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domingo, 10 de novembro de 2024

Trump ‘não quer construir pontes’ e desafia diplomacia econômica brasileira, diz ex-ministro Celso Lafer - Leonardo Rodrigues (Istoé)

Trump ‘não quer construir pontes’ e desafia diplomacia econômica brasileira, diz ex-ministro Celso Lafer

Leonardo Rodriguesi

https://istoe.com.br/autor/leonardo-rodrigues/ 

Istoé, 10/11/2024

https://istoe.com.br/trump-nao-quer-construir-pontes-e-desafia-diplomacia-economica-brasileira-diz-ex-ministro-celso-lafer/

+Distância entre Lula e Trump não afetará proximidade do Brasil com os EUA, diz ex-chanceler

Depois que Donald Trump foi eleito para a Presidência dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem um histórico de declarações críticas ao republicano, não tardou a parabenizá-lo pelo resultado da eleição.

O gesto refletiu a preocupação do petista em preservar relações com o segundo maior parceiro comercial brasileiro, cujo mandatário eleito prometeu adotar uma agenda de conservadorismo político e protecionismo comercial. “Trump ressuscitou a corrente de isolacionismo dos EUA, movida por desconfiança no comércio internacional e nos engajamentos internacionais”, afirmou Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, ao site IstoÉ.

Lafer chefiou o Itamaraty quando Fernando Collor (PRN) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) eram presidentes e ainda foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em períodos que tinham políticos de diferentes orientações na Casa Branca. Nesta entrevista ao site IstoÉ, o ex-chanceler analisou os desafios impostos por Trump para a diplomacia brasileira e, dada a influência do país que governará, para as relações globais de poder.

Leia a seguir a íntegra:

IstoÉ O presidente Lula tem um histórico de manifestações críticas a Donald Trump. O senhor acredita que as divergências podem impactar as relações políticas e diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos?

Celso Lafer O presidente Lula não exerceu o realismo da prudência democrática ao manifestar publicamente simpatia pela candidatura de Kamala Harris. Sua manifestação é, no entanto, compreensível, e não apenas em função da sua identidade política, mas da existência de um terreno comum com o governo Biden, em matéria dos desafios da agenda global do meio ambiente, da transição energética e da importância atribuída à democracia e aos direitos humanos. Na campanha deste ano, Trump se contrapôs a esses itens de forma ainda mais incisiva do que no seu primeiro mandato.

Objetivamente, porém, é com o futuro governo Trump que a diplomacia de Lula precisará conviver, da melhor maneira possível, tendo em vista a relevância dos EUA no mundo. Daí a pronta clareza realista com a qual Lula transmitiu os seus cumprimentos a Trump, por uma eleição que teve o inequívoco respaldo do eleitorado americano.

“Havia um terreno em comum entre os governos de Lula e de Biden”.

A diplomacia americana comporta muitas facetas, o que dificulta a identificação de um foco privilegiado de atenção ao Brasil na próxima presidência de Trump — o que deve dar ao governo Lula uma margem de calibração para a moldura das relações entre os dois países. Nessa calibração, o presidente contará com os quadros do Itamaraty e sua capacidade de desdramatizar o potencial de tensões.

IstoÉ Tendo em perspectiva as diferentes experiências que o senhor teve no Itamaraty, qual é sua avaliação da postura diplomática do governo Lula 3?

Celso Lafer Fui ministro das Relações Exteriores em um momento distinto da sociedade brasileira, que não se caracterizava pelos atuais conflitos de polarização e por um movimento internacional de ascensão política autoritária da direita. Havia mais abertura à cooperação, mais condições para o exercício do nosso “soft-power” e, consequentemente, para a elevação do patamar de presença do Brasil no mundo.

O mundo com o qual o Lula 3 se confronta é permeado por tensões regionais e internacionais de poder, que propiciam o retorno do papel da geopolítica, das securitizações das economias nacionais e do impacto da geografia das paixões.

No meu período de Itamaraty e mesmo nos mandatos anteriores de Lula, não havia uma tensão de hegemonia como a que existe entre EUA e China e nem conflitos bélicos de alcance geral, como os que acontecem na Ucrânia e na Palestina.

“A sociedade brasileira não atravessava os conflitos da polarização e um movimento internacional de ascensão política autoritária da direita”.

A América do Sul, por sua vez, é mais fragmentada e heterogênea, e menos propícia a uma onda positiva verificada nos mandatos anteriores do presidente, o que aliás também caracterizou, em outros moldes, minha experiência como ministro.

Dito isso, concluo que o desafio diplomático de Lula 3 é calibrar a presença do Brasil no mundo, navegando sem intensificar conflitos entre próximos e distantes, e sem esbarrar nos rochedos subjacentes de um “Mar de Sargaços”. Essa calibração pressupõe equilíbrio e, igualmente, a constante melhoria da governança interna, cujo aprimoramento é sempre fonte de prestígio internacional.

IstoÉ Quanto a Trump, quais são os sinais dados pelo presidente eleito americano em relação à postura diplomática e às relações com outras nações para seu novo mandato?

Celso Lafer Neste contexto de um mundo crescentemente perigoso, Trump agrega a imprevisibilidade de seu modo de ser, um amplo controle sobre Washington que a amplitude de sua eleição lhe assegurou e a consequente erosão dos tradicionais freios e contrapesos do sistema político americano. A isto, se somam os novos perigos de alcance do relacionamento entre dinheiro e poder que a relação Elon Musk-Trump tem condição de propiciar.

Tudo isso tende a aumentar o desafio da gestão das independências e suas externalidades, criando novos obstáculos à construção de consensos internacionais. Esses foram sempre uma nota de atuação da competência diplomática brasileira, cujo espaço de permissibilidade está reduzido.

IstoÉ Trump manifestou, durante a campanha, a intenção de adotar políticas comerciais mais protecionistas e enrijecer políticas anti-imigração. Em que medida essa agenda afeta as relações com o Itamaraty?

Celso Lafer Lema de Trump, o “Make America Great Again” (“Faça a América Grande Novamente”, em português) é uma explicita condenação do internacionalismo americano, que teve um papel na construção da ordem mundial do pós-guerra e o respaldo de governos democratas e republicanos.

Essa condenação se viabilizou com as mudanças tecnológicas e a fragmentação das mídias que ensejaram as distorções e notícias falsas, que ensejaram notícias falsas e alcançaram setores da sociedade que se sentiam marginalizados pelas mensagens do Partido Democrata. Trump ressuscitou assim, em novos moldes, a corrente do isolacionismo dos EUA, movida por desconfiança no comércio internacional e nos engajamentos internacionais de todo tipo.

“Trump ressuscitou a corrente de isolacionismo dos EUA”.

Trump impulsionou a hostilidade em relação à imigração, aguçada pelo ímpeto que declaradamente dará a deportação de milhões que estão — ilegalmente — habitando o território americano. O republicano não quer construir pontes, mas vai se dedicar a construir muros com a ideia de colocar seu lema em prática.

No plano econômico, a elevação de tarifas é o instrumento de ação preferida para alcançar isso, o que abrirá espaço para guerras comerciais. Ao mesmo tempo, em seu governo haverá um esforço de contenção da penetração da economia chinesa no mundo, o que impactará todos os parceiros comerciais dos EUA, inclusive o Brasil, que é um importante exportador de produtos para a economia americana. Esse acesso será dificultado pela agenda de Trump, o que exigirá empenho redobrado na promoção competitiva e ajustes para a diversificação de nossas exportações. Em síntese, há um novo desafio para a diplomacia econômica brasileira.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

A quadrilha dos malfeitores do PT - IstoÉ (setembro de 2017)

 Brasil

A quadrilha dos malfeitores do PT

Em menos de 24 horas, a cúpula do PT foi denunciada pelo Ministério Público em dois processos. No primeiro, Lula, Dilma e outros 6 petistas são acusados de receber R$ 1,5 bilhão em propinas.

No segundo, os dois ex-presidentes são suspeitos de obstrução de Justiça.

 

A quadrilha dos malfeitores do PT

Paulo Bernardo, Vaccari, Dilma, Palocci, Lula, Gleisi, Mantega e Edinho

Tábata Viapiana

IstoÉn. 2491, 07/09/2017 - 17h00

 

Disponível: https://www.academia.edu/70776548/A_quadrilha_dos_malfeitores_do_PT_ISTOÉ_Independente_2017_

 

Nunca, na história deste País, se roubou tanto como nos governos petistas de Lula e Dilma. De 2003 a 2016, a quadrilha do PT, que teve Lula como “o grande idealizador”, recebeu R$ 1,485 bilhão em propinas. Desse valor, somente o ex-presidente Lula embolsou R$ 230,8 milhões das construtoras OAS e Odebrecht, como contrapartida por ter ajudado os negócios das empreiteiras em obras da Petrobras. Esse é o resumo da denúncia feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira 6, e que enquadrou os dois ex-presidentes nos crimes de organização criminosa, como resultado do inquérito chamado de “quadrilhão do PT”. Foram denunciados também a senadora e presidente do PT Gleisi Hoffmann, o marido dela, o ex-ministro Paulo Bernardo, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e mais três ex-ministros: Antônio Palocci, Guido Mantega e Edinho Silva. As penas aos petistas podem ir de três a oito anos de cadeia. Por ser chefe da quadrilha, como disse Janot, Lula deverá ser condenado a uma pena ainda maior.

 

O desfalque na Petrobras

Em 209 páginas de sua denúncia, o procurador Rodrigo Janot mostra que a alta cúpula do PT se estruturou para assaltar os cofres públicos, especialmente da Petrobras, mas também do BNDES e do Ministério do Planejamento. Somente à Petrobras, o esquema petista provocou um prejuízo de R$ 29 bilhões. Para ressarcir parte desses danos, o procurador pede que o STF faça o bloqueio de R$ 6,5 bilhões dos bens dos oito denunciados. Esta é a sétima denúncia contra Lula. Janot diz que o ex-presidente continuou recebendo propina inclusive depois que deixou a presidência. Se o STF aceitar a denúncia, Dilma pode se sentar no banco dos réus pela primeira vez na Lava Jato.

O “quadrilhão” petista tem um peso enorme em esquemas ilícitos por envolver dois ex-presidentes, que tinham pleno conhecimento de todas as falcatruas em seus governos, segundo o MPF. Somente as empresas do grupo Odebrecht, por exemplo, de 2002 a 2014, pagaram a título de propina mais de R$ 400 milhões ao PT. As relações espúrias do partido com empresas privadas também envolviam OAS, Andrade Gutierrez, UTC e JBS. Durante o primeiro mandato, de acordo com Janot, Lula articulou a compra de apoio político de parlamentares com uso de dinheiro público: o PP levou R$ 390 milhões, o PMDB do Senado pelo menos R$ 600 milhões e o PMDB da Câmara outros R$ 350 milhões.

 

Durante seu governo, Dilma deu seguimento a todas as tratativas ilícitas iniciadas por Lula. Em muitos casos, a ex-presidente atuou de forma indireta por intermédio dos então ministros Guido Mantega e Edinho Silva, na cobrança de valores ilícitos junto a empresários. O caso está nas mãos do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato em função do envolvimento da senadora Gleisi Hoffmann, que tem foro privilegiado.

Num recorde de Janot, que deixa o cargo no próximo dia 17, a Procuradoria-Geral da República fez nova denúncia contra Lula, Dilma e o ex-ministro Aloizio Mercadante na tarde de quarta-feira 6, desta vez por obstrução de Justiça. Lula e Dilma são investigados desde agosto de 2016, com base no vazamento de uma gravação feita pela PF nos telefones do ex-presidente. No diálogo entre os dois, em março do ano passado, Dilma diz a Lula que está enviando um emissário, “o Bessias” (na verdade ele chama-se Jorge Messias), com um termo de posse do petista como ministro da Casa Civil para qualquer emergência. Lula responde que está aguardando o documento e despede-se dizendo “tchau querida”. O Ministério Público entendeu que a nomeação açodada objetivava conceder foro privilegiado a Lula, impedindo eventual pedido de prisão contra ele. Já o ex-ministro Mercadante é acusado de tentar impedir a delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral.

 

Dr. Honoris Causa em corrupção

As investigações mostram que o ex-presidente Lula é expert em desvios de dinheiro público

- A Procuradoria-geral da República acusa o ex-presidente de ser o “grande idealizador” da organização criminosa formada no governo federal para desviar recursos da Petrobras. De 2002 a 2016, a quadrilha de Lula recebeu R$ 1,48 bilhão em propina.

- Entre os 128,1 milhões que Lula recebeu da Odebrecht, estão R$ 12,4 milhões gastos na compra de um terreno para o Instituto Lula e R$ 504 mil na aquisição de uma cobertura ao lado da sua em São Bernardo.

- Dos R$ 27 milhões que o ex-presidente recebeu da OAS, estão contabilizados o tríplex que ele ganhou no Guarujá. Por causa desse imóvel, Lula foi condenado a uma pena de nove anos e seis meses de prisão.

- Lula é réu ainda em outros cinco processos, a maioria por corrupção. Na última denúncia, ele é acusado de receber R$ 1,02 milhão da OAS e Odebrecht para a reforma do sítio de Atibaia.

 

 

sábado, 11 de setembro de 2021

A diáspora brasileira - Taísa Szabatura e Vinícius Mendes (IstoÉ)

 A diáspora brasileira

Nunca tantos brasileiros foram morar no exterior: são 4,2 milhões só na última década. E como expressão do desalento com o Brasil, a maioria deles não têm planos de voltar
Taísa Szabatura e Vinícius Mendes 
IstoÉ, 10/09/21 - 09h30 - Atualizado em 10/09/21 - 12h09

“Dificilmente voltaremos”, é a frase mais comum de se ouvir de famílias brasileiras morando fora do País. Ela tem sido dita também porque muitas delas engrossam um dado histórico: o número de brasileiros morando no exterior nunca foi tão alto como agora, segundo levantamento feito pelo Itamaraty. Até o fim de 2020, 4,21 milhões de pessoas haviam deixado o Brasil — um aumento de 35% em relação a 2010, quando este número era de 3,12 milhões. Foi o caso de Adriana Tanzi, de 49 anos: ela não pensava em morar fora até meados de 2019, mesmo possuindo cidadania europeia. No entanto, quando o orçamento doméstico caiu, em meio à crise econômica, ela e o marido, o soldador Edson Monteiro, de 54, resolveram partir junto com a filha, Vitória, de nove anos, para a Itália. “No começo foi difícil.Nós não falamos o idioma e ainda veio a pandemia”, relata. Hoje, um ano e meio depois, a situação é mais tranquila: vivendo em Mântua, na Lombardia, Edson voltou a trabalhar e Adriana já está no processo de validação de seu diploma.

A psicóloga Monise Valzacchi, de 32 anos, por sua vez, foi ao lado do namorado, o nutricionista Felipe Jorge Melo, de 31, para a Austrália em setembro de 2014, quando o Brasil já estava em crise. O objetivo inicial era estudar inglês, mas eles acabaram ficando em busca de uma residência permanente na cidade de Perth, uma das maiores do país. O processo demorou, mas saiu no começo desse ano, quando eles, enfim, compraram uma casa. Agora estão esperando a primeira filha, que vai nascer em novembro. “Nunca imaginamos que teríamos condições de comprar um imóvel como o nosso por aqui, mas deu certo”, diz Monise. Já o futuro pai, engenheiro, não quer deixar mais a vida australiana. “Mesmo na hipótese de que tudo desse errado, faríamos o possível para não voltar. Desde que nós chegamos, temos o mesmo pensamento: não estamos aqui para passear”.

Destinos brasileiros
Para o antropólogo Igor Renó Machado, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o crescimento da presença brasileira no exterior se explica, principalmente, pela falta de perspectivas no País. Esse fenômeno tem se acentuado nos últimos anos. Pelo levantamento do Itamaraty, por exemplo, apenas entre 2018 e 2020, cerca de 625 mil pessoas deixaram o Brasil em direção a outros países — o que representa 14% do total de saídas nacionais em toda a década passada. “No início de 2010 havia até gente voltando. Mas, depois de 2016, quando as condições por aqui se deterioraram, começou uma saída violenta em busca de uma nova vida lá fora”, diz. Os Estados Unidos abrigam quase metade (42%) da população. Em números absolutos, trata-se de 1,77 milhão de pessoas.

No Canadá, a ida de brasileiros capacitados, em grande parte no setor de tecnologia, é até incentivada pelo governo. Foi esse chamado que atraiu o casal de desenvolvedores Bárbara Lourenço, de 28 anos, e Thiago de Lima Pacheco, de 27, por exemplo. Quando ele conseguiu um emprego na área em Montreal, no fim de 2019, os dois se casaram correndo para terem acesso ao visto canadense. Hoje, não querem voltar. “Aqui há segurança até para esperar um ônibus à noite”, justifica Bárbara. “Apesar disso, a saúde pública é mais burocrática. Eu prefiro o SUS”, confessa Thiago.

Mas o fenômeno ganhou mesmo força em Portugal. O país concedeu residência a 42,2 mil cidadãos do Brasil somente em 2020, segundo números oficiais. Hoje, 183,9 mil brasileiros — quase um terço do total de estrangeiros — vivem no país europeu. “O boom dessas chegadas aconteceu entre 2014 e 2018, quando elas triplicaram”, diz o advogado Felipe Tramujas, que, de Lisboa, ajuda brasileiros que buscam estabilidade em solo português. Neste período, porém, ele viu o perfil dos migrantes se transformar. “São pessoas já formadas e com filhos, sem contar o alto número de aposentados”, conta.

Um desses brasileiros é o executivo William Silva, de 33 anos. Ele mandou mais de 500 currículos até conseguir ser contratado por uma empresa em Lisboa, em 2019. “Eu vivia bem no Rio de Janeiro, mas a corrupção e a violência eram intransponíveis”, explica. A esposa, Bianca Costa, busca agora a revalidação do diploma, enquanto a filha, Júlia, de cinco anos, já está matriculada em uma escola pública. Nessa toada, o prefeito de Braga tem incentivado a migração brasileira como forma de lidar com o envelhecimento da população local. Logo após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, ele escreveu um artigo que resumia esse acolhimento com um trocadilho: “Bem-vindos ao Braguil”.

https://istoe.com.br/a-diaspora-brasileira/


domingo, 15 de agosto de 2021

O Grande Capital já não aguenta mais Bolsonaro - Marcos Strecker (ISTOÉ)

 PIB dá a resposta

Marcos Strecker

ISTOÉ, 13/08/21

 

Nomes de peso da economia manifestam a maior insatisfação com Bolsonaro desde sua chegada ao poder. O agravamento da crise deve aumentar o afastamento

 


INDIGNADO Guilherme Leal, da Natura, diz que questionar as eleições é “totalmente inaceitável” (Crédito: Adriano Vizoni)


O governo Bolsonaro perde popularidade em praticamente todos os segmentos e vê sua sustentação política evaporar. Mas, até o início do ano, ainda contava com a boa vontade dos empresários, que confiavam na agenda liberal de Paulo Guedes e na promessa de retomada econômica. Esse apoio sofreu fissuras desde o início do ano, quando ficou evidente que o descalabro na compra de vacinas iria frear a recuperação dos negócios. E o afastamento chegou a um ponto de quase ruptura com a escalada do governo contra as urnas eletrônicas.

 

“Os investidores daqui e de fora que querem apostar na retomada do País estão cada vez mais desconfiados”



“Essa escalada precisa acabar para que a gente volte a gerar renda” Fernando Pimentel, presidente da Abit (Crédito:Divulgação)

 


Eduardo Sirotsky Melzer, sócio-fundador da EB Capital (Crédito:Carol Carquejeiro)

 

 

Esse foi o duro recado transmitido pelo manifesto “Eleições Serão Respeitadas”, lançado no dia 5 por empresários, banqueiros e economistas, que começou com centenas de nomes e em pouco tempo ultrapassou seis mil assinaturas. Não é comum a presença de grandes representantes do PIB no debate político, mas essa discrição foi superada pela urgência do momento. Guilherme Leal, fundador da Natura e copresidente do Conselho de Administração da empresa, mostrou ser uma das vozes mais indignadas. Ele considerou “totalmente inaceitável” que lideranças questionem a realização das eleições. “Essa escalada precisa acabar para que a gente volte a gerar renda”, defendeu o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), notou que o manifesto “tem impacto por ser uma manifestação de empresários que normalmente não se manifestam”. Ele foi um dos coordenadores do movimento, que começou com poucas dezenas de pessoas ligadas ao Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) antes de ganhar a adesão massiva.

 

“Tenho arrepios, como boa parte do mercado, de ver esse arremedo de nacional-populismo crescendo no País” 

 

 

Daniel Goldberg, sócio da Farallon (Crédito:CLAUDIO BELLI)

 

O manifesto reuniu nomes de peso como Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Pedro Moreira Salles e Roberto Setúbal (Itaú Unibanco), Luiza e Frederico Trajano (Magalu), Walter Schalka (Suzano), Ricardo Lacerda (BR Partners) e José Olympio Pereira (Credit Suisse Brasil). Em março, empresários já haviam divulgado um manifesto cobrando o governo por medidas efetivas de combate à Covid, que ficou conhecido como a “carta dos 500”. Mas, ao contrário dessa iniciativa, que serviu para forçar o governo a acelerar a compra de vacinas, o manifesto pró-democracia, lançado no mesmo momento em que o TSE e o STF passaram a tomar medidas concretas para conter as investidas antidemocráticas, não conseguiu conter a radicalização do governo. Depois que a PEC do voto impresso foi derrubada na comissão especial da Câmara, no dia 6, a matéria voltou ao plenário por pressão do presidente, que organizou um desfile de tanques para aumentar a pressão sobre os parlamentares na última terça-feira. Mesmo com uma nova derrota nesse dia, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre as urnas eletrônicas.

 

“O ano de 2022 é uma zona de incerteza. O que está em jogo não é mais a economia, mas a democracia” 

 

Ana Carla Abrão, economista (Crédito: Ruy Baron/Valor )

 

Além da indignação com a ameaça antidemocrática, o combustível para a insatisfação é a percepção de que o governo Bolsonaro leva a economia a um impasse. Guedes já não consegue mais convencer que vai manter uma pauta coerente de respeito aos bons fundamentos econômicos, pois os programas eleitoreiros de Bolsonaro viraram a prioridade. A paralisia com as privatizações, o calote nos precatórios, a reforma açodada do Imposto de Renda, a pauta antiambiental e a crise energética que colocou o País na iminência de novos apagões são fatores que afastam os empresários dos braços do governo. Isso é sentido especialmente no setor de fundos de investimentos, que lida com as expectativas futuras e com a visão que players do exterior.

 

“Tenho arrepios, como boa parte do mercado, de ver esse arremedo de nacional-populismo crescendo no País. Essa combinação de blindados na rua, insinuações nas redes sociais e intimidação por meio de milícias digitais me lembra episódios tenebrosos do passado”, diz o empresário Daniel Goldberg, que é sócio da Farallon, uma das maiores gestoras de fundos do mundo, com US$ 20 bilhões em ativos. “Este governo ataca permanentemente as instituições democráticas, ao invés de endereçar os problemas verdadeiros e urgentes que o País enfrenta”, acrescenta Marcos Lederman, ex-diretor do banco Credit Agricole e sócio-fundador da JointVest. “Mais do que inadequada, a situação traz instabilidade ao Brasil, porque os investidores daqui e de fora que querem apostar na retomada do País estão cada vez mais desconfiados”, concorda Eduardo Sirotsky Melzer, da EB Capital, gestora com R$ 3,5 bilhões em ativos no País. A falta de paciência cresce. A perpetuação da crise em três frentes – institucional, sanitária e econômica – pode deteriorar ainda mais o ambiente de negócios e selar o divórcio do PIB com o presidente. Essa ruptura ainda não aconteceu, mas o tom do manifesto foi de ultimato. “O ano de 2022 já é uma zona de incerteza, com a alta da inflação, o desemprego, as preocupações fiscais e o Auxílio Brasil, que é mais um jeito de turbinar votos do que uma ajuda para quem precisa. A questão é que o que está em jogo não é mais a economia, mas a defesa da democracia”, resume Ana Carla Abrão, head do escritório da Oliver Wyman no Brasil.


quinta-feira, 15 de julho de 2021

Bolsovirus: um presidente vulgar no extremo limite da expressão: Editorial da IstoÉ - Carlos José Marques

 Confesso que existem certas coisas que não merecem destaque e das quais eu preferiria passar longe. 

Mas cabe, neste meu quilombo de resistência intelectual, registrar o horror que estamos vivendo, com um presidente chulo, tosco, vulgar, pestilento, uma escória de pessoa, e não sou eu quem invento nada: é o próprio que se desqualifica e diminui o Brasil com os mais sórdidos palavrões e expressões. O homem não tem limites, e ainda pretende provocar confusão.

Já vou tomar uma atitude RADICAL: imputo plena RESPONSABILIDADE pela continuidade desse DESPREZÍVEL dirigente aos MILITARES que o circundam, e que o sustentaram na sua ascensão ao poder, junto com políticos oportunistas e com empresários calhordas. São eles os responsáveis pela manutenção desse verme no poder.

Transcrevo o editorial.

Paulo Roberto de Almeida


domingo, 14 de março de 2021

Entrada e fuga de capitais do Brasil - Ricardo Bergamini, Eudes Lima (ISTOÉ)

 Se me perguntassem sobre o nível do debate econômico no país, eu diria que é uma razoável aproximação do Q.I. das amebas (Roberto Campos).

 

Prezados Senhores

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até janeiro de 2021 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 69,8 bilhões. 

 

Os brasileiros terão que aprender, de uma vez por todas, que os discursos internos que empolgam os seus súditos (não são eleitores), não servem para o público externo, por isso o mundo está assustado com o Brasil. 

 

Cabe lembrar que essas informações macroeconômicas divulgadas pelo governo são destinadas ao público externo, não para o público interno, que não tem nenhum interesse no assunto.

 

Em 2019, sem pandemia, já havia ocorrido uma fuga de US$ 44,7 bilhões. 

 

Qual grupo econômico racional iria aguardar o destino do Brasil, que será travado entre dois sindicalistas primatas (Bolsonaro e Lula)? Somente ficarão no Brasil os especuladores.

 

Estamos num país de imbecis, onde alguns falsos liberais, que estão na folha de pagamento do SECOM do Bolsonaro, pregam a ditadura militar como solução. O capital estrangeiro se pirulita.


Ricardo Bergamini

 

A fuga das multinacionais

 

Empresas estrangeiras fogem dos riscos da economia brasileira e migram para outros mercados. A instabilidade política e jurídica soma-se ao “Custo Brasil”, cada dia mais alto por conta das medidas erráticas do governo e da falta de reformas estruturantes

  

Eudes Lima

ISTOÉ, 12/03/21

 

 Empresa japonesa anuncia fechamento da sua fábrica na Zona Franca de Manaus: 300 empregos cortados 


“As marcas se reposicionam conforme as suas necessidades. Ninguém quer ficar no Brasil, um País cheio de incertezas” Vladimir Maciel, professor de economia

 

Há uma onda de empresas estrangeiras que fogem do Brasil. Depois de 48 anos a Sony anunciou o fechamento da indústria na Zona Franca de Manaus, com o fim de 300 empregos diretos. Mais a crise envolvendo companhias de capital internacional no País não se limita à fabricante japonesa. A indústria automobilística talvez seja a que mais falta fará à economia nacional: Ford, Audi e Mercedes estão deixando o País em busca de novos mercados. O grupo suíço do ramo farmacêutico Roche já havia comunicado, em 2019, que entre quatro ou cinco anos deixará o Brasil. Tantas outras empresas seguem o mesmo caminho e também já saíram, como é o caso da Nike, Fnac, Walmart, Nikon, Brasil Kirin, Häagen-dazs, Glovo, RR Donnelley, Lush Cosméticos, Kiehl’s e Eli Lilly. É um verdadeiro êxodo. O economista da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vladimir Maciel, diz que a desindustrialização no Brasil corre de forma acelerada, sobretudo depois da pandemia que agilizou mudanças nos processos de produção e consumo. “As marcas se reposicionam conforme as suas necessidades. O problema está na relação entre saídas e entradas. Ninguém quer ficar no Brasil, um País cheio de incertezas”, explica.

 

 



 

Motivos para investir aqui são menores dos que para sair. Os empresários reclamam dos altos custos de produção, especialmente quanto à elevada carga tributária e ausência de reformas que reduzam o “Custo Brasil”. A falta da Reforma Tributária e a Administrativa deixam o País em permanente crise fiscal, o que cria grande instabilidade econômica. Apenas em 2020, 5.500 indústrias fecharam as portas, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Também há a insegurança jurídica causada com a novela da operação Lava Jato como um dos fatores que afasta o investidor externo.

 

“Bolsonaro deixou claro não se importar com seus principais parceiros internacionais, nem com as consequências de uma pandemia global” Gustavo Braga, economista

 

A década perdida de 1980 está sendo revivida de acordo com economistas e é como se o Brasil não tivesse avançado nada em 10 anos. A instável política econômica do ministro Paulo Guedes e a insensibilidade do presidente da República, que ignora a necessidade de crescimento, consolida a descrença no País. Para o economista Gustavo Braga, “o presidente da República deixou claro não se importar com seus principais parceiros internacionais, nem com as consequências econômicas de uma pandemia global”, afirmou.

 

Muitas das empresas que estão deixando o País o fazem por total desinteresse no mercado com consumidores de renda mais baixa, preferindo países com desenvolvimento mais acelerado. A Roche programou sua saída a partir de 2023. Patrick Eckert, presidente da Roche Farma Brasil, diz que “a estratégia global da empresa para o segmento de medicamentos sintéticos é concentrar os esforços em produtos inovadores de alta complexidade e baixo volume de produção”. Multinacionais avaliam a situação econômica de longo prazo, e de nada adianta colocar a culpa na Covid-19. O mercado nacional está muito atrás dos países emergentes. Prova disso é que não figura mais entre as 10 principais economias mundiais. O PIB caiu 4,1% em 2020 e o levantamento da Austin Rating – agência de classificação de risco – de 9ª economia em 2019, o Brasil irá para 14º lugar em 2021. A queda é temerária. Em 2015 e 2016, o PIB já havia caído 3,5% e 3,3%, respectivamente. Não há nada que aponte para uma recuperação maior no curto e médio prazo.

 

O achatamento da classe média e o empobrecimento da nação acentua a fuga de empresas. O economista Vladimir Maciel lembra que marcas de luxo perdem a cada dia o sentido de continuar produzindo em um País que reduz a massa de compradores de produtos com grande valor agregado. Os carros de luxo são os melhores exemplos. “A multinacional prefere ir para onde tem consumidor com alto poder de compra, sem desemprego e com poder aquisitivo em elevado”, diz Maciel.

 

O incentivo ao empreendimento de novas indústrias também é um obstáculo. A burocracia não estimula a produção. Nada há planejado por uma política de industrialização mínima. Exceção feita ao agronegócio, que caminha com as próprias pernas, a produção interna não tem nenhum norte institucional a seguir. O isolamento internacional, seja nas questões de acordos multilaterais, seja na imagem nas políticas voltadas para o meio ambiente, saúde e educação são fatores que pesam negativamente na atração de novos investimentos. O melhor cenário de retomada após a pandemia não anima para que empresas de todo o mundo voltem a olhar com algum apreço e respeito ao País. O encanto acabou.

 


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

O desgoverno de Bolsonaro criando a falência do Brasil - IstoÉ, Paulo Roberto de Almeida

Avaliação de meio de caminho do PIOR GOVERNO que já teve o Brasil 

Paulo Roberto de Almeida

Dois anos de desgoverno do capitão despreparado confirmam o que já prevíamos e o que já sabemos: Bolsonaro é um inepto assumido, um incompetente total, um dirigente desequilibrado e perverso, no limite da sociopatia, senão um psicopata perigoso para o país e para a sociedade. O país retrocede sob seu desgoverno, em todas as áreas de interesse para a nação, e deve continuar sob ameaça de deterioração, nas diversas esferas das políticas públicas, pois o capitão se revela incapaz de qualquer ação racional e responsável em face dos desafios que se apresentam ao país, sobretudo no terreno que representa a diferença entre a vida e a morte para dezenas de milhares de brasileiros, o das respostas preventivas e corretoras da mortandade já provocada pela pandemia. Nesse terreno em especial, seu desgoverno é o próprio pandemônio, que caracteriza toda a sua anti-postura, só interessado nele mesmo e no seu círculo íntimo de corruptos, oportunistas, medíocres e falastrões.

Na área da política externa, que me interessa mais particularmente, os resultados estão muito acima de desastrosos ou catastróficos: eles são indignos, inaceitáveis e vergonhosos para a imagem internacional (e interna) do Brasil, sob a gestão de amadores ineptos, orientados por um guru destrambelhado e incompetente em assuntos de política internacional, pois que entregue a um diplomata despreparado e desequilibrado, totalmente submisso aos ineptos, um verdadeiro capacho, não apenas do degenerado presidente, mas de autoridades estrangeiras, às quais se submete de modo tão servil que chega a ser constrangedor para qualquer servidor do corpo de diplomatas de carreira. Seu desconforto ante o fracasso completo de toda a sua gestão, não o levou a fazer autocrítica e corrigir seus tremendos equívocos, mas a recrudescer nas sandices e loucuras, ofendendo os colegas profissionais e a própria inteligência da nação, ao se confessar satisfeito com a condição de “pária internacional” a que o Brasil foi relegado pelo próprio presidente e por ele mesmo, um incapaz à frente de ministério tão sensível. Não hesito em classificar a política externa e a diplomacia atuais como as mais desastrosas jamais vistas em nossa história bissecular de projeção responsável do país no âmbito regional e no contexto mundial. 

EA, a Era dos Absurdos, é uma VERGONHA ABSOLUTA para o Brasil e os brasileiros.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8/01/2021 


Desgoverno

Ao declarar que “o Brasil está quebrado e que não pode fazer nada”, Jair Bolsonaro reconhece que não sabe como lidar com as crises que se agravam em 2021. Após a confissão de impotência, ele deveria renunciar

IstoÉ Dinheiro | 8/1/2021, 9h30

Desde a posse de Jair Bolsonaro, a sociedade espera ações concretas para combater os graves problemas nacionais. Em vez disso, o que se viu foi um ataque contínuo à democracia, o desmonte do Estado e um show de incompetência. Mais de dois anos depois, não se vislumbrou nenhuma grande estratégia para a retomada econômica, além das promessas extravagantes de Paulo Guedes. Pior, a pandemia ampliou os desafios e já custou a vida de mais de 200 mil brasileiros. O rombo fiscal vai empobrecer milhões. Tudo isso não é obra do acaso. São consequências das ações do presidente. Enquanto os brasileiros enfrentaram um fim de ano dramático, preocupados com a crise e isolando-se para evitar a Covid, ele aproveitou um descanso de 17 dias em praias do litoral de Santa Catarina e São Paulo pescando e promovendo aglomerações. Mais uma vez debochou dos cuidados básicos com a doença. Na volta a Brasília, deu seu diagnóstico para a situação: “O Brasil está quebrado. Não consigo fazer nada”. A declaração, feita para seu público preferido, a claque postada no cercadinho do Palácio da Alvorada, é o reconhecimento do seu fracasso.

Dívida explosiva

Além de a economia não ter reagido na atual gestão, a dívida pública explodiu com a pandemia, trazendo dúvidas aos investidores sobre a solvência do País. Há R$ 1,3 trilhão vencendo da dívida pública neste ano e a equipe econômica quer encerrar o ano com um rombo de R$ 247,1 bilhões — o oitavo ano consecutivo no vermelho. Existe pouca confiança sobre a trajetória da dívida e as dúvidas só crescem. Guedes tem reafirmado o compromisso com a disciplina fiscal, mas há pressão no governo pelo abandono do teto de gastos para tocar obras que garantam a reeleição. Além disso, a popularidade do presidente será afetada pelo fim do auxílio emergencial, que acabou em janeiro. O cenário era insustentável e já se sabia que seriam necessárias mudanças após o pleito municipal. A fala de Bolsonaro, assim, não é uma surpresa. Apenas verbaliza um movimento que era inevitável. Para sobreviver politicamente, ele é empurrado para o aumento dos gastos. Como dispõe de cerca de R$ 100 bilhões de gastos não obrigatórios no Orçamento, ou “fura” o teto, ampliando o déficit, ou arruma mais dinheiro. Guedes apostava na volta da CPMF para isso, mas o mandatário não quis arcar com o ônus de ampliar os impostos. Sobra então o controle dos gastos públicos, mas essa opção também é bloqueada por Bolsonaro, pois não deseja mexer em interesses corporativos. Além disso, a falta de articulação política no Congresso por sua inépcia inviabiliza as reformas.

Nunca ficou tão clara a falta de um estadista para o País. A história ensina que líderes mobilizam nações em travessias difíceis contando a verdade e somando os melhores recursos. É tudo o que não se viu no Brasil. Para enfrentar a pandemia, o governo demonstra uma falta de capacidade espantosa. Primeiro, negou a gravidade da doença. Depois, sabotou as medidas de prevenção e apostou em remédios milagrosos. Por fim, foi omisso na busca por vacinas. Com isso, mais de 50 países já deram a largada na imunização em massa, enquanto o Brasil ainda discute qual antídoto será adotado. Aqui, nem a compra de seringas e agulhas foi providenciada. No fim do ano passado, o Ministério da Saúde tentou fazer essa aquisição às pressas, mas fracassou. A resposta oficial para a inação foi no estilo Bolsonaro. Terceirizou o problema. Ele disse que “quem quer vacina” é que precisa ir atrás do registro na Anvisa, contando com o “mercado consumidor enorme” do Brasil para atrair os fabricantes. Ocorre que o planeta está numa busca desesperada pelo imunizante, que não será suficiente para todos neste momento — a oferta mundial cobre apenas um terço da demanda. Apenas os governos que se anteciparam e foram eficientes conseguiram obter as vacinas. Da mesma forma, o presidente suspendeu as compras de seringas “até que os preços voltem à normalidade”. Além do desconhecimento primário da lei da oferta e da procura, o mandatário simplesmente não consegue fazer a avaliação óbvia de que a imunização em massa é a única saída para a retomada econômica.

Felizmente vários estados e prefeituras se anteciparam. O governador João Doria, que desde junho investiu pesado no Instituto Butantan e impulsionou a cooperação com a China, agora tem a oferecer à população mais de 10 milhões de doses da vacina Coronavac, que mostrou eficácia de 78%. Promete atender toda a população do Estado até o fim do ano. O bem estruturado programa de vacinação paulista, a começar no dia 25, é o que falta no plano nacional.

Já a conduta irresponsável do governo federal é reproduzida nas principais áreas da administração. A Educação, que é a forma mais eficaz de diminuir a desigualdade, está à deriva, atolada em questiúnculas ideológicas, o que pode levar a um atraso de décadas no desenvolvimento do País. O Meio Ambiente, patrimônio vital para a transição à economia verde, está sendo degradado por omissão ou de forma francamente criminosa. O fogo consumiu 40% do Pantanal mato-grossense no ano passado, segundo o Ibama. A devastação da Amazônia foi a maior em 12 anos, enquanto o governo descartou a ajuda financeira de outros países e relaxou a fiscalização. Esse resultado deplorável transformou-se em obstáculo para a atração de empresas, além de ameaçar as relações com os EUA e a Europa. O acordo Mercosul-União Europeia está por um fio e o futuro presidente dos EUA, Joe Biden, já ameaçou o Brasil com sanções. É um desastre internacional. Para reverter a imagem negativa, Bolsonaro optou pela propaganda, uma interpretação tosca de como se constroem reputações. Gastou 17 vezes mais com publicidade no exterior do que todos os governos que o antecederam na última década.

Brasil isolado

É mais um gasto inútil. O campo das relações internacionais traduz de forma exemplar o desgoverno. O chanceler Ernesto Araújo não é levado a sério no circuito diplomático e já se vangloriou por ter transformando o País em “pária”. Em seu balanço de fim de ano, disse que o Brasil precisava combater o “covidismo” e que a maior emergência sanitária em um século representava uma “histeria biopolítica”. Apontou a necessidade de combater o “narco-socialismo”, o “sistema intelectual politicamente correto”, o “abortismo”, o “trans-humanismo”, o “anticristianismo”, a “cristofobia” e o “marxismo do mercado megatecnológico”. Não se trata apenas de mistificação tradicionalista ou diversionismo político. Tamanha coleção de asneiras escancara a indigência intelectual que impregna a atual administração, com consequências práticas. O “soft power” leva anos para se construir e pode ser implodido numa só gestão. É o que está em curso. Nunca o Brasil esteve tão isolado, inclusive na América Latina, onde sempre exerceu a liderança natural.

Na gestão interna, o descalabro não é menor. Os exemplos se multiplicam. Para tentar driblar o monitoramento das queimadas feito com competência pelo Inpe, a Aeronáutica comprou um satélite-radar com tecnologia duvidosa que custou US$ 33,8 milhões. Enquanto isso, o governo promove o desmonte desse órgão e da própria ciência, minando toda a pesquisa acadêmica no País. Na economia, o presidente se queixou de não conseguir reajustar a tabela de Imposto de Renda para aumentar a isenção dos atuais R$ 1,9 mil para R$ 3 mil. Essa é mais uma das inúmeras promessas que fez para ganhar a eleição, engavetada como todas as outras. O alívio para os assalariados, que custaria R$ 22 bilhões, até seria viável se o governo tivesse agido, mas nada foi feito desde a campanha matreira de 2018. Da mesma forma, as privatizações, que poderiam atrair investimentos e dinamizar setores, estão paralisadas por culpa exclusiva do mandatário. Na direção contrária, ele criou mais uma estatal em sua gestão, a NAV, além de fazer um aporte de R$ 7,6 bilhões em uma estatal da Marinha para construir corvetas. Administrar é fazer escolhas, como se sabe. E o presidente não esconde suas prioridades, voltadas para a caserna. Ao sancionar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, ele vetou o item que blindava gastos com a emergência sanitária. O mesmo vale para despesas relacionadas ao combate à pobreza. Mas garantiu que projetos do Ministério da Defesa não serão tocados. É o caso do desenvolvimento do submarino com propulsão nuclear e da compra de blindados. Reafirma o privilégio aos militares, que já tiveram aumentos salariais e foram beneficiados na Reforma da Previdência.

Fugindo da responsabilidade

A manifestação do presidente provocou uma enxurrada de críticas. As hashtags #RenunciaBolsonaro e #PedePraSairBolsonaro dispararam nas redes sociais. Depois da péssima repercussão, ele repetiu o que sempre faz em momentos de crise. Jogou a culpa nos outros, fugindo à sua responsabilidade. Mais uma vez, apontou o dedo para a imprensa, “que potencializou a Covid”. Com isso, tenta mobilizar os apoiadores e preparar o terreno para uma guinada na economia, que pode ter efeitos calamitosos. Além do abandono da disciplina fiscal — medida que causou o desastre econômico da gestão Dilma —, o aumento dos impostos e o relaxamento no combate à inflação podem ter consequências terríveis que vão recair principalmente sobre os pobres. E o País já está diante de um desastre social.

O desemprego bateu novo recorde em novembro, atingindo 14 milhões de pessoas. O auxílio emergencial, que beneficiou 46 milhões de brasileiros e custou R$ 300 bilhões (dez vezes mais do que o Bolsa Família), havia reduzido a extrema pobreza. Seu fim terá o efeito inverso. O País passará a ter 30,8% da população em estado de miséria. Contra essa realidade, Bolsonaro também não tem respostas. Pior que isso, em outra declaração, atribuiu a culpa do desemprego à própria população, que teria formação deficiente: “Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada”.

O reconhecimento do fiasco prenuncia o destino da gestão Bolsonaro. O presidente deixou o primeiro ano passar em brancas nuvens e não aproveitou para aprovar medidas necessárias — a Reforma da Previdência avançou mais pelo esforço do Congresso do que do Executivo. No segundo ano, a pandemia mostrou um governo à deriva na Saúde, fazendo rodízio de ministros e entronizando um general sem conhecimento da área. Este ano, que antecede o período eleitoral de 2022, é o último em que reformas poderão ser encaminhadas. Mas Bolsonaro entra nesse momento crucial sem um projeto consistente de poder. Sua fala desastrada foi uma confissão de impotência e de desprezo pelo destino da Nação. Não cabe ao presidente dizer se o País está quebrado ou se é “ingovernável”. Essa é a desculpa de todos os governantes fracassados. Sua função é superar as dificuldades e encontrar soluções. Mas a falta de interesse do mandatário — já demonstrada em quase três décadas no baixo clero do Congresso — e a pouca disposição em tomar decisões difíceis ou complexas o impedem de dar respostas à sociedade. Se não estava à altura do cargo, Bolsonaro não deveria ter tomado posse. Se não pode dirigir o País, deve renunciar.

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