É o que se pode concluir da matéria abaixo do correspondente em Genebra. Ou seja, o Brasil quer o seu candidato na OMC, ou qualquer outro que defenda suas posturas antiliberalizantes, o que nao seria o caso dos dois outros latino-americanos, mais propensos a aceitar teses de abertura economica e de liberalizacao comercial.
Paulo Roberto de Almeida
Brasil veta acordo para apoiar candidatos na OMC
Em Santiago, País não se compromete nem com Costa Rica nem com México, caso Roberto Azevedo seja eliminado nas primeiras rodadas
JAMIL
CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Brasil não vai se comprometer a
apoiar um latino-americano para a direção da Organização Mundial do
Comércio (OMC) se o candidato brasileiro, Roberto Azevedo, for eliminado
do processo nas primeiras rodadas de votação.
No último fim
de semana, o Brasil vetou um acordo na Cúpula de Santiago que
estabelecia um compromisso da América Latina em apoiar um dos três
candidatos do continente para o cargo de diretor-gerente da OMC. Com o
veto, a negociação chegou a um impasse e nenhuma declaração foi
aprovada. Na prática, o Itamaraty não queria se comprometer com
candidatos que, na visão do governo, não defendem as posições do Brasil
no comércio internacional e têm visões contrárias ao projeto de trazer a
variação cambial para dentro da OMC.
A entidade deu ontem a
largada oficial para o processo de seleção do próximo diretor,
sabatinando cada um dos candidatos. Dos nove ministros e embaixadores
que estão na corrida, três são latino-americanos. Além de Azevedo, que
apresenta seu projeto amanhã, concorrem Anabel Gonzalez, da Costa Rica, e
o mexicano Hermínio Blanco.
Em Santiago, o governo do Chile
e dos dois países com candidatos na região apoiaram uma declaração
estabelecendo que todo o continente se uniria para apoiar um nome único,
caso os demais fossem eliminados nas primeiras fases de votação. Anabel
deixou claro que seu país vai "explorar" a ideia de apoiar um nome da
região, caso ela fosse eliminada e Blanco já indicou que seguiria o
mesmo caminho.
O Brasil apresentou uma contraproposta
sugerindo que a região se unisse para apoiar um candidato da América
Latina ou da África. "Por que não incluir então a Ásia…", ironizou um
embaixador centro-americano.
Antes mesmo de anunciar seu
candidato, o Brasil deixou claro que apresentaria um nome se
considerasse que não havia na corrida nenhum representante que
defendesse seus interesses. A presença de Costa Rica e México, países
vistos como pró-liberalizantes, não atenderia aos interesses do Brasil.
Divergências.
Ficou claro ontem que a candidata da Costa Rica não apoia a ideia do
ministro da Fazenda, Guido Mantega, de criar mecanismos e barreiras para
compensar a valorização cambial, uma proposta que o Brasil insiste em
apresentar na OMC.
Se eleita, ela garantiu que estaria
disposta a tratar de temas como segurança alimentar, investimentos e
outros assuntos. "Não há tema tabu", declarou. Mas admitiu que na
questão do câmbio resistiria. "Eu seria cautelosa. Não podemos ter
soluções cambiais para problemas que são de origem financeira."
Há uma semana, o mexicano fez declaração parecida.
Fora
da região, o candidato de Gana, Alan Kyerematen, deixou claro que
espera um diálogo com o Brasil, justamente para tentar acertar um apoio
mútuo, caso um deles seja desclassificado nas primeiras rodadas de
votação. "Temos muito em comum entre África e Brasil."
Já a
candidata da Indonésia, Mari Pangestu, rejeitou a tese de que essa seria
a vez da América Latina ou da África em liderar a entidade, respeitando
uma rotação entre as regiões. "O diretor deve ser escolhido pelo
mérito."
Apesar das condições impostas pelo Brasil na Cúpula de Santiago, tem chamado a atenção na OMC a ausência da presidente Dilma Rousseff
no apoio ao candidato brasileiro. No caso dos diversos concorrentes,
foram os chefes de Estado que anunciaram as candidaturas e, em casos
como na África, presidentes defenderam publicamente seus candidatos. O
comunicado de imprensa em dezembro anunciando a candidatura de Azevedo
não foi emitido pelo Planalto e, no Fórum Econômico de Davos, parte do Itamaraty deixou claro que não estava lá para trabalhar pelo candidato.