E pensar que Lula ainda consegue apoiar um crápula absoluto como Putin é de dar ânsia de vômito.
Grato a Augusto dd Franco pela transcrição.
“Leia para ter uma ideia de quão tenebrosa pode ser uma ditadura. E aqui no Brasil Filhos de Putin podem ser encontrados entre bolsonaristas e lulopetistas. Sim, em geral os populistas (digam-se de direita ou de esquerda), apoiam o governo de assassinos de Moscou.”
Augusto de Franco
Arquipélago Gulag 2.0
Editorial, O Estado de S. Paulo (13/08/2023)
O suplício de Alexei Navalny escancara a brutalidade – e o nervosismo – crescente de Putin
Se havia dúvida de que Vladimir Putin não hesitará em esmagar qualquer dissidência sob sua máquina de propaganda nem em cometer crimes e usar força letal contra seu próprio povo para perseguir suas ambições, ela foi incinerada pela guerra na Ucrânia. Nada simboliza mais esses horrores que o martírio de Alexei Navalny.
Navalny se notabilizou por publicar materiais sobre corrupção e organizar protestos por meio de sua Fundação Anticorrupção. Após ser envenenado em 2020, violou sua condicional para ser socorrido em Berlim, e em 2021 voltou à Rússia sabendo que seria detido. Um julgamento farsesco o condenou a nove anos por fraude. Agora, foi sentenciado a mais 19 anos por acusações de “extremismo” que em qualquer tribunal independente nem sequer seriam aceitas. Colaboradores relatam que ele está há meses confinado numa solitária. Sua última condenação o enviará a um “regime especial” numa colônia penal onde ficará ainda mais isolado.
Navalny é só a ponta do iceberg. Todas as atividades de sua fundação foram criminalizadas desde 2011. Diversos membros foram ou estão para ser condenados a penas até maiores. Mesmo seus advogados se tornaram alvos. Segundo a Anistia Internacional, até 20 mil russos sofreram represália por protestar contra a guerra. Muitos respondem a “combos” de acusação que aglutinam de infrações administrativas a desinformação e traição. Segundo o grupo Memorial de direitos humanos – dirigido por Oleg Orlov, também julgado por “desacreditar” as Forças Armadas –, o número de casos lembra a era Brejnev, nos anos 60 e 70, mas a brutalidade se assemelha ao “tempo de Stalin”.
Navalny não tem ilusões. “O número não importa”, disse nas redes sociais, através de interlocutores com acesso a seu perfil. “Entendo perfeitamente bem que, como muitos prisioneiros políticos, estou cumprindo uma prisão perpétua – onde a perpetuidade é medida pela duração da minha vida ou da vida deste regime.”
Como ele, outros ativistas estão decididos a ficar na Rússia, mesmo ante a perspectiva certa de imolação. Uma das razões, disse a advogada de direitos humanos Maria Eismont, é que nas cortes russas “você pode dizer abertamente coisas que estão, há muito tempo, proibidas em outros lugares”.
Com sua capacidade de negociação com o Kremlin no nível mais baixo desde a guerra fria, não resta ao Ocidente senão denunciar ostensivamente os crimes de Putin para tentar sensibilizar o povo russo. Mesmo autocratas precisam de uma fachada de legitimidade, e a comunidade internacional, especialmente políticos, diplomatas, ONGs e a imprensa, deveria usar toda oportunidade à mão para marretar a fachada podre de Putin. A escalada da selvageria é já um sinal de desespero.
“Vocês estão sendo forçados a entregar sem luta a sua Rússia a uma gangue de traidores, ladrões e canalhas que tomaram o poder”, disse Navalny a seus compatriotas. O mundo civilizado não deveria poupar esforços para dar voz aos russos dispostos a sacrificar suas vidas para livrar seu país, a Ucrânia e, no limite, todo o planeta das garras dessa gangue.