Recessões no Brasil: separando os choques externos de internos
Nem todas as recessões se parecem, e cabe separar aquelas derivadas de choques externos.
Deixo de lado a de 1908, bastante severa, pois tenho de fazer ainda algumas investigações históricas.
Vou direto para a “mãe de todas as crises”, a de 1929, que nos afetou em 1930-31, mas da qual nos recuperamos rapidamente, com algumas medidas “keynesianas avant la lettre”, ou seja, sem qualquer teorização ou instrução do mestre de Cambridge, que ainda estava tentando se recuperar das suas especulações em Bolsa, depois de queda de 1929.
Não foi culpa nossa, obviamente, e aproveitamos para avançar no processo de substituição de importações. Houve uma queda em plena Segunda Guerra, o que é absolutamente normal.
A próxima, a de 1981, resulta diretamente do segundo choque do petróleo, em 1979 (e não tínhamos feito o dever de casa no primeiro choque), mas mais exatamente do aumento dos juros americanos no mesmo momento, pelo presidente do Fed, Paul Volcker. O Brasil não conseguiu mais pagar os juros da dívida, que triplicaram, e teve de apelar a empréstimos-ponte dos banqueiros comerciais, e o fez pela recorrente negociação de acordos de créditos stand-by do FMI, nenhum deles implementado corretamente ou completamente, pois nunca cumprimos as condições.
Nossa decadência econômica começou aí mesmo, pois NUNCA mais conseguimos crescer a taxas vigorosas e sustentadas.
A crise de 1990 deriva tanto do Plano Collor, que sequestrou poupanças e congelou a economia, como da hiperinflação deixada por Sarney: quando este passou o poder a Collor, a inflação rodava a a80% ao mês.
A dupla crise de 2015-16, essa sim, NÃO TEM NADA a ver com choques externos ou hiperinflacionários, mas sim deriva inteiramente da INCOMPETÊNCIA economica de Dona Dilma e seus meninos amestrados, que produziu a mais grave recessão de nossa história feita inteiramente no país: no total, um déficit orçamentário que chegou a 10% do PIB, um decréscimo no PIB de 8% no total e de 10% no PIB per capita, que deixou 12 milhões de desempregados, e a mais violenta confusão nas contas públicas do Brasil.
A que se anuncia agora, inédita sob qualquer critério, foi produzida pela pandemia, mas ocorre no contexto de um país com baixo crescimento, déficits elevados sem solução na presente conjuntura, desemprego em elevação, e sem perspectivas no futuro imediato.
Paulo Roberto de Almeida
Leitor de história econômica
Brasília, 14 de abril de 2020