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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O advento do Khmer Verde - Milton Pires

A Unidade da Experiência da Salvação – A Chegada do Khmer Verde
Milton Pires

No dia 13 de agosto de 2014, a morte do candidato à presidência da república, senhor Eduardo Campos, trouxe mais uma vez ao cenário político a possibilidade de Marina Silva ocupar o cargo supremo do executivo nacional. O que apresento nas próximas linhas é um apanhado histórico e crítico daquilo que penso ser, do ponto de vista teórico, a base do seu pensamento político e tomarei como ponto de partida o conceito de “ecoteologia” segundo as definições de Afonso Murad (ver. Revista Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 277-297, jul./dez. 2009). Uma comparação entre o fanatismo ecológico no Brasil e o genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja é a conclusão que faço no final.
Ecoteologia é, antes de tudo, um conceito revolucionário naquilo que se refere à teologia tradicional. Trata-se de um nova interpretação da mensagem divina que, desde a Gênese até o Apocalipse, modifica a ideia básica do projeto de salvação contida na mensagem dos profetas, de Jesus Cristo e, finalmente, dos apóstolos afirmando que a própria natureza e todos os seres que dela fazem parte serão salvos no fim dos tempos e no Segundo Advento. Nas palavras de Afonso Murad: “ o eixo temático da ecoteologia consiste
"na forma de compreender a relação entre criação, graça e pecado e entre encarnação, redenção e consumação, ou seja: a unidade e a interdependência dos elementos que constituem a experiência de salvação cristã e, no interior dessa reflexão, proclamar como todos os seres participam do projeto salvífico de Deus.” Diz o autor mais adiante que “naturalmente, isso tem impacto na percepção sobre o valor da materialidade”.

Naquilo que se refere à Marina Silva, o conteúdo escatológico do seu pensamento pode ser percebido em declarações como essa: "Hoje, todos nós sabemos que somos finitos como raça. E, além de não saber como lidar com a imprevisibilidade dos fenômenos climáticos, temos pouco tempo para aprender como fazê-lo.” Observe-se portanto que, ao participar simultaneamente do debate ecológico e da comunidade religiosa formada no Brasil pela “Assembleia de Deus”, a política transformou-se para Marina Silva e a sua “Rede” numa espécie de interface..num campo onde o “discurso da salvação” adquire aquilo que se convencionou recentemente chamar de “transversalidade” ou seja: pode pautar o debate sobre o “futuro desse mundo material” e daquilo que eventualmente poderá substituí-lo por ocasião do Apocalipse e do Segundo Advento.
O termo “Khmer Rouge”, (Khmer Vermelho em francês) foi cunhado pelo chefe de estado cambojano Norodom Sihanouk e foi mais tarde adotado pela comunidade anglófona. A expressão se referia, de uma forma pejorativa, a uma sucessão de partidos comunistas no Camboja que evoluíram para se tornar o Partido Comunista da Kampuchea (CPK) e mais tarde ao Partido do Kampuchea Democrático. A organização foi conhecida também como Partido Comunista Khmer e Exército Nacional do Kampuchea Democrático.
Estima-se que o Khmer Vermelho tenha provocado através de execuções, torturas, trabalhos forçados e, sobretudo da fome, a morte de cerca de 5 milhões de cambojanos. Seus líderes principais chamavam-se de “irmãos” e tinham como meta transformar o país numa sociedade ABSOLUTAMENTE agrária (sem dúvida alguma uma proposta bastante “ecológica”) em que a economia deveria ser baseada no escambo e toda forma de “cultura tradicional” destruída para que o Camboja voltasse a um período (mais importante) dos séculos XIII ao XV em que era conhecido como Reino de Angkor. Não há dúvida, observem, que tratava-se então em 1975 quando o Khmer toma a cidade de Phnom Penh, de um projeto de “salvação nacional”.
Há, em toda história política brasileira, um gosto mórbido pelo messianismo..pelos projetos que, se não mergulharam o país em tantas revoluções armadas como em outras partes do mundo, ofereceram sempre “soluções esotéricas” e “mágicas” e que encantaram (e continuam encantando) o povo com seus “enviados divinos”. Marina Silva é mais um desses personagens que, de tempos em tempos, surge para dominar o inconsciente coletivo dos brasileiros.
Ela substituiu Campos para apresentar-se como uma “ungida” capaz de encontrar o “meio termo entre Dilma e Aécio” e nos conduzir no caminho da “salvação” juntamente com todos os animais, plantas, rios e florestas da Amazônia Brasileira. Seu apelo é tão forte que faz com que todas os seus eventuais eleitores esqueçam os seus quase 23 anos de petismo, sua participação no governo desse regime criminoso e o atrevimento e a audácia de uma proposta que visa reinterpretar toda mensagem cristã sobre o outro mundo para ressuscitar toda mensagem revolucionária nesse aqui: só poderemos viver nesse mundo nos preparando para salvação no outro.
Nessa salvação levaremos conosco os animais e toda floresta. Nossos “guias” são Marina Silva e os “irmãos da Rede”. Aproxima-se do Brasil a chegada do Khmer Verde.

Porto Alegre, 27 de agosto de 201

sábado, 9 de junho de 2012

Ecoteologia: ou manual para retornar as cavernas - Michael Schellenberger e Ted Nordhaus

Não tenho acesso a Veja no exterior, e não poderei, provavelmente ler a matéria inteira, por isso recorro a uma síntese efetuada por um jornalista que tem acesso a essa revista. Quem tiver e quiser me enviar o artigo por inteiro, agradeço.
Por enquanto fiquemos com estes excertos.



Reinaldo Azevedo, 09/06/2012

A edição de VEJA desta semana traz uma série de textos sobre a “Rio+20″. Entre eles, está um artigo de seis páginas, escrito especialmente para a revista, de autoria dos antropólogos americanos Michael Schellenberger e Ted Nordhaus. Eles são autores de um texto que se tornou um clássico dos debates sobre ecologia e meio ambiente: “A Morte do Ambientalismo”.
Não! Não se trata de um libelo de céticos contra as teses do aquecimento global ou das mudanças climáticas. Ainda que assim fosse, noto, o ceticismo não é um mal em si. O mal está nas hipóteses não testadas que se querem teoria. Schellenberger e Nordhaus nem perdem tempo especulando se o homem altera ou não o meio ambiente, o clima etc. Dão de barato que sim. O ponto é outro: qual seria a alternativa e em que resultaram essas mudanças?
Eles acham que os problemas que a cultura humana criou para si mesma têm uma resposta: avanço técnico, saber, civilização. Como lembram, com leve ironia, o risco do bug do milênio não nos devolveu às máquinas de escrever, certo? O texto é longo e tem de ser lido na íntegra, na edição impressa da revista. Destaco abaixo alguns trechos.
A NOSSA NATUREZA É MUDAR A NATUREZA
(…)
A transformação das mãos e dos pulsos permitiu aos nossos antepassados andar cada vez mais eretos, caçar, comer carne e, assim, evoluir. Com a mudança na postura, o homem conseguiu correr atrás de animais atingidos por suas armas. A corrida de longa distância foi facilitada por glândulas sudoríparas que substituíram os pelos. O uso do fogo para cozinhar a carne adicionou uma quantidade muito maior de proteína à dieta, o que resultou em crescimento significativo do cérebro - tanto que algumas de nossas ancestrais começaram a dar à luz prematuramente. Esses bebês prematuros sobreviveram graças à criação de ferramentas feitas com vesículas e peles de animais que amarravam os recém-nascidos ao peito da mãe. A tecnologia, resumindo, nos tornou humanos.
É claro que, conforme nosso corpo, nosso cérebro e nossas ferramentas evoluíram, também evoluiu nossa habilidade de modificar radicalmente o ambiente. Caçamos mamutes e outras espécies até a extinção. Queimamos florestas e savanas inteiras para encontrar mais facilmente a caça e limpar a terra para a agricultura. E, muito antes de as emissões de CO² pela ação humana começarem a afetar o clima, já tínhamos alterado o albedo da Terra, substituindo muitas das florestas do planeta por áreas de agricultura cultivada. Mesmo que a capacidade do homem de alterar o ambiente, ao longo do último século, tenha aumentado substancialmente, essa tendência é antiga. A Terra de 100, 200 ou 300 anos atrás já havia sido profundamente moldada pelos esforços humanos — os entretítulos são deste escriba.
(…)
ESQUERDISMO FÁCIL E HIPOCRISIA
(…)
Líderes mundiais - para a alegria de um eleitorado de tendência esquerdista que controla o equilíbrio do poder político em muitas economias desenvolvidas - fazem promessas atrás de promessas sobre a mudança climática, a extinção de espécies, o desmatamento e a pobreza no mundo. Tudo enquanto cuidadosamente evitam qualquer ação que possa impor custos ou sacrifícios reais a seus eleitores. Mesmo que tenha sido conveniente para muitos observadores simpatizantes relacionar o fracasso de tais esforços à ganância corporativa, à corrupção e à covardia política, a verdade é que todo o projeto que poderíamos definir como pós-materialista é, de maneira confusa, construído sobre uma base de abundância e consumo material que seria consideravelmente ameaçada por qualquer tentativa séria de resolver as crises ecológicas por meio de uma redução substancial da atividade econômica. Não é tão difícil entender como essa hipocrisia acabou por contaminar uma parcela da nossa cultura com intenções aparentemente tão boas.
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A ECOTEOLOGIA COM iPAD
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Esses valores pós-materialistas abriram espaço para a ascensão de uma ecoteologia secular em grande parte incipiente, com medos apocalípticos de um colapso ecológico, noções desencantadas de uma vida em um mundo arruinado e a convicção crescente de que algum tipo de sacrifício coletivo é necessário para evitar o fim do mundo. Ao lado dessa pregação sombria, brilham visões nostálgicas de um futuro transcendente, era que os humanos poderiam, mais uma vez, viver em harmonia com a natureza por meio do retomo da agricultura em pequena escala ou até do estilo de vida dos caçadores-coletores.
As contradições entre o mundo como ele é - cheio de consequências não intencionais das nossas ações - e o mundo como muitos de nós gostaríamos que ele fosse resultam em uma quase rejeição da modernidade. Gestos ocos são os sacramentos que definem essa ecoteologia. A crença de que devemos reduzir radicalmente nosso consumo para sobreviver enquanto civilização não é impedimento para as elites que pagam por universidades particulares, viagens frequentes de avião e iPads.
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A ANTIMODERNIDADE DOS RICOS DE NY, SP E RIO
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Embora a ecoteologia seja mais forte em nações desenvolvidas da Europa e em cidades costeiras como Nova York e Los Angeles, nos Estados Unidos, essa tendência também pode ser facilmente identificada nos bairros ricos e bem-educados do Rio de Janeiro, de Nova Délhi e da Cidade do Cabo.
(…)
Pregando a antimodernidade enquanto vivem como pessoas modernas, as elites ecológicas, seja em São Paulo, seja em São Francisco, confirmam seu status no topo da hierarquia pós-industrial do conhecimento. As elites abastadas dos países desenvolvidos oferecem tanto a seus compatriotas menos favorecidos quanto aos pobres do resto do mundo uma extensa lista de “não façam” - não se desenvolvam como nós nos desenvolvemos, não dirijam utilitários bregas, não consumam demais. Isso gera o ressentimento, e não a emulação, de seus companheiros cidadãos no próprio país e no exterior. Que essas elites ecológicas se mantenham em um padrão diferente e ao mesmo tempo insistam que todos são iguais é mais uma demonstração de seu status superior, pois, dessa forma, elas não têm de responder nem mesmo à realidade.
Apesar de propor uma solução, a atual ecoteologia que nega o mundo é, na verdade, um obstáculo importante no tratamento dos problemas ecológicos criados pela modernização - obstáculo que deve ser substituído por uma nova visão de mundo criativa e que celebre a vida. Afinal, o desenvolvimento humano, a riqueza e a tecnologia nos libertaram da fome, da privação e da insegurança. Agora, eles devem ser considerados essenciais para superar os riscos ecológicos.
POR UMA TEOLOGIA DA MODERNIZAÇÃO
(…)
Enquanto a ecoteologia imagina que nossos problemas ecológicos são consequência da violação humana da natureza, a teologia da modernização enxerga os problemas ambientais como uma parte inevitável da vida na Terra. Enquanto a última geração de ecologistas via uma harmonia natural na Criação, os novos ecologistas veem mudanças constantes. Enquanto os ecoteólogos sugerem que as consequências não intencionais do desenvolvimento humano podem ser evitadas, os patrocinadores da modernização enxergam essas consequências como inevitáveis, tanto de forma positiva como negativa. Enquanto as elites ecológicas veem os poderes da humanidade como inimigos da Criação, os modernistas os veem como ponto fulcral para sua salvação. A teologia da modernização deveria, portanto, louvar, e não profanar, as tecnologias que levaram nossos ancestrais a evoluir.
(…)