Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Uma matéria que me escapou completamente na época, do jornalista João Fellet, da BBC Brasil, elaborada em 10 de janeiro de 2019, ou seja, logo no início do governo Bolsonaro, da qual só tomei conhecimento agora, em 20/02/2020, ou seja, mais de um ano depois. A maior parte continua com o capitão, mas Vélez já não é mais ministro, o Robespirralho foi encolhido e Alexandre Frota e Joice Hasseman já romperam com a tropa bolsonarista, alinhando-se agora entre seus piores inimigos. João Fellet - @joaofellet Da BBC News Brasil em São Paulo, 10 janeiro 2019 URL: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46802265
Quem são os discípulos de Olavo de Carvalho que chegaram ao governo e Congresso
João Fellet - @joaofelletDa BBC News Brasil em São Paulo
10/01/2019
"Vivi para ver um filósofo indicar mais gente para o governo do que o PMDB" – a frase, dita à BBC News Brasil pelo cineasta Josias Teófilo, expõe a empolgação de admiradores do escritor Olavo de Carvalho com a nomeação de vários de seus discípulos para cargos na gestão Jair Bolsonaro.
"Quem diria que um monarquista se tornaria um dos homens mais influentes da República", completa Teófilo citando o regime político defendido pelo escritor - personagem do documentário O Jardim das Aflições, que ele dirigiu em 2016.
A BBC News Brasil listou os discípulos de Olavo que já exercem ou exercerão cargos no governo federal e no Congresso a partir deste ano (confira a relação abaixo). São, todos eles, alunos ou amigos do filósofo, a quem consideram um mestre intelectual e figura-chave em sua formação política.
Há "olavetes" - como ele próprio já se referiu aos seguidores - com postos no Palácio do Planalto e em três ministérios: Educação, Relações Exteriores e Economia. Em 2017, o filósofo teve uma aluna – a carioca Ludmila Lins Grilo – nomeada juíza substituta em Botelhos, no Tribunal de Justiça de Minas Gerais
A influência de Olavo na montagem do governo supera a da bancada evangélica, cujo eleitorado foi crucial na vitória de Bolsonaro mas recebeu um único ministério (Mulher, Família e Direitos Humanos). A ascendência do escritor sobre o governo só se compara à do setor ruralista (que comanda o ministério da Agricultura e deu aval à escolha do ministro do Meio Ambiente) e à da ala militar, responsável por quatro pastas (Defesa, Segurança Institucional, Secretaria de Governo e Infraestrutura).
Na Câmara dos Deputados, Olavo terá cinco seguidores – presença discreta, mas que poderá crescer caso o PSL, partido de Bolsonaro, tire do papel os planos de levar seus 52 deputados eleitos aos EUA para um curso com o escritor nas próximas semanas.
Esoterismo islâmico e astrologia
Radicado nos EUA desde 2005, Olavo, hoje com 71 anos, se popularizou ao criticar a esquerda e defender posições conservadoras em livros e nas mídias sociais nas últimas décadas, o apogeu de uma carreira cheia de guinadas.
Sem jamais ter se formado na universidade, criou um Curso Online de Filosofia (COF) pelo qual, segundo ele, já passaram 12 mil alunos, alguns dos quais chegam agora ao poder. Nos anos 1970 e 1980, antes de se projetar no debate político, Olavo foi membro de uma tariqa (ordem mística muçulmana) e trabalhou como astrólogo em São Paulo.
Hoje se define como católico, assim como seu núcleo principal de seguidores – embora critique com frequência o papa Francisco, que já chamou de "lelé da cuca" por seus acenos a pautas progressistas.
Foro de São Paulo
Uma das visões de Olavo mais disseminadas entre a chamada "nova direita" brasileira trata do poder do Foro de São Paulo, conferência criada em 1990 pelo PT para debater os rumos da esquerda latino-americana e que, segundo o escritor, deu ao partido o "comando estratégico da revolução comunista" no continente.
O filósofo também foi um dos primeiros a disseminar a opinião, encampada pelo governo Bolsonaro, de que a esquerda exerce há décadas o controle da imprensa e do ensino brasileiro – estratégia que, segundo ele, segue o ideário do marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937).
As duas posições são contestadas entre muitos acadêmicos, que apontam a onda de vitórias eleitorais da direita na América Latina como um sinal de que o Foro de São Paulo nunca teve tanta influência, e avaliam que parte da imprensa e da academia no Brasil sempre encampou valores conservadores.
Aproximação com a família Bolsonaro
Em entrevista à BBC News Brasil em 2016, Olavo afirmou que, para combater a expansão da esquerda no país, a direita deveria se concentrar em ocupar espaços não no Estado, mas "na igreja, nas escolas, nas sociedades de amigos do bairro, no clube".
Na campanha de 2018, porém, apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro e endossou pupilos que concorriam a cargos eletivos. Em retribuição, no primeiro vídeo que gravou após se eleger presidente, Bolsonaro exibiu o bestseller O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, coletânea de artigos de Olavo organizada pelo jornalista Felipe Moura Brasil.
O escritor já vinha se aproximando da família do presidente. Há dois anos, recebeu em sua casa a visita de Eduardo e Flávio Bolsonaro, respectivamente eleitos deputado federal e senador em 2018.
Confira abaixo relação de discípulos de Olavo recentemente nomeados ou eleitos para cargos no Executivo e Legislativo.
GOVERNO FEDERAL
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores
Indicado por Carvalho para o posto, ocupava até então a chefia do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do ministério. Aos 51 anos, é um dos mais jovens chanceleres da história do país.
Em artigo na revista The New Criterion, Araújo diz que Olavo "talvez tenha sido a primeira pessoa no mundo a ver o globalismo como um resultado da globalização, a entender seus propósitos horríveis e a começar a pensar sobre como derrubá-lo". Após a posse do chanceler, Olavo disse que o discurso do discípulo – que misturou citações em grego e tupi a menções a Raul Seixas e à banda Legião Urbana – "tem, desde já, um lugar garantido em qualquer antologia séria dos grandes discursos brasileiros".
Filipe Martins, assessor da Presidência para Assuntos Internacionais
É considerado por Olavo um dos seus alunos mais brilhantes. Aos 31 anos, desempenhará papel equivalente ao que o professor Marco Aurélio Garcia (1941-2017) tinha nos governos Lula e Dilma.
Nascido em Sorocaba (SP) e formado em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), é diretor de assuntos internacionais do PSL. Para ele, "não é possível compreender o nascimento (ou renascimento) do conservadorismo brasileiro, ou a ascensão do antipetismo, sem considerar o impacto" da obra de Olavo.
Ele costuma comparar o mestre a um hápax legómenon (expressão de origem grega que designa palavras ou ideogramas que aparecem uma única vez na literatura de um determinado idioma), "um personagem tão singular no contexto cultural em que está inserido que acaba por se tornar indecifrável para seus pares".
Ricardo Vélez Rodriguez, ministro da Educação
Também indicado por Olavo para o posto, nasceu na Colômbia há 75 anos. Segundo o filósofo, Vélez é, "no mundo, a pessoa que mais entende de pensamento político-social brasileiro". Foi membro do Instituto Brasileiro de Filosofia, fundado pelo jurista e filósofo Miguel Reale, e é considerado por Carvalho um dos maiores pensadores da história do Brasil.
Escreveu livros sobre assuntos diversos, como o conflito armado na Colômbia, o governo Lula e a obra do economista John Maynard Keynes. Antes da nomeação, Vélez vivia em Londrina (PR) e dava aulas na Faculdade Positivo. No discurso de posse, disse que sua gestão se inspirará "em dois grandes educadores", Olavo de Carvalho e Antonio Paim. "Deles emergem a inspiração liberal e conservadora de nossas propostas educacionais."
Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização do Ministério da Educação (MEC)
Também aluno do Curso Online de Filosofia (COF) de Carvalho, Nadalim era até a nomeação coordenador pedagógico da escola infantil Mundo do Balão Mágico, em Londrina (PR), e mantinha um blog com dicas sobre a educação infantil.
Em 2015, Olavo escreveu no Facebook que Nadalim havia feito mais pela educação brasileira "do que todos os iluminados do MEC juntos" ao desenvolver um método para alfabetizar crianças em casa. Nadalim diz que as técnicas já foram usadas por 2.758 pais e mães.
Murilo Resende Ferreira, diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) do MEC
Aluno de Carvalho desde 2009, a quem se refere como "meu grande professor", é doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e integra o movimento Escola Sem Partido. No MEC, supervisionará a elaboração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Em audiência pública em 2016, Ferreira disse que educação brasileira vive sob uma "ditadura marxista", na qual crianças são expostas a teorias que promovem o incesto e a pedofilia. Foi membro do MBL (Movimento Brasil Livre), mas deixou o grupo após divergências.
Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia
Ex-pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e doutor em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), tornou-se aluno de Olavo há 14 anos. "Foi como encontrar a luz em meio às trevas", ele relatou no Facebook.
Em 2016, Olavo e Sachsida gravaram um vídeo em que comentaram temas como a "doutrinação ideológica" nas escolas e riscos que eles atribuíam à presença de muçulmanos na "onda migratória na Europa e no Brasil".
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Bia Kicis (PRP-DF), deputada federal eleita
Eleita pela primeira vez em 2018, é procuradora aposentada e se refere a Olavo como "nosso querido Mestre". Para ela, o filósofo "é um grande Pai de muitos brasileiros, que despertaram por meio de seu conhecimento e de sua generosidade".
Durante a campanha, Olavo gravou um vídeo dizendo que, caso fosse eleitor do Distrito Federal, votaria em Kicis, que também frequentou seu Curso Online de Filosofia (COF). Ela ganhou projeção entre a "nova direita" ao militar nos últimos anos em movimentos contra o PT e pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Joice Hasselmann (PSL-SP), deputada federal eleita
Jornalista, Joice teve sua candidatura apoiada publicamente por Olavo e foi a mulher mais votada da história na eleição para a Câmara. "Vou apoiá-la até a morte, ela é antimídia, condensa em si a verdade do jornalismo brasileiro, que foi sufocada por todos esses bandidos ao longo de várias décadas", afirmou o filósofo.
Joice agradeceu o endosso, definindo Olavo como um "parceiro, leal, amigo, protetor, além de um GÊNIO". "Você conhece meu coração e sabe que não vamos te decepcionar!", afirmou.
Paulo Martins (PSC-PR), deputado federal eleito
Também jornalista, foi eleito em 2018 ao concorrer pela segunda vez para a Câmara. É aluno de Olavo, que ele considera "o grande responsável pelo início da reação cultural do Brasil".
Quando era comentarista do Jornal da Massa, transmitido pelo SBT no Paraná, Martins recomendou no programa o livro O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, de Olavo. Na ocasião, definiu o filósofo como "um homem de inteligência absolutamente sublime e argumentação acachapante".
Marcel van Hattem (Novo-RS), deputado federal eleito
Formado em Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Ciência Política, Hattem também atuou como jornalista antes de ingressar na política, em 2004, como vereador em Dois Irmãos (RS).
Em 2018, elegeu-se deputado federal pela primeira vez. Aluno de Olavo, diz que o filósofo foi o responsável por seu "despertar político", tendo descrito "como as doutrinas revolucionárias e os partidos totalitários, socialistas e comunistas, levariam nosso país ao ponto em que chegou". Em 2016, o filósofo elogiou o discípulo. "Por que acho o Marcel van Hattem um sujeito sério? Porque antes de se meter na política federal ele derrotou a esquerda na sua universidade – e pagou alto preço por isso."
Carla Zambelli (PSL-SP), deputada federal eleita
Gerente de projetos, candidatou-se pela primeira vez em 2018. Aproximou-se de Olavo enquanto militava no Movimento nas Ruas, que ganhou projeção nos protestos contra o governo Dilma Rousseff. Em 2017, Olavo, Zambelli e o músico Lobão gravaram um vídeo em defesa da liberação da posse de armas.
Até conhecer o filósofo, em 2011, Zambelli diz que "não era nem de direita nem de esquerda, só contra a corrupção". O contato com Olavo fez com que ela percebesse a afinidade com seus valores. "Não é que virei conservadora, eu me identifiquei com as coisas que ele falava."
Parece que, depois dos conceitos de esquerda "carnívora" e de esquerda "herbívora", criados pelo cientista político e ex-chanceler mexicano Carlos Castañeda, vamos ter de criar os conceitos de direita "hidrófoba" e de direita "predatória", tais são os sentimentos que animam os novos cruzados, dispostos a atacar quaisquer críticos do governo como se fossem perigosos comunistas ou sabotadores do país. Eu, aliás, já fui chamado de "sabotador" pelo Robespirralho, um true believer dos mais fanáticos, que estaria comandando o patíbulo da guilhotina se estivéssemos sob um Comitê du Salut Public, a despeito de ser um medíocre em relações internacionais, a ponto de ter preparado um discurso idem para o presidente estrear em Davos. Ou seja, um fracasso como assessor, um candidato a Torquemada ou a Savonarola, um dos inquisores que condenadaram Giordano Bruno à fogueira. Essa turma é da pesada, e sua violência verbal só é superada por sua ignorância, como já deu exemplo dessa total estupidez um dos mais vistosos integrantes da tropa de choque, ao classificar a comunidade brasileira trabalhadora sem papéis nos EUA de uma "vergonha". Vergonha é quem não tem a menor ideia de como se formou essa comunidade laboriosa, que contribui para criar riqueza nos EUA, na impossibilidade de fazê-lo no próprio Brasil. Entre ignorância e estupidez, essa tropa de templários tenta, ao controlar o Estado e o governo, dominar a sociedade. Não o conseguirão. Sempre existem resistentes contra a violência e ignorância. Como sempre, assino embaixo... Paulo Roberto de Almeida Brasília, 17 de março de 2019
Rede bolsonarista “jacobina” faz linchamento virtual até de aliados
Como funciona a “máquina” de difamação operada pela ala mais radical de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais
O Estado de S. Paulo, 16/03/2019
A repórter do Estadão Constança Rezende tornou-se alvo no domingo (10/3), de um violento ataque digital. Quando se preparava para sair de casa e almoçar com a família, Constança foi informada por uma de suas fontes via WhatsApp de que um post publicado pelo canal Terça Livre, que reúne militantes bolsonaristas e pupilos do escritor e pensador Olavo de Carvalho, estava provocando uma forte reação contra ela nas redes sociais. A razão: uma suposta tentativa de “arruinar” o presidente Jair Bolsonaro com as reportagens sobre o Caso Queiroz. Constança se dedica a essa cobertura desde o princípio.
A partir da publicação do Terça Livre, com base em declarações distorcidas de Constança divulgadas por um blogueiro belgo-marroquino num site francês, a vida da jornalista virou um tormento. Ela foi xingada, ameaçada e tornou-se tema de memes nas redes. Páginas falsas dela foram criadas na internet. Pior: a certa altura, o próprio presidente compartilhou o post do Terça Livre em suas redes sociais, amplificando os ataques. O Estadão, que logo publicou uma reportagem sobre o caso em seu site, mostrando que as declarações da repórter haviam sido deturpadas, também acabou se transformando em alvo das milícias virtuais, que “subiram” a hashtag #EstadaoMentiu no Twitter, para tentar desqualificar o jornal.
O caso de Constança revela, em toda a sua extensão, o funcionamento da máquina de assassinato de reputação operada por grupos bolsonaristas e olavistas, que formam as correntes mais radicais e dogmáticas da chamada “nova direita” do País. Em razão dos ataques virtuais desferidos pela turma, várias vítimas acabam por restringir o acesso a seus perfis e silenciar sobre o tema que deu origem às agressões. Algumas pessoas simplesmente apagam suas páginas, aterrorizadas pela agressividade dos comentários.
Hegemonia Nesta reportagem especial, baseada em conversas com integrantes e ex-integrantes dessa engrenagem, o jornal mostra como ela funciona, quem são seus principais líderes e apoiadores e quais são seus tentáculos nos gabinetes palacianos e parlamentares. Conta, também, os casos de outras vítimas das milícias virtuais bolsonaristas e olavistas. Além de jornalistas, a lista inclui personalidades e influenciadores da própria direita e integrantes do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, indicado pelo próprio Olavo de Carvalho.
O ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno, que deixou o cargo em meados de fevereiro, foi chamado de “mentiroso” nas redes por Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, cujo post foi compartilhado pelo pai, por afirmar que havia conversado três vezes com o presidente sobre o uso de “laranjas” nas eleições por candidatos do PSL.
Na campanha eleitoral, a turba já havia se levantado contra qualquer um que pudesse colocar em risco a hegemonia de Bolsonaro junto ao eleitorado de centro-direita. O ex-presidenciável João Amoêdo, do partido Novo; o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB); o empresário Flávio Rocha, pré-candidato à Presidência pelo PRB; e até a garotada do MBL foram alvos de ataques torpes da máquina de difamação bolsonarista e olavista.
“Jacobinos” Como cruzados em luta para conquistar Jerusalém, os bolsominions e os olavetes, como eles são mais conhecidos fora de seus mundinhos, insurgem-se contra os adversários de Bolsonaro e Olavo de Carvalho e contra aliados que ousam discordar dos dois, ainda que de forma pontual. Não por acaso, receberam a alcunha de “jacobinos”, em referência ao movimento surgido na Revolução Francesa, em 1789, que defendia o extermínio da aristocracia e se tornou conhecido por impor o terror no país.
No Brasil, nos tempos do PT, também havia uma máquina implacável de destruição de reputação de adversários, em especial de jornalistas. A diferença é que, naquela época, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e seus parentes procuravam não se envolver diretamente, ao menos em público, na “guerra suja”. Além disso, a tropa de choque petista na internet recebia fartos recursos oficiais, para defender o governo e o partido e atacar os seus críticos.
Agora, o quadro mudou. Bolsonaro, seus filhos e alguns assessores palacianos e parlamentares envolvem-se diretamente nos ataques. E, por ora, de acordo com as informações disponíveis, sites e páginas como o Terça Livre, Isentões e Senso Incomum, que agem como se estivessem numa “guerra santa” contra infiéis, não estão recebendo recursos públicos para financiar suas atividades.
Na linha de frente dos ataques aos adversários e críticos de Bolsonaro e de Olavo figuram dois filhos do presidente – o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), responsável pela bem-sucedida campanha do pai nas redes e ainda hoje o principal administrador de suas páginas e perfis pessoais, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o mais ideológico da família e o mais ligado a Olavo. Ao lado deles, instalados no Palácio do Planalto, destacam-se o assessor internacional da Presidência, Filipe G. Martins, e os assessores presidenciais José Matheus Sales Gomes – criador dos sites Bolsonaro Zuero e Bolsonaro Opressor 2.0 na campanha e considerado o “gênio” das redes do presidente – , e Tercio Arnaud Tomaz, ambos ex-funcionários do gabinete de Carlos, na Câmara Municipal do Rio.
Desgaste Aparentemente, Carlos é o único que tem a senha para operar as páginas e perfis pessoais de Bolsonaro, além do próprio presidente. Na semana passada, ele afirmou numa rara entrevista (ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube) que, às vezes, sente-se “culpado” pelo conteúdo que publica na internet e leva um “puxão de orelha” do pai. Não se sabe, porém, se ele disse isso para tentar isentar Bolsonaro de responsabilidade pelas controvertidas publicações feitas em seu nome ou para exibir sua força na gestão do conteúdo nas páginas do presidente.
Os analistas que conhecem de perto o grupo mais próximo de Bolsonaro afirmam que Filipe Martins, um pupilo fervoroso de Olavo que foi introduzido no círculo bolsonarista pelas mãos de Eduardo, é quem está por trás de muitos ataques aos adversários e críticos do “professor” e do presidente. Eles dizem reconhecer o inconfundível estilo “jacobino” de Martins em vários dos ataques desfraldados por Olavo nos últimos tempos.
Quem conhece bem a forma de atuação do grupo afirma também que Olavo está sendo “brifado” em vários de seus posts por Martins e outros olavetes que ganharam cargos oficiais no atual governo e usado por eles para desferir ataques em todas as direções. Assim, Olavo dá a sua contribuição para preservar seus discípulos do desgaste inevitável que teriam se fizessem, eles mesmos, as publicações mais agressivas.
O caso de Mourão – “detonado” diversas vezes por Olavo, que o chamou de “palpiteiro” e afirmou que o vice é “uma vergonha para as Forças Armadas”, por causa de suas posições em defesa da opção das mulheres pelo aborto, contra a relativização da posse de armas e por suas críticas contra a política externa – é emblemático. Segundo o site O Antagonista, Mourão identificou as digitais de Martins, que conversa com frequência com o escritor, nos ataques desferidos contra ele.
Comando central O diplomata Paulo Roberto de Almeida, exonerado da presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) no início de março e outro alvo dos “petardos” de Olavo, também atribuiu a Martins o seu afastamento do cargo. “Ele é um desses olavistas fanáticos, que tem a verdadeira fé”, disse em recente entrevista ao Estado.
Muitas vezes, como no caso de Almeida, Mourão e Constança, os ataques virtuais parecem seguir uma estratégia bem elaborada e as orientações de um comando central, com o apoio de influenciadores como Allan dos Santos, do Terça Livre, os youtubers Nando Moura e Bernardo Küster e o empresário Leandro Ruschel, e de propagadores com milhares de seguidores nas redes, como Bruna Luiza Becker, ex-namorada de Martins que se tornou assessora de Vélez Rodríguez, a advogada Cláudia Wild e o perfil do Twitter Tonho Drinks.
De acordo com especialistas em redes sociais, os ataques digitais têm o apoio de robôs, que funcionam como uma espécie de faísca para incendiar a massa. No WhatsApp, por exemplo, onde os grupos podem ter no máximo 250 pessoas, costuma haver sempre dois ou três perfis falsos, destinados a enviar de forma automática mensagens com ataques a fulano ou beltrano. Em seguida, elas são compartilhadas pelos demais integrantes dos grupos em suas próprias redes, provocando o “efeito manada”.
Mas, mesmo nesses casos, deve-se levar em conta que há uma adesão espontânea que torna difícil caracterizar os grupos bolsonaristas e olavistas como membros de uma rede 100% estruturada de comunicação virtual. Nas eleições de 2018, o PT até tentou implementar algo do gênero por baixo do pano, remunerando os participantes, mas a iniciativa acabou “vazando” e o partido teve de abortá-la, para abafar o caso e evitar punições pesadas da Justiça Eleitoral. Uma rede profissional de milícias virtuais, encarregada de destruir a reputação de opositores e críticos pontuais, também exigiria um caminhão de dinheiro, difícil de obter com o cerco ao caixa 2 eleitoral e à corrupção.