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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Ameaças de Trump: "Coisa de mafiosos"- Editorial Estadão

 Editorial Estadão, 10/07/2025


Coisa de mafiosos

Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia

O presidente americano, Donald Trump, enviou carta ao presidente Lula da Silva para informar que pretende impor tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Da confusão de exclamações, frases desconexas e argumentos esquizofrênicos na mensagem, depreende-se que Trump decidiu castigar o Brasil em razão dos processos movidos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e também por causa de ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas que administram redes sociais tidas pelo STF como abrigos de golpistas. Trump, ademais, alega que o Brasil tem superávit comercial com os EUA e, portanto, prejudica os interesses americanos.

Não há outra conclusão a se tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos. Trump usa a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências.

Antes de mais nada, os EUA têm um robusto superávit comercial com o Brasil. Ou seja, Trump mentiu descaradamente na carta para justificar a medida drástica. Ademais, Trump pretende interferir diretamente nas decisões do Judiciário brasileiro, sobre o qual o governo federal, destinatário das ameaças, não tem nenhum poder. Talvez o presidente dos EUA, que está sendo bem-sucedido no desmonte dos freios e contrapesos da república americana, imagine que no Brasil o presidente também possa fazer o que bem entende em relação a processos judiciais.

Ao exigir que o governo brasileiro atue para interromper as ações contra Jair Bolsonaro, usando para isso a ameaça de retaliações comerciais gravíssimas, Trump imiscui-se de forma ultrajante em assuntos internos do Brasil. É verdade que Trump não tem o menor respeito pelas liturgias e rituais das relações entre Estados, mas mesmo para seus padrões a carta endereçada ao governo brasileiro passou de todos os limites.

A reação inicial de Lula foi correta. Em postagem nas redes sociais, o presidente lembrou que o Brasil é um país soberano, que os Poderes são independentes e que os processos contra os golpistas são de inteira responsabilidade do Judiciário. E, também corretamente, informou que qualquer elevação de tarifa por parte dos EUA será seguida de elevação de tarifa brasileira, conforme o princípio da reciprocidade.

Esse espantoso episódio serve para demonstrar, como se ainda houvesse alguma dúvida, o caráter absolutamente daninho do trumpismo e, por tabela, do bolsonarismo. Para esses movimentos, os interesses dos EUA e do Brasil são confundidos com os interesses particulares de Trump e de Bolsonaro. Não se trata de “América em primeiro lugar” nem de “Brasil acima de tudo”, e sim dos caprichos e das ambições pessoais desses irresponsáveis.

Diante disso, é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o Maga (Make America Great Again), e cumprimentou o presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro.

Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira. Caso Trump leve adiante sua ameaça, Tarcísio e outros políticos embevecidos com o presidente americano terão dificuldade para se explicar com os setores produtivos afetados.

Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral. Pode até ser que Trump não leve adiante suas ameaças, como tem feito com outros países, e que tudo não passe de encenação, como lhe é característico, mas o caso serve para confirmar a natureza destrutiva desses dejetos da democracia.

Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia.

https://www.estadao.com.br/opiniao/coisa-de-mafiosos/

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Inicia-se o boicote a produtos brasileiros: marcas de luxo suspendem compras

Como diria um filósofo, "as consequências sempre veem depois..."
Alguns jornalistas me perguntam se eu acho que o presidente tem alguma estratégia, por trás de suas tomadas de posição, sempre contudentes.
Eu digo que não, que por vários outros motivos, eu penso que o presidente não tem estratégia nenhuma, simplesmente porque o homem não pensa, ponto.
Ele é pura reação: possui instintos primitivos, e deixa esses instintos florescer impunemente (ou com prejuízos para terceiros, como estamos vendo agora).
Ou seja, não há NENHUMA ESTRATÉGIA, porque é impossível para um indivíduo de tão baixa reflexão, conhecimento ou ponderação pensar qualquer coisa de forma ordenada. É só confusão.
Ou seja, ele tem "estilo", se essa nobre palavra pode ser usada: uma atitude agressiva, confrontacionista, sempre atacando supostos inimigos, se contentando com sua família, seu clã, sua tribo, seus asseclas, e seus seguidores, a maior parte tão desmiolados quanto ele. Ao manter essa atitude de ataque, de desrespeito, de choque, ele acha que vai manter unida a sua base e continuar gozando da onda de apoio que teve para se eleger.
Como ele não pensa, não se deu conta que a sociedade já o rejeitou.
Ou ele é contido por generais mais inteligentes, ou por uma junta médica que o declare insano, ou do contrário ele vai continuar acirrando o cenário político no Brasil até ser expelido para fora de onde nunca deveria ter estado, ou entrado.
Infelizmente, para todos nós, ele será meio contido, e assim vamos nos arrastar penosamente em direção a 2022, com prejuízos para todo o Brasil e os brasileiros.
Enfim, nada que os argentino (e alguns outros povos) já não tenham conhecido.
Decadência não é só um conceito para elegantes digressões acadêmicas.
Se os brasileiros ainda não perceberam que o Brasil está decadente, num estado pré-falimentar, é melhor acordar agora. Sejam bem-vindos à realidade.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de agosto de 2019

Reação a Bolsonaro: mais de 18 marcas, como Timberland, Vans e Kipling, suspendem compra de couro brasileiro

Marcas internacionais como Timberland, Vans e Kipling suspenderam a compra de couro brasileiro. A decisão das marcas é uma reação à devastação da Amazônia promovida pelo agronegócio com incentivo de Jair Bolsonaro. Não se sabe ainda o prejuízo que a decisão acarretará nos negócios do setor, mas a repercussão da decisão de grifes globais representa mais um duro golpe no governo Bolsonaro em todo o mundo

(Foto: Retuters | Reprodução)
Marcas internacionais como Timberland, Vans e Kipling suspenderam a compra de couro brasileiro.  A decisão das marcas é uma reação à devastação da Amazônia promovida pelo agronegócio com incentivo de Jair Bolsonaro.
Não se sabe ainda o prejuízo que a decisão acarretará nos negócios do setor, mas a repercussão da decisão de grifes globais representa mais um duro golpe no governo Bolsonaro em todo o mundo.
"Recentemente, recebemos com muita preocupação o comunicado de suspensão de compras de couros a partir do Brasil de alguns dos principais importadores mundiais. Este cancelamento foi justificado em função de notícias relacionando queimadas na região amazônica ao agronegócio do país", disse o presidente da CICB, José Fernando Bello, no documento enviado pela entidade ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Brasil-EUA: retaliacoes comerciais no caso do algodao; seria um tiro nope'?

Minha opinião sobre a matéria, abaixo:
O governo prepara essas retaliações comerciais, patentárias ou financeiras, contra firmas, produtos ou serviços dos EUA, devidamente autorizado pela OMC.
Mas vejamos um pouco, se realmente é factível o caminho adotado, e se interessa ao Brasil e aos brasileiros as formas e áreas cogitadas para essas medidas.
Elevação de tarifas sobre produtos: mas quem paga a tarifa? Obviamente o importador, e em última instância, o consumidor, ou seja, o produto fica mais caro no mercado brasileiro, mas o exportador americano vai continuar a receber exatamente o mesmo valor pelo produto fornecido, seja a tarifa de 10, 20, ou 100%, o que é uma decisão de cada governo, independente de retaliações, desde que esse aumento seja possível (e nesse caso, pode ser). Se o produto ficar mais caro do que concorrentes ou substitutos, ele não terá compradores, e portanto não haverá importação ou renda tarifária ampliada. Se não houver substituto, a demanda diminuirá, e a renda tarifária também.
Quebra de patentes: como existe um Código patentário, terá de haver uma novo ato legal discriminando produtos ou serviços protegidos, de residentes americanos, a serem objeto de licenciamento compulsório. Mas o que significa isso? O governo precisaria desenvolver ele mesmo os objetos protegidos pela patente ou copyright e pagar royalties a si mesmo, ou então ter empresas privadas (nacionais ou estrangeiras) que o façam, ficando com todo o lucro, sem pagar royalties, portanto. Ou ainda: desviar royalties atualmente pagos a firmas americanas para o Tesouro brasileiro. Duvidoso que seja factível, possível ou legalmente sustentável. Haveria processos na Justiça brasileira e pendências internacionais, o que prometeria um imbroglio enorme, de consequências imprevisíveis. Dificilmente se recolheria um valor significativo, e o custo, burocrático, administrativo, legal, seria enorme. Duvido que seja realmente operacional, e na verdade seria uma enorme dor de cabeça.
Bloqueio de remessas de pagamentos devidos: como no caso anterior, se teria de modificar a legislação para efetivar esse sequestro discriminatório e seletivo de pagamentos devidos. Haveria processos contra as medidas, pois as vítimas não têm nada a ver com os subsídios ao algodão do governo americano a exportadores americanos. Espectadores de filmes americanos teriam um bilhete de ingresso três ou quatro vezes mais caros do que um filme europeu ou brasileiro? Ridículo e dificilmente operacional, ou justificado legalmente.
O que sobra então?: apenas projetos governamentais, como compra de aviões militares por exemplo. Mas isso o governo brasileiro já faz. Observe que isso tira um negócio de uma empresas privada americana, e pode privar o Brasil de um produto melhor e mais barato do que terceiros concorrentes, e a fatura sai mais cara por um produto inferior em qualidade. Interessante para o Brasil? Dificilmente.
Portanto, pense três vezes antes de aplicar retaliações.
Paulo Roberto de Almeida 


Brasil prepara retaliação inédita de US$ 829 milhões aos EUA
Contra subsídios ao algodão, país pode agir em propriedade intelectual
ELIANE OLIVEIRA
CRISTIANE BONFANTI
O Globo, 26/01/2014

BRASÍLIA— Irritado com a pouca disposição dos Estados Unidos para chegar a um acordo que compense os subsídios ilegais concedidos aos exportadores americanos de algodão, o Brasil já se prepara para retaliar comercialmente os EUA em US$ 829 milhões. O primeiro passo será dado em meados do próximo mês. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevará, em até 100%, o Imposto de Importação de uma lista de pouco mais de cem itens oriundos daquele país. Entre esses artigos, destacam-se paracetamol — utilizado na indústria farmacêutica —, produtos de beleza, leitores de código de barras, fones de ouvido, óculos de sol, automóveis, cerejas e até batatas.
O segundo passo, que ainda se encontra em análise na área do governo, será em relação à propriedade intelectual. Está prevista a quebra de patentes de uma série de medicamentos, sementes, defensivos agrícolas e até mesmo obras literárias, musicais e audiovisuais, como os filmes produzidos em Hollywood. Nesse caso, o governo deverá optar pela simples taxação ou o bloqueio temporário de remessas de dividendos e royalties.
Pagamento suspenso
Na próxima sexta-feira, termina o prazo de consultas dado pelo governo ao setor produtivo brasileiro sobre que medidas poderão ser adotadas pelo Brasil, que poderá se tornar o primeiro país a impor uma retaliação comercial aos EUA. O valor da compensação foi autorizado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2010, após a entidade condenar os subsídios ao algodão dados pelo Tesouro americano.
— Os EUA não parecem preocupados em chegar a um entendimento — disse uma fonte.
O motivo da retaliação é que os EUA não cumpriram um acordo, firmado assim que saiu a autorização da OMC, que prevê, entre outras coisas, repasses mensais de US$ 147,3 milhões aos produtores de algodão do Brasil. O pagamento não é feito desde o fim do ano passado.
Está praticamente certa a retaliação comercial, a não ser que surja, como fato novo, uma contraproposta americana. Porém, na área de direitos autorais, o governo ainda está dividido. Há uma corrente, que inclui o Ministério da Agricultura, que defende uma posição dura e taxativa com os EUA. O órgão conta com o apoio dos produtores de algodão e da bancada ruralista no Congresso Nacional.