O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador política econômica companheira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador política econômica companheira. Mostrar todas as postagens

sábado, 30 de agosto de 2014

Politica economica companheira: o desmantelamento da vertente cambial - Nathan Blanche

O governo lulo-petista-dilmista já conseguiu desmantelar as metas de inflação e a responsabilidade fiscal. Agora se ataca à flutuação cambial. Vai conseguir não deixar pedra sobre pedra. Parabéns pela obra destruidora.
Paulo Roberto de Almeida
O desmantelamento da flutuação cambial
Nathan BlancheO Estado de S.Paulo, 28.08.2014 
 
Os riscos para o financiamento das contas externas e a consequente depreciação significativa da moeda brasileira têm se elevado como resultado do aumento de incertezas e do alto nível de intervenções do Banco Central (BC). Adicionalmente, e não de forma clara, mas efetiva, o câmbio sobreapreciado pela atuação da autoridade monetária causa distorções na formação de preços relativos que agravam os desequilíbrios nas contas externas. O resultado final é risco de inflação mais elevada, menor investimento e crescimento econômico.

Descambal era o termo usado na década de 80 para classificar o descontrole da política cambial. Obviamente, estamos muito longe do risco de duas moratórias seguidas, como as de 1982 e 1987, mas os riscos para o financiamento das contas externas e a consequente depreciação da moeda têm se elevado em razão das incertezas e das intervenções do BC. Essas são inéditas e arbitrárias e pouco têm que ver com os fundamentos do balanço de pagamentos. Principalmente por se tratar de crise econômica interna (alta da inflação e baixo crescimento), e não externa.

A venda de ração diária de swaps cambiais e suas rolagens já somam mais de US$ 226 bilhões, e o saldo atual é de US$ 93 bilhões. Desde 1986, quando do início do mercado de hedge cambial, a atuação recente destaca-se, inclusive, em comparação com a de 2008, na esteira da grave crise internacional. Além de as atuações anteriores não terem atingido essa magnitude, foram pontuais e cumpriram seus objetivos de controlar a volatilidade da moeda apenas, sem a intenção de influenciar o nível da taxa de câmbio.

Inexiste atualmente, no mercado de moedas mundial, paralelo em termos de intervenção no mercado de derivativos cambiais. E pelas sinalizações mais recentes do BC, a atuação continuará até o fim do ano.

Mas, a despeito da atuação do BC e da retirada de todas as medidas que haviam sido adotadas para controlar a entrada de dólares nos anos anteriores, o real é a segunda moeda mais volátil no horizonte de seis meses, só perdendo para o rand sul-africano.

O fato é que o câmbio tornou-se, para o BC, o último cachorro no mato, ou seja, o único instrumento para exercer sua função institucional de guardião da moeda. Em 2011, quando o governo Dilma Rousseff ordenou a queda dos juros e simultaneamente a desvalorização do real, privou-se dos principais instrumentos de atuação, que são a política monetária e cambial. Assim, descredenciou o BC como guardião da moeda. Mas diante do resultado óbvio - inflação mais alta - devolveu algum poder à instituição, permitindo uma elevação da taxa básica de juros de 375 pontos-base.

O ponto é que, ao vender hedge (câmbio futuro), o BC tornou viáveis as operações especulativas de carry trade (arbitragem de taxa de juros). Agentes do mercado captam dólares no exterior, vendem no mercado à vista (spot) e, simultaneamente, compram dólares no mercado futuro, obtendo ganho pela diferença das taxas de juros interna e externa. Dos US$ 93 bilhões de swaps cambiais, avaliamos que cerca de US$ 48 bilhões estão relacionados com esse tipo de operação.

Herança maldita. Seja quem for eleito nas próximas eleições, terá de pagar a conta e efetuar os ajustes no mercado cambial, dado que em algum momento esses contratos futuros vão reverter-se em demanda por câmbio no mercado à vista.

A dúvida diz respeito à forma do ajuste. O risco é de uma correção abrupta, inclusive, considerando o contexto internacional, que será marcado por processos de elevação de juros em importantes países como Estados Unidos e Inglaterra.

É fato que não é só na área cambial que há herança maldita. Nessa conta devem incluir-se os passivos fiscais, além da necessidade de realinhamento de preços-chave, como é o caso de energia elétrica, combustível e transporte público, diante das distorções criadas ao longo dos últimos anos.

Ainda há que ponderar a oportunidade perdida com a falta de interesse por acordos comerciais. A opção pelo Mercosul, em que os principais parceiros, Argentina e Venezuela, além de protecionistas, passam por grave crise, não permite a exploração do potencial do comércio exterior. Os países desenvolvidos já recuperam o crescimento e, com isso, passam a demandar mais bens importados. O Brasil, porém, segue de fora deste novo ciclo de crescimento.

Caso o atual governo, se reeleito, persista na manutenção da atual equipe econômica e na política denominada "Nova Matriz Econômica", o Brasil corre o risco de perder sua classificação de grau de investimento. Assim, o País enfrentará dificuldades no financiamento das contas externas já em 2015. Respaldam essa afirmação:

O fato de o déficit em conta corrente ter aumentado de 2,1% do produto interno bruto (PIB) para 3,6% entre 2011 e 2013. Para 2015 a projeção é chegar a 4,2% do PIB. O principal motivo é o enfraquecimento da balança comercial, cujo saldo passou de US$ 29,8 bilhões a US$ 2,6 bilhões no período.

O prêmio de risco País, medido pelo Credit Default Swap (CDS), era em 2011 inferior à média dos países do pacto do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile) e hoje é o dobro.

Menor disponibilidade de liquidez externa, considerando o processo de alta de juros pelo Federal Reserve e pelo Banco da Inglaterra.

Aumento da fragilidade fiscal via redução dos superávits primários dos últimos três anos de 3,1% para 1,5% do PIB, com a agravante das manipulações criativas dos resultados fiscais.

Em suma, a atuação do Banco Central no mercado cambial tem gerado riscos no sentido de um ajuste abrupto, o que pode resultar em significativa depreciação da moeda. Adicionalmente, e não tão aparente, mas existente, o câmbio sobreapreciado causa distorções na formação de preços relativos que agravam os desequilíbrios nas contas externas do País, o que traz risco inflacionário, redução nos investimentos e também do crescimento econômico.

*Nathan Blanche é sócio-diretor da Tendências Consultoria

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Politica economica companheira: recuo de 0,4% no PIB do Brasil no segundo trimestre de 2014

Resultados da política econômica companheira: alguém será capaz de colocar defeito na análise?
Sim, já sei quem.
Mas quem vai prestar atenção em quem não sabe falar...
Paulo Roberto de Almeida

MACRO VISÃO - Pesquisa macroeconômica - Itaú
Projetamos recuo de 0,4% para o PIB do Brasil no segundo trimestre de 2014

Projetamos um recuo da atividade econômica no Brasil no segundo trimestre. Pela ótica da oferta, contemplamos uma contração na produção industrial, pelo quarto trimestre consecutivo, e também uma retração em serviços, a primeira desde o quarto trimestre de 2008. Pela ótica da demanda, destacamos uma acentuada queda na formação bruta de capital fixo.

Acreditamos que esta contração é, em grande parte, um efeito temporário e esperado da redução dos dias úteis devido à Copa do Mundo. Entretanto, os dados já disponíveis para o terceiro trimestre mostram uma recuperação mais fraca que o esperado. Esses indicadores, juntamente com as confianças do empresário e do consumidor em níveis historicamente baixos e a herança estatística desfavorável na produção industrial e nas vendas no varejo, devem limitar a taxa de crescimento do PIB no terceiro trimestre. Assim, os riscos de um crescimento ainda menor do que projetamos para 2014 ainda permanecem.

Projeções para o PIB do segundo trimestre de 2014
A partir dos dados do PIB mensal Itaú Unibanco e de outros indicadores de atividade econômica, projetamos recuo de 0,4% para o PIB do Brasil no segundo trimestre, na comparação com o primeiro trimestre, após ajuste sazonal. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, projetamos uma desaceleração passando de 1,9% no primeiro trimestre para queda de 0,7% no segundo, em parte devido a um efeito base. Em 12 meses, o crescimento deve passar de 2,5% no primeiro trimestre para 1,4% no segundo. Os dados das Contas Nacionais Trimestrais serão divulgados no dia 29 de agosto.

Pela ótica da oferta, esperamos que o PIB da indústria tenha recuado 2,2%, após queda de 0,8% no primeiro trimestre. Se confirmada, esta será a quarta queda consecutiva. Essa estimativa está em linha com os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM - IBGE) que apresentou recuo de 2,3% na produção da indústria de transformação e de 3,9% em insumos típicos da construção civil (segundo nosso ajuste sazonal). A produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana teve um recuo de 0,8% segundo nossas estimativas e, pelo lado positivo, a indústria extrativa apresentou crescimento de 1,5% no segundo trimestre.

Para o setor de serviços, projetamos retração de 0,5%. Destacamos a queda no comércio, em grande parte devido à retração nas vendas no varejo de veículos e materiais de construção. Além disso, setores ligados à indústria como transportes, também apresentaram recuo. Pelo lado positivo, destacamos a administração pública, com crescimento esperado de 0,5% no período. Ainda pela ótica da oferta, projetamos que a produção agropecuária tenha evitado uma queda maior do crescimento, avançando 1,1% ante o trimestre anterior, ainda que tenha desacelerado com relação ao primeiro trimestre (quando aumentou 3,6%). Dentre as culturas com peso relevante no segundo trimestre, destacam-se as altas na safra de soja (6,0%) e de arroz (4,3%), segundo dados do IBGE.

Pela ótica da demanda, projetamos nova queda no consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo. O consumo de bens e serviços sofreu os efeitos negativos da politica monetária mais restritiva e do maior endividamento das famílias. A formação bruta de capital fixo deve ter sua quarta queda consecutiva, ocasionada pela incerteza tanto no cenário doméstico quanto no internacional. Assim, a cautela deve ter prevalecido com a postergação dos investimentos. Para os gastos do governo, projetamos estabilidade após algum aumento moderado no primeiro trimestre. Tal estimativa é compatível com o ritmo de expansão dos gastos públicos e os indicadores de oferta da administração pública. Para exportações, estimamos aumento de 2,0%, no segundo trimestre de 2014 e para as importações, queda de 1,5%, ambos compatíveis com os dados de quantum da Funcex.

Há ainda a possibilidade de uma revisão para baixo no crescimento do primeiro trimestre de 0,2%, devido a uma mudança no padrão do ajuste sazonal. Revisões na série livre de efeitos sazonais são corriqueiras, principalmente para as observações mais recentes, e ocorrem por questões estatísticas. Caso se confirme uma revisão para baixo da série histórica com ajuste sazonal, a mudança da herança estatística para 2014 deverá ter um impacto negativo para o crescimento deste ano.

Indicadores sugerem retomada lenta do crescimento no terceiro trimestre
O índice de difusão baseado em um conjunto amplo de dados mostra um nível historicamente baixo para o percentual de indicadores que apresentaram crescimento no segundo trimestre. Isto indica que a retração ocorrida no segundo trimestre foi disseminada (ao invés de concentrada em poucos setores da economia). Considerando-se o comportamento dos indicadores de atividade ao longo do trimestre, avaliamos que a contração projetada é, em grande parte, explicada pela redução dos dias úteis relacionada à Copa do Mundo, e portanto temporária e esperada.

Os dados já disponíveis do terceiro trimestre ainda não mostram sinais de recuperação convincente. Ainda que apenas uma pequena fração dos indicadores esteja disponível, estamos convencidos que os números de julho para produção industrial e varejo ampliado não vão reverter as quedas observadas em junho. Isto nos sugere um terceiro trimestre mais fraco do que nossas expectativas iniciais. Aliado ao carrego estatístico negativo, o terceiro trimestre deve apresentar baixo crescimento.

Além disso, a confiança de empresários e consumidores em patamares semelhantes a 2009 e o alto nível dos estoques na indústria apresentam riscos adicionais à atividade econômica à frente.

Resumindo, esperamos uma queda na atividade econômica no segundo trimestre do ano. Em nossa visão, esta contração é, em grande parte, um efeito temporário e esperado da redução dos dias úteis devido à Copa do Mundo. Entretanto, quando consideramos os indicadores coincidentes e antecedentes já disponíveis para o terceiro trimestre, vemos risco de baixa em nossa projeção de crescimento para o PIB em 2014 de 0,6%.

Irineu de Carvalho Filho e Rodrigo Miyamoto
Pesquisa macroeconômica - Itaú
Ilan Goldfajn - Economista-Chefe

domingo, 17 de agosto de 2014

Cade o tripe economico que estava aqui? O gato (companheiro) comeu... - Roberto Ellery

O economista Roberto Ellery, sempre muito direto, "to the point", como diriam os companheiros estadunidenses, comete aqui o pecado de dizer que os companheiros afundaram com o tripé econômico, e não têm mais nada para colocar no lugar.
Concordo plenamente.
Posto aqui seu pequeno artigo, e depois acrescento meus comentários que coloquei no blog dele.
Paulo Roberto de Almeida

 Elegia para um Tripé

Blog do Roberto Ellery, domingo 17 de agosto de 2014

Apesar dos esforços na direção de uma teoria unificadora a abordagem padrão de macroeconomia nos força a pensar em termos de curto prazo e longo prazo. O desafio de longo prazo é fazer com que renda per capita do país aumente, mais recentemente a distribuição de renda e a redução da pobreza se juntaram ao desafio do longo prazo. No curto prazo o desafio é manter o nível e emprego sem criar desequilíbrios que venham a gerar problemas nas contas públicas e/ou na inflação. Boa parte do meu interesse enquanto economista está na macroeconomia de longo prazo, mas é inevitável abordar temas relativos ao curto prazo. Até porque as dinâmicas de curto e longo prazo não são apartadas, se na ânsia de evitar o desemprego um governo coloca a economia em uma trajetória de inflação e descontrole fiscal é quase certo que isto levará a problemas no longo prazo. A experiência brasileira a partir de meados da década de 1970 e a crise da década de 1980 ilustram bem como medidas ruins de curto prazo podem comprometer o longo prazo.
No que tange ao longo prazo o Brasil conseguiu reduzir a desigualdade e a pobreza, ainda não encontramos o caminho para o crescimento sustentado no longo prazo. Mas no momento é o curto prazo que me preocupa. Durante aproximadamente dez anos parecia que tínhamos encontrado a receita de como administrar o curto prazo de forma que pudéssemos voltar às atenções para o longo prazo. Porém em 2011 a presidente Dilma resolveu trocar a receita que vinha dando certo. Os objetivos anunciados para justificar a troca de receita não foram alcançados. A promessa que a troca de receita aumentaria a taxa de investimento e aumentaria a participação da indústria no PIB não foi cumprida, pelo contrário, tanto a taxa de investimento quanto a participação da indústria no PIB estão menor do que estavam em 2010. Como desgraça pouca é bobagem a inflação está maior, o governo está gastando mais com serviço da dívida pública, o saldo negativo em transações correntes está crescendo perigosamente e a taxa de desemprego está se sustentando pela saída de pessoas da força de trabalho e não pela geração de empregos. Como tanta coisa pode ter dado errado?
Para responder é preciso falar mais a respeito da antiga receita, conhecida como tripé macroeconômico. A estabilização da economia em 1994 encerou um longo período de hiperinflação, mas deixou um problema nas mãos do governo: como financiar os gastos públicos. A Constituição de 1988 criou uma série de novas responsabilidades para o governo e era necessário financiar essas responsabilidades sem recorrer ao financiamento inflacionário. Como o aumento da carga tributária não foi suficiente para financiar os novos gastos a saída foi recorrer ao endividamento. O problema é que dívida tem custo e para financiar este custo é preciso se endividar ainda mais. Tudo ficou ainda mais complicado porque o Plano Real previa que o câmbio ficasse preso em um determinado intervalo, era o chamado regime de bandas cambiais, e o governo começou a ter de elevar juros para atrair capital do resto do mundo e assim não permitir que o câmbio saísse do intervalo proposto. A combinação foi explosiva, em 1999 o serviço da divida pública chegou a 10,4% do PIB.
Era preciso encontrar uma maneira de desatrelar o real do dólar de forma que a taxa de juros não mais fosse determinada para manter uma dada taxa de câmbio, o risco era que sem o dólar segurando o real a inflação voltasse. A saída foi o que chamamos de tripé macroeconômico. A primeira perna do tripé era a taxa de câmbio flutuante, com isso o BC não mais precisaria elevar os juros toda vez que houvesse uma pressão para desvalorizar o real. A segunda perna do tripé consistia na exigência de uma disciplina fiscal capaz de reduzir o custo com os serviços da dívida, o meio encontrado foram os famosos superávits primários. Mas e a inflação? Resolver o problema do custo da dívida e do câmbio permitindo o descontrole da inflação levaria o Brasil de volta a 1993 e tornaria inútil todos os sacrifícios de 1994 a 1998. A saída foi a terceira perna do tripé, a parte mais complexa da receita. O Banco Central, presidido por Armínio Fraga, adotou a política de metas para inflação. Tal política decorria de avanços recentes na macroeconomia e não tinha sido muito testadas em outros países. Como era muito importante manter a confiança no real para evitar a volta inflação adotamos uma versão bem estrita do regime de metas: a única meta do BC era a de inflação, ou seja, o BC não estaria “preocupado” com emprego ou com crescimento e o período de convergência para meta foi fixado como 12 meses.
A figura abaixo ilustra a história que contei e como o tripé mudou os rumos da economia. De 10,4% do PIB em 1999, ano que o tripé foi adotado, o serviço da dívida caiu para 2,2% do PIB em 2010, último ano do tripé. Em março de 2014, quatro após o abandono do tripé, o serviço da dívida já tinha subido para 3,4% do PIB. A história pode ser contada por outras variáveis, o leitor do blog já viu a história sendo contada por meio dos descompassos entre oferta e demanda (link aqui) e várias vezes por meio da inflação. Voltemos então à pergunta: como tanto coisa pode ter dado errado? A resposta é simples: tanta coisa deu errado por termos destruído tudo que impedia tantas coisas de dar errado.
Primeiro veio o abandono da segunda perna, a dos superávits primários grandes o suficiente para estabilizar a dívida pública. Esta perna foi abandonada já em 2008 por conta da crise financeira. Se é ou não é adequado usar política fiscal para reduzir os efeitos de uma crise é uma questão que divide macroeconomistas e que não vou explorar aqui, porém insistir na política fiscal mesmo após a estabilização do emprego é uma estratégia que poucos macroeconomistas recomendaria, estou sendo generoso. Depois caiu a primeira perna, o regime de câmbio flutuante. O governo Dilma comprou a tese que o câmbio deve ser o que equilibra a indústria, mais uma invenção de economistas que (quase) ninguém consegue sequer calcular, e iniciou uma política de desvalorização do real. Quando a inflação começou a incomodar o governo tentou reverter a política e agora o BC está gastando dinheiro do contribuinte para impedir que o câmbio desvalorize ainda mais. A verdade é que o câmbio foi de R$ 1,60 para R$ 2,40 sem entregar nada do que havia sido prometido em caso de desvalorização cambial. O governo Dilma também abandonou o regime de metas de inflação, pelo menos o regime tal como estabelecido no Brasil. Mas a inflação não ficou dentro da meta em todo o governo Dilma? Sim. Mas esta não é a questão. O regime de metas é um compromisso entre a sociedade e o BC que determina que este último fará tudo que está a seu alcance para que a inflação fique no centro da meta, no Brasil o valor é de 4,5%. Se a inflação fica dentro do intervalo das metas porque o governo está intervindo diretamente nos preços, porque a providência assim desejou ou por qualquer outra razão que não esteja relacionada à ação do BC então não estamos em um regime de metas. Por exemplo, a inflação nos EUA flutuou em torno de 3% ao ano desde meados da década de 1980, mas o FED não trabalha com um regime de metas explícitas no estilo de nosso BC. Claro está que o regime de metas não é a única, talvez nem mesmo a melhor, forma de manter a inflação sobre controle, é legitimo o BC abandonar o regime, o que não é legitimo é não avisar que abandonou.

Ao tirar as duas pernas restantes do tripé a política econômica do governo Dilma permitiu a queda da estabilidade de curto prazo que o tripé segurava. A Nova Matriz Macroeconômica, que é tão nova quanto assistir Kojak ou ouvir Black Sabath, ao não providenciar nada que pudesse sustentar a estabilidade conquistada nos anos 1990 levou a política econômica de Dilma a um labirinto. O resultado é que voltamos a discutir inflação, dívida, confiança de investidores e todos aqueles temas de curto prazo que pareciam já estar resolvidos. Infelizmente a discussão a respeito do longo prazo voltou para geladeira.


Meus comentários: 
O texto está perfeito como explicação, embora o Português necessite algum polimento para poder ter ampla distribuição e até ser publicado como artigo de jornal.
Comentando substantivamente, eu diria o seguinte. O governo não fez tudo errado porque tinha vontade de errar, ser perverso, chutar o pau da barraca e causar o maior mal ao maior número de pessoas. Não, eles, os keynesianos de botequim, acreditavam piamente que estavam fazendo a coisa correta, ou seja, domando o mercado, e ensinando aos agentes como é que se cuida da economia.
Ou seja, uma mistura de ignorância com arrogância, o que provavelmente é o resultado da incultura econômica e da prepotência pessoal.
Nem o ministro da Fazendo, nem a sua chefe, podem ser efetivamente chamados de economistas. Eles aprenderam algumas lições de economia de orelha, pois nunca devem ter se debruçado sobre aqueles pesados manuais, ou text-books americanos (tipo Samuelson, Obersfeldt, etc) ou mesmo o manual dos professores da USP. No máximo deram uma folheada no último, alguma edição antiga, quando até os uspianos eram mais keynesianos do que mainstream neoclássico.
Depois, ficaram ouvindo aquelas bobagens que a Conceição dizia, ou melhor, as suas diatribes contra os garotos do Banco Central, as gozações do Beluzzo e do Coutinho contra os garotos da PUC-Rio, e de forma geral todos reclamando da tal de financeirização da economia, que parece um inferno, assim dito...
Ou seja, o pensamento desse pessoal, se o termo se aplica, é o mais tosco e primitivo possível. Além de não entenderem nada de economia, eles têm essa prevenção contra o setor financeiro (que seriam sanguessugas aproveitadores) e contra os lucros excessivos dos capitalistas industriais.
No fundo, não adianta, pois eles só vão mudar debaixo do cacete, ou seja, quando a crise já estiver instalada, como parece que já está.
No fundo, no fundo, o Brasil perdeu 12 anos de não reformas e de insistência nos erros.
Isso quanto aos companheiros.
Mas, há que reconhecer também que nossa Constituição é esquizofrênica, e os congressistas e todos os mandarins da República são mais esquizofrênicos ainda, todo dia criam novas despesas sem fontes de receita.
Acho que voce poderia explicar isso ao povo de uma forma mais ordenada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Governo companheiro: um caloteiro como Nunca Antes

Tesouro atrasa repasse de R$ 19,5 bilhões a programas sociais

Do montante, R$ 17 bilhões já deveriam ter sido transferidos ao FGTS e outros R$ 2,5 bilhões ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)

O Tesouro Nacional tem atrasado a transferência de 19,5 bilhões de reais a dois fundos ligados a programas sociais: o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Segundo informações do jornal O Globo, esse dinheiro está depositado, ainda, no caixa único do Tesouro, numa estratégia que ajudaria o governo na conta do superávit primário, que é economia feita para o pagamento dos juros da dívida.
Deste total, 17 bilhões deveriam ter sido transferidos ao FGTS e o atraso pode, segundo fontes de O Globo, prejudicar as contratações de novas moradias a médio e longo prazo, uma vez que é permitido usar parte do fundo para compra de imóveis. A expectativa é que o assunto seja discutido no Conselho Curador do fundo na semana que vem. Cerca de 10 bilhões do montante devido ao FGTS diz respeito à contribuição adicional das demissões sem justa causa que o Executivo retém desde 2012. Outros 7 bilhões são de subsídios do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). O desconto no preço dos imóveis do MCMV é arcado, em grande parte, pelo FGTS.
No caso dos 2,5 bilhões devidos ao FAT, existe uma previsão de que, em caso de atraso no repasse, a Caixa Econômica arque com a despesa e depois cobre a conta do Tesouro, com correção. O FAT é responsável por benefícios sociais como o Bolsa Família e o seguro-desemprego.
O problema é que a Caixa está sendo prejudicada pelo movimento e já foi questionada  pelo Banco Central sobre as discrepâncias em seu balanço. Ela é responsável pelos pagamentos de benefícios sociais, mas a maior parte deles é financiada com dinheiro do Tesouro Nacional e uma minoria com recursos de Estados e municípios. Entre julho de 2013 e julho deste ano, só o pagamento do seguro-desemprego já teria tomado 2 bilhões de reais de seu caixa.
Diante do impasse, a Caixa recorreu à Advocacia-Geral da União (AGU), que, por sua vez, criou uma câmara de conciliação entre ela e a União. Segundo fontes, a Caixa quer se respaldar juridicamente para fazer frente aos questionamentos do BC. No centro dessa discussão, segundo o jornal Folha de S. Paulo publicou na quarta, está um valor superior a 1 bilhão de reais que ficou preso nos cofres do Tesouro em abril. 
Procurado pelo jornal, o Tesouro disse que os repasses para benefícios sociais, como o Bolsa Família, seguem a programação financeira e que não há anormalidade de transferência. Mas, não se pronunciou sobre o atraso nos repasses ao FGTS. 
Superávit - Neste ano, a meta do governo é economizar 99 bilhões de reais, o equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para pagamento dos juros da dívida (superávit primário). Contudo, até junho, só havia conseguido um saldo positivo de 29,38 bilhões de reais. 

Plano Real, 20 anos: seria o cambio o principal problema do Brasil? - Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira

A despeito dos autores terem razão do ponto de vista formal, não acredito que eles tenham razão no fundo, pois uma moeda pode também se valorizar, se a economia se fortalece. Bem, esse não foi o caso do Brasil, mas o câmbio não me parece ser o principal problema da política econômica, como parecem pensar os keynesianos de carteirinho (que acrescentam os juros altos, ao pacote). Ou seja, eles acham que se colocar o câmbio no bom patamar, aqui entre 2,87 e 3,00 por dólar, e com juros a 6,5 ou 7%, tudo estaria perfeito e o Brasil poderia crescer.
Não acredito: não com esse custo Brasil, com a atributação onerosa e irracional, com essa infraestrutura deplorável, com esse governo protecionista, com todas essas maldades que ele pratica sob a forma de distorções econômicas.
O Brasil vai mal, e não existem só duas causas para isso. Existem muitas...
Paulo Roberto de Almeida

O câmbio após vinte anos de Plano Real
Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira
Brasil Econômico, 13/08/2014

Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira são, respectivamente, professor da FGV/EAESP e gerente do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas da Fiesp e do Ciesp

A sobrevalorização do real é um fato concreto que está sacrificando barbaramente a indústria de transformação brasileira. De 2011 a 2014, o PIB total crescerá 7,4%, enquanto o PIB da indústria de transformação cairá 1%nesse período. E o mais grave é que muitos renomados economistas acreditam que a sobrevalorização do real seja proposital, pela disposição do governo federal em segurar os índices inflacionários. Proposital ou não, ao menos em um aspecto a maioria concorda: o câmbio está totalmente fora de lugar. A análise que aqui apresentamos demonstra que essa distorção está na raiz da crise, não somente da indústria de transformação, mas de toda a economia brasileira. Senão, vejamos: vinte anos atrás, em 1º de julho de 1994, foi instituído o Real, como moeda oficial do Brasil.
Entretanto, o Plano Real começou um pouco antes, em 1º de março de 1994, com a Unidade Real de Valor (URV). A moeda, na ocasião, era o Cruzeiro Real, sujeito à forte inflação. Registros da época mencionam que a URV teria sido inspirada no artigo escrito pelos economistas André Lara Resende e Pérsio Arida, intitulado Inertial Inflation and Monetary Reform, e apresentado em um seminário nos Estados Unidos, em 1984. O artigo, apelidado de proposta Larida, previa a implantação da reforma monetária pela indexação total da economia. Fundamentada nessa ideia foi concebida, dez anos depois, a URV, um indexador diário diretamente vinculado à taxa de câmbio. Em 1º de março de 1994, foi criada a Unidade Real de Valor, valendo 647,50 cruzeiros reais (CR$). Esse valor era correspondente à cotação do dólar americano em 1º de abril de 1994, e o valor da URV evoluiu diariamente, espelhando o câmbio.
Em 1º de abril de 1994, a URV valia CR$ 931,05; em 2 de maio, CR$1.323,92; em 1º de junho, CR$ 1908,08; e, finalmente, no histórico 1º de julho de 1994, foi posta em circulação a moeda real, convertendo cada cruzeiro real por 2.750,00, que seria o valor da URV na época e, consequentemente, como esse valor era baseado na cotação do dólar, quando nessa data o câmbio indicava: R$ 1,00 = US$ 1,00.O real foi consequência da indexação diária à cotação do dólar. A genialidade por trás da criação da URV foi ter implantado uma condição de dolarização praticamente total de preços na economia, sem uma verdadeira dolarização, com substituição da moeda, como aconteceu, por exemplo, no Equador. Isso posto, é razoável admitir que a cotação R$ 1,00 = US$ 1,00, em 1º de julho de 1994, espelhava a realidade econômica, pois fora conseguida pela indexação do câmbio diário durante quatro meses.A inflação acumulada em vinte anos,desde a criação do real, medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, atingiu 361,72%.
Em última análise, isso significa que R$ 1,00, em 1º de julho de 1994, equivaleria a aproximadamente R$ 4,62 em 1º de julho de 2014. No mesmo período, a inflação americana foi de aproximadamente 61%. Isso significaria que US$ 1,00 em 1º de julho de 1994 equivaleria a US$ 1,61 em moeda de 1º de julho de 2014. Com base nesses dados, e por meio do cálculo matemático, chegamos à cotação cambial do dólar em 1º de julho de 2014, equivalente à da criação do real em 1º de julho de 1994: R$ 4,62 ÷ US$1,61= R$ 2,87. Ou seja, para ser equivalente ao câmbio paritário na data da criação do real, a taxa de câmbio hoje teria que ser muito superior ao patamar atual. Para vários especialistas, deveria ser da ordem de R$ 3,00. A história da criação do real parece lhes dar razão.

sábado, 9 de agosto de 2014

Politica economica companheira: uma assemblagem de slogans utopicos

Talvez os professores, por serem professores, tenham lido esses livros de economistas, talvez. O mais provável é que tenham lido artigos sobre os economistas keynesianos e socialistas e ficado por aí.
Mas certos alunos, por serem mais militantes da causa do que estudantes, nunca lerem os originais, e se contentaram com o que ouviram dos professores em salas de aula.
Muitos não aprenderam nada, e preferiram continuar na militância política.
Para nossa infelicidade, foram justamente esses que não aprenderam nada, que apenas retiveram alguns slogans "de orelha", foram esses que chegaram ao poder e que começaram a fazer política econômica com base em dois ou três slogans aprendidos de orelha...
Eles fazem parte daquela tribo que eu chamo de keynesianos de botequim, talvez mais de botequim do que keynesianos...
Paulo Roberto de Almeida 

Minsky: o entusiasta do intervencionismo que tem inspirado Dilma

Teórico de pensamento heterodoxo que inspirou a escola desenvolvimentista, ele teve seu auge durante a crise de 2008; para a presidente Dilma, contudo, seu momento é agora

Ana Clara Costa
Veja, 9/08/2014
Hyman Minsky
O economista que acredita no 'socialismo de mercado' tem inspirado a presidente (Levy Economics Institute of Bard College/VEJA)

Recentemente, a coluna Radar, de VEJA, revelou que o economista americano Hyman Minsky (1919-1996) tem rondado o pensamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo a nota, ela “tem usado muito a expressão ‘isso é Minsky’ sempre que faz um diagnóstico econômico ou justifica determinada ação do governo na economia”. É bom saber o que vai pela cabeça de quem manda. Mas esse conhecimento pode ser um pouco assustador – como por certo é o caso na ligação entre Dilma e esse adepto inveterado do intervencionismo estatal.
Durante a vida, Minsky, que foi orientando de Joseph Schumpeter em Harvard, desfrutou de uma fama não mais do que moderada. Com a crise de 2008, ele foi subitamente incensado, por causa de escritos que pareciam proféticos em relação ao que estava acontecendo. Minsky formulou uma certa Hipótese da Instabilidade Financeira, que assevera que a dinâmica interna do capitalismo contemporâneo, no qual o sistema financeiro desempenha um papel preponderante, implica necessariamente a alternância entre turbulência e tranquilidade. Períodos prósperos trariam as sementes de seu próprio desmonte por tornar irresponsáveis tanto aqueles que emprestam quanto aqueles que tomam dinheiro emprestado. Necessário para o vigor do capitalismo, o sistema financeiro tenderia por natureza ao excesso. Com o tempo, haveria o surgimento de uma bolha especulativa, uma acumulação desgovernada de dívidas sem lastro – até o momento em que a fragilidade de todo o edifício seria notada. Aí ocorreria uma reversão brusca do ciclo econômico, aquilo que acabou sendo batizado como “momento Minsky”.
Uma vez iniciado um cataclisma desse tipo, Minsky prescrevia a adoção de remédios como estímulos fiscais e intervenções do Banco Central como “emprestador de última instância”, que dessem algum alento à economia. Insistia também na necessidade de regulamentação dos mercados financeiros. No pós-crise, seu receituário foi debatido nas páginas do Wall Street Journal e da Economist, bem como em relatórios do banco central americano, o Federal Reserve – um deles assinado por Janet Yellen, atual presidente da instituição.
Mas, perguntava Minsky, como evitar que tudo recomece? Como atacar a suposta doença central do capitalismo, o fato de que nele a estabilidade é iminentemente desestabilizadora? Como diz o título de um de seus últimos textos, o economista tinha “um programa positivo para um capitalismo bem sucedido”. Que consistia, basicamente, em transformá-lo em uma forma de socialismo.
Minsky afirmou certa vez que o pensamento teórico deveria ser guiado por uma visão, por um “mapa da Utopia”. Ele nunca fez segredo de aonde o seu mapa levava. Seus pais haviam se conhecido durante a celebração dos 100 anos de nascimento de Karl Marx, numa festa organizada pelo Partido Socialista de Chicago. Ele mesmo se engajou muito cedo. E foi num seminário organizado pelo partido, em 1939, que ele decidiu mudar o rumo de seus estudos universitários da matemática para a economia. O palestrante era o polonês Oscar Lange, que preconizava, justamente, a criação de uma espécie de socialismo de mercado em que houvesse controle social e planificação do investimento, mas não da produção de bens.
Em 1985, Minsky redigiu um ensaio autobiográfico no qual apontou Lange como a maior influência no seu início de carreira, acrescentando que seu programa de pesquisa, apesar de tanto tempo decorrido, ainda se mantinha coerente com as ideias do velho mestre. Ou seja, o mapa da utopia estava traçado desde sempre – ele apenas havia tornado os seus contornos mais nítidos, recorrendo, sobretudo, às obras do inglês John Maynard Keynes, sobre quem escreveu extensivamente e em quem também se amparou para defender um projeto de sociedade em que o Estado fosse grande e “salvasse o capitalismo de suas ineficiências”, tomando em sua mão visível, e pesada, as rédeas das decisões de investimento.
Minsky reservava ainda outro papel ao Estado: o de “empregador de última instância”.  Sua tese era que o governo deveria garantir o pleno emprego, pagando salário mínimo a qualquer um que estivesse apto a trabalhar. A criação direta de postos de trabalho deveria ter precedência, nas políticas públicas, quer sobre programas de assistência social, quer sobre programas de treinamento e especialização dos trabalhadores. A estratégia deveria ignorar o grau de qualificação do desempregado. “Acolha-os do jeito que forem, e adeque os postos às suas capacidades”, dizia Minsky. Essa é sua proposta mais extravagante, e até os entusiastas hesitam em levá-la a sério. A primeira coletânea de seus escritos sobre emprego foi lançada apenas no ano passado.
Como todo socialista, Minsky afirmava que suas preocupações eram a eficiência econômica, a justiça social e a liberdade individual. Há quem diga isso sem acreditar por um segundo nas próprias palavras. Minsky aparentemente pertencia ao grupo mais honesto, mas não menos perigoso, daqueles idealistas que acreditam que a equação socialista pode realmente ser benigna. “O que importa não é se a propriedade é privada, mas que a sociedade seja democrática e humana”, escreveu. Ele assistiu à derrocada da União Soviética e analisou o fenômeno, mas nem por isso perdeu a fé. Em boa parte, porque seus escritos nunca descem do plano da abstração econômica para estudar como, na prática política, a centralização de poder num Estado hiperdimensionado e dotado de poderes de planificação corrói o processo democrático.
No Brasil, o principal reduto de estudiosos de Minsky é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde a presidente Dilma fez seus estudos em Ciências Econômicas. Ele se faz presente, em especial, na área de Pós-Graduação em Economia Política, de onde saíram muitos dos economistas da linha desenvolvimentista filiados ao PT — e onde lecionou Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Coutinho é grande conhecedor da obra de Minsky no país, classificando-a como “genial” em artigos redigidos quando era professor universitário. Dilma foi sua aluna na pós-graduação e herdou dele a admiração pelo americano. Outro economista oriundo da Unicamp que lecionou sobre o autor a uma classe que tinha entre seus alunos a presidente foi Otaviano Canuto, atual consultor para os assuntos dos Brics no Banco Mundial. Ele era diretor do Instituto de Economia e professor da universidade quando Dilma cursou suas quatro disciplinas de doutorado, entre 1992 e 1994. Mas ele não acredita que o interesse da presidente por Minsky tenha surgido em suas aulas. "Dilma teve aulas sobre Minsky com Coutinho, Luiz Gonzaga Belluzzo e Gilberto Tadeu Lima. Quando lecionei macroeconomia para ela, já vinha formada", afirma.
Outros economistas que orbitam em torno do PT, além da turma da Unicamp, leem com admiração as obras de Minsky. Há Márcio Pochmann, por exemplo, ex-presidente do Ipea e atual chefe da Fundação Perseu Abramo, que tem a função de subsidiar governos petistas com propostas de cunho econômico-social. Ou Nelson Barbosa, ex-secretário Executivo do Ministério da Fazenda e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mas o que de Minsky, afinal de contas, tem sido posto em prática no governo Dilma Rousseff? “Nada”, diz Luiz Fernando de Paula, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e fundador da Associação Keynesiana no Brasil. “Não há sinais de sua obra na política econômica conduzida pela presidente”. Ao que tudo indica, é charmoso citar Minsky em certos círculos – talvez por causa do seu “mapa da utopia”. E só. A notícia é tranquilizadora. Só não é melhor porque até algumas ideias do autor seriam um avanço em relação à política econômica atual. No seu entusiasmo pelo big government, por exemplo, o economista tinha lá suas preferências. Para ele, governos que gastam dinheiro em infraestrutura e formação de capital são muito melhores do que aqueles que gastam apenas para incentivar o consumo, como tem feito Dilma com suas políticas. Pois é. Isso não é Minsky. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Cenario economico preocupante - Ubiratan Jorge Iorio (IL)

Não preciso acrescentar mais nada. Talvez eu tivesse muita coisa a acrescentar, mas no terreno político -- pois conheço os companheiros, de dentro, se ouso dizer -- mas prefiro deixar todos vocês com esta excelente análise da atual situação econômica brasileira.
Eu apenas agregaria isto: o mundo, o capitalismo, os especuladores internacionais, a China, ninguém tem nada a ver com a nossa situacão. Ela foi inteiramente construída pelo governo, 150% de responsabilidade petista, tudo o que ocorreu tinha de ocorrer porque os gajos estavam no comando e manobraram as alavancas das políticas econômicas e sociais nesse exato sentido.
A HISTÓRIA NÃO OS ABSOLVERÁ!
Paulo Roberto de Almeida

Nem pessimismo, nem “terrorismo”, apenas realismo!

Ubiratan Jorge Iorio*


realidade-bemvindo

Fundamentos econômicos lamentavelmente destruídos. Do lado fiscal, agigantamento do Estado, aparelhamento partidário deste, gastos permanentemente crescentes estraçalhando as possibilidades de equilíbrio orçamentário que, mesmo sem nunca ter sido atingido, ao menos não era explosivo. Em maio, o maior déficit primário desde muitos anos; déficit nominal já ultrapassando os 4% do PIB. Na esfera cambial, abandono do regime de câmbio flutuante e consequente “administração” da taxa de câmbio mediante intervenções do Banco Central, mantendo o real sobrevalorizado em relação ao dólar (e ao Euro) para, repetindo um erro mais velho do que Matusalém, “controlar” a inflação de preços; contas externas em queda livre. Regime monetário também espicaçado: metas de inflação lenientes e mesmo assim descumpridas; inflação de preços efetiva, descontadas as pajelanças para engessá-la mediante represamento de tarifas, beirando os 8% ao ano, acima, portando, do limite superior da meta; falta de discernimento entre causa e efeito, para saber que inflação não é o crescimento dos preços, mas sim a emissão de moeda; crédito recentemente estimulado em tempos de alta dos índices de preços; taxa Selic apontando para o alto nos próximos meses, após cerca de seis anos de sucessivas baixas do Copom, movidas politicamente para “estimular” a economia. Política externa completamente escrava da ideologia, acordos danosos à nossa economia com parceiros que em pouco ou nada podem beneficiá-la; tarifas especiais contra produtos de parceiros comerciais tradicionais, como “castigo” por serem capitalistas; alinhamento com países do MERCOSUL e outros de economias praticamente rupestres, sem qualquer ganho para nosso país; afugentamento de investimentos externos, pelas restrições às liberdades e mudanças frequentes na política econômica.
Obstáculos à livre iniciativa e desestímulos a investimentos e à busca pela eficiência. Ações de empresas estatais despencando como resultado de operações danosas ao patrimônio dos acionistas (e dos pagadores de tributos). E nem quero escrever sobre a questão, endêmica, da corrupção. Quero me ater tão somente a esse quadro da economia. Um quadro preocupante, sem qualquer dúvida.
Tudo isso – e muito mais – não é invenção, ou picuinha entre economistas, ou simples oposição política ao governo, ou mera antipatia pelos que estão no poder. São fatos concretos, frios, indiscutíveis e irrefutáveis. Quando olhamos para o futuro, qualquer economista com formação razoável, seja “austríaco”, monetarista ou mesmo keynesiano, sabe o que eles significam.
A verdade é que temos uma bomba relógio, que vem sendo armada desde a metade do segundo mandato do governo anterior, quando, para enfrentar a crise internacional – que foi então diagnosticada como uma “marolinha” – se estimulou o crédito barato se reduziu a taxa Selic para “puxar” a demanda (e para vencer as eleições de 2010). Essa bomba está prestes a explodir. Nada de alarmismos, de previsões de fuga astronômica de capitais, de hiperinflação, de superdesemprego, de confiscos de poupança, de congelamentos de preços, de calotes do governo ou de caos generalizado. O economista que disser isso, ou pensa que tais fenômenos podem ser previstos com precisão (o que não é verdade) ou está querendo apavorar clientes potenciais para vender-lhes consultoria.
Mas, em respeito às leis da economia, sinto-me na obrigação de alertar que os minutos para que a bomba relógio exploda estão minguando e que, portanto, estamos nos aproximando de uma situação econômica muito difícil. Não sei se o artefato montado pela incompetência da equipe do atual governo vai explodir já, ou seja, ainda no mandato que expirará em 31 de dezembro, ou se vai estourar nas mãos do próximo presidente, seja ele quem for.
O quadro para o futuro, como já escrevi, embora não possa ser mensurado, já pode ser vislumbrado com certeza e resumido em uma palavra estagflação! Para quem não conhece o economês, isso significa simplesmente que os aumentos de preços vão se acelerar e o desemprego vai aumentar. Mas quanto, só Deus sabe…
Se a taxa de crescimento do PIB em 2014 chegar a 1%, já será muito, o mesmo se podendo dizer se a inflação anual de dezembro ficar abaixo dos 8%. A inadimplência vai aumentar, as vendas e o crédito vão sofrer baques, as contas externas vão se deteriorar mais, o Real vai se desvalorizar perante o dólar, as taxas de juros vão subir e a produtividade, bem como as taxas de poupança e investimentos, na melhor das hipóteses, não vão crescer. Provavelmente, cairão.
Relatórios recentes de bancos nacionais e estrangeiros apontam claramente para esses efeitos, embora, obviamente, tenham desagradado ao governo, que insiste em afirmar que tudo está sob o seu controle e que essas projeções não passam de “terrorismo eleitoral”.
Não se trata de terrorismo, nem de pessimismo, gente! É apenas realismo, resultante da aplicação da boa teoria econômica. Ninguém pode se sentir feliz escrevendo essas coisas que estou colocando neste artigo, porque são tristes. Mas a economia é uma ciência que, mesmo não sendo exata, possui leis que não podem ser atropeladas, porque cedo ou tarde a conta da incompetência terá que ser paga.
O próximo presidente terá uma tarefa árdua pela frente, sem qualquer dúvida. A casa está semidestruída e precisando de uma reforma completa. Realmente, é uma pena, mas nos últimos seis anos regredimos pelo menos uns vinte.

*Doutor em Economia, Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP)

domingo, 3 de agosto de 2014

Economia: a insuportavel desfacatez companheira na politica economica

Trecho de matéria do jornal O Globo sobre eventuais sucessores de Mantega no comando da economia num hipotético segundo mandato da competente economista que nos governa:

No caso de Tombini, há duas desvantagens: a dificuldade de arrumar um substituto e o fato de ele não ser ligado ao PT.
— O Tombini não é petista de carteirinha. Não vão dar a chave do cofre para alguém de fora do partido — justificou uma fonte da equipe econômica.

Read more: http://oglobo.globo.com/brasil/sucessao-de-mantega-detona-guerra-surda-no-entorno-de-dilma-13474309#ixzz39LbUb6aq

Pronto: companheiros podem ficar calmos. Vão manter a chave do cofre com algum dos seus.
Não é tranquilizador?
Parece uma dessas sociedades a responsabilidade limitada, com objetivos muito precisos.
Ou estou enganado?
Paulo Roberto de Almeida 

sábado, 26 de julho de 2014

A economia da Copa e a Copa (fracassada) da economia - Mario Mesquita

Sete lições da Copa para a economia
Por Mário Mesquita
Valor Econômico, 24/07/2014 
 
A derrota da seleção brasileira em Belo Horizonte vai demorar a ser esquecida, se é que será um dia, em especial por aqueles que lá estavam. Perder da Alemanha não foi uma vergonha, nem totalmente inesperado, mas a forma como isso ocorreu foi tão surpreendente quanto, sim, vergonhosa. Para não desperdiçar a experiência, cabe tentar extrair lições que, se não aliviam a frustração e tristeza, podem pelo menos conduzir a resultados melhores no futuro. No que segue vou tentar extrair sete (se me permitir a alusão ao algarismo) lições dessa derrota e aplicá-las ao tema que me cabe, a economia.
 
A primeira lição é que, assim como a tática e treinamento do time no período do torneio não compensam a má qualidade da safra de jogadores, não se deve esperar que a política econômica de curto prazo (fiscal, cambial e monetária) resolva problemas estruturais da economia, como a desaceleração da oferta de mão de obra, a redução do investimento e queda da produtividade total dos fatores de produção. Não devemos esperar demais dos "professores" no futebol, nem de ministros ou soluções milagreiras na economia.
 
A segunda é que, se não resolve, a política macroeconômica pode atrapalhar. Assim como a escolha de uma tática desastrosa, que deixou o meio de campo livre para a máquina alemã, atrapalhou, erros sequenciais no curto prazo, como vimos frequentemente na história brasileira, em especial no campo fiscal, atrapalharam, pois aumentaram a incerteza macroeconômica, reduziram a previsibilidade e inibiram o investimento.
 
 
A terceira lição é que o que talvez tenha funcionado no passado não necessariamente funciona no presente, seja porque a estrutura da economia é diferente ou porque o ambiente internacional mudou. A tentativa de incentivar setores industriais por meio da surrada combinação de protecionismo com crédito subsidiado, que remete aos anos 70 do século passado, hoje em dia se mostra tão anacrônica quanto algumas das táticas do selecionado nacional.
 
A quarta lição é que, assim como no futebol, em economia querer não é poder. Não foi por falta de vontade da equipe que levamos aquela surra, mas por um abismo entre essa vontade e as condições objetivas para alcançar a vitória. Da mesma forma, não foi por falta da chamada vontade política que não atingimos uma das metas-chave desse governo, qual seja a redução permanente das taxas de juros, mas por falta de condições para tal, sejam institucionais (falta de autonomia formal do BC, meta de inflação alta), conjunturais (políticas fiscais e parafiscais expansionistas), ou estruturais (uma complexa estrutura de crédito subsidiado que reduz a eficácia da política monetária), que levaram a Selic de volta ao território de dois dígitos que se queria abandonar.
 
A quinta lição é que estudar o exemplo bem sucedido dos outros países ajuda. Pode-se argumentar que a última boa partida da seleção em Copas do Mundo foi contra a Alemanha, na final de 2002, mesmo assim desde então nos recusamos a emular as melhores práticas do futebol. Da mesma forma, quando defrontados com os exemplos dos países da costa oeste, Colômbia, Peru e Chile, que têm conseguido crescer mais com inflação muito menor que a nossa, com políticas econômicas que ajudam o investimento, certas autoridades invariavelmente recorrem a argumentos depreciativos sobre as mesmas, ou ao tradicional "o Brasil é diferente".
 
A sexta lição é que o protecionismo gera complacência e inibe, em vez de ajudar, a competitividade. Vitórias sobre adversários fracos ou que eram fortes mas entraram em decadência, que caracterizaram a trajetória da seleção nos últimos anos, dizem muito pouco sobre a capacidade de se competir contra os melhores oponentes. O mesmo ocorre com as indústrias que florescem apenas enquanto estão sob o abrigo de um confortável escudo tarifário.
 
A sétima lição é que o primeiro passo para melhorar o desempenho, seja da economia brasileira ou da seleção, é reconhecer que houve problemas de diagnóstico ou implementação. Atribuir o aumento da inflação (mesmo com controles de preços), o aumento das taxas de juros (a primeira vez desde o início do regime de metas que um governo termina com a Selic acima do que recebeu), a desaceleração do crescimento, o aumento do deficit em conta corrente, a piora fiscal e o rebaixamento do crédito soberano exclusivamente à crise internacional ou a uma suposta má vontade do mercado, que por sinal tem índole governista, parece muito similar à atitude de atribuir a derrota de BH a uma pane temporária de uma equipe bem preparada.
 
Mas o saldo da Copa não é só negativo, em que pese o virtual rebaixamento da nossa seleção. Talvez as consequências mais positivas tenham sido a comprovação, para quem tinha dúvida, que mediante incentivos adequados o investimento privado em infraestrutura pode acontecer em ritmo e volume adequados - obviamente, se tivéssemos acertado o modelo mais cedo, teríamos tido menos obras inacabadas.
 
O segundo, mais intangível mas não menos importante, foi a provável melhora da imagem do país, e de suas principais cidades, perante o público e os investidores estrangeiros. Em particular Rio (que ofereceu na final da Copa uma bela propaganda do que podem vir a ser as Olimpíadas) e São Paulo ficaram mais cosmopolitas no últimos trinta dias e poderiam explorar essa dinâmica para alavancar o setor de hospitalidade e lazer, com alto potencial de geração de postos de trabalho.
 
Mário Mesquita, economista, é sócio do banco Brasil Plural. Foi diretor de Estudos Especiais e depois diretor de Política Econômica do Banco Central. Escreve quinzenalmente, às quintas-feiras.
  
 
© 2000 – 2014. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico. 
 
Leia mais em:
 

sábado, 12 de julho de 2014

Politica economica companheira: deu tudo errado - Eduardo Gianetti da Fonseca

Eduardo Giannetti da Fonseca
Folha de S. Paulo, 11/07/204

O passado não pode ser mudado --é lenha calcinada. O futuro será o que fizermos dele --é promessa de combustão. Daí que todas as nossas escolhas na vida prática, como ensina George Shackle, "se dão sempre entre pensamentos, pois será sempre tarde demais para escolher sobre os fatos".

O início formal da campanha convida a refletir sobre o caminho trilhado e as opções em jogo. Ao término do mandato, há duas formas básicas de se avaliar um governo.

A primeira é interna: o governo realizou o que se propôs a fazer? Trata-se de medir a gestão por sua própria régua: o hiato entre propósitos declarados e resultados obtidos. Já a avaliação externa questiona o teor da visão estratégica --ou a falta dela-- que norteou a ação do governo. O exame recai sobre o projeto perseguido: a pertinência dos valores e prioridades revelados pelas políticas implementadas.

Como o espaço é exíguo, atenho-me neste artigo a uma avaliação interna do governo Dilma na área de atuação em que o hiato entre o almejado e o obtido foi mais gritante --a economia.

Três grandes paradoxos marcam a atual gestão.

Dilma elegeu-se e governou sob o signo da aceleração do crescimento. Ultrapassado o impacto da crise global, a intenção era dar sequência à vigorosa recuperação de 2010 e superar os 4% de média anual dos governos Lula. Apesar de todo o empenho sincero --e em boa parte por causa dele, na medida em que a adoção de uma pletora de medidas "ad hoc" gerou grave incerteza sobre as regras da economia-- o resultado foi justamente o contrário do pretendido.

O governo Dilma encerra o mandato com a menor taxa de crescimento de toda a era republicana, excetuados os governos Floriano Peixoto e Collor. No acumulado de 2011 a 2014, nosso crescimento deverá ficar em 61% do verificado na América Latina.

O segundo paradoxo decorre do voluntarismo na política monetária. Movido pela intenção louvável de reduzir o custo dos investimentos, o governo Dilma fez da queda da taxa Selic sua grande bandeira. Só que em vez de criar condições reais para isso, forçou uma redução prematura e viu a inflação extrapolar o teto da meta.

Deu no que deu: o Brasil volta a ostentar a maior taxa de juros real planetária e a Selic deverá terminar o atual mandato acima do patamar inicial --fato inédito desde a adoção do regime de metas em 1999.

E, por fim, a joia da coroa. Um governo de claro perfil estatizante mas que, graças a barbeiragens e gambiarras em série, logrou a proeza de prejudicar seriamente nossas duas maiores estatais, Petrobras e Eletrobras, deprimindo seu valor patrimonial e tolhendo sua capacidade de investimento. Os resultados, outra vez, tripudiam das intenções. Obra de rara alquimia.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Politica comercial companheira: pequenos flagrantes de protecionismo comercial explicito

O Brasil desde muito deixou de ser um país competitivo, por diferentes motivos, mas poucos vinculados a eventual dumping de produtos importados.
A maior parte se deve mesmo a problemas internos, entre eles a taxação excessiva sobre a produção interna.
Constatado esse problema, o governo deveria atuar sobre as causas do chamado custo Brasil, certo?
Errado, segundo o governo. Os culpados são os produtos estrangeiros que entram aqui muito baratos.
Vejam vocês que, de forma coordenada, todos estes países estavam conspirando contra o Brasil, e suas empresas decidiram vender mais barato aqui do que produzem nos países de origem: Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes, EUA e México.
Eles são desleais, segundo o governo.
O governo então resolve punir os consumidores e os produtores brasileiros que importam insumos, aumentando o seu preço de entrada.
É o que se chama de protecionismo explícito.
Outro absurdo: óleo de mamona produzido pela agricultura familiar. Como sabemos, a agricultura familiar não tem estrutura para produzir uma commodity industrial, no máximo ela pode participar da oferta de alimentos em níveis locais. Como então se explica isto?:
"O órgão (Camex) explica que a alteração da alíquota no óleo de mamona tem como objetivo manter a renda do agricultor familiar que produz a semente e fortalecer a cadeia produtiva."
Mas quem colocou o agricultor familiar nessa situação foi o governo, obrigando a Petrobras a comprar óleo de mamona desse simpático personagem SEM QUALQUER ESTUDO TÉCNICO RELATIVO A CUSTOS, e obrigando o diesel normal a ter esse componente.
Mais uma vez, o governo adota medidas compulsórias sem qualquer atendimento a critérios de custos, preços de mercado, etc.
Inacreditável: o Brasil há muito deixou de ser um país capitalista para ser um sistema socialista, pois quem administra a economia é o governo, não o livre mercado.
Paulo Roberto de Almeida

Governo aumenta taxas de importação
O Globo, 5/07/2014

Eletrodomésticos, filtros cerâmicos, porcelanatos e vidros agora pagam mais

Para proteger o mercado interno de práticas desleais de comércio exterior, o governo decidiu elevar a alíquota do Imposto de Importação de quatro produtos. A Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, aprovou sobretaxas nas importações de vidros para eletrodomésticos, filtros cerâmicos refratários, porcelanatos e vidros planos.

Para vidros, a decisão atinge produtos originários da China usados para fazer prateleiras de geladeiras e freezers. A medida vale por cinco anos, com sobretaxas fixas que variam de US$ 2,74 a US$ 5,45 por metro quadrado de vidro importado, dependendo do fabricante. Segundo a Camex, a taxa foi aplicada em valor inferior ao apurado na investigação da prática de comércio desleal - o Dumping  - para "preservar a estabilidade de preços nas etapas seguintes da cadeia produtiva.

Para os filtros originários da China, usados na filtragem de metais líquidos para fundição, a medida valerá por cinco anos, com sobretaxa de US$ 6,06 por quilo importado para todos os produtores.

Também foi aprovada sobretaxa para importações de vidro plano, incolor, produzido pelo método de flotação, com espessuras de 2 mm a 19 mm, originárias de Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes, EUA e México. O produto é usado pela indústria automobilística, construção civil, setor moveleiro, no transporte rodoviário e em eletrodomésticos e eletrônicos. A sobretaxa varia de US$ 172,27 a tonelada a US$ 334,35.
A Camex decidiu ainda alterar a Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec) com o aumento de Imposto de Importação de seis itens. Essa lista permite que o governo modifique temporariamente a alíquota do imposto de importação para cem itens, até 31 de dezembro de 2015.

Para o óleo de mamona hidrogenado, a alíquota sobe de 10% para 20%; para os óleos de vaselina ou de parafina, passa de 4% para 20%; para bicarbonato de sódio, de 10% para 20%; para ácido ricinoleico, de 2% para 20%; para centros de usinagem, de 14% para 20%; e para redutores, multiplicadores, caixas de transmissão e variadores de velocidade, incluindo os conversores de torque, de 14% para 20%.

O órgão explica que a alteração da alíquota no óleo de mamona tem como objetivo manter a renda do agricultor familiar que produz a semente e fortalecer a cadeia produtiva.


Para incluir esses itens, a Camex retirou da lista de exceções: pêssego, que terá a alíquota reduzida de 55% para 35%; cimento, que estava com imposto reduzido a 0% e passa para 4%; pneus de bicicletas, de 35% para 16%; papel-moeda, que passa de 12% para 6%; porcelanato técnico, que estava com Imposto de Importação de 35% e volta para 12%; e instrumentos para demonstração em ensino e exposições, que estava com 2% de Imposto de Importação (Letec) e passa para 16%.

Um governo autista, que acha que o mundo esta' errado, so' ele esta' certo... - Mansueto Almeida

Existe alguma novidade econômica, ou de simples pensamento econômico, vindo do governo. O governo, ou a governanta, é autista, autossuficiente e satisfeito consigo mesmo.
Tem o contentamento dos beatos, dos simples, dos ingênuos, dos ignorantes...
Paulo Roberto de Almeida 

Os fundamentos econômicos estão ótimos? Brincadeira de mau gosto.

Só pode ser brincadeira. Hoje na Folha de São Paulo (clique aqui) ha uma matéria que diz que a presidenta Dilma busca um interlocutor na área econômica para acalmar o mercado. O que me impressionou foi a explicação de um ministro (que como sempre fala em off porque tem “convicção”) no final da matéria:  “Um ministro explica que a posição do governo será a de bater na tecla do presente, de que “os fundamentos do país estão ótimos” entre as principais economias do mundo: PIB, geração de emprego, reservas cambias e superávit.”
Isso só pode ser brincadeira e esse tipo de atitude serve apenas para piorar a falta de confiança do mercado no governo. Será que o governo teria coragem de falar o seguinte: “os fundamentos econômicos do Brasil estão ótimos e a desaceleração da economia é explicada, integralmente, pelos problemas do resto do mundo e pela incerteza em relação as eleições deste ano. A política econômica denominada de “Nova Matriz Econômica” será reforçada pelo governo do PT”.
Parece que não “caiu a ficha” do governo em relação ao desastre da “Nova Matriz Econômica”. Os jornais deveriam procurar os economistas ligados ao governo, como fizeram no aniversário do Plano Real, para “comemorar” o aniversário da Nova Matriz Econômica. O problema é que os economistas fogem da autoria da Nova Matriz Econômica como o diabo foge da cruz.
A verdade é que, com exceção do emprego, todos os indicadores econômicos pioraram nos últimos três anos. E o que causa preocupação no mercado é não saber se, em caso de reeleição, haverá de fato mudanças. Os nossos “fundamentos ótimos” são:
(i) A inflação consolidada perto do teto da meta de 6,5% e sem perspectiva que volte ao centro da meta;
(ii) O crescimento do PIB para este e o próximo ano na faixa de 1% a 1,5% e risco do baixo crescimento começar a afetar a taxa de desemprego já no segundo semestre deste ano;
(iii) Saldo da balança comercial piorou muito desde 2011 (passou de US$ 30 bilhões, em 2011, para US$ 2,6 bilhões em 2013) e déficit em conta corrente aumentou mais de 50% no mesmo período;
(iv) A participação dos básicos na pauta de exportação passou de 50% no primeiro semestre deste ano e o Brasil vem perdendo participação nas exportações mundiais desde 2011;
(v)  Os indicadores de confiança da FGV do comércio, serviços e industria estão todos em quedas consecutivas nos últimos quatro meses (seis meses no caso da industria). Índice de confiança da indústria está no seu menor nível desde maio de 2009,
(vi) O superávit primário, em 12 meses até maio, foi de  1,5% do PIB, queda de 50% em relação ao primeiro ano do governo atual (2011), quando foi de 3,1% do PIB. Se descontarmos as receitas extraordinárias de  novembro (leilão de libra e Refis), o primário em 12 meses até maio cai para 0,7% do PIB. Se descontarmos truques com restos a pagar, a conta de precatórios e sentenças judiciais que são tradicionalmente pagas em abril e neste ano foram postergadas para o final do ano, primário de 12 meses fica entre “zero” e 0,5% do PIB;
(vii) A taxa de juros Selic de 11% ao ano hoje é maior do que no início do governo Dilma quando era de 10,75% aa. Adicionalmente, a taxa de juros para pessoa física no segmento de crédito livre voltou para faixa de 42% ao ano -mesma taxa de 2011;
(viii) crescimento da despesa primária do governo federal em três anos de governo Dilma já foi de 1,5 pontos do PIB (ainda falta 2014), muito próximo aos oito anos de governo, quando foi de 1,7 pontos do PIB. A esse ritmo é certo que o governo aumentará a carga tributária ou a dívida. Neste ano até maio, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) já cresceu em 1 ponto do PIB e a tendência para os próximos anos, dada a política econômica atual, é de crescimento;
(ix) De acordo com dados do IBRE-FGV, a produtividade da economia (PTF) está estagnada nos últimos três anos e a produtividade do trabalho estagnada nos últimos dois anos;
 (x) Taxa de investimento na economia está estagnada nos últimos três anos, por volta de 18% do PIB em valores correntes ou de 20% do PIB a preços constantes do último ano. O que preocupa é um aumento tão forte do déficit em conta corrente – em mais de 50% em três anos- apesar da estabilidade da taxa de investimento; 
O que podemos falar em relação à tendência? A tendência é de os indicadores melhorarem? Não, com a política econômica e com a equipe econômica atual, da qual a presidenta faz parte ativamente, a tendência é piorar porque a despesa pública continua crescendo a um ritmo muito acima do crescimento da receita, o que significa queda do primário; não há perspectiva de forte crescimento das exportações do Brasil e, logo, o déficit em conta corrente pode até melhorar mas continuará perigosamente elevado; e com inflação próxima ao teto da meta e ainda com a perspectiva de reajuste dos preços dos combustíveis e tarifas de energia, a inflação continuará elevada neste e no próximo ano e, logo, as taxas de juros permanecerão elevadas.
Por fim,  os empresários não voltarão a investir enquanto não enxergarem de forma muito clara como o (novo) governo resolverá os problemas acima. É bom mesmo que o governo indique o grupo de economistas que está pensando a “novíssima matriz econômica”. O problema é que, mesmo as pessoas próximas ao governo hoje, já namoram com a ideia que o melhor é voltar ao passado e restabelecer o tripé macroeconômico e a retomada da agenda de reformas.