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sábado, 9 de junho de 2012

Ecoteologia: ou manual para retornar as cavernas - Michael Schellenberger e Ted Nordhaus

Não tenho acesso a Veja no exterior, e não poderei, provavelmente ler a matéria inteira, por isso recorro a uma síntese efetuada por um jornalista que tem acesso a essa revista. Quem tiver e quiser me enviar o artigo por inteiro, agradeço.
Por enquanto fiquemos com estes excertos.



Reinaldo Azevedo, 09/06/2012

A edição de VEJA desta semana traz uma série de textos sobre a “Rio+20″. Entre eles, está um artigo de seis páginas, escrito especialmente para a revista, de autoria dos antropólogos americanos Michael Schellenberger e Ted Nordhaus. Eles são autores de um texto que se tornou um clássico dos debates sobre ecologia e meio ambiente: “A Morte do Ambientalismo”.
Não! Não se trata de um libelo de céticos contra as teses do aquecimento global ou das mudanças climáticas. Ainda que assim fosse, noto, o ceticismo não é um mal em si. O mal está nas hipóteses não testadas que se querem teoria. Schellenberger e Nordhaus nem perdem tempo especulando se o homem altera ou não o meio ambiente, o clima etc. Dão de barato que sim. O ponto é outro: qual seria a alternativa e em que resultaram essas mudanças?
Eles acham que os problemas que a cultura humana criou para si mesma têm uma resposta: avanço técnico, saber, civilização. Como lembram, com leve ironia, o risco do bug do milênio não nos devolveu às máquinas de escrever, certo? O texto é longo e tem de ser lido na íntegra, na edição impressa da revista. Destaco abaixo alguns trechos.
A NOSSA NATUREZA É MUDAR A NATUREZA
(…)
A transformação das mãos e dos pulsos permitiu aos nossos antepassados andar cada vez mais eretos, caçar, comer carne e, assim, evoluir. Com a mudança na postura, o homem conseguiu correr atrás de animais atingidos por suas armas. A corrida de longa distância foi facilitada por glândulas sudoríparas que substituíram os pelos. O uso do fogo para cozinhar a carne adicionou uma quantidade muito maior de proteína à dieta, o que resultou em crescimento significativo do cérebro - tanto que algumas de nossas ancestrais começaram a dar à luz prematuramente. Esses bebês prematuros sobreviveram graças à criação de ferramentas feitas com vesículas e peles de animais que amarravam os recém-nascidos ao peito da mãe. A tecnologia, resumindo, nos tornou humanos.
É claro que, conforme nosso corpo, nosso cérebro e nossas ferramentas evoluíram, também evoluiu nossa habilidade de modificar radicalmente o ambiente. Caçamos mamutes e outras espécies até a extinção. Queimamos florestas e savanas inteiras para encontrar mais facilmente a caça e limpar a terra para a agricultura. E, muito antes de as emissões de CO² pela ação humana começarem a afetar o clima, já tínhamos alterado o albedo da Terra, substituindo muitas das florestas do planeta por áreas de agricultura cultivada. Mesmo que a capacidade do homem de alterar o ambiente, ao longo do último século, tenha aumentado substancialmente, essa tendência é antiga. A Terra de 100, 200 ou 300 anos atrás já havia sido profundamente moldada pelos esforços humanos — os entretítulos são deste escriba.
(…)
ESQUERDISMO FÁCIL E HIPOCRISIA
(…)
Líderes mundiais - para a alegria de um eleitorado de tendência esquerdista que controla o equilíbrio do poder político em muitas economias desenvolvidas - fazem promessas atrás de promessas sobre a mudança climática, a extinção de espécies, o desmatamento e a pobreza no mundo. Tudo enquanto cuidadosamente evitam qualquer ação que possa impor custos ou sacrifícios reais a seus eleitores. Mesmo que tenha sido conveniente para muitos observadores simpatizantes relacionar o fracasso de tais esforços à ganância corporativa, à corrupção e à covardia política, a verdade é que todo o projeto que poderíamos definir como pós-materialista é, de maneira confusa, construído sobre uma base de abundância e consumo material que seria consideravelmente ameaçada por qualquer tentativa séria de resolver as crises ecológicas por meio de uma redução substancial da atividade econômica. Não é tão difícil entender como essa hipocrisia acabou por contaminar uma parcela da nossa cultura com intenções aparentemente tão boas.
(…)
A ECOTEOLOGIA COM iPAD
(…)
Esses valores pós-materialistas abriram espaço para a ascensão de uma ecoteologia secular em grande parte incipiente, com medos apocalípticos de um colapso ecológico, noções desencantadas de uma vida em um mundo arruinado e a convicção crescente de que algum tipo de sacrifício coletivo é necessário para evitar o fim do mundo. Ao lado dessa pregação sombria, brilham visões nostálgicas de um futuro transcendente, era que os humanos poderiam, mais uma vez, viver em harmonia com a natureza por meio do retomo da agricultura em pequena escala ou até do estilo de vida dos caçadores-coletores.
As contradições entre o mundo como ele é - cheio de consequências não intencionais das nossas ações - e o mundo como muitos de nós gostaríamos que ele fosse resultam em uma quase rejeição da modernidade. Gestos ocos são os sacramentos que definem essa ecoteologia. A crença de que devemos reduzir radicalmente nosso consumo para sobreviver enquanto civilização não é impedimento para as elites que pagam por universidades particulares, viagens frequentes de avião e iPads.
(…)
A ANTIMODERNIDADE DOS RICOS DE NY, SP E RIO
(…)
Embora a ecoteologia seja mais forte em nações desenvolvidas da Europa e em cidades costeiras como Nova York e Los Angeles, nos Estados Unidos, essa tendência também pode ser facilmente identificada nos bairros ricos e bem-educados do Rio de Janeiro, de Nova Délhi e da Cidade do Cabo.
(…)
Pregando a antimodernidade enquanto vivem como pessoas modernas, as elites ecológicas, seja em São Paulo, seja em São Francisco, confirmam seu status no topo da hierarquia pós-industrial do conhecimento. As elites abastadas dos países desenvolvidos oferecem tanto a seus compatriotas menos favorecidos quanto aos pobres do resto do mundo uma extensa lista de “não façam” - não se desenvolvam como nós nos desenvolvemos, não dirijam utilitários bregas, não consumam demais. Isso gera o ressentimento, e não a emulação, de seus companheiros cidadãos no próprio país e no exterior. Que essas elites ecológicas se mantenham em um padrão diferente e ao mesmo tempo insistam que todos são iguais é mais uma demonstração de seu status superior, pois, dessa forma, elas não têm de responder nem mesmo à realidade.
Apesar de propor uma solução, a atual ecoteologia que nega o mundo é, na verdade, um obstáculo importante no tratamento dos problemas ecológicos criados pela modernização - obstáculo que deve ser substituído por uma nova visão de mundo criativa e que celebre a vida. Afinal, o desenvolvimento humano, a riqueza e a tecnologia nos libertaram da fome, da privação e da insegurança. Agora, eles devem ser considerados essenciais para superar os riscos ecológicos.
POR UMA TEOLOGIA DA MODERNIZAÇÃO
(…)
Enquanto a ecoteologia imagina que nossos problemas ecológicos são consequência da violação humana da natureza, a teologia da modernização enxerga os problemas ambientais como uma parte inevitável da vida na Terra. Enquanto a última geração de ecologistas via uma harmonia natural na Criação, os novos ecologistas veem mudanças constantes. Enquanto os ecoteólogos sugerem que as consequências não intencionais do desenvolvimento humano podem ser evitadas, os patrocinadores da modernização enxergam essas consequências como inevitáveis, tanto de forma positiva como negativa. Enquanto as elites ecológicas veem os poderes da humanidade como inimigos da Criação, os modernistas os veem como ponto fulcral para sua salvação. A teologia da modernização deveria, portanto, louvar, e não profanar, as tecnologias que levaram nossos ancestrais a evoluir.
(…)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Malthusianos equivocados: por que se equivocam? Explicacoes economicas....

Na sequência deste meu post:

O fim dos ecologistas, como os conhecemos hoje: os novos malthusianos continuam errando


um leitor fiel, Eduardo Rodrigues, a quem agradeço, me envia esta simples aula de economia elementar:


Eduardo Rodrigues, Rio deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O fim dos ecologistas, como os conhecemos hoje: os...": 

Steve Horwitz num curto e esclarecedor vídeo sobre o assunto.

-- Os recursos naturais estão acabando? --
Steve Horowitz, Ph.D., St. Lawrence University

Uploaded by  on Nov 24, 2011
O professor Steve Horwitz fala sobre a crença comum de que o mundo está ficando sem recursos naturais. Ao invés disso, existem razões econômicas que explicam porque nós nunca ficaremos sem muitos recursos. Em um sistema de livre mercado, preços sinalizam escassez. Então quando um recurso se torna mais escasso, ele se torna mais caro, o que incentiva as pessoas a usar menos desse recurso e desenvolver novas alternativas, ou procurar novas reservas desse recurso que eram anteriormente desconhecidas ou sem possibilidade de ser explorada com lucro. Nós temos visto através da história que a habilidade da mente humana de inovar, combinada com um sistema econômico de livre mercado , é um recurso ilimitado que pode superar as limitações que nós percebemos nos recursos naturais.

Transcrição e tradução de Henrique Vicente.
Revisão e legendas de Juliano Torres.
Portal Libertarianismo: "Evoluindo Ideias e Indivíduos."
www.libertarianismo.org

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Aquecimento global: perigos do novo malthusianismo e argumentos racionais

Volto a postar, por importante, pequena nota informativa sobre a questão em epígrafe, por ter sido objeto de comentários recentes, que transcrevo aqui, junto com meus comentários-resposta, desta data.
Paulo Roberto de Almeida

1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é recomendavel
QUARTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009

Para aqueles, que como eu, mantém uma atitude de ceticismo sadio em relação a todas as paranoias anunciadas -- fim da era do petróleo, falta de energia, de alimentos, aquecimento global, etc. -- sempre é bom ler o máximo possível, antes de sair atrás da manada, dizendo que o fim está próximo.

Papers que reexaminam o papel do aquecimento global tal como teria sido fabricado pela atividade humana:
450 peer-review papers supporting skepticism of man-made global warming.

Este artigo tece considerações científicas, econômicas e filosóficas sobre o aquecimento global: http://www.heartland.org/custom/semod_policybot/pdf/25354.pdf

Nunca é bom correr atrás da manada: é melhor ficar calmo e examinar os dados do problema...
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Alexandre disse...
Professor, existem evidências científicas independentes e concordantes entre si, tanto do aquecimento em si quanto de sua origem através do efeito estufa intensificado pelo homem. Imagino que o sr. não esteja familiarizado com elas, nem tampouco se ateve muito na análise dos 450 supostos artigos "céticos" divulgados pelos Heartland institute.

Assim, quem é que está correndo atrás da manada, e quem está ficando calmo e examinando os dados do problema?
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 8:40:00 AM
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Paulo R. de Almeida disse...
Alexandre,
Com evidencias mais ou menos fortes de que o aquecimento esteja efetivamente ocorrendo, e que o homem é em parte responsavel por isso, ainda assim recomendo o ceticismo sadio como atitude geral desejavel nesse tipo de questao, pois ela é propria do espirito cientifico, justamente.
O que me preocupa mais, nao é o aquecimento em si, pois as sociedades vão necessariamente se adaptar, mas esse clima malthusiano que se propaga.
Existiam evidencias do aumento da população na época de Malthus, mas ele falhou miseravelmente na previsão da produtividade agrícola.
Tenho certeza de que a humanidade vai superar esse malthusianismo ecologico tambem...
Paulo Roberto de Almeida
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 9:58:00 AM
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Alexandre deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é...":

Professor, obrigado pela resposta.

O processo científico de construção de teorias concorrentes já, em si, cético, uma vez que sempre depende de evidências que apóiem essas teorias. Tenho certeza de que não preciso discorrer sobre isso aqui.

O acúmulo de evidências que apóia o aquecimento global antrópico é enorme. Mesmo que as projeções de Malthus tenham falhado, isso não muda o fato de nossa atmosfera estar retendo cada vez mais radiação infravermelha em função de nossos gases estufa. É um fato físico mensurável e verificado, e recomendo o website de qualquer grande instituto de pesquisas atmosféricas do mundo pra consultar referências.

O ceticismo científico é saudável e desejado, ao passo que negar as evidências existentes por incomodarem uma ideologia não é. Imagino que o sr. esteja defendendo o primeiro, e incorrendo involuntariamente no segundo ao apoiar a posição do Heartland.

Podemos ser otimistas. Podemos crer com toda nossa alma que a humanidade, com toda sua criatividade, resolverá mais esse problema. Mas para que o resolva, o primeiro passo é admiti-lo e enfrentá-lo.
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Paulo R. de Almeida deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é...":

Voce tem inteiramente razao, meu caro Alexandre, e eu nao estou dando mais credito aos ceticos do que aos alarmistas, apenas dizendo que o catastrofismo antecipado pode nos levar a decisoes economicas que custam caro e diminuem, ipso facto, as disponibilidades para as boas pesquisas e outros investimentos na correção de atitudes hoje agravantes dos desequilibrios ecologicos.
Recomendaria a você ler alguns dos materiais do Copenhagen Consensus, animado pelo ecologista cetico Bjorn Lomborg.
O abraço do
Paulo Roberto de Almeida
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Alexandre disse...

Conheço o trabalho do Lomborg. Reitero a recomendação de procurar as evidências nos institutos que de fato pesquisam o assunto.

Claro, pode-se pular essa parte se realmente não se discutem os fundamentos técnicos das observações e projeções, o que o sr. parece não questionar, mas ao mesmo tempo apóia a posição do Heartland e usa as palavras "alarmistas" ou "catastrofismo antecipado" para descrever observações e dados que nos trazem informações alarmantes.

É importante separar bem ambas as questões: uma coisa é a realidade física de um fato. Outra coisa é a resposta que a sociedade pode dar a esse fato, seja no campo econômico, jurídico, tecnológico ou cultural. Se um imposto pigouviano parece ruim, pode-se defender outra via de ação, ou até mesmo, por exemplo, a capacidade do mercado de minimizar sozinho externalidades negativas desse tipo. De preferência, baseando-se em evidências, de novo.

O que não faz sentido é embarcar na do Heartland, que para defender o mercado livre (louvável) faz textos negando evidências, ridicularizando e inventando "fatos", sem efetivamente produzir ciência que suplante a existente. Ou mesmo divulgando um documento que afirmam conter centenas de estudos que supostamente mostrariam uma "outra verdade", mas que incluem afirmações mutuamente contraditórias, do tipo "não está acontecendo" e "é causado pelo sol".

É uma retórica que só se desmascara com algum aprofundamento nos processos físicos envolvidos e nos dados disponíveis.

Não conheço seu trabalho, mas tenho certeza que sr. poderia contribuir de várias maneiras com idéias para se limitar a emissão de um gás com externalidades negativas importantes, que respeitassem a corrente ideológica de sua preferência, e que não fossem economicamente catastróficas.

Negar a externalidade, decerto, não é o caminho. Sei que o sr. está convencido de não estar fazendo isso. Estou tentando chamar sua atenção para o fato de o sr. estar endossando quem o faz.
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 12:44:00 PM
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Alexandre,
Voce argumentou como um verdadeiro cientista, ou economista, e só posso concordar com você. As evidências se acumulam, como você diz, embora eu também tenha confiança na capacidade humana de dar saltos tecnológicos quando a necessidade se impõe.
Nossa responsabilidade atual é preservar, minimizar, evitar, embora eu creia mais em tecnologias adaptativas do que em grandes ações "reversionistas" de tendências aparentemente irreversíveis, na escala humana do tempo.
Em todo caso, o alarmismo que eu rejeito, em parte, nos faz tomar consciência da fragilidade dos sistemas e da nossa própria incapacidade em reverter desastres já encomendados, em grande medida pela mão do homem.
Estou transcrevendo todo este debate num novo post, de hoje.
O abraço do
Paulo R. Almeida

(Por enquanto ficou nisto...)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Malthusianos: nao proliferam mas persistem...

Não existe tribo mais errada, e no entanto tão persistente, quanto a dos malthusianos, de todos os tipos. Os ecologistas atuais são, com raras exceções, os modernos representantes da espécie.
Abaixo um dos melhores artigos que já li sobre a questão nos últimos cem anos (bem, estou contando com folga para pegar os malthusianos do começo do século 20 também).
Paulo Roberto de Almeida

Cornucopianos vs. malthusianos
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 10 de janeiro de 2011 - Opinião - Economia

Paul Krugman publicou, no final do ano passado, um artigo no The New York Times, intitulado “O Mundo Finito”, o qual foi reproduzido por alguns jornais brasileiros, entre eles O Globo e O Estado de São Paulo. Baseado no recente aumento dos preços de algumas commodities no mercado internacional, Krugman vaticinou que, por vivermos num mundo cada vez mais escasso de recursos naturais, precisaremos “mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando nossa economia e nossos estilos de vida à realidade”. Tal afirmativa resume, com clareza ímpar, o mantra preservacionista.
No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas enquanto a produção de alimentos e outros recursos não coseguiria acompanhá-la. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, dizia ele.

Atualmente, vivem no mundo quase 7 vezes mais seres humanos que na época do Reverendo Malthus. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. E, ao contrário do que sustentam os “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos - e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas de petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros recursos só fizeram aumentar.

Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os “malthusianos” não esmorecem. Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que "em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas coasteiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos." Em um discurso de 1971, ele previu que "até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos."

De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970. Mais: pelos dados recentes da FAO, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante há quatro décadas, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004.

Aliás, por falar em Paul Ehrlich, ficou famosa uma aposta feita entre este famoso ambientalista e o economista Julian Simon. Como Krugman, Ehrlich alardeava que, num mundo finito e de população crescente, os recursos seriam cada vez mais escassos e, consequentemente, seus preços cada vez maiores. Em 1980, Simon propôs a Ehrlich a seguinte aposta: Ehrlich escolheria cinco quaisquer produtos naturais para que tivessem seus preços acompanhados por 10 anos. Caso, no final deste período, os preços fossem maiores que em 1980 (corrigidos pela inflação), Ehrlich venceria, caso fossem menores, a vitória seria de Simon.

Ehrlich escolheu cinco metais: cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio. Apostaram então $200 em cada um dos metais, num total de $1.000, usando os preços de 29 de setembro de 1980 como referência. Durante a década de 80, o crescimento populacional do mundo foi de aproximadamente 800 milhões de pessoas - o maior aumento nominal em uma só década da História. Apesar disso, em setembro de 1990, os preços de todos os metais escolhidos por Ehrlich, sem exceção alguma, haviam caído, em alguns casos significativamente. O estanho, por exemplo, era cotado a $8,72 por onça em 1980, contra $3,70 em 1990.

No próximo dia primeiro de janeiro, mais um “malthusiano” terá perdido uma aposta. Cinco anos atrás, John Tierney leu um artigo de Matthew R. Simmons na The New York Times Magazine onde este vaticinava que o preço do barril de petróleo, então na casa dos $65, triplicaria nos cinco anos seguintes e passaria dos $200 durante o ano de 2010. Tierney apostou no contrário.

Em artigo publicado no The New York Times no último dia 27-12-2010, Tierney explica por que ganhou a aposta:

“Novos campos gigantes de petróleo foram descobertos nas costas da África e do Brasil. Novas reservas no Canadá fornecem agora mais petróleo para os Estados Unidos do que a Arábia Saudita. A produção doméstica americana também aumentou ano passado e o Departamento de Energia projeta mais aumentos para as próximas duas décadas.”

“Mas a verdadeira boa notícia é a descoberta de vastas quantidades de gás natural, cujo preço é hoje menos da metade do que era há cinco anos.”
“Pode ser que algo inesperado mude estas boas tendências, mas por enquanto eu diria que o conselho de Julian Simon permanece válido: é fácil fabricar notícias com vaticínios apocalípticos, mas você pode ganhar um bom dinheiro apostando contra elas” .

Artigo publicado pela versão digital folheável do Diário do Comércio em 10/01/2011