Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Os sobressaltos da democracia brasileira: mini-reflexão sobre um novo estremecimento nas frágeis instituições democráticas do Brasil
Paulo Roberto de Almeida
A democracia brasileira sempre foi um experimento descontinuado nos primeiros 80 anos de regime republicano; a deterioração começou no próprio governo provisório de Deodoro, continuou no governo arbitrário de Floriano, continuou piorando sob os sistemas fraudulentos de “verificações de votos” sob os presidentes das oligarquias do período “café-com-leite”, se perverteu na “política dos governadores”, continuou se degradando nas intervenções federais nos estados - especialmente sob o Marechal Hermes da Fonseca -, e continuou sendo testada nas inúmeras intervenções de militares na política (tenentes, por vezes os altos comandos também). Os militares continuaram se imiscuindo na política desde a última década monárquica até os anos 1970, com recrudescimentos mais brutais nos anos 1930-60, quando os altos comandos decidiram “consertar”, ou “endireitar” o país, livrando-o da corrupção, da anarquia, da “ameaça comunista” e outros males terríveis. Deu no que deu: uma ditadura que, por ter sido menos sangrenta do que certos equivalentes na região, e que procurou se cercar de “garantias jurídicas e institucionais”, não foi menos arbitrária na censura, na repressão, no obscurantismo, sem se ter agora um juízo claro sobre os níveis de corrupção. Os militares construiram uma grande economia e ao mesmo tempo a deformaram, pelo estatismo exacerbado, pelo stalinismo industrial, pelo protecionismo mercantilista, pelo inflacionismo irresponsável e por um nacionalismo tosco, rastaquera, que isolou completamente o país da interdependência global. Não por acaso o subtítulo do primeiro livro do mais famoso brasilianista, Thomas E. Skidmore, “Politics in Brazil, 1930-1964” (no Brasil se chamou “De Getúlio a Castelo”), era “An Experiment in Democracy”, ou seja, uma democracia apenas tentativa. Finalmente, quando a democracia política — que preservou desigualdades sociais — começou a se fortalecer nos 30 anos pós-1985, mesmo em meio a crises políticas graves, que nos levaram a dois impeachments (dentro de regras constitucionais), novos sinais desestabilizadores aparecem, como entre as décadas 1930-60s. Atualmente, surge uma nova ameaça, sob a forma de um monstro miliciano-corporativo, sectário em seu direitismo tosco, sem qualquer doutrina política a sustentar um “conservadorismo” de fachada, apoiado em saudosistas da ditadura militar e em fanáticos de extrema-direita, disposto a “limpar” a sociedade de uma suposta ameaça comunista, agitando o espectro sobredimensionado do Foro de S. Paulo, uma justificativa oportunista para o avanço dos novos milicianos. Considero o atual regime — sim, regime, não apenas governo — olavo-bolsonarista a mais grave ameaça às nossas frágeis instituições democráticas. Nosso regime democrático, por uma série de razões — patrimonialismo, entre outras — sempre foi de baixíssima qualidade, mas agora é o próprio governo que dinamita as bases de funcionamento do Estado de Direito, com a cooperação ingênua, inconsciente ou intencional, de representantes de núcleos corporativos e de altos mandarins da República, e ameaça novamente romper certas colunas básicas da institucionalidade democrática. Retrocederemos novamente? Não sem a minha resistência...
Uma matéria que me escapou completamente na época, do jornalista João Fellet, da BBC Brasil, elaborada em 10 de janeiro de 2019, ou seja, logo no início do governo Bolsonaro, da qual só tomei conhecimento agora, em 20/02/2020, ou seja, mais de um ano depois. A maior parte continua com o capitão, mas Vélez já não é mais ministro, o Robespirralho foi encolhido e Alexandre Frota e Joice Hasseman já romperam com a tropa bolsonarista, alinhando-se agora entre seus piores inimigos. João Fellet - @joaofellet Da BBC News Brasil em São Paulo, 10 janeiro 2019 URL: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46802265
Quem são os discípulos de Olavo de Carvalho que chegaram ao governo e Congresso
João Fellet - @joaofelletDa BBC News Brasil em São Paulo
10/01/2019
"Vivi para ver um filósofo indicar mais gente para o governo do que o PMDB" – a frase, dita à BBC News Brasil pelo cineasta Josias Teófilo, expõe a empolgação de admiradores do escritor Olavo de Carvalho com a nomeação de vários de seus discípulos para cargos na gestão Jair Bolsonaro.
"Quem diria que um monarquista se tornaria um dos homens mais influentes da República", completa Teófilo citando o regime político defendido pelo escritor - personagem do documentário O Jardim das Aflições, que ele dirigiu em 2016.
A BBC News Brasil listou os discípulos de Olavo que já exercem ou exercerão cargos no governo federal e no Congresso a partir deste ano (confira a relação abaixo). São, todos eles, alunos ou amigos do filósofo, a quem consideram um mestre intelectual e figura-chave em sua formação política.
Há "olavetes" - como ele próprio já se referiu aos seguidores - com postos no Palácio do Planalto e em três ministérios: Educação, Relações Exteriores e Economia. Em 2017, o filósofo teve uma aluna – a carioca Ludmila Lins Grilo – nomeada juíza substituta em Botelhos, no Tribunal de Justiça de Minas Gerais
A influência de Olavo na montagem do governo supera a da bancada evangélica, cujo eleitorado foi crucial na vitória de Bolsonaro mas recebeu um único ministério (Mulher, Família e Direitos Humanos). A ascendência do escritor sobre o governo só se compara à do setor ruralista (que comanda o ministério da Agricultura e deu aval à escolha do ministro do Meio Ambiente) e à da ala militar, responsável por quatro pastas (Defesa, Segurança Institucional, Secretaria de Governo e Infraestrutura).
Na Câmara dos Deputados, Olavo terá cinco seguidores – presença discreta, mas que poderá crescer caso o PSL, partido de Bolsonaro, tire do papel os planos de levar seus 52 deputados eleitos aos EUA para um curso com o escritor nas próximas semanas.
Esoterismo islâmico e astrologia
Radicado nos EUA desde 2005, Olavo, hoje com 71 anos, se popularizou ao criticar a esquerda e defender posições conservadoras em livros e nas mídias sociais nas últimas décadas, o apogeu de uma carreira cheia de guinadas.
Sem jamais ter se formado na universidade, criou um Curso Online de Filosofia (COF) pelo qual, segundo ele, já passaram 12 mil alunos, alguns dos quais chegam agora ao poder. Nos anos 1970 e 1980, antes de se projetar no debate político, Olavo foi membro de uma tariqa (ordem mística muçulmana) e trabalhou como astrólogo em São Paulo.
Hoje se define como católico, assim como seu núcleo principal de seguidores – embora critique com frequência o papa Francisco, que já chamou de "lelé da cuca" por seus acenos a pautas progressistas.
Foro de São Paulo
Uma das visões de Olavo mais disseminadas entre a chamada "nova direita" brasileira trata do poder do Foro de São Paulo, conferência criada em 1990 pelo PT para debater os rumos da esquerda latino-americana e que, segundo o escritor, deu ao partido o "comando estratégico da revolução comunista" no continente.
O filósofo também foi um dos primeiros a disseminar a opinião, encampada pelo governo Bolsonaro, de que a esquerda exerce há décadas o controle da imprensa e do ensino brasileiro – estratégia que, segundo ele, segue o ideário do marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937).
As duas posições são contestadas entre muitos acadêmicos, que apontam a onda de vitórias eleitorais da direita na América Latina como um sinal de que o Foro de São Paulo nunca teve tanta influência, e avaliam que parte da imprensa e da academia no Brasil sempre encampou valores conservadores.
Aproximação com a família Bolsonaro
Em entrevista à BBC News Brasil em 2016, Olavo afirmou que, para combater a expansão da esquerda no país, a direita deveria se concentrar em ocupar espaços não no Estado, mas "na igreja, nas escolas, nas sociedades de amigos do bairro, no clube".
Na campanha de 2018, porém, apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro e endossou pupilos que concorriam a cargos eletivos. Em retribuição, no primeiro vídeo que gravou após se eleger presidente, Bolsonaro exibiu o bestseller O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, coletânea de artigos de Olavo organizada pelo jornalista Felipe Moura Brasil.
O escritor já vinha se aproximando da família do presidente. Há dois anos, recebeu em sua casa a visita de Eduardo e Flávio Bolsonaro, respectivamente eleitos deputado federal e senador em 2018.
Confira abaixo relação de discípulos de Olavo recentemente nomeados ou eleitos para cargos no Executivo e Legislativo.
GOVERNO FEDERAL
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores
Indicado por Carvalho para o posto, ocupava até então a chefia do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do ministério. Aos 51 anos, é um dos mais jovens chanceleres da história do país.
Em artigo na revista The New Criterion, Araújo diz que Olavo "talvez tenha sido a primeira pessoa no mundo a ver o globalismo como um resultado da globalização, a entender seus propósitos horríveis e a começar a pensar sobre como derrubá-lo". Após a posse do chanceler, Olavo disse que o discurso do discípulo – que misturou citações em grego e tupi a menções a Raul Seixas e à banda Legião Urbana – "tem, desde já, um lugar garantido em qualquer antologia séria dos grandes discursos brasileiros".
Filipe Martins, assessor da Presidência para Assuntos Internacionais
É considerado por Olavo um dos seus alunos mais brilhantes. Aos 31 anos, desempenhará papel equivalente ao que o professor Marco Aurélio Garcia (1941-2017) tinha nos governos Lula e Dilma.
Nascido em Sorocaba (SP) e formado em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), é diretor de assuntos internacionais do PSL. Para ele, "não é possível compreender o nascimento (ou renascimento) do conservadorismo brasileiro, ou a ascensão do antipetismo, sem considerar o impacto" da obra de Olavo.
Ele costuma comparar o mestre a um hápax legómenon (expressão de origem grega que designa palavras ou ideogramas que aparecem uma única vez na literatura de um determinado idioma), "um personagem tão singular no contexto cultural em que está inserido que acaba por se tornar indecifrável para seus pares".
Ricardo Vélez Rodriguez, ministro da Educação
Também indicado por Olavo para o posto, nasceu na Colômbia há 75 anos. Segundo o filósofo, Vélez é, "no mundo, a pessoa que mais entende de pensamento político-social brasileiro". Foi membro do Instituto Brasileiro de Filosofia, fundado pelo jurista e filósofo Miguel Reale, e é considerado por Carvalho um dos maiores pensadores da história do Brasil.
Escreveu livros sobre assuntos diversos, como o conflito armado na Colômbia, o governo Lula e a obra do economista John Maynard Keynes. Antes da nomeação, Vélez vivia em Londrina (PR) e dava aulas na Faculdade Positivo. No discurso de posse, disse que sua gestão se inspirará "em dois grandes educadores", Olavo de Carvalho e Antonio Paim. "Deles emergem a inspiração liberal e conservadora de nossas propostas educacionais."
Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização do Ministério da Educação (MEC)
Também aluno do Curso Online de Filosofia (COF) de Carvalho, Nadalim era até a nomeação coordenador pedagógico da escola infantil Mundo do Balão Mágico, em Londrina (PR), e mantinha um blog com dicas sobre a educação infantil.
Em 2015, Olavo escreveu no Facebook que Nadalim havia feito mais pela educação brasileira "do que todos os iluminados do MEC juntos" ao desenvolver um método para alfabetizar crianças em casa. Nadalim diz que as técnicas já foram usadas por 2.758 pais e mães.
Murilo Resende Ferreira, diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) do MEC
Aluno de Carvalho desde 2009, a quem se refere como "meu grande professor", é doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e integra o movimento Escola Sem Partido. No MEC, supervisionará a elaboração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Em audiência pública em 2016, Ferreira disse que educação brasileira vive sob uma "ditadura marxista", na qual crianças são expostas a teorias que promovem o incesto e a pedofilia. Foi membro do MBL (Movimento Brasil Livre), mas deixou o grupo após divergências.
Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia
Ex-pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e doutor em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), tornou-se aluno de Olavo há 14 anos. "Foi como encontrar a luz em meio às trevas", ele relatou no Facebook.
Em 2016, Olavo e Sachsida gravaram um vídeo em que comentaram temas como a "doutrinação ideológica" nas escolas e riscos que eles atribuíam à presença de muçulmanos na "onda migratória na Europa e no Brasil".
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Bia Kicis (PRP-DF), deputada federal eleita
Eleita pela primeira vez em 2018, é procuradora aposentada e se refere a Olavo como "nosso querido Mestre". Para ela, o filósofo "é um grande Pai de muitos brasileiros, que despertaram por meio de seu conhecimento e de sua generosidade".
Durante a campanha, Olavo gravou um vídeo dizendo que, caso fosse eleitor do Distrito Federal, votaria em Kicis, que também frequentou seu Curso Online de Filosofia (COF). Ela ganhou projeção entre a "nova direita" ao militar nos últimos anos em movimentos contra o PT e pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Joice Hasselmann (PSL-SP), deputada federal eleita
Jornalista, Joice teve sua candidatura apoiada publicamente por Olavo e foi a mulher mais votada da história na eleição para a Câmara. "Vou apoiá-la até a morte, ela é antimídia, condensa em si a verdade do jornalismo brasileiro, que foi sufocada por todos esses bandidos ao longo de várias décadas", afirmou o filósofo.
Joice agradeceu o endosso, definindo Olavo como um "parceiro, leal, amigo, protetor, além de um GÊNIO". "Você conhece meu coração e sabe que não vamos te decepcionar!", afirmou.
Paulo Martins (PSC-PR), deputado federal eleito
Também jornalista, foi eleito em 2018 ao concorrer pela segunda vez para a Câmara. É aluno de Olavo, que ele considera "o grande responsável pelo início da reação cultural do Brasil".
Quando era comentarista do Jornal da Massa, transmitido pelo SBT no Paraná, Martins recomendou no programa o livro O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, de Olavo. Na ocasião, definiu o filósofo como "um homem de inteligência absolutamente sublime e argumentação acachapante".
Marcel van Hattem (Novo-RS), deputado federal eleito
Formado em Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Ciência Política, Hattem também atuou como jornalista antes de ingressar na política, em 2004, como vereador em Dois Irmãos (RS).
Em 2018, elegeu-se deputado federal pela primeira vez. Aluno de Olavo, diz que o filósofo foi o responsável por seu "despertar político", tendo descrito "como as doutrinas revolucionárias e os partidos totalitários, socialistas e comunistas, levariam nosso país ao ponto em que chegou". Em 2016, o filósofo elogiou o discípulo. "Por que acho o Marcel van Hattem um sujeito sério? Porque antes de se meter na política federal ele derrotou a esquerda na sua universidade – e pagou alto preço por isso."
Carla Zambelli (PSL-SP), deputada federal eleita
Gerente de projetos, candidatou-se pela primeira vez em 2018. Aproximou-se de Olavo enquanto militava no Movimento nas Ruas, que ganhou projeção nos protestos contra o governo Dilma Rousseff. Em 2017, Olavo, Zambelli e o músico Lobão gravaram um vídeo em defesa da liberação da posse de armas.
Até conhecer o filósofo, em 2011, Zambelli diz que "não era nem de direita nem de esquerda, só contra a corrupção". O contato com Olavo fez com que ela percebesse a afinidade com seus valores. "Não é que virei conservadora, eu me identifiquei com as coisas que ele falava."
Ocupação militar do Planalto pode ajudar aloprados ideológicos do governo
Governo pode ficar mais livre para fazer demagogia, da gasolina à religião
A “ala militar” deu um chega para lá na “ala ideológica” do governo, a gente lê por aí. Hum.
É verdade que a seita de aloprados reacionários perdeu cadeiras no Planalto, mas a turma ainda mora de pijaminha no coração do presidente, de resto líder de torcida das milícias virtuais. Se por mais não fosse, a seita é liderada politicamente pela filhocracia bolsonariana.
O ministro-general Augusto Heleno é “ideológico” ou “militar”? Acaba de acusar até o papa de “confraternizar com um criminoso” (Lula), “exemplo de solidariedade a malfeitores, tão a gosto dos esquerdistas”.
Dá-se pouca bola para demagogias como a da gasolina, que pegou. Quem conversa com o povo na rua e nas redes ouve que “o Bolsonaro quer baixar a gasolina, mas os governadores e os deputados não deixam” e variantes.
Preços de comida, gasolina, ônibus e dólar são indicadores econômicos “pop” importantes, qualquer demagogo grosso sabe. O índice de irritação com a gasolina, o “Irrigás”, digamos, está no nível mais alto desde pelo menos 2012, com exceção de maio de 2019 (época de mau humor na economia) e da greve dos caminhoneiros, baderna apoiada por Bolsonaro e empresários bolsonaristas e espertalhões em geral.
Pode se medir o “Irrigás” comparando o custo de encher o tanque de um carro popular com o salário médio. Tende a ficar nesse nível alto ou subir. O salário quase não sobe, o dólar vai ficar nas alturas, o preço do petróleo não deve cair mais, afora em caso de derrocada na economia mundial.
Pode haver mais rolo: o Supremo está para julgar a inconstitucionalidade do tabelamento do frete. Se o tabelamento cair, há risco de rolo, o que assusta Jair Bolsonaro, que não teria como apoiar caminhonaços, como o fez em 2018.
Essa digressão da gasolina ilustra como a “ala ideológica” vai além dos disparates atrozes e desumanos do governo. Bolsonaro cria atrito político ou desordem nas expectativas de gestão racional da economia por fazer essas e outras demagogias, que abalam mesmo as sagradas reformas.
Decerto chamou o Exército com o objetivo de evitar trabalho administrativo, que o exaure, e porque foi aconselhado a conter a desordem. Também porque não conhece outros quadros. Passou a vida a circular por quartéis, por sua paróquia mental de ressentimento odiento, pelo porão da ditadura e pelo baixíssimo clero parlamentar.
Se conseguir terceirizar o governo para generais, para o premiê Rodrigo Maia e para Paulo Guedes, pode se dedicar mais à reeleição e ao comando da seita, que quer transformar em partido.
Além da desordem ruinosa, prepara-se na Educação um plano de doutrinação ignara, com livros didáticos e com tudo. Mesmo tutelado pelo vice-general Mourão, o Ministério do Mau Ambiente continuará a ofensiva mineradora e ruralista contra indígenas e matas.
A ministra dos Costumes, Moral e Cívica, Damares Alves, continuará a campanha contra o Estado laico e de arregimentação de simpatias neopentecostais.
Militares não gostam de bagunça, da cama desarrumada à agitação social, passando pelo governo. Se tiverem sucesso, os Bolsonaro estarão mais livres e fortes para comandar a “ala ideológica”.
Esta semana me enviaram uma mensagem trocada entre membros do Conselho Editorial ou associados à revista Geopolítica, com a qual colaborei uma única vez, dez anos atrás, não porque eu tivesse solicitado, mas porque seus responsáveis pretenderam reproduzir, já em segunda mão, um artigo meu, como se pode verificar por este registro completo deste meu texto de 2009:
A mensagem que recebi, indiretamente, dizia o seguinte: "Olá pessoal, o Docentes pela Liberdade (DPL) irá "adotar" uma revista da área de Humanas. Minha ideia é transformar esse periódico num veículo da divulgação da LIBERDADE, dentro de um viés acadêmico. É a revista de Geopolítica, editada pelo amigo Edu Albuquerque. Inicia-se hoje uma campanha nacional de levantamento de fundos para que o editor, prof Edu Silvestre, possa colocar a revista em todos os bancos de dados internacionais. Para isso é preciso grana. Aqui o site da revista: http://www.revistageopolitica.com.br/. Falei ontem com a Roxane Carvalho no telefone sobre divulgar essa revista para todos! Vamos tirar o escorpião do bolso!! Mandei 120,00 reais!" Bem, em sendo assim, vou retirar o meu nome Conselho Editorial (ver abaixo), uma vez que eu me sentiria extremamente desconfortável em colaborar com um empreendimento que esteja associado, de perto ou de longe, com esse grupo que se autointitula "Docentes pela Liberdade (DPL)", que nada mais é senão uma das correntes do olavismo mais sectário, mais alucinado que existe. Outros colegas acadêmicos que dele fazem parte talvez queiram verificar novamente a linha editorial da revista. Confesso que não sei o que significa "tirar o escorpião do bolso", mas não me parece coisa boa. Quanto ao nome citado, aparentemente está vinculado ao Olavo de Carvalho, o guru do governo atual, com o qual tenho muitas diferenças e nenhuma simpatia. Paulo Roberto de Almeida Brasília, 15/12/2019 REVISTA DE GEOPOLÍTICA LINHA EDITORIAL A equipe editorial e os colaboradores da Revista de Geopolítica procuram somar esforços na redução das assimetrias sociais, econômicas, tecnológicas e políticas do sistema internacional e, para tanto, acreditam na importância fundamental da discussão e divulgação dos temas geopolíticos sob uma perspectiva nacional e sul-americana. Serão avaliados artigos sobre desenvolvimento econômico nacional, segurança nacional e regional, estratégias de capacitação tecnológica, dentre outros, que visem discutir e propor políticas territoriais para o Estado brasileiro e fomentar uma agenda diplomática voltada à integração sul-americana. O posicionamento crítico frente a atual ordem internacional e a discussão/proposição de estratégias geopolíticas de superação formam o espírito desta publicação, mas de modo algum é permitida a apologia partidária ou a defesa de teses racistas ou xenófobas. Revista de Geopolítica Equipe Editorial Editor: Edu Silvestre de Albuquerque, UEPG, Brasil Editor-Assistente: Alides Baptista Chimin, Grupo de Estudos Territoriais Marcio Jose Ornat, Grupo de Estudos Territoriais Gislene Aparecida dos Santos, UFPR, Brasil Aldomar Arnaldo Rückert, UFRGS, Brasil Conselho Editorial Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, UNICAMP, Brasil Paulo Fagundes Visentini, UFRGS, Brasil José William Vesentini, USP, Brasil Jose Flavio Sombra Saraiva, UnB, Brasil Catherine Prost, UFBA, Brasil Charles Pennaforte, CENEGRI/Faculdades Integradas Simonsen, Brasil Eli Alves Penha, UERJ, Brasil Nahuel Oddone, UNTREF, Argentina Cláudio Artur Mungói, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique Leonel Brizolla Monastirsky, UEPG, Brasil Shiguenoli Miyamoto, UNICAMP, Brasil Pedro Costa Guedes Vianna, UFPB, Brasil Leonardo Granato, UNTREF, Argentina Claudio Antonio Goncalves Egler, UFRJ, Brasil Paulo Cesar da Costa Gomes, UFRJ, Brasil Helio de Araujo Evangelista, UFF, Brasil Paulo Roberto de Almeida, Uniceub, Brasil Altiva Barbosa da Silva, UFRR, Brasil Editor responsável: Edu Silvestre de Albuquerque – UEPG Geógrafo e licenciado em Geografia (UFRGS, 1994/1995); Especialista em Integração Econômica e Mercosul (UFRGS, 1995); Mestre em Geografia Humana (USP, 1998); Doutor em Geografia (UFSC, 2007). Experiência nível superior: colaborador da Universidade de Passo Fundo (UPF) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG-PR). Organizador e co-autor da coletânea "Que País é esse?" (Editora Globo), de livros paradidáticos de ensino médio e fundamental (Editoras Saraiva e Atual) e de artigos científicos nas áreas de geografia, história e relações internacionais. Temáticas de pesquisa: geopolítica e relações internacionais.