O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Informações e dicas sobre a carreira diplomática: post, comentários e minhas respostas

Um post, aqui colocado originalmente em julho de 2006, muito visitado, desde então, com muitos comentários, perguntas e dúvidas, não sei se todas respondidas ou comentadas por mim, mas que podem interessar, no conjunto, a muitos outros candidatos à carreira diplomática...
Tem algumas perguntas não respondidas -- desculpem, mas não consigo, simplesmente, lidar com dezenas de perguntas, mensagens, questões colocadas por muitos correspondentes, geralmente anônimos, com dúvidas repetitivas -- pelo que sinto, sinceramente; mas pediria aos que não foram contemplados em minhas respostas que me escrevam novamente, que tentarei responder.
Tem vários erros de digitação, dezenas de acentos não colocados -- deliberadamente -- e outros tantos defeitos de redação e até de intenção (alguns acham que sou muito sarcástico, mas sinto muito, por vezes não tenho paciência com certas perguntas idiotas), mas isso é tudo que eu consigo fazer, humanamente factível.
Esclareço, pela enésima vez, que NÃO SOU o autor deste FAQ do candidato ¡a diplomacia
Seu autor é o diplomata Renato Godinho, como está escrito, aliás.
Boa preparação a todos...
Paulo Roberto de Almeida




QUARTA-FEIRA, 5 DE JULHO DE 2006


561) Informações sobre a carreira diplomatica, III: desoficiosas...

FAQ do Candidato a Diplomata
por Renato Domith Godinho

TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplomata, Diplomacia, Ministério das Relações Exteriores, Relações Internacionais, Concurso público, Política Externa.
Atualizada em: 27/04/06

Só reproduza na íntegra, com o link para a página original

Apresentação
O público-alvo desta FAQ são aquelas pessoas que estão prestando, pretendem prestar ou estão meramente pensando em prestar o Concurso para Admissão à Carreira de Diplomata, vulgo concurso do Instituto Rio Branco. Não existe, que eu saiba, nada parecido disponível na internet. O interesse pela carreira e pelo concurso é muito grande e crescente, enquanto a informação disponível, de forma centralizada e organizada, é escassa.
Resolvi escrever esta FAQ depois de receber o enésimo pedido de informações sobre o concurso e a carreira. Não sei se por causa da ascensão de temas de política externa no interesse da opinião pública, por causa da situação morna da economia privada nos últimos anos ou simplesmente por efeito da minha faixa etária, de repente parece que todo amigo meu tem um amigo que quer prestar o concurso, isso quando não o querem meus próprios amigos. Ao invés de gastar meu tempo respondendo vezes sem conta às mesmas perguntas e ajudar — se é que ajudo — a uns poucos, melhor seria, pensei, se trabalhasse em um texto que respondesse de uma só vez à maior parte das perguntas que recebo e o pusesse na internet, ajudando — ou não ajudando — a todos os que quiserem ler.
Esta FAQ representa, naturalmente, a opinião pessoal do autor, e não tem qualquer vínculo com o Ministério das Relações Exteriores, o Instituto Rio Branco, o governo brasileiro ou qualquer outra instituição pública ou privada. Não se pretende, tampouco, uma resposta definitiva a quaisquer das perguntas abaixo listadas. O concurso está sempre mudando; poucos anos no Ministério, acompanhando mais ou menos de perto o tema, bastaram para convencer-me disso. Sai francês, entra francês, muda o sistema de correção de testes, desaparecem as provas orais, altera-se o peso relativo das matérias, evoluem os critérios das bancas examinadoras... Nos últimos três anos, cada concurso realizado teve certas regras e características únicas. Embora esta FAQ ainda se aplique muito bem ao concurso de hoje, nada garante que poderá aplicar-se bem ao de amanhã.
Sei bem, ainda, que esta FAQ está longe de ser completa. Por sorte, também não a considero acabada. Se você tem uma pergunta que não está relacionada aqui, e crê que uma resposta possa ser do interesse geral, ficarei muito grato se ma enviasse por emeio, que procurarei responder nesta página. Se não anoto meu endereço aqui, é para me proteger dos farejadores automáticos das listas de spam. Mas você pode encontrar um link na página principal deste site. Ou escreva para renatogodinho em uol ponto com ponto br.

Condições de uso
Esta FAQ é pública e de uso livre. Seu objetivo foi o de reunir o máximo de respostas em um só lugar conveniente. Além disso, esta FAQ não é estática, pois pretendo ampliá-la e revisá-la regularmente. Por isso, a única condição imposta a seu uso é que qualquer reprodução desta FAQ deverá ser feita integralmente, contendo inclusive um link para esta página, que trará sempre a versão mais atual.

Índice de perguntas
Apresentação
Condições de uso
O Concurso do Instituto Rio Branco
O concurso em si
O que é o concurso do Instituto Rio Branco?
Onde posso obter informações sobre o concurso?
Que história é essa de inglês não ser mais obrigatório?
Preciso saber falar francês?
Quais são os requisitos para passar no concurso?
Eu tenho dupla nacionalidade. Serei aceito no concurso?
Estudando para o concurso
Quanto tempo devo estudar?
Preciso ler toda a bibliografia listada no Guia de Estudo?
Que matérias devo priorizar nos meus estudos?
É possível passar estudando só as apostilas da Funag?
Que livros você recomenda que eu estude?
Você tem alguma dica para a hora de estudar?
Você tem alguma dica para a hora de fazer as provas?
Cursos preparatórios
Devo fazer um curso preparatório?
O que é melhor? Fazer um curso completo ou contratar professores particulares individualmente?
Quais são os cursos preparatórios disponíveis em minha cidade?
Que curso você recomenda?
O Instituto Rio Branco
Quanto tempo dura o curso do Rio Branco? (PROFA-I)
Eu ganharei uma bolsa durante o curso?
Há aulas de línguas?
Quais são as matérias estudadas?
Como assim, “Mestrado em Diplomacia”?
Como foi, pra você, estudar no Rio Branco?
Você gostou das aulas?
É possível ser reprovado?
Poderei, durante o Rio Branco ou depois dele, exercer alguma outra atividade remunerada na iniciativa privada?
E haverá tempo disponível para isso?
Durante o curso, há quantos meses de férias por ano?
Terei um estágio no exterior ao fim do Rio Branco? Por quanto tempo?
E o PROFA-II?
Carreira diplomática
O que “faz” um diplomata?
Qual a diferença entre embaixada e consulado? O diplomata trabalha nos dois?
Como é o dia a dia de um diplomata?
Tá bom, como é o dia-a-dia de um diplomata quando no Brasil?
E no exterior?
Qual é o “perfil” para ser diplomata?
Quanto tempo se passa no exterior?
Se eu não quiser, serei obrigado a me mudar para um determinado país?
Como é, então, que escolho os países onde vou servir?
Como é a hierarquia da carreira?
Se virar diplomata, vou chegar a ser embaixador? Quando?
Quanto ganha um diplomata?
Como ficam o cônjuge e os filhos quando o diplomata vai morar no exterior?
Outros temas
Quem é você?
Quando ingressamos no Rio Branco, o Itamaraty nos providencia residência em Brasília?
O MRE fornece alguma passagem aérea para minha cidade natal, periodicamente, ou sempre que quiser visitar meus familiares terei de arcar com as despesas de passagem?
Posso usar tatuagem?
Há uma idade máxima, ou "certa", para entrar na carreira?

O Concurso do Instituto Rio Branco
O concurso em si
O que é o concurso do Instituto Rio Branco?
Hoje, o Concurso para Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é ao mesmo tempo um vestibular para uma instituição pública de ensino profissional, o Instituto Rio Branco (IRBr), e um concurso público federal, em que os aprovados tomam posse em um cargo de funcionários públicos federais da carreira de diplomata. Quem é aprovado neste que é um dos concursos mais concorridos do país ingressa ao mesmo tempo no curso do IRBr e na carreira, no grau hierárquico de Terceiro Secretário. Ganha o salário integral de um diplomata em início de carreira, mas não começa a trabalhar de fato senão após concluir o curso, que costuma durar dois anos.
Nem sempre foi assim. Até 1990 e poucos, só se ingressava na carreira depois de concluído o Rio Branco. Os alunos do instituto contavam para seu sustento apenas com uma relativamente magra bolsa de estudos. A vida de um riobranquino hoje é bem mais feliz, ou, pelo menos, mais opulenta.
Onde posso obter informações sobre o concurso?
A primeira coisa a fazer é visitar a página do Instituto Rio Branco, que traz informações sobre a carreira. Lá também tem um link para o edital do concurso e para o Guia de Estudos. O Guia é uma publicação anual do Instituto. Ele fornece o importantíssimo programa de cada matéria que cai na prova. Lá você também encontrará a bibliografia recomendada, dicas de estudo, exemplos de questões de anos anteriores e outras informações úteis. É mais importante até, acredite, do que esta FAQ. Outro bom passeio é visitar um dos escritórios regionais do Itamaraty, se houver um em sua cidade, ou o próprio Itamaraty, se você está em Brasília. Então você encontrará impresso aquele mesmo Guia de Estudos em forma de livrinho, o que é muito mais conveniente do que baixá-lo da internet, poderá conversar com as pessoas (no meu tempo de estudo os diplomatas do Escritório em São Paulo, no Memorial da América Latina, eram muito legais, e gostavam de prosear com candidatos. Talvez ainda gostem) e, finalmente, conferir as publicações da Funag.
Que história é essa de inglês não ser mais obrigatório?
Não é exatamente verdade. A prova de inglês sempre foi e continuará sendo obrigatória. Aconteceu, porém, que, desde 2005, ela deixou de ser eliminatória. E não foi só ela. TODAS as provas após a primeira fase deixaram de ser eliminatórias, exceto a de português.
Antigamente, toda prova era eliminatória, o que significava que era necessário obter a nota mínima em todas. O resultado, no final da maratona, era que quase sempre acabavam entrando menos aprovados que vagas. Fazia bem para a imagem de “mau” do concurso, mas no meu entender era um desperdício. Se precisamos contratar 30 diplomatas, por que admitir só 27? Uma deficiência em uma matéria poderia ser amplamente compensada pela eficiência nas outras.
Com a mudança, não deverão mais sobrar vagas, e as pessoas vão ter de competir umas contra as outras, ao invés de competir contra as notas mínimas. A ordem de classificação é que vai determinar quem fica e quem volta pra casa. Por exemplo, se 150 pessoas passarem na prova (eliminatória) de português, mas só houver 50 vagas naquele ano, os aprovados serão os que obtiverem as 50 melhores médias em todas as provas.
Em outras palavras: quem zerar ou tirar nota muito baixa em inglês, ou em outra prova qualquer, não passará no concurso de qualquer forma, simplesmente porque outros candidatos terão médias melhores. É por isso que achei um exagero toda a polêmica criada na imprensa em torno da mudança. É verdade que, em um concurso com 100 vagas, é possível que alguém possa ser aprovado com uma baixa média em inglês, desde que compense nas outras. Mas não há de ser nada que não possa ser sanado — as aulas de inglês que tive no Instituto Rio Branco foram muito boas — bem acima da média peculiar a essa insigne instituição.
Preciso saber falar francês?
Não. No meu ano o concurso sequer tinha prova de francês. Agora ela voltou e, ainda que não seja eliminatória, algum francês vai ajudar a fazer a diferença em relação a outros candidatos. Fora isso, já se foi o tempo em que o francês era a língua diplomática oficial. Hoje, se há um idioma oficial da diplomacia, é o inglês. Francês ajuda, principalmente se você for trabalhar um dia em um país francófono, mas não é mais essencial como foi no passado. O espanhol é hoje muito mais útil para um diplomata brasileiro, uma vez que estamos cercados de países de fala hispânica com os quais mantemos relações importantes.
Quais são os requisitos para passar no concurso?
Legalmente, é preciso ser brasileiro nato, estar em dia com as obrigações eleitorais e de serviço militar, ter a ficha limpa na polícia e ser formado em um curso superior reconhecido no Brasil pelo Ministério da Educação (MEC). Qualquer curso superior. Apesar de mais ou menos metade dos aprovados no concurso serem via de regra formados em direito, e muitos outros em relações internacionais, conheço diplomatas formados em engenharia, medicina, letras e ciência da computação. Eu mesmo sou formado em jornalismo. Diplomas estrangeiros, só se reconhecidos pelo MEC.
Já na prática, para passar no concurso exige-se um domínio bastante razoável do programa previsto para as provas; boa capacidade de raciocínio e principalmente de escrita; bom nível em inglês. Já disse que esse concurso tem fama de ser um dos mais difíceis do país. É bem mais difícil do que ser aprovado em um vestibular concorrido, como o da Fuvest; é bem mais fácil do que compor uma boa sinfonia em quatro movimentos ou projetar a nova geração de CPUs. Talvez seja mais fácil que ser aprovado nos mais concorridos trainees para gerência de multinacionais no Brasil.
Espero não ter que ressalvar que, apesar de tudo o que disse acima, fácil e difícil são conceitos relativos; o que é fácil para um pode ser muito difícil para outro, e vice-versa.
Eu tenho dupla nacionalidade. Serei aceito no concurso?
A Constituição reza que, exceto as exceções, quem pede para ser naturalizado como nacional de outro país perde a identidade brasileira. No entanto, já ficou estabelecido que, em boa parte dos casos em que um brasileiro tem uma nacionalidade estrangeira, não foi ele que pediu uma outra nacionalidade — a dupla nacionalidade é apenas reconhecida, segundo as leis próprias do país estrangeiro, e portanto não há perda da nacionalidade brasileira. Assim sendo, não há obstáculos ao ingresso desses seres cosmopolitas no concurso. E não, não vão suspeitar que você é um agente duplo trabalhando para vender o Brasil para a Itália. Só tem uma coisa: a Lei do Serviço Exterior afirma que, para casar-se com estrangeiros, os diplomatas precisam da autorização do Ministro de Estado.
Estudando para o concurso
Quanto tempo devo estudar?
Você espera mesmo que eu responda a isso? Esqueça. Há pessoas que estudam por meia década até passarem. Outras (raríssimas, admito) não estudam quase nada. Eu fiz seis meses de um curso preparatório com aulas cinco vezes por semana, todas as noites, comparecendo às aulas, e lendo, com vagar, os livros mais interessantes da bibliografia. Não podia fazer mais porque, afinal, tinha que trabalhar e cuidar de que minha namorada não me largasse. Já na reta final, a seis semanas das provas da terceira fase, as que eu mais temia, larguei tanto o cursinho quanto o emprego e estudei intensamente, sozinho, oito horas por dia, sublinhando (ugh!) fazendo fichamentos (argh!) e tudo mais. Funcionou, para mim.
Cada um deverá encontrar a fórmula que melhor lhe convier. É importante ter consciência do grau de conhecimento necessário e das próprias deficiências localizadas.
Preciso ler toda a bibliografia listada no Guia de Estudo?
Não. Deixe-me dizer isso de novo. Não. Não desperdice seu tempo esgotando a lista pretensiosa, redundante e por vezes desnecessária que costumam publicar no Guia. Não quero dizer com isso que não haja obras importantes arroladas lá. Pelo contrário: a maior parte do que você vai precisar estará lá. Porém, priorize as disciplinas e, dentro delas, selecione as obras mais proveitosas. Evite as excessivamente especializadas.
Por outro lado, se você puder, não tenha medo de gastar dinheiro com livros. Construa uma pequena biblioteca pessoal. Eu, particularmente, nunca gostei de ler em bibliotecas, e acho chato ficar pegando títulos emprestado e pedindo renovação constantemente. Eu gastei mais de mil reais, se me lembro bem. Compre o que der em bons sebos e o resto nas livrarias. Você estará comprando bons livros, que lhe serão proveitosos mesmo na hipótese de você não passar. Evite estudar uma pilha de xerox mal encadernados. Ler em livros é muito mais cômodo e tem menos cara de “estudo”. Se vai ter que passar um bom tempo estudando para o concurso, é bom tornar a experiência o mais agradável possível.
Que matérias devo priorizar nos meus estudos?
Inglês é fundamental. Não basta um inglês desses de CCAA. O nível da prova é altíssimo, a exigência é que se escreva um inglês correto de verdade, um inglês que o norte-americano médio provavelmente não alcançaria. Português também, e é ainda mais complicado, pois a banca é exigente e idiossincrática. Se a primeira fase é a que quantitativamente mais elimina, a prova de português talvez seja a mais terrível. Como Parcas munidas de canetas vermelhas, a inescrutável Banca Corretora parece determinar às cegas quem vai passar e quem não vai, por melhor que seja o vernáculo praticado pelos pobres mortais em seu poder. Seu julgamento, porém, não é tão arbitrário. Na verdade, o importante é aprender o português DELA, da banca. Um português todo quadrado, certinho, virgulado, objetivo e sem firulas. Há muita má vontade contra o excesso de zelo da banca de português, inclusive de minha parte, mas às vezes penso que, no fundo, ela pode ter razão. Ou não.
Afora isso, as provas de História e de Política Internacional (antes “Questões Internacionais Contemporâneas”) são as mais importantes em termos de conteúdo. E, por fim, apesar de menos exigentes, não se pode ignorar as provas de Economia, Direito (internacional e administrativo) e Geografia.
É possível passar estudando só as apostilas da Funag?
Não. Para quem não sabe, a Funag é a editora do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ela publica apostilas chamadas "Manual do Candidato", uma para cada matéria da prova. Português, História, Geografia, etc. Considere-as um ponto de partida, um porto seguro que lhe dará uma idéia do tipo de conteúdo abrangido pelas provas. Não é suficiente estudar só nelas, vai ser preciso correr atrás dos livros. As apostilas da Funag podem ser adquiridas nos Escritórios Regionais do Itamaraty, em algumas livrarias especializadas e na própria Funag, na sede do MRE ou em sua loja virtual na internet.
Que livros você recomenda que eu estude?
Posso recomendar alguns que eu usei e gostei. Você faria muito bem se cruzasse algumas outras listas, porque a utilidade dos livros deve variar de acordo com o conhecimento que cada um já tem das matérias. Aí vão, por disciplina:
História: História do Brasil, Boris Fausto, Edusp. Para história da diplomacia no Brasil, temos o incontornável História da Política Exterior do Brasil, Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, Editora da UnB. Para história geral, o melhor é ler os quatro livros de Eric Hobsbawm, historiador cuja feiúra só é comparável à sua onisciência: Era das Revoluções, Era do Capital, Era dos Impérios e Era dos Extremos. Apesar de serem boas as edições da Companhia das Letras, aproveite e compre-os em inglês, na Livraria Cultura ou em bons sebos, para treinar também a leitura no idioma. Complete-os, porém, com a leitura de um bom livro texto de História Geral, mais resumido. O livro Diplomacy, de Henry Kissinger, mais focado em alta política internacional, também é uma boa pedida. Também sugiro lê-lo em inglês.
Geografia: por incrível que pareça, o melhor a fazer nessa matéria é deixar de lado a maior parte da bibliografia recomendada e estudar em livros de geografia do 2º grau. É muito bom o de Demétrio Magnolli e Regina Araújo. Chama-se Projetos de Ensino de Geografia, e tem dois volumes: Geografia do Brasil e Geografia Geral. A apostila de geografia da Funag é baseada nesse livro, mas o livro é muito melhor.
Economia: Economia Brasileira Contemporânea, vários autores, Ed. Atlas. O livro é excelente, cobre história econômica do Brasil, macroeconomia, microeconomia, contas nacionais, história do pensamento econômico, tudo. E é muito fácil de entender, comparado com outros manuais que existem por aí (desconfiem do chamado “manual dos professores da USP”! Para não-economistas, é grego). O livro clássico de Celso Furtado, Formação Econômia do Brasil, além de também ser muito bom e muito claro, serve também para a prova de história.
Política Internacional (ex-Questões Internacionais Contemporâneas): para esta disciplina é mais difícil arrumar um livro de base. O conteúdo é disperso e fica rapidamente ultrapassado. Um ponto de partida é o manual da Funag. Há também os livros que estão na bibliografia do Guia de Estudos. Mas o negócio é ficar atualizado, ler artigos e revistas sobre Alca (que, aliás, já era), Mercosul, EUA, etc. etc. Tem um site chamado RelNet (www.relnet.com.br) que é bem bacana. Lá você pode fazer um cadastro e receber por email boletins diários com uma coletânea de notícias de jornais do Brasil e do mundo sobre esses temas. No próprio site tem um monte de artigos que vale a pena ler.
Direito: Um livro muito bom é o Curso de Direito Internacional Público, Guido Soares, Editora Atlas. Para o direito interno, consulte uns livrinhos da Editora Saraiva, baratos, da coleção Sinopses Jurídicas. Os mais importantes são os vols. 17 e 18, mas o vol. 1 e o vol. 19 também podem servir (leia-se: seu conteúdo pode cair na prova).
Você tem alguma dica para a hora de estudar?
Eu segui uma dica que um amigo me passou, com excelentes resultados. Tenha um caderno de “fichamentos” para cada disciplina. A cada coisa que ler, um capítulo de um livro, um tópico do plano de estudos, faça logo em seguida o fichamento em que você resumirá as principais idéias do trecho lido e anotará suas observações, dúvidas e correlações mentais com outros livros, idéias ou capítulos que já tenha lido.
Na próxima vez em que for estudar essa matéria, leia primeiro o fichamento que escreveu da vez anterior. Se, ao ler, perceber que lhe vieram dúvidas acerca do conteúdo, esclareça-as voltando ao texto original. Em seguida, retome o livro e avance por mais um capítulo ou trecho e faça novo fichamento no caderno. Vá dormir.
Na terceira vez em que for estudar a disciplina, leia tanto o fichamento do primeiro dia quanto o do segundo. Avance mais um trecho, etc. Sempre, ao começar uma sessão de estudos, leia todos os fichamentos anteriores até já ter relido o primeiro deles por três vezes. Na quarta, descarte a releitura daquele e comece já do segundo.
Com esse método, você repassa cada conteúdo específico da matéria cinco vezes: uma ao ler, outra ao fichar, e mais três vezes com as releituras do fichamento. Se isso não fixar a matéria em sua cabeça, não sei o que o fará.
Você tem alguma dica para a hora de fazer as provas?
Tenho. O formato das provas muda um pouco a cada ano, mas alguma coisa posso dizer da minha experiência.
No Teste de Pré-Seleção (TPS): no meu tempo, a primeira fase da prova não era preparada pelo Cespe, que apenas a aplicava, e portanto não empregava o ignominioso método de anular uma questão correta para cada questão errada que o candidato marcar. A partir do segundo semestre de 2003, o Cespe passou também a elaborar a prova, e esse método passou a ser usado desde então. Fazer isso significa desencorajar o “chute”, pois em muitos casos torna-se melhor deixar a questão em branco do que arriscar a perder um ponto. Para mim isto privilegia o estudo obcecado e a memória em detrimento da capacidade de raciocínio, da inteligência e da criatividade. No método do Cespe, o candidato tem que saber a resposta. No método antigo, sempre se podia chutar, procedendo por eliminação e raciocinando com mil hipóteses e correlações em torno de uma questão desconhecida para chegar a uma ou duas alternativas prováveis.
Mesmo com as regras do Cespe, acho que vale a pena “chutar” algumas questões, desde que se tenha mais de 60% de certeza. E por fim um conselho prático e óbvio: reserve um tempo para preencher, sem erros, o cartão de resposta.
Na prova de português: Faça todos os exercícios menores e deixe a redação para o fim. A redação demanda tanta energia mental que, se você começar por ela, poderá ficar esgotado demais para fazer direito o resumo e os outros exercícios, mesmo que você não tenha usado todo o tempo disponível.
Escreva de forma contida e precisa. Evite viajar na maionese, e só esnobe erudição se tiver muita certeza do que está falando e de que aquilo se aplica estritamente ao caso analisado. Não procure “enfeitar” a redação.
Reserve um tempo para passar a redação a limpo. Pelo menos meia hora, melhor se forem quarenta minutos.
Apesar do que eu disse sobre a banca corretora, sou dos que acreditam em sua previsibilidade. Se for reprovado, vá obter vista da prova, como é seu direito. Estude as correções e os critérios que a banca usou, e tente aprender com os seus erros. Procure escrever como a banca quer que escreva.
Em todas as provas: se você acabou a prova muito antes do tempo máximo, é porque jogou fora a chance de ir melhor. Todo mundo sabe que tempo é dinheiro, mas nem todos se dão conta de que, em uma prova, tempo é NOTA. Se obtenho nota 5,5 em duas horas, poderia conseguir 6,5 ou 7,0 se dispusesse de quatro. Deixe a preguiça para outra hora. Resolva primeiro todas as questões que sabe, e labute nas que não sabe até o fim. Sempre se pode ter uma idéia luminosa, preencher um branco, refinar um argumento ou encontrar um erro nos vinte minutos finais. Como diriam os personagens de Monteiro Lobato, dê tratos à bola até descobrir a resposta para aquela questãozinha que te dará 0,2 ponto ou até acabar-se o tempo.
Nas provas orais: no momento em que escrevo, no 1º semestre de 2006, já não há provas orais. Quando voltarem, voltarei também a falar delas.
Cursos preparatórios
Devo fazer um curso preparatório?
Um curso preparatório — ou uma preparação com professores particulares — não é indispensável, mas é muito recomendável. Para além das aulas e do conteúdo propriamente dito, um curso lhe abrirá a oportunidade de ter contato rápido com os temas, de receber dicas de bibliografia e principalmente de socializar e conhecer gente que quer o mesmo que você. Dependendo de sua personalidade, se você tem que estudar por meses a fio, é melhor não fazê-lo sozinho, em casa, arriscando-se ao desânimo e à depressão. Um curso dá ânimo para continuar a estudar — nem que seja apenas por se estar pagando caro — a pessoas que, como eu, são demasiado preguiçosas quando se trata de estudo.
Aliás, pode chegar um momento em que o cursinho deixa de ajudar e começa a atrapalhar. Entre a segunda e a terceira fases, o que fiz foi SAIR do cursinho para que me sobrasse mais tempo para estudar de verdade. O tempo gasto no trânsito e em aulas irregulares e lentas, que tinham de atender a várias pessoas, passou para mim a não valer mais a pena a partir de certo ponto.
Os cursos preparatórios e as aulas particulares, por fim, são muito caros. Se não pode arcar com o tempo e o dinheiro necessários, o melhor que tem a fazer é encontrar outros candidatos em sua cidade e montar com eles um grupo de estudos. De novo: isso funciona para prazos mais longos. Estou convencido de que estudar sozinho é mais eficiente quando o tempo é curto.
O que é melhor? Fazer um curso completo ou contratar professores particulares individualmente?
Nenhuma opção é melhor em si. Depende do que estiver disponível em sua cidade. De maneira geral, São Paulo e Brasília, por exemplo, são conhecidos por seus cursos preparatórios bem organizados e bem preparados. Já o Rio de Janeiro até há algum tempo não tinha cursinhos completos, mas a ex-capital federal e ex-sede do Itamaraty conta com um rico leque de excelentes professores particulares especializados no concurso do Rio Branco, que precisam ser contatados e contratados individualmente. Nesse sistema você tem a vantagem de poder selecionar os melhores professores em cada matéria, contornando o maior problema dos cursinhos, que é a irregularidade do nível das aulas. Pelo relato de meus colegas cariocas, porém, aviso que contratar dessa maneira professores para várias disciplinas pode sair MUITO mais caro do que pagar a mensalidade de um cursinho completo.
Quais são os cursos preparatórios disponíveis em minha cidade?
Há poucos anos era muito difícil encontrar fora de Brasília ou São Paulo um curso preparatório especializado, mas agora há cursos em diversas grandes capitais do país, e outros estão aparecendo todo ano. A lista que segue está longe de ser completa. Se você é aluno, professor, dono ou simpatizante de um curso não listado aqui, faça a gentileza de me mandar um e-meio (endereço disponível na minha página web) listando as informações de contato, o endereço e, se houver, o endereço web do curso, que terei o maior prazer em incluí-lo neste espaço.
Brasília
Curso JB (também conhecido como “Cursinho do Ministro”, talvez pelo fato de o dono ser um diplomata de carreira. Até 2004, o nome era “Cursinho do Conselheiro”. Veja hierarquia da carreira).
Dados
Carreira Diplomática (outro curso bastante conhecido em Brasília)
Dados
Belo Horizonte
IBRAE – o primeiro, e dificilmente ainda o único, curso preparatório para o Rio Branco em Minas Gerais.
Alvares Cabral, Nº 397 - sala 1901
Telefone: (031) 3224-8073
São Paulo
Grupo de Humanidades - o curso que fiz. Recomendo.
Dados
Curso Rio Branco (não confundir com o próprio Instituto Rio Branco)
Dados
Curso Itamaraty (não confundir com o Itamaraty)
Dados
Professores particulares em São Paulo (DDD 011):
Alison Francis (Inglês) 3864-0409
Claudia Simionato (Português) 9681-8022
José Roberto Franco da Fonseca (Direito Internacional) 3255-8326
Tânia Melo (Inglês) 3275-9423
Rio de Janeiro
Argus Cultura
Dados
Curso Clio - quem me indicou elogiou muito sua infraestrutura, corpo docente e acervo.
Rua Gonçalves Dias, 85, 5º andar, Centro
Telefones: (21) 2221-9879 / 2221-2958
Professores privados no Rio (todos com DDD 021):
Adriano da Gama Khury (Português) 2551-5162
Edgar Pêcego (História do Brasil) 2539-8014
Eduardo Garcia (Português) 2205-7484
Lídia Bronstein (Geografia) 2239-4723
Marcus Vinicius (História Geral e Questões Internacionais Contemporâneas) 2535-3018
Paul Rickets (Inglês) 2511-0940
Raquel Dana (Inglês) 2235-0254
Sônia Ramos (Português) 2239-8418
Suzana Roisman (Inglês) 2274-5874
Williams Gonçalves (História Geral e Q.I.C.) 2568-4354
Que curso você recomenda?
O curso que eu fiz chama-se Grupo de Humanidades. Fica num sobrado simpático dentro de uma vilinha na Vila Mariana, em São Paulo. Estava longe de ser perfeito, claro. Havia professores muito bons e outros nem tanto. Mas não me arrependo, em absoluto. Na época, era o único, creio, a ter um módulo extensivo, com aulas todos os dias da semana. Não saberia, porém, recomendar o melhor curso. Cada um tem seus pontos fortes e fracos, horários diferentes, mensalidades diferentes. Se houver opção em sua cidade, sugiro que visite alguns, peça para assistir a algumas aulas, e chegue à sua própria conclusão.
O Instituto Rio Branco
Quanto tempo dura o curso do Rio Branco? (PROFA-I)

O Programa de Formação e Aperfeiçoamento de Diplomatas, estritamente falando, dura um ano. O curso do Rio Branco, porém, costuma durar mais. Como desde 2002 o curso transformou-se em um mestrado, há aulas adicionais que fazem parte do mestrado, mas não do PROFA-I, e há tempo previsto para sessões de estudo com seu orientador e para elaborar a dissertação acadêmica. Conte, portanto, com dois anos de vida acadêmica.
Eu ganharei uma bolsa durante o curso?
Como já disse acima, ao ingressar no Rio Branco, o aluno ingressa também na carreira diplomática, no grau de Terceiro Secretário. Não tem necessidade alguma de uma bolsa de estudos, visto que recebe o salário integral do início da carreira.
Há aulas de línguas?
Há aulas obrigatórias de inglês, francês e espanhol. O objetivo é que todos egressem do Rio Branco com conhecimento operativo das três línguas. Além disso, o Instituto Rio Branco oferece aulas opcionais de diversos outros idiomas, do alemão ao chinês, passando pelo árabe. No meu tempo, a turma reunia um número mínimo de interessados e entrava em contato com um professor, que era então remunerado pela instituição. Recentemente, esse sistema sofreu reformas, e ainda não está claro qual será o novo método de ensino de línguas estrangeiras que não as três já mencionadas.
Quais são as matérias estudadas?
Além dos idiomas, o PROFA-I tem aulas de Linguagem Diplomática, Direito Internacional, Histórias das Relações Exteriores do Brasil, Política Externa Brasileira, Economia Internacional, Teoria das Relações Internacionais e Leituras Brasileiras.
Além dessas disciplinas regulares, o Instituto Rio Branco costuma oferecer outras disciplinas, ligadas ou não à atividade do mestrado, segundo seus objetivos. Há ainda uma fervilhante atividade de seminários e palestras que põe os alunos em contato com personalidades acadêmicas, diplomatas, políticos e autoridades do Brasil e do mundo.
Como assim, “Mestrado em Diplomacia”?
Desde 2002 o curso do Instituto Rio Branco tem valor de mestrado, o que requer, como sua atividade principal, o preparo pelo aluno de uma dissertação acadêmica. Esta pode versar sobre temas ligado às relações internacionais do Brasil, ao direito internacional, à economia internacional ou à questões de identidade nacional. Como vê, a margem é ampla. O aluno escolhe seu orientador acadêmico dentre uma lista de nomes fornecida pelo Instituto. Nem todos são professores do Rio Branco.
O curso do Rio Branco é reconhecido pela CAPES como Mestrado Profissional, avaliado com conceito 4 em uma escala de 1 a 7.
Como foi, pra você, estudar no Rio Branco?
O Rio Branco é muito idealizado por quem está fora. Quando se entra, descobre-se que é um curso como o de qualquer universidade, com algumas aulas boas, outras ruins, professores sérios, professores picaretas, trabalhos entregues na última hora e, dependendo do caso, uma ou outra guerrinha de bolas de papel amassado. A diferença é que os alunos vestem terno e gravata e ganham já o salário inicial da carreira, para estudar. Eu não sou maluco de desprezar o privilégio de receber dinheiro para estudar, mas é verdade que alguns se cansam cedo das carteiras do Rio Branco e querem logo ir para o Itamaraty, para trabalhar “como gente grande”. Para mim, com certeza, o contato com minha turma foi a melhor coisa do Rio Branco: o concurso se encarrega de que muitas pessoas inteligentes e interessantes irão tornar-se seus colegas.
Você gostou das aulas?
Gostei muito de poucas e razoavelmente de algumas, o que me coloca, em grau de satisfação, acima da média das pessoas de minha turma e de outras turmas que conheço. Acho que o problema é que muitos chegam ao Rio Branco esperando demais e se decepcionam. Por mais que reclamem do curso ou das aulas, porém, não vi ninguém, até agora, desistir da carreira por causa disso.
É possível ser reprovado?
Teoricamente, sim. Teoricamente, o Rio Branco insere-se naqueles três anos de estágio probatório, previstos em lei, durante os quais o funcionário público recém-ingresso ainda não adquiriu estabilidade na carreira, podendo ser demitido sem necessidade de uma acusação grave e de um processo administrativo. Assim, em teoria, se um aluno não passar no Rio Branco, não será confirmado no Serviço Exterior — em outras palavras, perderá o emprego.
Na prática, só será reprovado quem se esforçar muito para isso. Afinal, se você passou no concurso é porque lhe sobra capacidade para acompanhar o curso, a menos que resolva mandar tudo às favas, faltar à maior parte das aulas e não fazer nenhuma prova ou trabalho.
Se você não fizer a dissertação de mestrado, terá, de todo modo, cumprido o PROFA-I e prosseguirá sua carreira normalmente, apenas sem o título acadêmico.
É possível, ainda, “ficar de segunda época” em uma disciplina ou outra. Nesses casos, pode-se combinar com o professor a feitura de um trabalho ou uma prova suplementar que resolva o problema.
Poderei, durante o Rio Branco ou depois dele, exercer alguma outra atividade remunerada na iniciativa privada?
Diplomatas são funcionários públicos federais e portanto devem ter dedicação exclusiva ao Estado, sob pena de inquérito administrativo e possível exoneração. Exceções únicas: atividades de magistério e remuneração a título de direitos autorais por obras de autoria própria (e.g., livros, artigos, fotografias). Tenho colegas que dão aula em faculdades particulares, sem problema.
E haverá tempo disponível para isso?
Tempo, durante o curso no Rio Branco, há. Depois, vai depender da divisão em que for trabalhar, do ritmo do seu chefe e da sua própria disposição e prioridades.
Durante o curso, há quantos meses de férias por ano?
Dois meses de recesso, janeiro e julho. No final de dezembro (23 em diante) também não costuma haver aulas. Mas oficialmente só temos um mês de férias, e após um ano no Rio Branco podemos tirá-las e ganhar o adicional de férias como todo funcionário de carteira assinada, mas o período de férias tem de coincidir com o recesso no Rio Branco.
Terei um estágio no exterior ao fim do Rio Branco? Por quanto tempo?
Essa é uma pergunta sensível. Tradicionalmente havia um estágio de três meses em uma embaixada ou outro posto do Brasil no exterior. Esse estágio, porém, nunca foi considerado parte integrante do curso do Rio Branco, e sua duração, formato e destino costumam ficar à mercê das preferências flutuantes dos diretores do Instituto e dos manda-chuvas do Itamaraty. A turma de 2002, por exemplo, foi enviada por um ano inteiro ao exterior, deixando de matar a sede anual da Secretaria de Estado em Brasília por novos diplomatas. A turma seguinte pagou pela prolongada ausência da anterior ficando sem estágio e sendo lotada imediatamente nos departamentos e divisões do Ministério. Talvez volte a haver estágio em anos vindouros. Talvez não.
E o PROFA-II?
Não tenho a menor idéia de por que o PROFA-I chama-se PROFA-I, pois não há nenhum PROFA-II. Isso não quer dizer que o diplomata não tenha que voltar a estudar. Ao longo de sua carreira, ele poderá voltar duas vezes às mesas escolares do Rio Branco: uma vez para fazer o Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas (CAD), obrigatório para promoção ao cargo de Primeiro Secretário; e outra para o Curso de Altos Estudos (CAE), obrigatório para promoção ao cargo de Ministro de Segunda Classe.
Carreira diplomática
O que “faz” um diplomata?

O diplomata é o funcionário público que cuida da formulação da política externa e do manejo diário das relações exteriores do Estado Brasileiro, incluindo o apoio a cidadãos brasileiros no exterior. Você com certeza já ouviu falar que, com a globalização, as tecnologias de comunicação e transporte e a crescente interdependência entre os Estados, os países envolvem-se em um número cada vez maior de questões cada vez mais especializadas etc. etc. etc. Na prática, isso significa, para os diplomatas, mais trabalho. Há cada vez mais órgãos internacionais, reuniões e foros bilaterais (dois países), plurilaterais (alguns países) e multilaterais (um montão de países) sobre os temas mais diversos, nos quais o Brasil tem pelo menos algum interesse. Isso, somado à cada vez maior comunidade brasileira na diáspora e à necessidade de abrir novas embaixadas em países menores, explica por que o governo está atualmente ampliando em 25% o quadro de diplomatas.
Qual a diferença entre embaixada e consulado? O diplomata trabalha nos dois?
Em tese, uma embaixada é a representação do Estado Brasileiro junto a um Estado estrangeiro. Trata, portanto, dos contatos políticos e econômicos intergovernamentais, e sempre se localiza na capital política do país em questão. Um consulado é um posto avançado do Estado Brasileiro em outro país, com o fim principalmente de prestar apoio aos brasileiros no exterior, mas também, supostamente, de realizar atividades de divulgação cultural, promoção comercial e assistência à iniciativa privada. Se em cada país há no máximo uma embaixada do Brasil, por outro lado em um só país pode haver diversos consulados, desde que a existência de várias cidades importantes ou com grande presença de brasileiros o justifique. É comum ainda que a embaixada acumule as funções de consulado na capital em que se localiza.
No início do século XX, havia, no Brasil, carreiras separadas para funcionários diplomáticos e consulares. De há muito, porém, as carreiras são unificadas, e o diplomata pode servir tanto em embaixadas quanto em consulados.
Como é o dia a dia de um diplomata?
O dia-a-dia do diplomata pode ser muito diferente, dependendo de onde ele está e do que está fazendo. Podemos dividi-lo em dois momentos principais: exterior e Brasília. Toda a carreira se alterna entre estes momentos: alguns anos no exterior, alguns em Brasília. Alguns no exterior, alguns em Brasília. E assim vai...
Tá bom, como é o dia-a-dia de um diplomata quando no Brasil?
Quando se está em Brasília, como é o meu caso atualmente e é sempre o caso de quem está começando, o diplomata é um funcionário público, um burocrata do Ministério das Relações Exteriores. Há montes de divisões, departamentos e áreas, cada uma cuidando de uma coisa. ONU, meio-ambiente, desarmamento, cultura, fome no mundo, Mercosul, Alca, relações bilaterais (um departamento para cada continente) e por aí vai. Prepara-se discursos, relatórios, instruem-se as embaixadas no exterior, faz-se pesquisas, viaja-se para participar de encontros internacionais que duram alguns dias. Há também divisões administrativas, em que o diplomata não vai cuidar de política externa, mas do funcionamento do Ministério: RH, material, patrimônio, passagens aéreas, hotéis, passagens etc. Há por fim o Cerimonial, que organiza a logística de eventos que o Brasil sedia, organiza visitas de Chefes de Estado ao Brasil e planeja e acompanha as viagens do nosso Presidente ao exterior. É onde existe de fato aquele trabalho clichê de um diplomata — dispor quem senta onde no jantar, fazer convites, preparar salamaleques. Mas não é só isso. O Cerimonial planeja agendas, reserva hotéis, salões de convenções, prepara transportes, credenciais e coordena o trabalho de segurança com a Polícia Federal e o Exército.
Ao longo de sua carreira, um diplomata trabalhará em diversas divisões, e terá de se adaptar a assuntos e rotinas um tanto diferentes. Muitas tarefas, no entanto, envolvem escrever. Escrever para as embaixadas nossas no exterior, dando-lhes instruções, escrever para as embaixadas estrangeiras aqui, escrever para outros ministérios de modo a coordenar políticas ou pedir apoio ou participação em algum evento, escrever relatórios para serem lidos pelo secretário-geral, pelo ministro e pelo presidente da república. Escrever discursos para alguém pronunciar, escrever, escrever, escrever... Há ainda incontáveis reuniões de debate, coordenação ou negociação, seja dentro do Ministério, seja com outros Ministérios, seja com outros países.
E no exterior?
No exterior é que o diplomata fica realmente parecido com o conceito que as pessoas têm de diplomata. Com seus companheiros de embaixada (de dois a vinte e poucos diplomatas brasileiros, dependendo do país, mais diversos oficiais e assistentes de chancelaria e outros funcionários), ele irá acompanhar a vida política do país e fazer relatórios para os colegas da divisão correspondente em Brasília, sob o comando do Embaixador, que é o chefe do posto. Poderão agitar eventos culturais, participar de coquetéis com autoridades do país e com diplomatas de outros países, preparar o terreno para visita de autoridades brasileiras ao país em que ele estiver, cuidar da administração da embaixada, responder à imprensa local se ela quiser saber algo sobre o Brasil, e em geral ajudar a representar nosso país no exterior. Deverão escrever muito, também, preparando comunicados e relatórios para seus pares em Brasília.
Nos consulados, os diplomatas ajudarão os cidadãos brasileiros no exterior. Serão a face amiga do Estado brasileiro para o brasileiro que está lá fora. Vistos, casamentos, prisões, expulsões, imigração, crimes, comércio, negócios... não ache que brasileiro não dá trabalho. A vida de um diplomata, enfim, poderá ser muito diferente dependendo da área de trabalho, quer se esteja no exterior, quer no Brasil.
Qual é o “perfil” para ser diplomata?
Que pergunta estranha... mas como já ma fizeram algumas vezes, vou responder. Não há um "perfil" para ser diplomata. Já vi gente de todo tipo, lá. Todo tipo. Mas acho que, em termos de formação acadêmica e interesses, o tipo padrão é formado em direito, tem interesse por questões internacionais e gosto por línguas. Talvez um pendor para a insanidade leve, mas isso é controverso. Porém, já escrevi que a vida do diplomata muda muito ao longo da vida. A cada poucos anos um tema, uma situação, um país, uma língua diferentes. Acho, portanto, que uma característica desejável é a capacidade de adaptação e de acomodação.
Quanto tempo se passa no exterior?
O tempo varia segundo a carreira de cada um. Você pode ficar mais tempo no exterior ou mais no Brasil. É razoável supor que metade da vida profissional de um diplomata, em média, desenvolve-se em postos no exterior. Não é possível, porém, passar mais de oito anos consecutivos no exterior (dez anos para embaixadores), e dificilmente um diplomata passa mais de três anos em um só posto.
Se eu não quiser, serei obrigado a me mudar para um determinado país?
Não. Ninguém é obrigado a ir para onde não quer, embora o Ministério disponha de diversas maneiras de incentivar e convencer as pessoas a irem para países prioritários para a política externa. Aliás, só é removido (transferido para um posto no exterior) quem se inscreve, internamente, em um plano de remoção. Porém, como a ascensão na carreira tem entre seus requisitos legais um número mínimo de anos de serviço no exterior, todos terão que se inscrever mais cedo ou mais tarde, caso queiram progredir na carreira. O salário no exterior, sempre muito maior do que no Brasil, também é incentivo relevante.
Como é, então, que escolho os países onde vou servir?
Há muita flexibilidade e razoável poder de escolha, embora seja difícil obter uma vaga nos postos mais concorridos. Você escolhe para que país irá segundo as vagas disponíveis no momento em que pede a remoção, escolha esta condicionada por regras que se alteram a cada plano. Os postos no exterior são classificados em A (países desenvolvidos e cidades com boa qualidade de vida, como Paris, Nova York, etc.), B (países e cidades com qualidade de vida intermediária, como Praga, Montevidéu, Santiago), e C (o resto, como Pequim, Nova Delhi, Quito e cidades da África subsaariana). Estão estudando criar uma categoria D, para os postos em que a vida é mais difícil.
O sentido dessa categorização é que há várias regras para equilibrar a escolha dos postos e reduzir privilégios e injustiças: em postos C, por exemplo, você ganha mais em relação ao custo de vida do país e depois tem o direito de sair para um posto A; não se pode ir para dois postos A consecutivos, etc.
É possível seguir uma carreira acadêmica paralela à diplomática?
São cada vez mais raros os casos de diplomatas como Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, José Guilherme Merquior e outros, que conseguem conciliar a atividade de diplomata com uma carreira extremamente bem sucedida em outra área, como a acadêmica. Será que isso quer dizer que os diplomatas hoje têm que trabalhar mais? De qualquer forma, isso não quer dizer que não haja abertura. Muitos aproveitam seus períodos no exterior para fazer um doutorado, por exemplo, conciliando-o com o trabalho. Diversos outros seguem dando aulas e publicando livros. Não há licenças especiais para isso, porém, exceto licenças não-remuneradas. Se quer seguir carreira acadêmica, é por sua conta.
Como é a hierarquia da carreira?
É a seguinte, de cima para baixo na cadeia alimentar:
Ministro de Primeira Classe (vulgo “Embaixador”).
Ministro de Segunda Classe (vulgo “Ministro”)
Conselheiro
Primeiro Secretário
Segundo Secretário
Terceiro Secretário
Exceto em casos especiais, apenas um diplomata que alcança o grau de Ministro de Primeira Classe pode servir como embaixador do Brasil em algum país estrangeiro, daí esse grau ser chamado, por comodidade, de “Embaixador”. Em países pequenos e menos importantes, com embaixadas menores, um Ministro de Segunda Classe pode eventualmente servir como Embaixador. Há também indicações políticas, normalmente raras, em que o Presidente da República designa alguém de fora da carreira como Embaixador. Foi o caso, por exemplo, do ex-presidente Itamar Franco, na Itália. Nesses casos, o embaixador “civil” poderá contar como seus assessores com diplomatas de carreira experientes.
Se virar diplomata, vou chegar a ser embaixador? Quando?
Com a ampliação dos quadros, o aumento da idade média em que se ingressa na carreira e o afunilamento das promoções, a maior parte dos diplomatas que hoje ingressam no Itamaraty não chegará nunca ao grau de Ministro de Primeira Classe, nem chefiará uma embaixada. Não obstante, a carreira está cheia de oportunidades de realização profissional e pessoal. Não é preciso ser embaixador para se envolver em negociações internacionais, contribuir para formar a posição brasileira em diversos temas ou gozar ao redor do mundo de experiências de vida gratificantes, em contato com pessoas e culturas interessantes e diferentes.
Como ficam o cônjuge e os filhos quando o diplomata vai morar no exterior?
É fato conhecido que a vida pode não ser lá muito fácil para a família de um diplomata. Para o cônjuge não-funcionário do Serviço Exterior, e dependendo de sua profissão, pode ser difícil levar adiante uma vida profissional mudando-se de país a cada três ou quatro anos. O mesmo motivo torna não trivial a educação dos filhos. A maior parte dos diplomatas opta por manter seus filhos em escolas de rede internacional, como a escola americana ou a escola francesa, ao menos quando estão no exterior. Isso lhes permite manter currículo e língua constantes ao longo de tantas mudanças. São escolas caras, contudo. Por fim, não há nenhum acordo internacional facilitando o emprego de cônjuges ou familiares de diplomatas quando no exterior e, exceto por um acréscimo de salário baseado no número de dependentes, não há outra forma de apoio do MRE às famílias no estrangeiro. Uma reivindicação antiga dos funcionários é uma ajuda de custo para educação, mas não há perspectivas de que seja atendida, por enquanto.
Quanto ganha um diplomata?
O Ministério do Planejamento divulga uma lista, atualizada periodicamente, com os salários de todos os servidores públicos federais. Os salários dos diplomatas, de Terceiro Secretário a Ministro de Primeira Classe (vulgo "Embaixador") estão todos lá. Adianto que hoje, maio de 2006, um Terceiro Secretário entra na carreira recebendo R$ 5.103,65 brutos (R$ 3.538,44 após impostos e previdência). Após seis meses de estudo, o salário sobe para até R$ 3.853,59 líquidos ou um pouco menos, dependendo da avaliação individual que lhe fizerem.
Achou muito ou pouco? Tem gente que reclama, mas o fato é que está correndo, no Congresso, projeto de lei para o aumento dos salários dos funcionários do Serviço Exterior, o que inclui diplomatas, oficiais e assistentes de chancelaria.
O que foi dito vale para o Brasil. No exterior, os salários são maiores e calculados em dólar. É difícil precisar os valores, pois variam de posto para posto de acordo com o custo de vida local e outros fatores e, de pessoa para pessoa, de acordo com o estado civil do diplomata, seu nível hierárquico e o número de seus dependentes. Em média, porém, um Terceiro Secretário pode esperar ganhar entre quatro e cinco mil dólares, líquidos, quando no exterior. Um Conselheiro, em torno de sete a nove mil. Um Embaixador, em torno de onze a quinze mil, além de verbas para gastos com recepções oficiais e representação.
Além disso, os diplomatas no exterior recebem uma ajuda de custo para o aluguel, que cobre de 60 a 100% do valor do contrato até um valor determinado, dependendo do posto.
Outros temas
Quem é você?

Incluí essa pergunta porque entendo que a compreensão e interpretação de um texto, e principalmente de um texto que contenha opiniões e pontos de vista pessoais, como este, depende de se saber quem foi que o escreveu. O mesmo juízo, emitido por um embaixador no final da carreira, por um filho e neto de diplomatas, por uma jovem terceira secretária ou por um acadêmico não-diplomata será recebido de forma diferente por quem o lê, caso este saiba de quem partiu.
Pois bem, nasci em 1979, em uma família de classe média. Meu pai é oficial da Aeronáutica. Com exceção de um ano vivido com minha família na França, quando contava seis anos, nunca, até hoje, passei mais do que uns poucos dias em qualquer país estrangeiro.
Sou formado em jornalismo pela Universidade de São Paulo. Nunca, antes de completar a universidade, cogitei seriamente prestar o concurso do Instituto Rio Branco e ingressar na carreira diplomática; aliás, por muito tempo sequer sabia da existência desse instituto ou devotava qualquer interesse à diplomacia como atividade ou profissão. Não há diplomatas em minha família, nem nunca, até me envolver com o concurso, conheci nenhum.
Durante a faculdade, e ao longo de dois anos depois de formado, trabalhei como jornalista em diversos veículos, com emprego fixo ou como freelancer, incluindo a revista Superinteressante, a Revista Submarino (na internet, hoje extinta), a Folha de S. Paulo, o site de tecnologia Hotbits e outros.
Não sei bem explicar até hoje por que prestei o concurso. Jornalistas e diplomatas, creio, têm em comum o entenderem e fazerem de tudo um pouco, sem conhecerem a fundo coisa alguma. Meu pai já me chamava a atenção para o concurso há alguns anos sem que eu lhe tivesse dado bola. No início de 2002, porém, resolvi prestá-lo “só para ver”, sem estudar, e fui reprovado na prova de português da segunda fase. Meu interesse, porém, foi capturado, e no segundo semestre do mesmo ano procurei um curso preparatório. Prestei o concurso no ano seguinte e fui aprovado.
Ingressei na carreira diplomática em julho de 2003, aos 24 anos de idade. Concluí o curso do Instituto Rio Branco em março de 2005. Minha dissertação de Mestrado em Diplomacia foi aprovada com o tema “A política-externa norte-americana e a influência dos grupos de pressão no Congresso dos Estados Unidos”.
Hoje, março de 2006, como Terceiro Secretário, trabalho no Departamento de Integração do Ministério das Relações Exteriores. Até agora, não fui “removido” (transferido para um posto no exterior), e não espero sê-lo por pelo menos um ano, ainda. Minha experiência profissional no exterior resume-se, por enquanto, a viagens curtas para participar de reuniões entre governos dos países do Mercosul.
Quando ingressamos no Rio Branco, o Itamaraty nos providencia residência em Brasília?
Providencia nada. Mas quem está na carreira tem EXPECTATIVA de direito a um apartamento funcional. Há um bloco de apartamentos do Ministério em Brasília que é destinado aos diplomatas recém-ingressos. São 36 apartamentos de um quarto, sala, varanda, banheiro e cozinha na Asa Sul. Muito bons para um solteiro, apertados, mas suficientes, para um casal, péssimos para quem tem filhos. Como são só 36, há uma lista de espera. Dentro da mesma turma, o número de dependentes é o principal critério para ordenar a lista, e a classificação no concurso é o desempate. Para você ter uma idéia, depois de um ano e meio, a minha turma (ingresso em 7/2003) ainda não havia acabado de receber os apartamentos. Eu recebi o meu após um ano de espera. A demora para os que entram na carreira agora provavelmente será bem maior do que para mim, por causa do aumento do número de vagas. Em suma: não conte com apartamento tão cedo. Em tempo: depois de alguns anos, chega-se por outra lista de espera aos chamados apartamentos definitivos, de dois ou três quartos. Mas esses realmente demoram, e os que estão chegando do exterior têm prioridade sobre os recém-ingressos. Uma página do site do MRE informa que o Ministério possui ao todo 450 imóveis no Distrito Federal. Não imaginava que fossem tantos.
O MRE fornece alguma passagem aérea para minha cidade natal, periodicamente, ou sempre que quiser visitar meus familiares terei de arcar com as despesas de passagem?
Não somos deputados. Ganhamos nosso salário e nos viramos com ele. Sequer as despesas da primeira mudança para Brasília serão cobertas pelo MRE, embora futuras mudanças para o exterior sim.
Serei reprovado no concurso por causa da minha tatuagem?
Não há NADA escrito em lugar nenhum que proíba as pessoas de usarem tatuagens no Itamaraty. Não vou negar que a instituição não tenha superado todos os seus ranços conservadores, tradicionalistas — nós trabalhamos de terno e gravata, pra começar. Quando havia provas orais, teoricamente, e digo TEORICAMENTE, seria possível um aluno ser mal visto por um ou mais membros da banca por causa de uma tatuagem demasiado agressiva ou aparente e acabar reprovado, embora esse jamais seria o motivo oficial. No momento, porém, não há provas orais, de modo que faltam até os instrumentos para um controle como esse. E eu conheço diplomatas que usam tatuagens.
Há uma idade máxima, ou "certa", para entrar na carreira?
Não. Consta que há muitos anos havia uma idade máxima de 28 anos, mas foi derrubada por inconstitucional. Conheço quem tinha visto mais de quarenta primaveras quando entrou na carreira. A idade média de entrada vem aumentando desde que se passou a exigir curso superior completo para entrar na carreira. Casos de pessoas que começam a carreira com trinta, trinta e poucos anos, mestrado e até doutorado completos são bastante comuns. Na minha turma, a caçulinha tinha 21 anos e a mais velha 41. Há porém, segundo a Lei do Serviço Exterior, certos limites máximos de idade para determinados graus da hierarquia. Se, antes de atingido o limite para Conselheiro, por exemplo, o funcionário não for promovido a Ministro de Segunda Classe, ele entra para o chamado Quadro Especial e, apesar de continuar trabalhando normalmente, não poderá mais ser promovido.
***
Aqui termina a FAQ do Candidato à Diplomacia. Espero que lhe possa ser de algum proveito. Se você tem uma pergunta que não está relacionada aqui, e crê que uma resposta possa ser do interesse geral, ficarei muito grato se ma enviasse por emeio, que procurarei responder nesta página. Você pode encontrar um link na página principal deste site. Ou escreva para renatogodinho em uol ponto com ponto br.

78 comentários:

Anônimo disse...
Caro Sr. Paulo,

Gostaria de parabenizar por disponibilizar esse FAQ, mas gostaria de saber uma coisa sobre o salário. Um diplomata recebe pouco mais de R$ 7.000,00. Isso é suficiente para que alguém, como eu, com mulher e uma filha consiga se manter em Brasília. O FAQ desmistificou muitas idéias que tinha (de que o diplomata tinha residência fornecida pelo MRE, aqui e no exterior; empregados nas residências oficiais; escola para os filhos, etc.) isso não me desinteressou pela carreira, mas faz repensar o que prepondera atualmente: viver de convicção ou ter uma boa qualidade de vida (como Juiz, por exemplo).
Obrigado.
Paulo R. de Almeida disse...
Meu caro anonimo,
Se voce ja é juiz ou pretende ser, esqueca a carreira diplomatica. So se entra com muita vocacao, pois o salario de partida é efetivamente insuficiente para manter dignamente uma familia em Brasilia, sobretudo que nao existe mais apartamentos funcionais.
Quando eu entrei na carreira o salario era ainda mais baixo, relativamente, mas tinha apartamento funcional, e pude sair em dois anos para ganhar em dolares.
Acredito que voce teria dificuldades para baixar de padrao.
Marcos disse...
Na verdade, não sou Juiz, sou assessor de Juiz Federal, mas a carreira de Juiz só me interessaria pela remuneração. A carreira diplomática seria diferente, pois é um sonho muito antigo. às vezes penso que coloquei a "carreta na frente dos bois" ao casar antes de fazer o concurso.
Hoje busco uma remuneração decente, mas com paixão, por isso pensei na diplomacia.
No entanto, o salário de terceiro secretário seria um pouquinho maior do que ganho, com a diferença que eu me mudaria do interior do RS (Pelotas/RS) para Brasília, uma das três cidades com custo de vida mais alto do país. Isso é a única coisa que está me "enlouquecendo" atualmente.
De qualquer forma, obrigado pelos comentários e pela página.
Luis Henrique disse...
eu sou novo, tenho 18 anos
mas já tenho interece sobre essa area
mas antes disso eu pretendo concursar e entrar nas forças armadas.
só depois que me formar eu pretendo fazer uma faculdade e seguir a carreira diplomatica, eu terei que sair de uma das armas para ingressar?

e porque um diplomata nunca chegara ao grau de 1° classe?
Paulo R. de Almeida disse...
Meu caro Luiz Henrique,
Se voce tem 18 anos, supostamente já entrou ou está entrando na Universidade.
Deveria saber, por exemplo, que interesse se escreve com dois ss, e não com 'c', o que é um erro imperdoável para qualquer pessoa.
O verbo concursar tampouco foi inventado, ao que eu saiba, sendo a forma correta fazer concurso.
Creio que você teria de fazer muito progresso na língua portuguesa, além de supostamente em todas as demais matérias do concurso, antes de pensar em ingressar na diplomacia.
Confesso que não entendi as duas últimas questões que você coloca, o que denota uma incapacidade de formular claramente questões objetivas.
Sinceramente, acho melhor você tentar ingressar nas Forças Armadas -- mas não sei em qual categoria, se existe uma seleção para isso -- em lugar de se tornar diplomata, o que, tendo em vista suas dificuldades com a língua seria de toda forma muito difícil.
Desculpe pela sinceridade, mas não creio que você consiga superar essas dificuldades em pouco tempo, embora nada é impossível para quem se dedica seriamente a qualquer empreendimento em busca de um objetivo de vida muito desejado.
Boa sorte.
PRA
Joao - Jowow disse...
Caro Sr. Paulo,

Eu, como a Luiz Henrique, tenho 18 anos e atualmente estudo Relações Internacionais na Ibmec-RJ. Devo confessar que depois da resposta à pergunta anterior, até fiquei um pouco tímido. Mas mesmo assim gostaria de lhe fazer uma pergunta.
Minha questão é quanto à divisão de cargos no após o término do mestrado no Rio Branco. Gostaria de saber como um diplomata é encaminhado a uma divisão (cerimoniais, RH, etc).
Obrigado desde já pela disponibilidade e pelo blog, que, por sinal, destrói muitas das ideias estereotipadas do que é realmente ser um diplomata.
Paulo R. de Almeida disse...
Joao,
Sua colocacao na lista de antiguidade (numeracao linear) vai depender dos resultados finais do curso do Instituto Rio Branco. A partir daí nao existem muitos criterios para selecao de locais de trabalho, a nao ser o fato de que os primeiros colocados podem escolher trabalhar nas Divisoes para as quais existem certo numero de vagas. Os ultimos lugares, vao trabalhar no Almoxarifado, Serviços Gerais, varrer os corredores, recolher o lixo, etc.
Estou brincando, mas na vida funciona assim: os melhores têm as melhores chances, os outros deveriam voltar a estudar...
Ninguém é obrigado a trabalhar no Cerimonial ou na Administração, mas as vezes sobra para alguém. Eu, por exemplo, não iria nem amarrado e amordaçado, mas tem gente que gosta de arrumar flores e cuidar da vida dos outros...
Fernanda disse...
Caro Sr. Paulo,

O Sr. enfatiza que o nível de inglês exigido no concurso é muito alto, surgiu-me uma dúvida...
Onde o Sr. estudou inglês? Pode me dar uma dica?

Grata,
Fernanda
Lino disse...
Boa Tarde!
Sou formado em direito e confesso-lhe que sempre gostei muito da carreira de diplomata, principalmente quando saí da universidade e pude ter um pouco mais de conhecimento do que eu pretendia. Na época em que me formei, tinha 27 anos, porém por circunstâncias da vida acabei só advogando e sendo um microempresário. Hoje com 38 anos penso ainda, que com esforço posso conseguir realizar o sonho, porém, vejo com entrave toda uma vida que acabei construindo ao meu lado por esses anos passados. Gostaria de lhe fazer duas perguntas:
1- Se por acaso ingressar na carreia, eu seria obrigado a ir para Brasília ja nós primeiros anos ou ficaria no Rio de Janeiro de início
2- E se a resposta for afirmativa, eu convivo com uma pessoa e creio que, difícil será os primeiros anos de estágio, haverá algum tipo de auxílio moradia, ou isso ficaria por conta do aprovado

Desde ja grato
Arcelino
Lino disse...
Boa Tarde!
Sou formado em direito e confesso-lhe que sempre gostei muito da carreira de diplomata, principalmente quando saí da universidade e pude ter um pouco mais de conhecimento do que eu pretendia. Na época em que me formei, tinha 27 anos, porém por circustâncias da vida acabei só advogando e sendo um microempresário. Hoje com 38 anos penso ainda, que com esforço posso conseguir realizar o sonho, porém, vejo com entrave toda uma vida que acabei construindo ao meu lado por esses anos passados. Gostaria de lhe fazer duas perguntas:
1- Se por acaso ingressar na carreia, eu seria obrigado a ir para Brasília ja nós primeiros anos ou ficaria no Rio de Janeiro de início
2- E se a resposta for afirmativa, eu convivo com uma pessoa e creio que, difícil será os primeiros anos de estágio, haverá algum tipo de auxílio moradia, ou isso ficaria por conta do aprovado

Desde ja grato
Arcelino
Paulo R. de Almeida disse...
Arcelino,
Creio que voce nao tem condicoes de seguir a carreira se nao puder sair do RJ.
O IRBr fica em Brasilia e a carreira tem de ser cumprida em Brasilia e no exterior. Voce nao terá chance de sequer começar pelo Rio.
Nas condicoes atuais de ingresso maciço de novos diplomatas. dificilmente haverá residencia ou auxilio moradia. O salario inicial permite um aluguel relativamente modesto nas suas condicoes.
Creio que voce teria muito esforco para entrar e seu padrao iria certamente diminuir vindo a Brasilia.
Alexandre disse...
Olá!Sou formado em Licenciatura em Eletrônica, mas há muito tempo venho pensando em seguir a Carreira Diplomática.Sei que são áreas muito diferentes.Sei também que isso exigiria um grande esforço de minha parte. Na sua opinião, qual caminho deveria ser trilhado para alcançar tal objetivo? Eu seria discriminado no meu ambiente de trabalho por causa da minha formação? Obrigado.
Paulo R. de Almeida disse...
Não Alexandre, você não seria discriminado de forma nenhuma. Nós diplomatas aceitamos colegas de qualquer formação, mesmo as mais suspeitas, como advogados...
Paulo Roberto de Almeida
Danilo disse...
Prezado Paulo R. de Almeida,

Todas as minhas dúvidas foram, muito bem, esclarecidas apenas com a leitura do FAQ e dos comentários. Parabéns e muito obrigado.
Rangel disse...
Primeiro lugar gostaria de parabenizar pela qualidade das informações e fazer uma pergunta. É possível que o concurso não abra no final de 2010 ou diminuam as vagas por conta da mudança de governo?
Grato.
Abraço.
Rangel.
Paulo R. de Almeida disse...
Rangel,
Esclarecendo:
1) Todo ano tem concurso para a carreira diplomatica, para qualquer numero de vagas: sempre morre alguem ou se aposentam pessoas e abre vaga. Voce tambem pode matar um diploma para abrir uma vaga suplementar, mas eu nao recomendaria, sinceramente, essa opção...
2) Em 2010 as vagas certamente vão diminuir, mas isso não tem nada a ver com a mudança de governo e sim com o preenchimento gradual das 400 vagas criadas 4 anos atras, nos ultimos concursos, que contemplaram mais de cem vagas por ano. Agora, creio que a maior parte foi preenchida e as suplementares serao residuais, justo para completar as lacunas existentes. Provavelmente volte a um numero de 20 a 30 por ano, mas isso depende da taxa de mortalidade e de aposentadoria dos diplomatas vivos e ativos...
Apenas um esclarecimento adicional:
Nós não trabalhamos para governos, e sim para o Estado brasileiro, embora alguns sejam suficientemente adesistas para trabalharem para o governo com o maior entusiasmo...
Cada um na sua...
Paulo Roberto de Almeida
Rangel disse...
Que pena que devam diminuir tanto, confesso que desanimei um pouco, mas vou tentar mesmo assim e ficar na torcida pelas mortes e aposentadorias (brincadeirinha).
Muito obrigado mais uma vez e um forte abraço.
Rangel
Joana disse...
Ola Paulo,
Inicialmente parabéns pela Faq.. foi bastante esclarecedor. Gostaria de fazer duas perguntas e agradeço desde já sua gentileza em respondê-las. Eu gostaria de prestar o concurso, porém possuo visão monocular, você acha que isso seria um impedimento para o exercício da profissão? Gostaria de saber também se os manuais do candidato que estão no site da funag estão atualizados? Obrigada
Temujin disse...
Caro Sr Paulo,

Gostaria de saber qual é a remuneração atual de um terceiro secretário no exterior. Entendo que, como exposto nas FAQ acima, ela varie de acordo com o país; mas alguns exemplos seriam suficientes para que se tenha uma idéia.

Agradeço a atenção dispensada e aproveito para parabenizá-lo pela distinta qualidade do seu blog.

Temujin
Paulo R. de Almeida disse...
Temujin,
Voce já respondeu a sua propria pergunta: ela varia de acordo com os paises. Pode ir de 6 ou 7 mil dolares a mais de 12 mil, dependendo do pais. Existem tambem uma ajuda para aluguel de residencia, que varia de 40 a 100 por cento do aluguel...
Paulo Roberto de Almeida
Amanda disse...
Muito obrigada pela paciência de escrever essa FAQ gigantesca, de muita utilidade pra mim, e também pelo bom-humor que deixou a leitura mais leve.

Acabei de decidir tentar o concurso e essa FAQ tirou muitas das minhas duvidas. So fiquei um pouco decepcionada com a noticia de que as vagas provavelmente vão diminuir daqui pra frente. Mas bola pra frente.

Obrigada mais uma vez, abraços,
Amanda
Anônimo disse...
Antes de mais nada, parabéns pelo Blog! Muito esclarecedor, ao estilo pé-no-chão, e didático.
Tenho 42 anos, já fiz engenharia na USP, mas a abandonei para montar uma Escola de Danças, (isso mesmo, rs), gosto muito da minha Escola mas recentemente voltei a estudar e optei pelo curso de Relações Internacionais na UEPB. Venho "namorando" com a carreira diplomática desde então, e tinha como plano inicial levá-la em paralelo às minhas atividades empresariais. Porém agora ao ler que o Diplomata não pode ter atividade remunerada palarela, excetuando a atividade acadêmica, fiquei um tanto desanimado, tanto pela questão financeira, pois quando me formar deverei estar me casando,como também pelo fato de ser obrigado a deixar minhas atividades com Dança. Por isso, num restinho de esperança, pergunto se tal restriçao se aplica também a atividade como empresário, ou somente a atuar como funcionário? E caso sim, uma soluçao seria ter a empresa e mesmo o gerenciamento da mesma em nome de outrem? Isso seria considerado ilegal ou coisas do tipo?
Bom, fico no aguardo de sua resposta, pois conforme for terei que mudar todo o meu planejamento, tanto o de curto como o de longo prazo.
Desde já agradeço a atenção dispensada.
Paulo R. de Almeida disse...
Anônimo de 42 anos, engenheiro e empresário,
Sinto muito confirmar-lhe, mas você dificilmente poderia ter uma atividade empresarial sendo diplomata. O diplomata é um burocrata a serviço de uma grande estrutura, quase tão exigente quanto o Vaticano, assim que a dedicação integral é de rigor. A atividade acadêmica, teoricamente permitida, é sempre difícil, pois se é obrigado a cumprir longas horas de trabalho o que deixa apenas as horas de lazer ou descanso para atividades de tipo acadêmico.
Acho que você precisaria escolher.
Mas, com 42 anos, você teria uma carreira cortada precocemente e creio que não vale a pena o investimento.
Use seus critérios de custo-oportunidades.
Paulo Roberto de Almeida
adriano augusto disse...
Ola Paulo,

Sou estudante do último ano de economia. Estou cursando uma matéria eletiva na qual tenho que fazer um trabalho final sobre a minha aposentadoria, sendo necessário estimar a renda anual recebida, investimentos realizados entre inúmeras outras coisas.
Resumindo gostaria de várias perguntas. Como é a aposentadoria de um diplomata, ela tem como base o INSS ou é aposentadoria integral? Um diplomata se aposenta em média com que idade?Como funciona a progressão da remuneração, no último concurso o salário inicial era de R$ 12.413,03 para terceiro secretario, quais seriam os valores para os demais níveis (Segundo Secretário, Primeiro Secretário, etc)? Quais são as principais ajudas de custo que o Estado fornece (auxilio moradia no exterior entre outras)?

Obrigado pela atenção,
Adriano
adriano augusto disse...
Bom dia Paulo,

Consegui localizar as remunerações por nível de carreira e a aposentadoria, mas se você julgar ter alguma informação a mais relevante ela será útil para o meu rabalho.

Grato,
Adriano
Paulo R. de Almeida disse...
Adriano,
Eu estava viajando e sequer tive chance de responder, mas de fato nao conheco muito sobre aposentadoria. NUNCA me interessei por questoes administrativas, e nao tenho a menor ideia de quanto vou ganhar quando me aposentar, e nao me interesso em saber. Vou continuar fazendo aquilo que gosto de fazer: dar aulas, escrever, publicar, e ganhar algum dinheiro extra com essas atividades.
Quanto a aposentadoria, mesmo sem saber quanto vou ganhar, sei que é um privilegio (que acho descabido) em relação ao regime geral.
Se dependesse de mim, acabaria imediatamente com os privilegios do setor publico, introduziria um sistema universal, ou pelo menos aquele financiado pelo Estado, com serias limitacoes quanto ao teto, em lugar de ter aposentadoria integral para funcionarios publicos (como era ate pouco tempo atras), faria um regime de capitalizacao e de planos individuais. O sistema atual é profundamente injusto para pobres e trabalhadores do sistema privado, em geral, sendo excessivamente bondoso com os mandarins do servico publico.
Paulo Roberto de Almeida
Júlia Kras disse...
Oi Paulo,
Meu nome é Júlia e tenho 15 anos. Gostaria de esclarecer uma dúvida em relação a dupla cidadania. Nasci no Brasil, mas tenho cidadania croata. Não entendi muito bem no FAQ, mas ao que parece não posso ingressar na carreira diplomática se tiver dupla nacionalidade? Obrigada
Paulo R. de Almeida disse...
Cara Julia,
Se você nasceu no Brasil, você é brasileira, e pode sim se tornar diplomata brasileira, mesmo tendo a dupla nacionalidade.
Acho que você está pronta para começar a se preparar a partir de agora e entrar direto, assim que sair da faculdade, já que você gosta de ler e de estudar.
Comece a ler a bibliografia de base (tenho uma bibliografia resumida no meu site: www.pralmeida.org) e comece sobretudo a treinar o seu inglês. Escreva todos os dias, faça redações sobre tudo o que você leu nos jornais de matérias internacionais, depois de fechá-los.
Comece a ler jornais estrangeiros pela internet. Já que você está no Sul, terá facilidade em aprender espanhol.
Leia boa literatura, obras de referência da cultura universal, veja só filmes de qualidade, de preferência em inglês e francês, abandone a TV porcaria do Brasil (se for o caso, só veja notícias da GloboNews as 22hs, e um ou outro programa cultural ou informatico, tipo William Waack).
Estude e você será uma diplomata.
Meus parabéns pelo seu perfil.
O mundo realmente é maravilhoso, sobretudo para pessoas como você.
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
Prezado Paulo,

Sou solteira, 31 anos, promotora de justiça, insatisfeita no cargo e com muita vontade de retornar ao meu sonho de infância - a Diplomacia.

Sei que o Sr.não é pai de santo, guia espiritual ou psicólogo, mas, pelo que notei, é um profundo conhecedor da carreira.

Assim, OUSO te pedir um conselho: o que faria no meu lugar?

Ficarei grata se puder me ajudar, vivo um conflito existencial no momento e qualquer auxílio será útil..rs.

Obrigada.
Paulo R. de Almeida disse...
Minha cara Anônima Promotora de Justiça,
Eu diria, instintivamente, que se você tem esse sonho, deve segui-lo, pois isso lhe deixará mais feliz. Como se diz, "Va dove ti porta il cuore".
Mas é preciso estar consciente de algumas coisas:
1) Sua vida mudaria muito, o que talvez não seja muito difícil, se você é solteira e não precisa dar cuidados a ninguem, marido ou crianças. Mas você abandonaria o Brasil a intervalos regulares e teria uma vida nômade.
2) Você precisaria estar preparada para entrar rapidamente, pois entrando tardiamente, sua carreira poderia ser cortada por razoes de idade: a progressão na carreira tende a ficar lenta com o grande número de diplomatas.
3) Você teria uma renda bem menor no Brasil, talvez 40 ou 50pc menor do que sua renda atual, mas o salario no exterior é bastante razoavel (mas dependendodo posto, tambem se gasta mais). Em todo caso, não se pode pensar em ficar rico na carreira, embora dependendo do modo de vida, dê para acumular um patrimônio no medio e longo prazo se se fizer poupança no exterior (no Brasil, nem pensar).
4) Você poderia ter colegas mais jovens como chefes no comeco da carreira
5) A hierarquia e a disciplina são proverbias no Itamaraty, e isso pode irritar quem já está acostumado a uma vida de tomada de decisões solitária ou independente.
Espero ter correspondido.
Paulo Roberto de Almeida
Clarice disse...
Perdão, no comentário anterior escrevi 49 anos, mas acho que me confundi na hora de fazer as contas. O resto procede.
Michelle Mazioli disse...
Paulo,

O que você quer dizer com carreira cortada devido a idade? O que isso significa na prática?
Paulo R. de Almeida disse...
Michelle Mazioli,
Significa ser aposentado por idade sem ter conseguido subir todos os degraus da carreira, apenas isso.
Paulo Roberto de Almeida
Geraldo disse...
Caro Paulo, termino esse ano uma graduação em Ciências Políticas e estou com 25 anos. Sei que vai de cada caso, mas especificamente visando a carreira de diplomata, o Sr. acha que eu deveria fazer um mestrado, em Política Internacional, e depois passar pelo processo seletivo ou acha mais eficiente o estudo em um cursinho especializado para o Rio Branco?
E aproveitando a pergunta anterior, qual o Sr. acha que é a idade máxima recomendada para o ingresso no IRBr visando alcançar o patamar mais alto da carreira? E agradeço já as inúmeras informações de seu blog que me foram de grande serventia. Excelente trabalho!
Paulo R. de Almeida disse...
Geraldo,
Se você não tem pretensões acadêmicas deixe o Mestrado de lado, por enquanto, e dedique-se a seu objetivo principal. Quanto mais cedo você entrar melhor para sua carreira.
Acredito que 31 anos seria o máximo aceitável para uma carreira completa.
Paulo Roberto de Almeida
Álvaro disse...
Em primeiro lugar, parabéns pelas informações aqui prestadas. Eu acalento o sonho de tornar-me diplomata desde os quinze anos. Hoje, aos 45 anos, cansado da vida de professor de ensino superior, vou correr atrás do meu sonho. Compreendo, entretanto, que jamais vou atingir o topo da carreira em função da minha idade. De qualquer forma, isso não me parece relevante desde que eu me realize pessoal e profissionalmente. As minhas chances de aprovação no concurso são menores em função da idade? Estou determinado a fazer e a passar no concurso, mas gostaria de ouvir a sua opinião sobre essa questão da idade acima da média da maioria dos candidatos. Qual prognóstico você faria no caso de eu ingressar na carreira diplomática? Até onde eu conseguiria chegar?
Paulo R. de Almeida disse...
Alvaro,
A sua idade não representaria um obstáculo à sua aprovação no concurso ao contrário, pois supostamente, com essa idade, você acumulou mais leituras e poderia se desempenhar mais facilmente em materias como historia, geografia, relações internacionais, ou mesmo ingles e português.
Mas a sua idade é sim um problema para a realização da carreira, pois imagino que com 48 anos de idade você já estaria inabilitado para promoções funcionais, e assim seria colocado no chamado "Quadro Especial", e mais adiante, creio, aposentado, com aposentadoria proporcional ao tempo de contribuição.
Creio que você deveria se informar melhor no Instituto Rio Branco (eu sou péssimo para questões administrativas, pois nunca me interessei por isso), e ver se vale a pena abandonar uma carreira feita, por uma outra que seria podada rapidamente.
Em todo caso, sempre vale a pena tentar, pois você pode, talvez, combinar as duas carreiras.
Paulo Roberto de Almeida
Montana Mattei disse...
oi, tenho 16 anos, estou terminando o ensino médio e tenho muito interesse em seguir carreira diplomatica. Sou formada em inglês e pretendo iniciar aulas de frânces no próximo ano juntamente com o curso de relãções internacionais em uma universidade federal. Gostaria de saber o que mais o senhor me aconselharia na busca deste sonho que possa me ajudar.
Paulo R. de Almeida disse...
Montana,
Entre no meu site e veja as dicas para a carreira diplomatica. Voce tem de seguir as instrucoes do site do Instituto Rio Branco, com base no edital e no Guia de Estudos.
Comece a estudar desde ja, e faca um programa de leituras sistematico com base nas indicacoes do Guia de Estudo.
Com seis anos, pela frente, suponho, de estudos intensos, voce estará pronta para ser diplomata assim que se formar. Mas vai precisar estudar duro...
Paulo Roberto de Almeida
Daiana Acordi disse...
Caro Paulo,

Foi muito bom ter encontrado seu blog, em especial esta FAQ. Agora, tenho certeza de que não quero ser diplomata, e olha, que alívio! Vou aprender o francês das ruas, o portunhol de Floripa, largar o estilo Drummond e viver a la Baudelaire, se é que me entende. tem coisa mais interessante neste mundo do que viver sem fazer a diferença? Se eu o tivesse lido antes, teria economizado dois meses de terapia. Bom, bota na conta. E continue escrevendo, você tem futuro. ;)

Um abraço,

Daiana Acordi
Anônimo disse...
Olá, meu nome é Daniel, tenho 18 anos.
Sou acadêmico de Direito(FURB-SC).

Sonhei em ser juíz, contudo a diplomacia ao meu ver, torna-se cada vez mais atraente.

Contudo, sou de classe média-baixa. Consigo pagar minhas contas...

Concluo a graduação em Direito com aproximadamente 24 anos. Há possibilidade de após minha graduação, prestar o concurso, receber o salário e bancar as despesas com moradia etc em Brasília?

Obrigado pelos esclarecimentos,
Att, Daniel Arruda.
Paulo R. de Almeida disse...
Sim, Daniel, diplomatas são pessoas normais, mas também são mandarins da República, ganhando de modo adequado para viver. Não tanto quanto esses supermandarins que são os juizes, que ganham absurdamente mais do que qualquer mortal no Brasil, mas ganham o suficiente...
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
Caro Sr. Paulo R. de Almeida,

Primeiramente, bom dia e obrigada pelo interessantíssimo blog-FAQ (ou seria FAQ- Blog?) que o sr. disponibilizou; assaz esclarecedor.
,,Segundamente" (perdoe-me a pilhéria), sou do sexo feminino e gostaria de perguntar como são as vestimentas das diplomatas, uma vez que o senhor mencionou o uso de terno e gravata. Muito obviamente, não imagino que as mulheres portem mini saias e ,,tops", mas tailleurs e scarpins, quiçá (?).
Sei que a pergunta parece parva, mas tem algo de essencial nela - questões de cunho pessoal.

Desde já, obrigada.
Paulo R. de Almeida disse...
Caro Anônimo do sexo feminino,
Os diplomatas se vestem como pessoas normais. Você deve estar preocupada antes em ingressar na carreira.
Depois de entrar vai descobrir como se vestem as diplomatas.
A moda muda, as mentalidades também...
Paulo R. de Almeida
Anônimo disse...
Caro Sr. R. Almeida,

Obrigado por disponibilizar este material na internet.
Bom, o sr. menciona que conhece diplomatas que possuem tatuagem(ns). Possuo uma tatuagem na parte interna do pulso, passível de ser escondida pela pulseira do relógio. Na sua opinião mais direta e sincera, posso começar a me preparar para estudar para o concurso do IRBr ou devo desistir?

Muito obrigado,

Alexandre Moreira.
Paulo R. de Almeida disse...
Caro Alexandre Moreira,
Não desista. Mesmo se você fosse um ET, com antenas e tatuagens e piercings em todo o corpo, inclusive sobrancelha, nariz e lingua, voce poderia ser admitido tranquilamente no Itamaraty.
O concurso é impessoal, ou seja, não identificado, qualquer ET pode fazer e entrar, desde que responda corretamente as perguntas.
Como não existe entrevista, ou banca de seleção, um autista, desses capazes de decorar lista telefonica, poderia entrar tranquilamente, assim como um aderente de religiões ritualisticas, com algum sacrifício humano pelo meio, incluindo canibalismo, etc.
Não tem problema, a carreira é aberta aos talentos diplomáticos, o resto não importa...
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
Caro Sr. R. Almeida,

O meu nome é Jairo e acabei de concluir a faculdade de História, atualmente tenho 21 anos de idade.

Sempre tive um grande interesse pela diplomacia (interesse esse que só veio a crescer enquanto cursava a faculdade) e tenho muita vontade de seguir essa carreira.

Em julho do ano que vem irei iniciar o curso sociologia, através de um programa de graduação a distancia (reconhecido pelo MEC), e tenho planos de paralelamente, em 2012, ingressar na faculdade de relações internacionais (e quem sabe junto disso, se me sobrar tempo, fazer uma pós-graduação em antropologia). Se tudo ocorrer como planejado terei concluído essas duas faculdades com 27 anos de idade.

Eu gostaria de saber se essa é uma boa idade para se entrar na carreira diplomática e se essas três graduações (História, Sociologia e Relações Internacionais) me ajudariam em algo ou se talvez devesse mudar os meus planos a fim de tentar ingressar nela mais jovem, e assim poder ter uma carreira plena.

Desde já muito obrigado pela sua atenção, se tiver alguma sugestão ou recomendação ficaria grato em receber.
Paulo R. de Almeida disse...
Anônimo dubitativo...
Se voce quer ser diplomata, comece agora a estudar exclusivamente para o concurso, fazendo, se for o caso, cursinhos preparatorios. Esses mestrados so fazem sentido se voce quiser seguir carreira academica, do contrario podem ser uma perda de tempo, ainda que ajudem em algumas materias.
Mas é melhor estudar sozinho ou orientado por professores especificamente nas materias objeto do concurso, e tentar entrar o mais cedo possivel.
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
Caro Sr. Paulo R. de Almeida,

Seguindo o seu conselho pretendo aproveitar esse ano que está para começar para dar inicio aos meus estudos, moro em uma pequena cidade do interior do RS por isso meus recursos são um pouco limitados... entretanto sei que isso não é desculpa alguma para não tentar: Onde existe a vontade sempre se encontra um jeito.

Mais uma vez muito obrigado por ter sanado as minhas duvidas.

Atenciosamente: Anônimo dubitativo (Jairo)
Giovanna disse...
Sr.Paulo,

Tenho 14 anos e tudo o que eu mais almejo um dia 'e poder ser diplomata.
A minha vontade de seguir essa carreira 'e maior do que qualquer coisa no mundo.
Venho estudando bastante,leio todos os dias o jornal que meus pais assinam e assisto aos noticiários mundialmente importantes.
Tenho fluente o ingles e o frances.
Um dos meus desejos também 'e cursar a faculdade de relações internacionais em Harvard,sim,sei que 'e muito difícil mas com esforço e vontade nada 'e impossível.
Se nossos diplomatas, assim como o senhor nao tivessem sentado e devorado por horas seus livros,hoje nao teriam chegado ao seus cargos diplomáticos.
Em fim gostaria muito de saber se eu teria a possibilidade de cursar Harvard e ser aceita no Itamaray.

Gostaria de agradecer ao senhor pelas informações deste blog maravilhoso , que ajuda muito pessoas como eu que sonham em se tornar diplomatas.
Anônimo disse...
PRA, parabéns pelas informações. Servem de norte a muitos aspirantes à carreira. Gostaria de sanar uma dúvida: após concluir o mestrado em diplomacia do IrBr há direito à percepção de adicional? Este adicional é o mesmo previsto para todos os servidores civis da união, conforme previsao da Lei 8112/91?
Grande abraço!
Paulo R. de Almeida disse...
Anônimo do adicional,
Sinceramente desconheço. Creio que não. Nunca prestei atenção no contracheque, e de maneira geral nenhuma motivação salarial presidiu a minha escolha pela diplomacia.
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
Olá PRA!! Meu nome é Leandro Moreira, sou servidor da Justiça do Trabalho, formado em Direito. Sempre reconheci em mim bom poder de síntese e análise conjuntural, além de escrever muito bem. Sempre tive facilidade com expressão, além de ser apaixonado por temas políticos e internacionais. De fato, o único entrave que me impede de decidir pela vida diplomática é o aspecto financeiro. Como promotor de justiça, seria melhor remunerado. Todavia, sinto que minha vocação pende para esta nobre carreira que o Senhor exerce. Daí minhas dúvidas quanto ao adicional, bem como vida no exterior. Tenho a impressão de que um diplomata ganha muito menos do que deveria, já que as exigências para o exercício da carreira são notadamente elevadas.
Como estou de fora, tenho curiosidade em saber estas nuances da carreira, já que um salário um pouco acima do inicial hoje (R$ 10 mil reais líquidos) já me fariam optar pela carreira.
Se puder me auxiliar, serei grato.
Leandro.
Paulo R. de Almeida disse...
Leandro,
Voce não perde nada em tentar, e estudar para o concurso do Itamaraty vai lhe ajudar em qualquer outro aspecto da vida e trabalho que voce venha a ter, independente de entrar ou nao.
Agora, se voce tem esse criterio salarial como importante em sua vida, talvez o Itamaraty não seja o melhor para você. No Brasil, voce sempre ganhará mais na Justiça, ainda que num órgão de duvidosa utilidade pública (em minha concepção) como a JT, e por isso voce pode se frustrar com os baixos ganhos relativos da diplomacia. Se voce tiver familia, então, fica um pouco difícil,
No exterior se ganha um pouco mais, mas os postos podem ser dificeis.
Ou seja, se trata de uma vocação, não de um emprego, e sobretudo não se pode ter uma visão salarial da carreira.
Desculpe, mas eu sempre sou muito franco em minhas opinioes e argumentos.
Paulo Roberto de Almeida
Vitor Vieira disse...
Boa Noite, Paulo R. de Almeida.

Nos últimos tempos, eu venho sendo acometido por uma grande vontade de seguir a carreira diplomática.
Tenho 18 anos e sou aluno do 2º Período da Faculdade Nacional de Direito, que pertence à UFRJ.

Eu tenho pensado que uma definição dos meus objetivos profissionais ajudará muito para a sua realização.

Tenho raciocinado da seguinte forma: definindo que o Itamaraty é o meu foco ao concluir o 2º Período, restarão 4 anos até o término da Faculdade. O meu conhecimento em línguas estrangeiras, atualmente, é muito básico, porém eu tenho a pretensão de iniciar estudos intensos, se confirmado esse objetivo profissional (algo muito próximo de acontecer no momento). Dessa forma, eu teria 4 anos para estudos intensos em idiomas e preparação para o Concurso até que eu possa realizá-lo (em conciliação com a faculdade).

Ou seja, estou pensando da seguinte forma: com 4 anos, é possível realizar uma preparação intensa (conciliada com a faculdade) e almejar ser aprovado logo no 1º concurso. PENSO DA MANEIRA CORRETA, ou idealizo algo ? E QUANTO AOS IDIOMAS, é realmente possível adquirir a habilidade necessária com 4 anos de cursos, estudos e leituras aplicados ?

Quanto às minhas aptidões, sempre me destaquei pela minha habilidade ao redigir. Possuo também boa comunicação, além de forte hábito de estudos. Tenho verdadeiro prazer em me dedicar aos estudos jurídicos (muitos deles me parecem de grande utilidade na carreira Diplomática).

Caro Paulo, faço outra pergunta: quanto à remuneração dos Diplomatas, hoje inicial em torno de 12 mil reais no Brasil. É notável que a remuneração no exterior é muito maior. EU PENSO ERRADO, OU É POSSÍVEL, COM UMA CERTA DOSE DE PLANEJAMENTO E POUPANÇA, CONSTRUIR, A MÉDIO E LONGO PRAZOS, UM BOM PADRÃO DE VIDA, COM REALMENTE BOA QUALIDADE ? (Uma curiosidade, você poderia me dar uma noção de quanto, em média, recebe ATUALMENTE, um Terceiro-Secretário no exterior ? Somente para fins de parâmetros).

Eu tenho a consciência, Paulo, de que a vida, para se obter sucesso, é feita de desafios. E assim não será diferente optando-se pela carreira da Magistratura, do Ministério Público, entre outras, por exemplo.

PORÉM, a ideia de seguir uma carreira de rotina mais dinâmica, marcada por viagens e experiências singulares, com boa remuneração e estímulo à participação em cursos de aperfeiçoamento e pós-graduação TEM ME FASCINADO INCRIVELMENTE. EU TENHO ME SENTIDO REALMENTE TOCADO PELAS CARACTERÍSTICAS DO EXERCÍCIO DESSA PROFISSÃO. Tenho vontade, também, de seguir a carreira acadêmica.

Desde já, agradeço pela atenção.
Seria muito importante e gentil que você respondesse aos meus questionamentos. De fato, contribuiria muito para esclarecer as minhas principais dúvidas e reflexões.

Muito Grato pela atenção,
Vitor Vieira Ribeiro Pires.

vvrpires@ufrj.br
Anônimo disse...
olá paulo,
eu tenho 17 anos, e entrando na faculdade no próximo ano, estaria habilitado para tentar a prova daqui a 5 anos; porém, desejo desde agora me iniciar nos estudos para carreira diplomática. Gostaria da sua opinião; por onde começar nos estudos? alguma dica de um livro que me dê uma boa base?
desde já, grato
Paulo R. de Almeida disse...
Anonimo,
Antes de perguntar, e passar as suas preocupacoes aos outros, esperando que eles se ocupem de voce, tente se ocupar de voce prioritariamente.
Busque, pesquise, leia, e voce encontrara respostas a suas perguntas.
No meu proprio site se for o caso...
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
quantos aos postos no exterior (A,B,C), o diplomata só pode ir para um posto "A" depois de certa experiencia na carreira, ou ele tem a possibilidade de ir para um posto assim na primeira vez que for ao exterior. Outra duvida, cidades como londres,roma,munique,genebra; são todas postos A, certo?
Paulo R. de Almeida disse...
Todas as situações são possíveis, e postos A podem ser atribuidos em primeiras saidas.
Concentre-se nos estudos e deixe suas especulações para mais tarde.
Paulo Roberto de Almeida
Henrique disse...
Prezado Paulo,

sou físico formado pela USP, estudei em colégio alemão e tenho muita facilidade com idiomas. Tenho fluência no alemão, inglês, leio bem francês e espanhol. Sempre fui estudioso e autoditada. Hoje sou empresário. Acho que não teria dificuldades em ingressar no Instituto, pois sou muito dedicado. A minha preocupação, principalmente após ler o seu blog, está centrada nas minhas possibilidades como diplomata e obviamente na minha serventia como diplomata. Tendo 35 anos e supostamente ingressando aos 36, minha carreira (acho válido para muitas carreiras) se iniciaria com pelo menos 10 anos de atraso, o que sabidamente comprometeria a minha escalada dentro do quadro hierárquico. Tendo isto como realidade pode-se compensar este fato ingressando em um dos 3 primeiros lugares do concurso? Afinal, acho uma séria perda de tempo para ambas as partes(a outra parte seria o MRE) investir em um ser que fará no máximo atividades de baixo teor qualitativo, pois tão logo ingressará no quadro especial (especial aqui sou mais como portador de deficiências). Obrigado pela paciência e esforço na criação deste espaço. Henrique.
loi disse...
Prezado Paulo,

Tenho 20 anos e estou no 4ª semestre de Direito no Uniceub, e tenho duvidas qual carreira irei exercer, gosto muito do papel desenpenhado pelos diplomatas e juizes, mas é visto que no inicio de carreira de diplomata como 3ª secretário o salario não é tal auto quanto a um de juiz, mas em compensação o diplomata tem diversas imunidades e privilégios que um juiz não tem, e por isso estou em duvida qual das carreiras irei exercer, o salario de um diplomata + as imunidades compensa o que um juiz ganha?

Grande abraço
Paulo R. de Almeida disse...
Caro aluni,
Em vista do que você escreveu:
"o salario não é tal auto quanto a um de juiz"
acredito que você não conseguiria ser diplomata. Talvez juiz, mas não tenho certeza.
O diplomata não possui qualquer imunidade no Brasil, talvez os juizes a tenham, pois são marajás do serviço público.
Em todo caso, eu recomendaria que você antes fizesse um curso de português e um outro de direito, um segundo, pois este não parece estar servindo...
Paulo Roberto de Almeida
Rangel disse...
Caro Paulo.
Sua paciência é elogiável e seu sarcasmo é um alento. Tenho rido alto com suas respostas apropriadas a certas perguntas.
Abraço, e , por favor, não feche o blog. Não desanime.
Kalebe disse...
Olá, meu nome é Kalebe, tenho 18 anos e sou brasileiro. Neste ano estarei me mudando para a Rússia, eu farei relações internacionais em Moscou, pois meu sonho é ser um diplomata. Eu gostaria de saber se sou obrigado a fazer o instituto do Rio Branco para ingressar na carreira diplomática, tendo concluido o curso de relações internacionais em Moscou?

Fico muito grato com a resposta.
Cezar Capacle disse...
Olá, Paulo.

Excelente FAQ. Um banho de realidade e objetividade. Estou me preparando para o concurso, e ele foi de muita valia.
Tenho ainda uma dúvida que me atormenta. Tentarei ser objetivo:

Concordo que os Manuais da Funag devem ser um ponto de partida, apenas. Estou me dedicando a eles no momento. Mas fico apreensivo com a distância entre o conteúdo deles e o exigido nas provas. A bibliografia que você sugere te prepara para "discorrer sobre as políticas energéticas do governo Geisel" (terceira fase-2010) em 90 linhas? Quer dizer, estou perdendo meu tempo com manuais? Como, em 6 meses de preparação, você conseguiu cobrir tão vasto conhecimento?

Enfim, não sei se fui tão objetivo, mas tenho a sensação (aflitiva) que haverá sempre especificidades e eventos históricos não cobertos pelos meus estudos e futuramente exigidos no teste. Você teve essa sensação? Est-ce que je exagère?

Agradeço de antemão,

Cezar Capacle
capacle@yahoo.com.br
Nathália Rorato disse...
Caro Paulo,
Tenho 18 anos e a escolha profissional sempre foi um tópico de extrema insegurança. A carreira diplomática no entanto, me interessa a muito tempo, e após ler o seu blog posso dizer que essa escolha agora está totalmente avaliada e decidida.
Gostaria de deixar aqui o meu muito obrigada por todas as informações, que me motivaram e fizeram ter a certeza de que as abdicações que faço hoje pelos meus estudos são válidas.
Farei vestibular no final do ano e assim que me formar farei o que estará ao meu alcance para me preparar à altura do concurso. Espero que em poucos anos consiga te agradecer pessoalmente no Itamaraty pela contribuiçao na minha escolha.
Obriagada, Nathália.
Paulo R. de Almeida disse...
Nathalia,
Creio que voce já tem uma boa definicao do que voce pretende, e o essencial agora é levar paralelamente o seu curso de graduacao e uma preparacao sistematica para o concurso do Rio Branco.
No site do MRE-IRBr, para os editais, modelos de provas, e guia de estudos voce tem o basico da preparacao.
No meu site e blogs tem muito material, tanto sobre o curso, o concurso, como sobre temas de relacoes internacionais e de politica externa do Brasil.
Sirva-se, e bons estudos.
Paulo Roberto de Almeida
Anônimo disse...
Caro Paulo,
Me surpreendi durante as férias escolares buscando detalhes para a tão almejada carreira de diplomata. Ouvi rumores que o concurso é bem desafiador e me vi obrigada a saber mais. Talvez comece a me preparar ano que vem, quando enfim completo 15 anos, inciando o estudo de Inglês profissional. Gostaria de saber sua opnião. Atenciosamente, Amanda.
Danila disse...
Muito bom esse blog.Tenho 27 anos,curso Direito,provavelmente terminarei meu curso aos 31 anos,mais ainda tenho que estudar inglês,frances e espanhol,então percebo que entraria na carreira da diplomacia com uma idade avançada,em trilhar um brilhante fito na diplomacia.Fiquei muito triste em relção a idade,o que voce me aconselharia?Desde já muito obrigada!
Paulo R. de Almeida disse...
Danila,
Se você está com 27 anos, você está no ponto ideal. Eu entrei com 28 na carreira, e acho que foi muito bom: mais maduro, com mestrado completo e doutoramento a caminho, já sabendo o que eu queria, exatamente, da carreira. Eu só tenho uma recomendação a você: acelere sua formação em línguas e tente o concurso desde o próximo ano.
Você pode entrar, basta ter vontade de estudar.
Acho que consegue.
Paulo Roberto de Almeida
Sharles disse...
Há um limite de idade para ser Conselheiro. Qual seria? É verdade que, se eu atingir esse limite antes de me tornar ministro de segunda classe, não poderei mais ser promovido?

Existe uma maneira de se conseguir chegar ao topo da carreira, contornando a idade avançada? Tipo, ser eficiente e eficaz? rs
Paulo R. de Almeida disse...
Sharles,
Existem sim limites de idade para a progressão na carreira e o diplomata pode ser colocado no Quadro Especial antes de chegar ao topo. Podem existir promoções dentro do Quadro Especial, assim que não é totalmente excluida a possibilidade de ascender, mas ela é mais limitada, digamos assim.
Ser eficiente, eficaz, bom trabalhador, simpático, hard working sempre foram boas qualidades em qualquer profissão, mas as promoções na carreira diplomática seguem um ritual próprio, com votações de colegas e superiores que fazem parte do processo.
Paulo Roberto de Almeida
Paulo R. de Almeida disse...
Sharles,
Existem sim limites de idade para a progressão na carreira e o diplomata pode ser colocado no Quadro Especial antes de chegar ao topo. Podem existir promoções dentro do Quadro Especial, assim que não é totalmente excluida a possibilidade de ascender, mas ela é mais limitada, digamos assim.
Ser eficiente, eficaz, bom trabalhador, simpático, hard working sempre foram boas qualidades em qualquer profissão, mas as promoções na carreira diplomática seguem um ritual próprio, com votações de colegas e superiores que fazem parte do processo.
Paulo Roberto de Almeida
Sharles disse...
Muito obrigado, Paulo!

Você é muito gentil.
Anônimo disse...
Oi Paulo,

Meu nome é Bianca, eu tenho 14 anos. Amo geopolítica, literatura, línguas e adoro viajar e conhecer culturas diferentes, razões que me fazem desde já pensar sobre a carreira diplomática. Adorei o FAQ, mas ainda tenho algumas dúvidas.
1- Falo inglês fluente e tenho aulas de espanhol. Qual a próxima língua que você me aconselha estudar?
2- Quais obras literárias você recomenda para a preparação da prova do Instituto Rio Branco?

Parabéns pelo FAQ e pelo blog.
Paulo R. de Almeida disse...
Bianca,
Aprenda Francês paralelamente, mas você tem tempo ainda, até os 21 ou 22.
Leia boa literatura brasileira. Comece por Machado de Assis, depois vá para Lima Barreto, e passe para Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda.
Paulo Roberto de Almeida
Anônima disse...
Olá, Paulo. Tenho 29 anos,formada em Geografia, solteira e moro no interior da Bahia. Há aproximadamente um ano me interessei pela carreira de diplomata. Contando com o auxílio de um, me informei sobre a carreira e cheguei a me matricular num curso de Inglês, mas não fui muito além disso.
Hoje, perto de completar 30 anos e entrando também na famigerada crise que acompanha essa idade, fui aprovada em um concurso estadual que permite com o seu salário pagar as minhas contas. Continuo com o sonho da diplomacia, mas ainda acho melhor tentar um outro concurso que me possibilite morar numa capital e me preparar para o concurso do IRBR. Sei que você não é terapeuta, no entanto gostaria de saber sua opinião. Do seu ponto de vista tentar o concurso para a carreira diplomática, sendo uma mulher com sonhos de constituir também uma família, pode esperar por mais uns dois anos ou mais?
Paulo R. de Almeida disse...
Cara Anônima de 29 anos,
Não existe essa coisa de crise de 30 anos. Isso é uma invenção de psicólogos amadores.
Se você está fazendo concursos para um serviço público qualquer apenas para ter um bom salário e ter a segurança da estabilidade, eu lhe desejo sucesso na empreitada, qualquer que seja ela.
Creio que a diplomacia exige certa dedicação, não apenas ao estudo preparatório, mas sobretudo às peculiaridades da profissão, que não são tão burocráticas quanto outras, mas feitas de viagens, nomadismo, imaginação e densidade intelectual.
Creio que você pode estudar mais um, dois ou três anos, se você tiver realmente vocação para a diplomacia, ou seja, se isso não for apenas mais um concurso para um emprego público, com salário razoável (mas você encontra melhor em outras carreiras do Estado ou na vida privada) e estabilidade garantida.
Eu não posso decidir por você. Apenas digo que nunca, alguém perdeu tempo ao estudar e ao aprofundar seus conhecimentos sobre qualquer coisa...
Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A frase (idiota) da semana: Naomi Klein, sobre Occupy Wall Street


Occupy Wall Street é a coisa mais importante do mundo hoje.

Naomi Klein, Discurso originalmente publicado no The Nation, em http://www.thenation.com/article/163844/occupy-wall-street-most-important-thing-world-now.
Tradução para o português do Brasil, de Idelber Alvelar, da Revista Fórum, em http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9518/a-coisa-mais-importante-do-mundo-.

Polonia totalmente globalizada (como a Nigeria)...

Antigamente, 90% dessas mensagens prometendo milhões de dólares facilmente (bastando você informar sua conta em banco para a viúva em questão) era proveniente da Nigéria, a campeã mundial absoluta em corrupção cibernética.
Agora parece que a Polônia já está totalmente integrada na globalização do crime...

From: Mrs.Mary Parker <przedszkole-66@xxxxxxxx.pl>
Subject: Dear Beloved
Date: 19 de outubro de 2011 01:27:54 BRST
Reply-To: mrs_mary.parker02@kimo.com

I am Mrs. Mary Parker an aging widow suffering from long time illness. 
I have some funds I inherited from my late husband, the sum of 7.5 Million Ponds, and I needed a very honest and  God fearing person that will use the fund for God's work, I found your email address from the internet and decided to contact you. 
Please if you would be able to use the funds for the Lord's  work, kindly reply me at my email; mrs_mary.parker02@xxxxxx.xxx

Yours in the Lord, 
Mrs.Mary Parker.

Cuidado com Mrs Mary Parker...
Paulo Roberto de Almeida 

Surrealismo brasileiro: a inacreditavel UnB e o Kafka do cerrado

Bem, quando eu li esta mensagem da UnB, sinceramente eu não sabia se ria, se lamentava a "desnutrição" dos estudantes, ou se me encantava com o estupendo burocratismo dos serviços responsáveis da UnB.
Vejam vocês: 


Informamos à comunidade universitária que o serviço de alimentação especial, oferecido pelo Restaurante Universitário de Brasília/DAC, está temporariamente suspenso devido a falta de nutricionistas para o programa.
Esclarecemos que as necessidades de pessoal já foram encaminhadas ao DGP e tão logo a equipe esteja restabelecida, o serviço retornará a normalidade.
Atenciosamente,
Coordenação de produção do RU

Sinceramente, se Franz Kafka, em lugar de ter nascido (e morrido) em Praga, andasse pelo cerrado central do Brasil, mais especificamente no quadrilátero que responde pelo nome de campus Darcy Ribeiro, ele teria farto, fartíssimo, IMENSO material para mais alguns derivativos do seu mal costurado Processo.
O Brasil é maior (não confundir com algum programa do governo), melhor, muito mais rico do que qualquer romance kafkiano...
Pronto, já terminei minha noite com algum motivo de reflexão (e mais insumo para algum minitratado sobre o surrealismo brasiliense).
Paulo Roberto de Almeida 

Anatomia da CORRUPCAO no Brasil: inacreditavel

Este editorial do Estadão revela como o dinheiro -- parte pequena dele -- escorre por um dos inúmeros ralos do mau governo do Brasil, apenas uma das incontáveis formas pelas quais políticos corruptos, sindicalistas mafiosos e outros malandros situados no mais alto nível desta República se apropriam de milhões, zilhões de recursos que pertencem ao povo brasileiro, a todos nós, vão parar nos bolsos de alguns desses espertos e no caixa 2 de alguns desses partidos dos que se pretendem mais espertos.
Se o Brasil fosse um país normal, esse pequeno escândalo, apenas um numa cadeia infinita de roubalheiras, falcatruas, patifarias permitiria iniciar uma operação séria de correção dessa corrupção endêmica que corre pelas ONGGs do Brasil, todas em contubérnio com o governo, este e o anterior, com a benção do capo dei cappi.
Paulo Roberto de Almeida 


O ministro tem de sair
Editorial O Estado de S.Paulo, 18/10/2011



Por sua extrema gravidade, não basta que se investigue a fundo a denúncia de que o ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B, se beneficiou pessoalmente do desvio de recursos do programa Segundo Tempo, criado para promover atividades esportivas com crianças e adolescentes pobres. O programa foi terceirizado para organizações não governamentais (ONGs) conveniadas com a pasta - e, claro, dirigidas por gente do partido do ministro. A acusação, divulgada no fim da semana pela revista Veja, deixou Orlando Silva sem condições de continuar no cargo. Ele pediu à Polícia Federal que investigue o caso, que certamente acabará nos tribunais. Mas, no âmbito da política, o princípio da presunção de inocência não se aplica nem se pode esperar que sentenças transitem em julgado. O ministro precisa sair não apenas para não ter a sua autoridade cada vez mais desgastada, que é o que costuma acontecer nessas circunstâncias, mas sobretudo para poupar a presidente Dilma Rousseff de novas atribulações no campo minado da corrupção - bem agora que o Esporte ganhou uma projeção sem precedentes, com os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 no País e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, dois anos depois.
Em fevereiro último uma série de reportagens deste jornal revelou que o Segundo Tempo era uma mina de ouro para o PC do B, graças justamente aos convênios da pasta com entidades ligadas à sigla, realizados sem licitação. Somente em 2010 o aparelhado Ministério desembolsou R$ 30 milhões em transferências - em mais de um sentido - do gênero. Ao que tudo indica, o contubérnio começou com o antecessor de Orlando Silva, Agnelo Queiroz, que se elegeu governador do Distrito Federal (DF) depois de trocar o PC do B pelo PT. Comissões de 20% que teriam sido pagas ao partido da foice podem ter somado ao longo da era Lula cerca de R$ 40 milhões. Mas os "comunistas" não guardavam tudo para si. Teriam ajudado a cobrir gastos da campanha do presidente, em 2006, diz o policial militar (PM) e ex-militante do PC do B João Dias Ferreira. Em abril do ano passado, ele foi preso na Operação Shaolin, da Polícia Civil do DF, por suspeita de participação no desvio de R$ 1,99 milhão repassado pelo Ministério dos Esportes, mediante dois convênios, à Associação João Dias de Kung Fu.
Ferreira é o principal acusador de Orlando Silva. O ministro alega que o PM se voltou contra ele porque o Ministério pediu ao Tribunal de Contas da União que investigasse os convênios com as suas ONGs e as obrigasse a devolver ao erário R$ 3,16 milhões. Pode ser. Mas pode ser também porque o ministro e o partido, diferentemente do que lhe teriam prometido, o deixaram entregue à própria sorte nas investigações da Shaolin. Não foi a primeira vez, nem será a última, que a vingança acaba expondo os podres do governo e da política. À Veja, Ferreira confirmou que o Segundo Tempo servia para favorecer correligionários e irrigar as finanças do PC do B - mas a denúncia bombástica foi outra. Um comparsa do policial, o motorista Célio Soares Pereira, contou ter recolhido dinheiro de quatro entidades ditas sem fins lucrativos que recebiam verba do programa e que o entregou ao ministro Orlando Silva dentro da garagem do Ministério, numa caixa de papelão. "Eram maços de notas de 50 e 100 reais."
Para embolso pessoal ou caixa 2 de partidos, desvios de recursos de convênios entre a administração pública e ONGs de fachada - não raro constituídas para esse fim, instaladas em endereços fictícios, em nome de laranjas - são talvez o maior dos ralos por onde escorre dinheiro do contribuinte. Como notou ontem no Estado o colunista José Roberto de Toledo, em 2010 o governo destinou R$ 5,4 bilhões a 100 mil ONGs, ante R$ 1,9 bilhão em 2004. Esses gastos têm crescido mais do que as transferências para Estados e municípios. Ironicamente, de início se esperava que a participação dessas entidades, além de engajar a sociedade na implementação de políticas públicas, ajudaria a combater o burocratismo, o desperdício - e a corrupção.
A leniência do governo Lula com a bandalheira transformou uma colaboração em princípio saudável numa gazua. Mesmo assim, até agora ninguém tinha acusado um ministro de receber dinheiro vivo de um convênio de promoção social.