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domingo, 7 de abril de 2024

Falta de rumo de Lula 3 causa o barraco do BBB 24 da Petrobras - Vinicius Torres Freire (FSP)

Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA). 

Falta de rumo de Lula 3 causa o barraco do BBB 24 da Petrobras 

Após quase um terço do mandato, governo não tem política para a estatal, petróleo e energia 

Os assuntos mais importantes da Petrobras são política de preços, pesquisa e plano de investimento —quanto vai para petróleocombustíveis fósseis ou energia renovável. A petroleira é a única estatal, talvez a única empresa do país, que se possa chamar de "estratégica", como a esquerda gosta de dizer até de barraca de dogão.

Mais importante é a política nacional de petróleo e energia. Isto é, saber quanto mais petróleo se vai explorar e quais as alternativas econômicas que preservem a segurança do abastecimento de energia. Ou saber o que se vai fazer de impostos, dividendos e outros dinheiros petrolíferos. Por ora, tais receitas mal ajudam a cobrir as despesas do governo muito deficitário. Como seria possível, então, que a exploração de petróleo ajudasse a bancar pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis? O que se pode fazer a respeito? 

Não há política nacional de petróleo e energia, apenas disputas desorganizadas em um governo que já vai completar um terço de mandato. Petrobras, Meio Ambiente, Minas e Energia, Casa Civil e Fazenda, para citar os mais influentes, no caso, têm ideias diferentes ou mesmo opostas a respeito. Não há decisão de rumo e projeto.

Não há nem mesmo política para Petrobras, apenas desejos de Luiz Inácio Lula da Silva. No limite, tais vontades vagas são incompatíveis com normas e com a solidez econômica da Petrobras. De imediato, tais desejos estimulam a politicalha, esse salseiro vexaminoso que prejudica também o crédito da petroleira e mesmo o do governo.

Nosso maior interesse vai para o BBB 24 da Petrobras. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, espezinha o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para quem soltou em público, nesta Folha, um "sabe com quem está falando?" e um "ponha-se no seu lugar". O presidente da Petrobras pede a Lula que decida quem manda no barraco. Lula "se irrita", não gosta de ser "emparedado", vaza pelas mídias. Prates ou seus amigos choramingam anonimamente: Prates está "machucado". O drama cafona e irrelevante jorra. Informações sigilosas vazam.

Silveira é amiguinho do casal presidencial. Bajula o presidente, que quer "obras" da Petrobras: navio, refinaria, gasoduto, fábrica de lampião, sabe-se lá. Por vários motivos, pois, entre eles o desejo de mandar mais na empresa, Silveira se sente à vontade de dinamitar Prates, que tentava conciliar estatutos e interesses (e pressões internas) da empresa com os desejos de Lula quanto a preços e investimentos.

A vulgaridade do "reality" aumenta. Uma turma vaza veneno sobre Prates, suas nomeações heterodoxas na empresa, várias de petistas e sindicalistas, tendo, porém, deixado "bolsonaristas" em cargos relevantes. Outra turma vaza que Silveira e amigos seus no conselho da empresa são quase-bolsonaristas (nem bem isso são: agem de acordo com a oportunidade de poder). Etc.

Entra Aloizio Mercadante na história, que talvez substituísse Prates. No paredão, ele "desagrada" ao mercado; na fofoca amiga, teria dito a Prates que não vai lhe passar uma rasteira e que está "moderado" no BNDES.

O país adora fofoca, novela, barraco e reality, das elites toscas ao restante do povo. Disputa de poder e intriga são compreensíveis e mais interessantes do que balanços, eficiência, transição energética e política de desenvolvimento. Causa desânimo terminal que a burrice da conversa seja tão grande mesmo nisso que se chama de elite nacional.

Dentro e fora do governo, nos ministérios, no BNDES, na Petrobras etc., há gente séria e capaz de pensar uma política. O governo, porém, é uma desordem jeca, amigo de ideias provincianas e erradas de desenvolvimento. Lula, coadjuvado por vassalos atrasados e ignaros, deixou essa baderna daninha acontecer.


sexta-feira, 14 de julho de 2023

O novo, e grande, capitalismo empresarial brasileiro - Vinicius Torres Freire (FSP)

 O Brasil é o agro, e o agro é o Brasil

Os grandes conglomerados brasileiros atuais em sua maioria tiveram sua origem no agro e na extrativa. Caminha estav certo ao afirmar que nesta terra em se palnatndo tudo dá. Notem que nesses conglomerados também existem empresas emsetores com alta intensidade de capital (CApEX) e razoável gasto em &D sobre vendas uma proxy ara os gastos em inovação. Enfim abre-se uma janela? A conferir.Os novos donos do capital no Brasil e a venda da Braskem

J&F tenta comprar petroquímica e dá outro exemplo da expansão do agro para o topo

Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA)

Folha de S. Paulo, 13.jul.2023

A J&F quer comprar praticamente a metade da petroquímica Braskem. Quem não acompanha o mundo das empresas talvez não se dê conta do tamanho do negócio ou reaja à notícia com desinteresse entediado.

A transação pode ser mais um exemplo de como tem se desenvolvido o grande capital no Brasil e quem são seus novos donos. Trata-se mais uma história de uma empresa do "agro" se expandindo para outras frentes. Quando alguém falar em montadoras de veículos, convém lembrar que entre as maiores companhias do país estão negócios que se criaram a partir da cana de açúcar e da carne. Soja, milho e trigo vêm aí.

A J&F é a holding da família Batista, dos quais os mais famosos são Joesley e Wesley. É dona do JBS, segunda maior empresa do Brasil, por faturamento (segundo o ranking "Valor 1000" de 2022), a maior empresa de carnes do mundo. O BNDES, o bancão federal de desenvolvimento, tem 20,81% da JBS, informa a companhia.

A J&F também é proprietária da Eldorado (de celulose), da Flora (do ramo de farmacêuticos e cosmética) e da Âmbar (energia), entre as 600 maiores do país. Tem também o Banco Original, o aplicativo de pagamentos PicPay e o Canal Rural.

A Braskem é a maior petroquímica do país, 8ª maior empresa. A Petrobras tem 47% do capital votante da companhia; a Novonor tem outros 50%. A Novonor é a Odebrecht (trocaram o nome, por motivos óbvios). A fatia da Novonor é, na prática, dos bancos credores (Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, BNDES).

O negócio da Braskem em si é enrolado e assunto de especialistas em empresas e no setor. O interesse aqui é em mais uma história de expansão do "agro". Parece folclórico lembrar, mas não muito: a JBS começou como um açougue em Goiás, em 1953.

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A terceira maior empresa do país é a Vale, criada pelo Estado e privatizada. A quarta é a Raízen, sociedade entre a Cosan e a Shell, dominante no açúcar e no etanol, na distribuição de combustíveis, lubrificantes, com expansão forte em outras energias renováveis (como solar e biogás).

Alguém aí pensou em "transição verde" e novas tecnologias em energia? Pois então. Essas empresas já estão no centro do negócio e devem ser centrais na mudança.

A Cosan, grosso modo da família Ometto, é a 6ª maior empresa. Criou-se com o negócio de açúcar e álcool. Muito além disso, controla a Compass, que é dona da Comgás, da Sulgás, da ex-Gaspetro (que era da Petrobras) e tem participação em mais de dúzia de distribuidoras de gás. Tem também a Rumo, maior administradora de ferrovias, com terminais portuários e de outras logísticas.

Das dez maiores empresas, cinco são do setor de petróleo e gás: Petrobras, Raízen, Vibra (ex-BR Distribuidora), Cosan (que tem atuação ampla, como se viu), Ultrapar (Ultragaz, Ipiranga etc.). Três são do agro: JBS, Cargill (múlti americana de processamento, fabricação e comercialização de produtos do agro) e Marfrig (carnes). Completam a lista a Vale (mineração) e a Braskem. A siderúrgica Gerdau é a 11ª. A primeira montadora aparece no 19º lugar, a Fiat Chrysler —a próxima é a Volkswagen, em 41º.

As empresas dominantes ou que se tornam cada vez dominantes estão no setor de energia; ou estão e se fizeram no setor de alimentos, no "agro". Várias se expandiram também com a compra de partes do setor estatal de petróleo e combustíveis (na distribuição, na maior parte), são multinacionais, brasileiras ou não, e dominantes em seus mercados. Valem-se ou valeram-se de vantagens absolutas e comparadas do Brasil. Outras ramificações do agro virão. Se vier de fato uma política de "transição verde", é razoável esperar que elas estejam no núcleo da conversa e dos negócios. Convém prestar atenção.


domingo, 9 de janeiro de 2022

Bolsonaro expõe a imundície de suas entranhas e de seu projeto eleitoral - Vinicius Torres Freire (FSP)

 O psicopata se degrada e degrada o país. O degenerado é uma escória ambulante que não consegue sequer ser um líder fascista, pois para  isso seria preciso ter um discurso organizado. O genocida é apenas o que restou do esterco da política, que só emergiu a parte da Grande Destruição lulopetista da economia e da moralidade pública.

O Brasil desgraçadamente caminha para mais um ano de mediocridade degradante com essa imundície no poder.

Paulo Roberto de Almeida 


Bolsonaro expõe a imundície de suas entranhas e de seu projeto eleitoral

Brutalidade, exibição de vergonhas e artes do espectro fascista são projeto eleitoral

Viniciu Torres Freire

Folha de S. Paulo, 9/01/2022

O espetáculo, a massificação da mentira e a propaganda da morte são atitudes típicas de políticos do espectro fascista. Jair Bolsonaro não é lá diferente. Foi assim a virada de ano da extrema direita brasileirinha, ainda mais repugnante na sua decomposição avançada, mas até por isso mesmo capaz de causar mais pestes.

O país se degrada, mais gente padece de fome, doença ou desgraças como as enchentes da Bahia. A administração pública se desorganiza mais, ora em revolta contra caprichos sectários desse tipo que ocupa a cadeira de presidente, que quer agradar polícias a fim de manter consigo falanges armadas.

Há operações-padrão de auditores da Receita, o que ameaça por exemplo a importação de combustíveis; há ameaça de greve geral de servidores. A produção da indústria encolheu pelo sexto mês seguido, o que não se via desde a recessão de 2015. Azares do tempo podem fazer com que a safra de grãos seja menor que a do ano passado —​se esperava recorde, um anteparo mínimo para a recessão que começa a aparecer no horizonte. Mas não há governo, tentativa de reação ou remédio. Ao contrário.

Bolsonaro vai a culto da Igreja Sara Nossa Terra, no Distrito Federal - @Bispo Robson Rodovalho no Facebook

O capitão da morte vadiava, indiferente a sofrimentos e desordens, rindo com sua catadura selvagem e sua boca espumante. Fazia o show do tiozão grosseiro desfilando com brinquedos caros e barulhentos. Era parte da palhaçada da autenticidade, show que em breve voltaria quase à indecência teratológica dos tempos das cirurgias, durante a internação indigesta do tapado. Uma parte do espetáculo de Bolsonaro é a exposição de suas entranhas morais e quase literalmente físicas: intimidades com a mulher com quem se casou, o corpo nu cheio de tubos, as cicatrizes e, agora, sua indigestão monstruosa.

"Foi domingo. Eu não almoço, eu engulo. Foi uma peixada, tinha uns camarõezinhos também. Eu mastiguei o peixe e engoli o camarão", disse, ao explicar sua mais recente internação.

A indecência, a brutalidade e a feiura são parte da estética política do bolsonarismo. Entender porque o despudor ainda comove suas falanges e um tanto mais do eleitorado é um problema, mas desde a irrupção de Bolsonaro tal exposição faz algum efeito. A exibição do desmazelo pessoal, corporal e social, sua boca-suja, seu linguajar iletrado e cafajeste, o chinelão, o leite condensado com migalhas espalhadas pela mesa, tudo faz parte da fantasmagoria da autenticidade.

O espetáculo vai além, claro. Há motociatas e comícios golpistas, assim como a nomeação de inimigos da pátria, do cardápio tradicional do espectro fascista. Há o heroísmo de fancaria de quem diz lutar contra o "sistema" e a difusão de mentiras conspiratórias que tempera esse brutesco. Há o farisaísmo, as blasfêmias e o uso do nome de Deus em vão, o que espantosamente não abala muita gente religiosa. Há a propaganda da morte, a crítica aos "tarados por vacina" e a indiferença quanto à morte de crianças. Tudo isso é tolerado, como se o salvador da pátria e da família tivesse de vir travestido de anticristão (o que também é o caso de Donald Trump).

E daí? Esse é o monstro que, daqui a outubro, tentará obter votos para a reeleição ou algum modo de sobreviver politicamente ou fora da cadeia. Esses são seus recursos. Bolsonaro não tem nada que qualquer governante no limite do universo da razão e da decência pudesse apresentar como realização. Seus instrumentos são a ameaça de morte, baderna armada, golpe e tirania, o grotesco nauseabundo e a apelação aos sentimentos mais baixos e desumanamente lunáticos _o tipo é indiferente à morte de crianças, ressalte-se.

Foi assim o Ano Novo de Bolsonaro. Por que acreditar que o ano eleitoral será diferente? O que mais lhe resta além da fuga? A desordem imunda.


domingo, 16 de fevereiro de 2020

O Partido Militar Governa, o Partido Olavo-Bolsonarista faz Baderna - Vinicius Torres Freire (FSP)

Ocupação militar do Planalto pode ajudar aloprados ideológicos do governo

Governo pode ficar mais livre para fazer demagogia, da gasolina à religião

A “ala militar” deu um chega para lá na “ala ideológica” do governo, a gente lê por aí. Hum.
É verdade que a seita de aloprados reacionários perdeu cadeiras no Planalto, mas a turma ainda mora de pijaminha no coração do presidente, de resto líder de torcida das milícias virtuais. Se por mais não fosse, a seita é liderada politicamente pela filhocracia bolsonariana.
No mais, a “ala ideológica” continua fora da casinha e vivíssima, o que é evidente por exemplo na demagogia com a gasolina ou no ataque à razão, à cultura ou a jornalistas, como na campanha imunda contra Patrícia Campos Mello, jornalista desta Folha, aliás difamada com apoio do Twitter.
O ministro-general Augusto Heleno é “ideológico” ou “militar”? Acaba de acusar até o papa de “confraternizar com um criminoso” (Lula), “exemplo de solidariedade a malfeitores, tão a gosto dos esquerdistas”.
Dá-se pouca bola para demagogias como a da gasolina, que pegou. Quem conversa com o povo na rua e nas redes ouve que “o Bolsonaro quer baixar a gasolina, mas os governadores e os deputados não deixam” e variantes.
Preços de comida, gasolina, ônibus e dólar são indicadores econômicos “pop” importantes, qualquer demagogo grosso sabe. O índice de irritação com a gasolina, o “Irrigás”, digamos, está no nível mais alto desde pelo menos 2012, com exceção de maio de 2019 (época de mau humor na economia) e da greve dos caminhoneiros, baderna apoiada por Bolsonaro e empresários bolsonaristas e espertalhões em geral.
Pode se medir o “Irrigás” comparando o custo de encher o tanque de um carro popular com o salário médio. Tende a ficar nesse nível alto ou subir. O salário quase não sobe, o dólar vai ficar nas alturas, o preço do petróleo não deve cair mais, afora em caso de derrocada na economia mundial.
Pode haver mais rolo: o Supremo está para julgar a inconstitucionalidade do tabelamento do frete. Se o tabelamento cair, há risco de rolo, o que assusta Jair Bolsonaro, que não teria como apoiar caminhonaços, como o fez em 2018.
Essa digressão da gasolina ilustra como a “ala ideológica” vai além dos disparates atrozes e desumanos do governo. Bolsonaro cria atrito político ou desordem nas expectativas de gestão racional da economia por fazer essas e outras demagogias, que abalam mesmo as sagradas reformas.
Decerto chamou o Exército com o objetivo de evitar trabalho administrativo, que o exaure, e porque foi aconselhado a conter a desordem. Também porque não conhece outros quadros. Passou a vida a circular por quartéis, por sua paróquia mental de ressentimento odiento, pelo porão da ditadura e pelo baixíssimo clero parlamentar.
Se conseguir terceirizar o governo para generais, para o premiê Rodrigo Maia e para Paulo Guedes, pode se dedicar mais à reeleição e ao comando da seita, que quer transformar em partido.
Além da desordem ruinosa, prepara-se na Educação um plano de doutrinação ignara, com livros didáticos e com tudo. Mesmo tutelado pelo vice-general Mourão, o Ministério do Mau Ambiente continuará a ofensiva mineradora e ruralista contra indígenas e matas.
A ministra dos Costumes, Moral e Cívica, Damares Alves, continuará a campanha contra o Estado laico e de arregimentação de simpatias neopentecostais.
Militares não gostam de bagunça, da cama desarrumada à agitação social, passando pelo governo. Se tiverem sucesso, os Bolsonaro estarão mais livres e fortes para comandar a “ala ideológica”.

sábado, 16 de março de 2019

Chanceler anti-economico: uma aula não recomendada - Vinicius Torres Freire

Eu costumo colocar neste blog coisas inteligentes para pessoas inteligentes.
É o caso do artigo deste jornalista econômico.
Mas certamente não é o caso do objeto de seu artigo, uma aula inédita, dita “magna”, mas que não merece sequer o epíteto de mínima, surrealista, do atual chanceler, aos pobres estudantes do Instituto Rio Branco, que tiveram de sofrer por duas horas ataques insanos de “irrealismo mistificador” por parte de quem, supostamente deveria lhes ensinar a pensar sobre o Brasil e sua diplomacia.
O quadro é deveras assustador.
Fiquei sem palavras para descrever o que assisti, depois de 2 horas de surpresas desagradáveis.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de março de 2019

Artigo de Vinicius Torres Freire na Folha de S. Paulo (15/03/2019), a propósito da aula mínima do chanceler atual.


Quem quer comprar a nossa alma

Ministro cria teoria biruta do comércio para justificar nova ideologia do Itamaraty

A China passou a ser o maior parceiro comercial do Brasil e, “por coincidência ou não, tem sido um período de estagnação do Brasil”.
De qualquer modo, ainda que queiramos vender soja e ferro aos chineses, não o faremos em troca da nossa alma.
Essa teoria geral impressionista estocástica dos efeitos do comércio no crescimento econômico foi apresentada por Ernesto Araújo aos novos estudantes do Instituto Rio Branco.
Araújo ocupa a cadeira de ministro das Relações Exteriores e, pelo jeito, a cátedra de economia sideral do Itamaraty.
Segundo Araújo, o Brasil era o país que mais crescia no mundo quando “seu principal parceiro de desenvolvimento eram os Estados Unidos”. “Parceiro de desenvolvimento” é, digamos, uma expressão mais sentimental, mas suponha-se, por paralelismo, que o diplomata ainda tratasse de exportações.
É verdade. Nos quinquênios de crescimento mais rápido da história do Brasil, 1957-61 e 1969-73, o principal destino das nossas vendas externas eram os Estados Unidos. Mas, como nos casamentos antigos, que o diplomata deve prezar, os americanos estiveram conosco na saúde e na doença. Ainda eram nossos principais fregueses no pior quinquênio do crescimento brasileiro, 1989-92.
Mas esses argumentos e contra-argumentos são birutas. Pelo método da associação livre comercial, é possível chegar a outras conclusões, “coincidência ou não”.
Nos anos JK, nossos principais produtos de exportação eram café (56% do total), açúcar, algodão e minérios, pauta quase idêntica à dos anos 1870, no Império da escravidão e do atraso, período que marcou tão fundo a nossa alma (ou o caráter nacional brasileiro?), tema caro ao diplomata.
O Brasil “estagnou quando desprezou essa parceria com os Estados Unidos” e procurou alianças com Europa, a integração latino-americana e o mundo pós-americano dos Brics”, discursou Araújo. Hum.
Ainda pelo método da associação livre, é possível pensar que a nossa fase chinesa esteve associada ao período de crescimento mais rápido desde a ditadura, os anos Lula 2. Foi então que a China se tornou o principal freguês das nossas exportações, ultrapassando Estados Unidos e Argentina.
Foi também então que as compras chinesas de soja e ferro, de comida e matérias-primas em geral, aqui e alhures, elevaram preços de produtos brasileiros, com o que o Brasil pagou sua eterna dívida externa e deixou de padecer de crises cambiais, crônicas desde a Independência (sim, 1822). 
Nesses mesmos anos Lula 2, porém, o governo do Brasil passou a arrebentar as contas domésticas, um dos motivos dessa ruína.
Mas, repita-se, isso não é maneira de pensar comércio exterior e desenvolvimento, é apenas pensamento mágico, em parte tão ideológico quanto o de algumas variantes de “marxismo cultural”, como aqueles de linha desenvolvimentista mais desvairada ou atrasada.
O Brasil é uma ilhota nas flutuações da divisão internacional do trabalho, com certas vantagens comparadas e lá não muito capaz de criar vantagens novas ou tidas como relevantes, o que talvez modificasse a inserção do país no comércio internacional. 
Por falar nisso, há alguma controvérsia se é relevante ou producente tentar forçar a barra a fim de alterar a “complexidade” das nossas exportações (para a maioria dos economistas padrão, não é).

Mas essa é outra conversa, ainda no universo da razão, do realismo e do pragmatismo nas relações internacionais, econômicas ou quaisquer.  









Artigo protegido contra cópia, acessável no link seguinte:  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2019/03/quem-quer-comprar-a-nossa-alma.shtml

Quem quiser assistir à aula mínima, pode fazê-lo num destes links que eu informei em postagem do último dia 14:
Se por acaso o URL do vídeo original da Aula Magna: 
          https://www.youtube.com/watch?v=0Qt1kCY7D0M
for descontinuado, por razões de edição, por exemplo, eu preservei o vídeo da gravação direta em meu próprio canal no YouTube, neste link: 
         https://youtu.be/qXD0khwGdzc 

Aproveitem, pois não haverá novas palestras como esta, pelo menos não tão sincera e tão verdadeiramente representativa do personagem.


O jornal O Estado de São Paulo fez um editorial sobre um dos temas da aula, que ele chamou de "Diplomacia medíocre":
 https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,diplomacia-mediocre,70002754642
Coloquei também em meu site: 
https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/diplomacia-mediocre-editorial-do-jornal.html
e em meu Facebook: 
https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2360298620700241

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14 de março de 2019