Ernesto Araújo e o orgulho de ser pária
O Antagonista | 22/12/2020, 19h00
O Brasil, em 2020, ficou ainda mais isolado. Resultado, em boa parte, da falta de diplomacia do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que já disse não se importar se o país virar um “pária internacional”.
Se a comunidade internacional já reagia negativamente à política ambiental, ficou escandalizada com a forma como Jair Bolsonaro atuou no enfrentamento da Covid-19.
O chanceler não se constrangeu por um minuto ao defender as posturas ridículas de seu chefe e tampouco conseguiu explicar o fracasso total do alinhamento automático em relação ao governo Donald Trump.
Em maio, Trump barrou a entrada nos Estados Unidos de cidadãos brasileiros e não americanos que chegassem do Brasil e ainda citou o país como exemplo de má administração na pandemia.
Araújo ainda se meteu, do lado errado, na briga entre o deputado Eduardo Bolsonaro e a embaixada da China no Brasil.
Depois de diversas postagens em redes sociais atacando o principal parceiro comercial do Brasil, o filho do presidente da República acusou a China de usar a tecnologia 5G para espionagem.
O bananinha falou em “repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”.
A embaixada respondeu à mensagem publicada no Twitter por Eduardo, apagada após a repercussão negativa, com uma ameaça: “Cessem as calúnias ou vão arcar com as consequências”.
Em nota, o Itamaraty afirmou que “o tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso” da embaixada “prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira”.
Dias depois, o chanceler voltou a provocar a China e publicou em suas redes sociais o trecho de um texto do pensador chinês Lao Tzu sobre tentar “controlar o mundo”:
“Tentando controlar o mundo? Vejo que não conseguirás. O mundo é um vaso espiritual. E não pode ser controlado.”
Para bajular o governo americano, Ernesto Araújo permitiu que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, usasse Roraima como palanque para a campanha de Trump pela reeleição.
No Brasil, Pompeo fez um discurso contra o regime do ditador Nicolás Maduro, a quem se referiu como narcotraficante. Araújo seguiu a mesma linha e chamou a ditadura venezuelana de “narcorregime”. Dizer verdades quase nunca é recomendável na diplomacia.
A vitória de Joe Biden na eleição presidencial americana foi uma péssima notícia para o chanceler olavista. Ele e Bolsonaro apostaram todas as fichas na relação com o governo Trump, e levaram tempo demais para reconhecer o democrata eleito.
Ao longo do ano, Jair Bolsonaro foi aconselhado por integrantes do governo e parlamentares a demitir o ministro das Relações Exteriores. O nome de Michel Temer figurou entre os possíveis sucessores, mas o ex-presidente rejeitou o suposto convite.
Afinal, o ocupante do Palácio do Planalto continua sendo o mesmo.
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