua molécula anti-inflamatória foi sintetizada por um laboratório privado que hoje comercializa o miligrama por mais de R$ 1.000. "Existem várias outras substâncias que poderiam ser produzidas no Brasil." Soluções de saúde, afirma, são mais que recomendadas para um país com um comprador natural do tamanho do Sistema Único de Saúde (SUS). "Prioridades óbvias como a biotecnologia têm sido prejudicadas por uma política de desmatamento que nega evidências científicas", diz. Davidovich se mostra especialmente irritado com os ataques do governo ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em cuja defesa saiu mais de uma vez por meio de carta aberta da ABC. "Há uma ironia no fato de não perceberem que isso pode prejudicar a própria agroindústria, por causa dos rios voadores que garantem chuvas no Centro-Oeste e Sudeste. Isso para não citar o acordo comercial com os europeus, que terão um Parlamento com cada vez mais [deputados] verdes." Em seu entender, as ações do governo até aqui refletem uma "total ausência de agenda para o desenvolvimento científico" que abre espaço para voluntarismos, expressos por exemplo na retórica sobre nióbio ou dessalinização, que têm o seu valor, mas estariam longe da escala necessária para alavancar a ciência no país.