Um trecho da matéria:
"Dois dos quatro presidentes eleitos anteriormente no Brasil sofreram impeachment porque, como afirmou Fernando Henrique Cardoso, “não foram mais capazes de governar”."
Pode-se acrescentar que dois dos que não foram objeto de impeachment, foram parar na cadeia, um deles trancafiado por muitos anos, por chefe de quadrilha e ladrão maior do Brasil em toda a história do país.
Como diria um grande compositor, amigo do presidente condenado:
"A coisa aqui tá preta..." (sem qualquer racismo, claro...).
Paulo Roberto de Almeida
The Economist: Jair Bolsonaro, o presidente aprendiz
do Brasil
A menos que ele pare de provocar e aprenda a governar,
o seu mandato no Palácio do Planalto pode ser curto
The
Economist, O Estado de S.Paulo
28 de março de 2019 | 20h56
Uma das principais razões pelas quais Jair
Bolsonaro venceu a eleição presidencial no ano passado foi o fato de prometer movimentar
de novo a economia depois de quatro anos de recessão. Ao nomear Paulo
Guedes, um defensor do livre
mercado, como seu superministro da Economia, ele conquistou o apoio do mundo
empresarial e financeiro. Muitos imaginavam que a chegada de Bolsonaro à Presidência por
si só traria nova vida para a economia. Mas, depois de três meses, ela continua
moribunda como sempre. Os investidores começam a perceber que Guedes tem uma
árdua tarefa de conseguir aprovar no Congresso a reforma da Previdência, crucial para a saúde fiscal do Brasil. E
o próprio Bolsonaro não vem colaborando.
Jair Bolsonaro, presidente da República
Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO
O déficit
fiscal de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) tem um enorme peso sobre a economia, significando que
os juros para os tomadores de empréstimo privados serão mais altos do que
seriam do contrário. As pensões respondem por um terço do total das despesas
públicas e são uma das razões pelas quais o Estado gasta pouco na
infraestrutura fragilizada. O projeto de reforma do governo enviado ao
Congresso no mês passado estabelece uma idade mínima para a aposentadoria,
eleva as contribuições e preenche lacunas, com uma previsão de economias de R$
1,2 trilhão durante dez anos. O déficit da Previdência foi de R$ 241 bilhões no
ano passado. A reforma da Previdência, por si só, não fará com que o Brasil
retome um crescimento econômico robusto. Serão necessárias reformas fiscais e
outras medidas para aumentar a competitividade. Mas ela se tornou um objeto
sagrado.
Bolsonaro está numa situação privilegiada porque,
depois de dois anos de debate público e político, a reforma da Previdência hoje
é menos impopular do que antes. Mas não é necessariamente uma proposta que
conquista votos. E Bolsonaro não faz campanha para isso. “Toda a discussão
sobre a reforma da Previdência é algo que os brasileiros gostariam de não ter”,
afirma Monica de Bolle, economista brasileira do Peterson Institute for Internacional Economics.
A aprovação, assim, exige liderança do topo. Que está
ausente. Em sua campanha, Bolsonaro denunciou a “velha política” corrupta do
“toma lá, dá cá” no Congresso. Mas ele não possui uma estratégia alternativa
para controlar o Legislativo. Entrou desnecessariamente em confronto com alguns
aliados, incluindo Rodrigo Maia, o
poderoso presidente da Câmara. O padrasto da mulher de Maia, Wellington
Moreira Franco,
um ex-ministro, foi preso em 21 de março junto com o ex-presidente Michel Temer, por
suspeitas de suborno, o que ambos negam. O que levou a comentários feitos pelos filhos de
Bolsonaro, que são assessores próximos do presidente, e que Maia considerou
como um ataque pessoal. Sua resposta foi que ele não marcaria votações sobre a reforma da Previdência para um governo que
chamou de “deserto de ideias”. As autoridades esta semana tentaram apaziguar Maia.
Mas a reforma da Previdência deve sofrer atrasos e diluição.
O grande problema é que Bolsonaro ainda tem de mostrar
que entende a sua nova função. Ele dissipou capital político, por
exemplo, exortando as Forças Armadas a comemorarem o aniversário em 31 de março
do golpe militar de 1964.
Seu governo é de uma “confusão monumental”, afirmou Claudio Couto,
da Fundação Getúlio Vargas (FGV). À parte a sua equipe econômica, seu governo é uma
coleção de generais aposentados, políticos de médio escalão, protestantes
evangélicos, um filósofo antes obscuro chamado Olavo
de Carvalho.
“Ninguém sabe para onde ele vai, qual o curso que está tomando”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Ele avança, depois recua, o tempo todo.”
Se o governo tem um elemento-chave, trata-se do general Hamilton Mourão, o vice-presidente, que tem tentado impor alguma
disciplina política. Mas, com frequência, entra em atrito com a família
Bolsonaro. Olavo de Carvalho o chamou de “idiota” e afirmou que, se as coisas
continuarem como estão por mais seis meses, “tudo estará acabado”.
Embora de modo diferente, outros começam a pensar o
mesmo. E ainda por cima, estão surgindo evidências de que a família Bolsonaro
está ligada a membros de um grupo criminoso de ex-policiais do Rio de Janeiro
acusado do assassinato da ativista Marielle
Franco, o que eles negam.
Dois
dos quatro presidentes eleitos anteriormente no Brasil sofreram impeachment
porque, como afirmou Fernando Henrique Cardoso, “não foram mais capazes de
governar”. Por mais que odeiem Bolsonaro, os democratas não devem desejar que
ele não chegue ao fim do seu mandato. Ainda é o início. Mas sua Presidência já
enfrenta um teste crucial. “Temos duas alternativas”, disse seu porta-voz esta
semana. “Aprovar a reforma da Previdência ou afundarmos num poço sem fundo.” Se
o seu chefe pelo menos fosse assim claro.
Tradução: Terezinha Martino