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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Mini-reflexão sobre a infelicidade do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre a infelicidade

De todos os ministérios disfuncionais, esquizofrênicos e ineficientes do excepcional desgoverno do capitão degenerado — existem vários—, creio que o Itamaraty é o mais infeliz de todos, o mais acabrunhado por sentimentos depressivos, o mais coberto de vergonha, quando não (entre os mais antigos, que são também os mais conscientes da ruptura com padrões do passado) agitado por uma sensação de desesperança por parte daqueles tomados por certo pessimismo de desespero, após dois repletos de caos destruidor.

A razão é muito simples: todos os ministérios dos demais ministros aloprados — e o da Saúde é o exemplo mais evidente, mas também tem o do Meio Ambiente, o dos Direitos Humanos e o da Educação — foram tomados de assalto por ineptos de fora, pessoas completamente estranhas e inexperientes nas áreas que lhes foram atribuídas, figuras equivalentes a um pró-cônsul colonial, um capataz do seu senhor feudal, uma espécie de interventor nomeado por um desses déspotas pouco esclarecido.

Não é o caso do Itamaraty, o único ministério a ter como interventor autoritário um membro da carreira, ainda que muito apagado até sua nomeação, o que muitos duvidaram que fosse sério.

Para maior vergonha dos diplomatas, é justamente um mandarim da mesma classe de funcionários o encarregado de fazer o trabalho sujo que lhe é ordenado pelos ineptos donos do poder e de aplicar caninamente as consignas estapafúrdias de seus donos, mestres, amos e chefes, tanto da família de insanos e despreparados, quanto um fraudulento guru presidencial e outros aspones do círculo mais chegado.

A vergonha que o inacreditável chanceler acidental tem imposto ao Itamaraty, à diplomacia e à política externa não tem limites, e revela todo o desequilíbrio transparente num infeliz indivíduo que foi levado, no turbilhão alucinado e alucinante em que se meteu, a desempenhar um papel totalmente artificial, falso como uma nota de 3 dólares, que mantém com evidente desconforto e grande angústia, pois que sabedor da falsidade desse papel e com um enorme desconforto psicológico. 

Acredito que o torturado chanceler acidental se sinta cada vez mais inseguro nesse papel de pura hipocrisia que foi chamado a jogar, pois que vê com clareza a mediocridade do ambiente em que foi se meter, com ineptos e ignorantes que lhe dizem o que deve fazer a cada passo. Mas não tenho pena do desequilibrado interventor no Itamaraty, e, sim, lamento que meus colegas de carreira tenham de passar pela excepcional e gigantesca vergonha de verem seu ministério demolido em seus fundamentos mais sensíveis. 

Um dia passa essa ocupação ilegítima de uma das mais brilhantes instituições de pensamento e ação do Brasil em sua projeção externa. Todavia, o cristal se quebrou e a vergonha acumulada até aqui permanecerá como uma nódoa por largo tempo ainda. O desequilibrado chanceler acidental entrará numa categoria especial de interventores, a dos traidores de sua própria classe. 

Essa vergonha é indelével.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de janeiro de 2021