Minitratado sobre um gigante letárgico chamado Brasil
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Nota sobre os impasses estruturais do Brasil atual.
O Brasil continua parecido consigo mesmo: um grandalhão apalermado que não sabe bem para onde ir, mas que continua caminhando lentamente para a frente.
Afastado o desgoverno de um mentecapto que não tinha qualquer projeto para o país, a não ser a defesa de suas obsessões pessoais e familiares, voltamos ao experimento populista popular que representou o máximo de organização partidária — num país em que os partidos são máquinas a serviço de caciques ligados a oligarquias setoriais ou regionais — colocado à disposição de uma elite diferente das tradicionais, mas que alimenta ideias e projetos anacrônicos e defasados, embora conectados a interesses sociais de camadas não privilegiadas da população (que são a maioria do eleitorado).
A questão que se coloca agora é a seguinte: para onde irá o país, nos planos político, econômico e internacional.
Ainda admitindo que a história é uma caixa de surpresas, eu diria que o itinerário futuro do Brasil não será muito diferente do que tem sido desde a redemocratização: um gigante desorganizado, com elites confusas, tocando projetos contraditórios, que nos arrastarão penosa e lentamente para uma modernização parcial, limitada e carente de maior dinamismo societal.
No plano político, não existe ameaça de nova ruptura antidemocrática, como tentou fazer o psicopata que ocupou o governo entre 2019 e 2022, sustentado por militares ressentidos e setores reacionários de um empresariado inepto.
O PT dificilmente conquistará a hegemonia política necessária para consolidar total monopólio do poder, mas pode obter condições sociais para dar continuidade ao seu projeto político, que não é diferente do das oligarquias: obter vantagens, deixando o Brasil na letargia “normal”.
No plano econômico, teremos impulsos inovadores vindos da própria sociedade, mas o ogro famélico representado por um Estado superdimensionado consumirá muitos recursos consigo mesmo, mantendo, portanto, os mesmos traços de desigualdade distributiva e de iniquidade social que sempre foram os seus em sua integral trajetória histórica.
No plano da política internacional, voltaremos a ser o que sempre fomos tradicionalmente: um país participante ativo do sistema global de poder, pelo seu peso específico em algumas alavancas da ordem global, sobretudo econômicas, mas carente de poder decisório, por não dispor de outras alavancas de poder extrínseco, que é justamente a capacidade de projetar poder bruto, próprio dos grandes impérios.
Em síntese, a menos de alguma liderança com dotes de estadista que possa emergir da confusa desorganização política na qual nos encontramos atualmente, o Brasil provavelmente permanecerá esse gigante letárgico que foi pelo último meio século, progredindo sempre um pouquinho, mas não o suficiente para mudar sua condição estrutural, pois como dizia Mario de Andrade, cem anos atrás, o progresso também é uma fatalidade.
Nossa condição estrutural é essa do Prometeu acorrentado, não por um decreto dos deuses, mas por suas próprias contradições sociais, e também por certo atraso mental, e cupidez, de suas elites.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4332: 4 março 2023, 2 p.