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domingo, 4 de fevereiro de 2018

Tratado geral dos minitratados: um divertissement - Paulo Roberto de Almeida

Escritos de maneira errática ao longo dos anos, meus minitratados não se destinam a fazer acordos internacionais sobre coisas sérias, apenas a oferecer momentos de reflexão sobre temas anódinos, ou triviais. Puro divertissement, como já disse várias vezes, agora compilado num volume único.

Tratado geral dos minitratados: reflexões sobre algumas contradições humanas, Brasília, 4 fevereiro 2018, 67 p. Compilação de todos os minitratados. Colocado na plataforma Academia.edu (link: http://www.academia.edu/35836710/Tratado_Geral_dos_Minitratados).


Índice geral dos minitratados

Tratados e minitratados: o que seria mais importante?, 9

1.     Minitratado das reticências , 11
2.     Minitratado das entrelinhas , 16
3.     Minitratado das interrogações , 19
4.     Brevíssimo tratado da subserviência , 25
5.     Minúsculo tratado do anonimato , 27
6.     Minitratado da imaginação , 30
7.     Minitratado da reencarnação34
8.     Minitratado das improbabilidades38
9.     Minitratado dos desencontros , 41
10.   Minitratado dos reencontros , 43
11.   Minitratado das corporações de ofício46
12.   Minitratado do inusitado , 50
13.   Minitratado das inutilidades burocráticas , 53
14.   Minitratado das dedicatórias57

Livros de Paulo Roberto de Almeida , 61
Nota sobre o autor , 65


Paulo Roberto de Almeida 

Segundo as definições mais comuns, um tratado, no caso dos Estados soberanos, é um acordo formal entre duas ou mais partes, e por isso constituem atos das relações internacionais, geralmente registrados na ONU, desde sua criação, como documentos oficiais que são. Existem tratados desde os tempos mais remotos; esses atos de mútua conveniência tratam, geralmente, dos mais diferentes assuntos: paz, aliança, comércio, investimentos, cooperação, mas também podem incorporar diversos outros temas das relações bilaterais, como cooperação judicial e policial. No caso dos tratados mais abrangentes, ou multilaterais, sua conclusão é de ordinário bem mais delongada, por envolver a aceitação, ou pelo menos a não oposição, de um número mais amplo de Estados, que são dotados de interesses muito diversos, dadas as assimetrias existentes no cenário internacional.
Como diplomata, ao longo da carreira, estive envolvido na negociação e até na conclusão de alguns tratados, mais frequentemente nas áreas de relações econômicas internacionais e de integração, nas quais trabalhei boa parte de minha vida profissional. Como escrevinhador, o que sou nas horas vagas, tenho me dedicado aos mais diversos assuntos, tão variados quanto são os tratados no plano internacional. Como princípio, não gosto de escrever nada por encomenda, escolhendo eu mesmo os temas sobre os quais vou engajar meu tempo livre, que poderia ser de puro lazer ou de dolce far niente.
Mas esses temas aos quais eu tenho dedicado boa parte de meus esforços intelectuais – ademais da leitura, sempre presente, intensamente – se situam quase todos no terreno dos assuntos “sérios”, ou seja, no domínio da política, da economia, das relações internacionais justamente. Em alguns momentos, porém, escapo da aparente seriedade do trabalho corrente para incorrer em digressões totalmente erráticas, sem um sentido preciso ou objetivo pré-determinado: puro divertissement, como gosto de dizer.
Estão neste caso, os minitratados que redigi ao longo dos anos, e que não tinham nada a ver com o trabalho profissional ou as lides acadêmicas, e sim respondiam a impulsos do momento, em torno de algum conceito abstrato, subjetivo, de algum problema despertado por uma leitura ocasional, ou até uma reflexão sobre os sinais de pontuação, contra os quais estamos lutando todos os dias, os que nos dedicamos às artes da escrita. O resultado dessas brincadeiras redigidas na última década – com longos intervalos entre uma e outra – está aqui coletado neste volume que ainda considero incompleto, pois eu tinha anotado algumas outras questões sobre as quais eu teria apreciado deitar algumas linhas inconsequentes, como por exemplo: um minitratado das renúncias inevitáveis, um outro da decadência, dois outros, respectivamente dos impulsos criativos e dos impulsos destrutivos, sem esquecer um mais ambicioso, sobre o contrarianismo, do qual sou um adepto confesso.
Mas por que esse nome de minitratados? Nenhuma razão em especial, mas é que os verdadeiros eruditos, os sábios da academia, quando pretendem discorrer sobre um assunto de importância, se dão ao esforço de logo redigir um tratado completo sobre aquela coisa. Como meus assuntos de divertissement não apresentam importância alguma do ponto de vista das relações internacionais, ou sequer para a vida das nações, eu resolvi chama-los, provocadoramente, de minitratados, o que seria em oposição aos acordos sérios existentes sobre assuntos sérios. Existe uma outra razão, que tem a ver com o meu espírito contrarianista, justamente. A despeito de ser um funcionário de Estado, e até um representante da nação (salvo prova em contrário), em relação a todos os assuntos que ocupam a minha mente eu tendo a pensar, sempre e essencialmente, do ponto de vista do indivíduo, não do próprio Estado. Acho que os indivíduos passam antes dos Estados, e considero que o objetivo dos tratados internacionais deveria ser não a promoção dos interesses do Estado mas sim o bem-estar, a prosperidade e a liberdade dos indivíduos, antes de qualquer outra meta.
Meus minitratados têm por objeto, justamente, coisas humanas, sentimentos, aspirações, frustrações, posturas, não grandes objetivos estatais. Eles atendem a esses simples impulsos momentâneos no sentido de discorrer sobre temas irrelevantes, mas que servem à sua finalidade expressa: puro divertissement... Assim seja!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de fevereiro de 2018



Se desejar perder tempo e insistir em ler, veja na plataforma Academia.edu, 

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Minitratado das reticencias - Paulo Roberto de Almeida (2004)

Alguém comentou, agora (29/11/2017), um texto que eu tinha feito no final de 2004, publicado em 2005 num primeiro blog que mantinha, e desde então descontinuado.
Transcrevo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

65) É possível viver sem reticências...? - Paulo Roberto de Almeida

Minitratado das reticências
(em defesa de uma inutilidade necessária…)
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)

Pouca gente dotada de uma certa familiaridade com a palavra escrita consegue atribuir real importância às reticências, inclusive este cidadão que aqui escreve. Quero falar das reticências stricto sensu, isto é, os famosos três pontinhos ao final de alguma frase ou expressão da linguagem diária (elas parecem ser menos usadas nos textos ditos “sérios”, nos quais a necessária precisão “científica” deixa pouco espaço para as dúvidas ou indecisões que são (e estão) inevitavelmente associados aos três pontinhos). No mais das vezes, elas passam despercebidas, quando não são solenemente ignoradas e deixadas num espaço menor das figuras de linguagem. Os cientistas, francamente, parecem considerá-las uma total inutilidade no processo de elaboração do seu discurso “realista”.
No entanto, as reticências são fundamentais, sobretudo naqueles casos – agora lato sensu – de duplo sentido, nos muitos subentendidos das conversas vagas, nas promessas indefinidas, nas situações pouco claras, nas esperanças falsamente criadas, nas aberturas ao contraditório, nos convites a “algo mais”, enfim, em todas as circunstâncias nas quais a precisão e o cuidado com o verdadeiro não figuram entre as prioridades do autor do discurso ou de seu eventual interlocutor. Não é apenas no teatro ou na literatura que elas aparecem, pois eu, que sou dado a escritos sociológicos, encontro amplo espaço para reticências nas minhas elocubrações pretensamente acadêmicas. Nem preciso lembrar seu amplo uso nas estatísticas oficiais, com tabelas cheias de três pontinhos para dados inexistentes ou incompletos (sobretudo naquelas áreas chamadas, apropriadamente, de “terras incógnitas”, geralmente referidas na expressão em latim).
Minha intenção é fazer aqui uma defesa circunspecta das reticências (daí o título de “mini-tratado”), além de ressaltar-lhes a importância discursiva, como a própria essência do discurso humano. Eu, pessoalmente, gosto de reticências, sobretudo pela liberdade que elas permitem, mas entendo perfeitamente os que as abominam e querem vê-las extirpadas da face da terra (ou pelo menos da superfície do papel, atualmente, mais bem da tela do computador…).

Voilà, acabo de usar reticências pela primeira vez depois de muitas frases e dois parágrafos inteiros sem necessidade de empregá-las. Isto é uma prova, justamente, de que as reticências são úteis e necessárias e por mais que queiramos evitá-las. Pois eu falava daqueles que detestam reticências e são a favor das situações totalmente definidas, do correto discurso tipo “pão, pão, queijo, queijo”, mas que, em algum momento, também tropeçam com alguma reticência que se imiscuiu no discurso aparentemente correto e totalmente claro.
Admito, preliminarmente, que as reticências parecem incompatíveis com a lógica formal, aquela que deriva uma consequência necessária de duas afirmações anteriores, tipo “todo homem é mortal, Sócrates é um homem, logo… etc., etc.”. Mas, mesmo aqui, como acaba de constatar o preclaro leitor, fui levado a usar reticências, pois eu não precisava terminar a frase, por uma dedução lógica do imediatamente precedente.

Eu poderia, nesta minha defesa pouco reticente das reticências, empregar uma derivação do famoso moto cartesiano: “penso, logo sou reticente…”, mas não pretendo abusar do meu direito a ser reticente, nem da paciência do leitor. Prefiro ater-me a um discurso coerente, ainda que algo impressionista, sobre a importância das reticências na atividade argumentativa e até na organização da vida diária. Serei breve, como convém a um “mini-tratado”, marcado por algumas reticências terminológicas, vários duplos-sentidos e outras tantas dúvidas conceituais.

Admito, antes de mais nada, que as reticências passam quase despercebidas nos manuais de estilo e mesmo nos livros de gramática. Meu dicionário Aurélio, por exemplo, na introdução relativa às instruções da Academia Brasileira de Letras (de 1943) para a organização do vocabulário ortográfico da língua portuguesa, passa solenemente por cima, quando não à côté, desses simpáticos sinais, objeto de meu tratado, ignorando-os por completo. Com efeito, na parte relativa aos sinais de pontuação, a douta Academia, zelosa guardiã da boa expressão e da correção de linguagem, registra apenas e tão somente as aspas, os parênteses, o travessão e o ponto final, assim, não mais do que isso. Mas o MEC foi vigilante, e na portaria nº 36, de 28 de janeiro de 1959, registrou na Nomenclatura Gramatical Brasileira os seguintes sinais de pontuação: aspas, asterisco, colchetes, dois-pontos, parágrafo, parênteses, ponto-de-exclamação, ponto-de-interrogação, ponto-e-vírgula, ponto-final, reticências, travessão, vírgula.

Voilà, aí estão nossas simpáticas reticências, cuja definição “científica”, constante do mesmo dicionário Aurélio, apresenta-se como a seguir: “[Pl. de reticência.] S. f. pl. Sinal de pontuação: série de três ou mais pontos que, num texto, indicam interrupção do pensamento (por ficar, em regra, facilmente subentendido o que não foi dito), ou omissão intencional de coisa que se devia ou podia dizer, mas apenas se sugere, ou que, em certos casos, indica insinuação, segunda intenção, emoção. [Sin.: pontos de reticência, pontos de suspensão e (fam.) pontinhos. Cf. reticencias, do v. reticenciar.]” (p. 1229, da 15ª impressão da 1ª edição da Nova Fronteira, sem data).
Pois eu acabo de ficar sabendo da existência do verbo reticenciar, que passarei a utilizar agora, em toda a extensão do que me for permitido pelos bons costumes e reais necessidades de expressão. Trata-se de um verbo transitivo direto, que tem o significado, justamente, de colocar reticências em algo ou exprimir de modo reticente, incompleto, como em: “A testemunha reticenciou os fatos”. Mas, não pretendo reticenciar meu mini-tratado sobre as reticências.

Dito isto, retenho da definição aureliana sobretudo a última parte, pois que a interrupção de pensamento é tão evidente que nem precisaria ser explicada. A última parte refere-se à omissão intencional, que pode querer dizer insinuação, segunda intenção ou emoção. Aqui estão a essência, o caráter fundamental, o âmago e a alma profunda, se ouso dizer, das reticências, que parecem ter sido trazidas ao mundo para acomodar todas as situações ambíguas e os propósitos não declarados.
Aliás, o singular da palavra em questão já trazia essas “más intenções” inscritas em sua definição original. O substantivo vem do latim reticentia, que quer dizer “silêncio obstinado”. O enunciado remete a uma “omissão intencional de uma coisa que se devia ou podia dizer”, o que nos confirma o caráter de subterfúgio do conceito em questão. E o que é subterfúgio?: segundo o mesmo dicionário, trata-se de “ardil empregado para se esquivar a dificuldades; pretexto, evasiva”. Pois todos nós, na vida diária, nas atividades literárias, no jogo da política (sobretudo) e nas coisas do amor (aqui parece fundamental) necessitamos, em algum momento, de utilizarmo-nos de algum subterfúgio. Para evitar confrontar o interlocutor com alguma mensagem muito direta, fazemos apelo a essas figuras de linguagem pouco claras e a esses conceitos ambíguos que brotam, justamente, da complexidade natural do ser humano e do mundo que o cerca (estou sendo muito antropocêntrico, talvez, mas é que os animais, por exemplo, não precisam de reticências, pois eles costumam ir direto ao assunto, sobretudo os predadores carnívoros).

O recurso aos três pontinhos é por vezes absolutamente necessário para evitar algum conflito maior, e parece estranho que as reticências sejam tão pouco usadas no vacabulário diplomático, na letra dos tratados, nos discursos oficiais (justamente os que mais necessitariam de alguma “ambiguidade construtiva”). Não sei se existe espaço para o uso de reticências no curso de “linguagem diplomática” do Itamaraty, mas deveria haver, para acomodar todas essas situações difíceis nas negociações internacionais: parece evidente que as conferências terminariam mais cedo se todos pudessem ir para casa sobraçando o seu exemplar de algum tratado, cheio de pontos suspensivos…
O único problema (aparente) das reticências é que elas não aparecem de modo claro na linguagem oral, só naqueles “balõezinhos” acima da cabeça das pessoas nos desenhos de revistas ou diretamente nos textos escritos. Na linguagem coloquial elas são imperfeitamente traduzidas nas hesitações da expressão, nas frases não acabadas, nas terminações muito lentas, que se arrastam ao longo de um sorriso por vezes embaraçoso. Vamos deixar, justamente, um espaço aberto à criatividade e à imaginação humanas, que não podem ficar só na lógica binária dos programas de computador ou na rigidez das fórmulas matemáticas que pretendem encerrar o mundo numa única expressão: E=mc2.
O mundo não é feito só de cartesianismos, muito menos de fórmulas einsteinianas ou newtonianas totalmente abrangentes, que funcionam no estrito limite dos fenômenos identificados pelas forças conhecidas da natureza. Existem outras forças que ainda não foram devidamente mapeadas pela ciência moderna (ou antiga, ou medieval, ou de todos os tempos), a começar, obviamente, pelo amor. Pois eu pergunto: o que seria do amor sem as reticências? O que seria dos namorados se eles precisassem dizer tudo de forma clara, absolutamente sem ambiguidades, sem essas “sugestões construtivas”, sem essas omissões convenientes, sem os subentendidos de linguagem? Certamente haveria muito mais brigas, e as taxas de separação (e de divórcio) seriam infinitamente superiores…

Tomemos, por exemplo, o caso de Penélope, interminavelmente a fiar e a tecer a sua tela, ela mesma uma permanente reticência, pois que desfeita a cada noite para evitar o confronto indesejado com os pretendentes ao trono de Ulisses. O que mais ela poderia fazer na ausência do seu amado, ele mesmo preso nas reticências dos troianos, que hesitaram um pouco antes de arrastar para dentro da fortaleza o cavalo de madeira que ele tinha sugerido aos gregos? O próprio herói não ficou quase retido nas reticências dos montros marinhos, nos encantos reticentes e nas promessas enganosas das lindas sereias? Se Penélope não fosse reticente, Ulisses ainda teria de enfrentar uma nova odisséia para garantir o seu lugar original no comando da ilha de Ítaca. Poderíamos, assim, dizer que a situação de Ulisses foi salva pelo uso das reticências…
Assim, mesmo concordando em que o discurso “científico” precisa livrar-se de toda e qualquer ambiguidade explicativa, sou franca e resolutamente a favor das reticências e de seu uso da forma mais ampla possível nas circunstâncias cambiantes que são as da vida humana. Reticências nos ajudam, nos confortam, nos salvam de situações embaraçosas. Elas, sobretudo, nos permitem construir relações que podem frutificar de modo amplamente satisfatório mas que só sobreviveriam, em face de adversidades e dos muitos imponderáveis da vida humana, caso a flexibilidade por elas permitida seja efetivamente empregada para estender os limites do entendimento até esses situações limites de acomodação de contrários. A vida é contraditória e cheia de surpresas: não podemos tolher as possibilidades infinitas do nosso interário futuro com frases cortantes que encerram apenas as limitações do presente.

As reticências significam, essencialmente, liberdade de escolha. Nisso elas estão inteiramente de acordo com a “economia” do nosso modo de ser, sobretudo nas situações intensamente relacionais. Vivam as reticências…

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de novembro de 2004

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Tratado geral dos minitratados: reflexoes sobre algumas contradicoes humanas - Paulo Roberto de Almeida

Tratado Geral dos Minitratados

Reflexões sobre algumas contradições humanas

Já inseri no meu blog DiplomataZ minha série de minitratados, uma coleção de pequenos textos curtos, aleatórios na temática e esparsos no tempo, sobre aquilo que alguns filósofos poderiam chamar de "grandes questões da humanidade".
Trata-se claramente de um divertissement, mas que não deixa de ter um significado -- aliás vários -- que é complementar ao, ou diverso do, objeto efetivamente tratado em cada um desses minitratados (aleatórios mas cuidadosamente escolhidos).
Ou alguém acha que reticências, ou entrelinhas, constituem grande problemas filosóficos da humanidade?
É uma maneira divertida, para os que apreciam ironias e sutilezas, para falar dos sentimentos humanos, meus ou dos outros.
Listo abaixo a relação dos minitratados produzidos so far, aqui sem transcrição completa, mas remetendo aos links para sua leitura integral.
Não tenho certeza de que coloquei todos os minitratados; pode ser que eu tenha esquecido algum no caos de meus arquivos eletrônicos. Tenho de pesquisar: esses minitratados são espertos, fugidios, eles se escondem nas mais surpreendentes reentrâncias do pensamento...
Tenho vários outros planejados no pipeline, e aceito sugestões dos leitores para novos minitratados, mas apenas sobre os mais graves problemas da humanidade, como alertei anteriormente.
Mas de maneira divertida, como também coloquei, o que não deixa de ser relevante, mesmo se constitui uma simples distração na leitura de coisas verdadeiramente sérias...
Paulo Roberto de Almeida 
(Texto escrito em 16 de abril de 2011)


1) 
Minitratado das reticências ( (28/11/2004)
Pouca gente dotada de uma certa familiaridade com a palavra escrita consegue atribuir real importância às reticências, inclusive este cidadão que aqui escreve. Quero falar das reticências stricto sensu, isto é, os famosos três pontinhos ao final de alguma frase ou expressão... (...)
Ler a suite deste minitratado neste link.

2) Minitratado das entrelinhas (22/01/2009)
Tratados, em geral, costumam ser solenes, como convém aos grandes textos declaratórios, escritos em tom impessoal e devendo refletir alguma realidade objetiva, uma relação entre Estados...
Minitratados, por suposição, deveriam ser versões reduzidas de seus irmãos maiores... (...)
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Interrogantes são inerentes à espécie humana, e talvez mesmo a certos primatas. Determinadas escolhas, ou caminhos, nos levam a uma situação de melhor conforto material ou de maior segurança pessoal, sem que, no entanto, saibamos, ou tenhamos certeza, ao início, que aquela opção selecionada é, de fato, a de melhor retorno ou benefício possível. Dúvidas, questionamentos, angústias, em face das possibilidades abertas em nossa existência, são inevitáveis em todas as etapas e circunstâncias da vida. Daí a interrogação, normalmente simbolizada pelo sinal sinuoso que colocamos ao final de certas frases: ? (...)
Ler a suite deste minitratado neste link.

O subserviente é aquele que se dobra às conveniências de uma autoridade superior, mesmo quando essa autoridade atua manifestamente em detrimento de seus próprios interesses pessoais; o subserviente prefere submeter-se às inconveniências cometidas por aquela autoridade, e o faz de livre e espontânea vontade, ainda que de modo vergonhoso, a ter de corrigir, mesmo gentilmente, essa mesma autoridade. O subserviente, que também pode ser considerado um sabujo, no sentido estrito, não hesita em desmentir-se, a posteriori, negar declarações suas, previamente tornadas públicas, ou em afastar-se de posições anteriormente assumidas, ou defendidas historicamente, apenas para se conformar à vontade, muitas vezes irracional e inexplicável, dessa mesma autoridade superior. Obviamente, ele não seria subserviente sem essa degradação moral.
Ler a suite deste minitratado neste link:

Há muito tempo pretendia escrever um minitratado sobre o anonimato, mais uma peça de relativa inutilidade substantiva, apenas para me distrair e para fazer companhia a meus outros minitratados (um primeiro sobre as reticências, outro sobre as entrelinhas, um terceiro sobre as interrogações, e um adicional, que aliás não sei se já foi terminado, sobre as exclamações). Não se inquietem os curiosos, pois tenho vários outros no pipeline, ou pelo menos nos meus circuitos mentais, e a coleção deve ser enriquecida com algum besteirol gratificante, cuja única função, pelo menos para mim, é servir a meu próprio divertissement intelectual.

6) Minitratado da imaginação (12/02/2011)
A imaginação não é um simples sentido natural, e sim um ato da vontade, embora não possamos impedir nossa própria consciência de imaginar “coisas”. Mas essas coisas imaginadas são instruídas, orientadas, criadas e administradas por nós, como se fossemos um diretor de cinema ou de teatro, quando eles dizem aos atores como o script deve ser realmente lido e interpretado. (...)
Ler a suite deste minitratado neste link.

7) 
Minitratado da reencarnação (28/02/2011)
Não, não quero falar da reencarnação "real", aquela na qual acreditam piamente hindus e tibetanos, pelo menos os religiosos, nisso seguindo, ao que parece, os antigos egípcios, que já não estão mais entre nós para contar como a sua, supostamente rica, experiência nessa matéria. Os primeiros são radicais, capazes até de interromper a construção de um templo por uma minhoca que apareceu no canteiro de obras; afinal, nunca se sabe: pode ser a mãe de alguém. Enfim, se os egípcios ainda nos assustam com múmias de Hollywood, os outros nunca provaram o que afirmam. (...)
Ler a suite deste minitratado neste link.

8) 
Minitratado das Improbabilidades (16-17/03/2011)
Uma improbabilidade é algo que, como o conceito indica, não corre nenhum risco de acontecer; constitui, assim, um não-evento, uma impossibilidade prática. Poucas pessoas, salvo as muito sonhadoras, ficam atrás, ou se colocam em busca, de coisas impossíveis, ou seja, de improbabilidades. Aqueles que o fazem, de verdade, ou sinceramente, costumam ser chamados de utopistas, ou talvez até, dependendo da natureza de seus sonhos, de românticos incuráveis. (...)
Ler a suite deste minitratado neste link

9) 
Minitratado dos desencontros (2/04/2011)
O que é um desencontro? Dito simplesmente, é uma defasagem, no tempo ou no espaço, entre dois corpos, cada um seguindo vias próprias e diferenciadas, sem qualquer possibilidade de cruzamento. Para fins deste minitratado, no entanto, o desencontro é um descompasso entre dois sentimentos, um pretendendo resposta e reação, o outro permanecendo desatento ou distraído, o que pressupõe alguma instância de reciprocidade ou linha de cruzamento, mesmo virtual. (...)
Ler a suite deste minitratado neste link.

10) 
Minitratado dos reencontros (14/04/2011)
O reencontro pode ser considerado a inflexão da curva de dispersão, ou da linha de divergência, que tinha sido formada, ou que existia, por ocasião do desencontro. Com efeito, o reencontro só se justifica, na maior parte dos casos, após um desencontro ter acontecido, salvo se a separação anterior foi uma obra do acaso, uma contingência inesperada, um acidente de percurso ou seja lá qual fator acidental. (...)
Ler a suite deste minitratado 
neste link.

11) 
Minitratado das corporações de ofício (9/07/2011)
Um amigo meu me escreve para dizer que está sendo perseguido por uma poderosa corporação de ofício; enviou-me seu protesto por escrito: “Sou Réu” (até me forneceu o número do processo). Bem, não vou poder ajudá-lo como eu (ou ele) gostaria, pois não tenho esse poder; aliás, nem sou advogado, o que por acaso me lembra que eu tampouco pertenço, profissionalmente, a qualquer uma dessas poderosas organizações dedicadas a preservar o seu monopólio profissional (e, adicionalmente, a achacar consumidores, como eu e você). Sou apenas da modesta tribo dos sociólogos, não tão poderosa nem tão bem organizada quanto a dos advogados, a dos engenheiros, a dos arquitetos, a dos médicos, a dos economistas e as de muitas outras corporações dedicadas ao fechamento dos mercados, de forma a converter todos os demais cidadãos em seus obrigados clientes (mais propriamente em servos indefesos).
Ler a suite deste minitratado 
neste link.

O que é o inusitado? Como diz o próprio conceito, trata-se de algo fora do normal, além do padrão costumeiro das coisas, que só ocorre de forma imprevista, em momentos não esperados, como uma surpresa. Diz-se, assim, dos acontecimentos raros, ou mesmo inéditos, que rompem com o processo habitual dos fenômenos correntes, ou de eventos pouco frequentes, que literalmente “caem do céu”, qualquer que seja sua qualidade – boa ou má – e seu impacto circunstancial. Sendo inusitado, sempre haverá um impacto, temporário ou permanente em função de sua intensidade.

Saindo do trabalho além da hora, cruzei com um colega no corredor, ele numa direção, eu na oposta. Trocamos apenas as palavras habituais de cortesia, sem parar a não ser por um rápido aperto de mão, “olá, como vai?, trabalhando muito?”; “Pois é, é o jeito!”, ele disse, acrescentando ao final: “Vamos esperar pela aposentadoria”, ou algo do estilo (sou péssimo para memorizar certas coisas, além de edições de livros). Havia, evidentemente, certo sentido de cansaço naquelas palavras, algo de desalento ou coisa do gênero. Enfim, nos despedimos e fui para casa sem pensar mais naquele encontro. Mas de alguma coisa serviram aquelas palavras, retidas em minha consciência, aparentemente.

Sempre me intrigaram as dedicatórias, especialmente as estranhas (e, reparem bem, existem as mais bizarras). Afinal de contas, para um leitor inveterado como eu, impossível não tropeçar com elas bem no começo de um livro qualquer. Os bons autores, maridos dedicados, pais extremosos, amantes amantíssimos, nunca deixam de honrar seus amados, oferecendo-lhes a obra que você tem nas mãos, com palavras obsequiosas, atenciosas, gentis. Normal tudo isso.

(Planejados para escrever)
15.   Minitratado das renúncias inevitáveis
16.   Minitratado da decadência
17.   Minitratado dos impulsos criativos
18.   Minitratado dos impulsos destrutivos
19.   Minitratado do contrarianismo

Conclusão: sobre as razões e as causas de algumas das contradições humanas e sobre alguns modos de remediá-las...

Pensou num tema relevante? Indique...
Paulo Roberto de Almeida