Sou regularmente procurado por estudantes de RI e candidatos à carreira diplomática, para responder grosso modo às mesmas questões, sobre o ingresso, o concurso, a carreira, o que fazemos, etc.Numa das últimas vezes, em 2017, resolvi consolidar uma informação geral e listar vários trabalhos meus que podem ajudar a satisfazer curiosidades insaciáveis (se isso é possível).
Vejamos agora a mesma postagem feita um ano e meio atrás.
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 29 de dezembro de 2018
Paulo Roberto de Almeida
Notas para servir a entrevista a alunos de curso de Relações Internacionais.
Listagem seletiva da produção em temas relativos à carreira diplomática.
Brasília, 19-20 de agosto de 2017.
APRESENTAÇÃO:Licenciado em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Bruxelas (1975), Mestre em Planejamento Econômico pelo Colégio dos Países e Desenvolvimento da Universidade de Antuérpia (1977) e Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984); Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (1997). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, embaixadas e delegações do Brasil no exterior, entre os quais ministro-conselheiro na Embaixada em Washington (1999-2003) e Cônsul Geral Adjunto no Consulado Geral em Hartford (2013-2015). Professor de Economia Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub (desde 2004). Possui mais de 30 obras publicadas. Desde agosto de 2016 é Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), órgão da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. Editor Adjunto da Revista Brasileira de Política Internacionale membro do conselho editorial de diversas outras revistas acadêmicas.
PRINCIPAIS LIVROS: Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império(3a. ed.: Brasília: Funag, 2017, 2 vols., ISBN: 978-85-7631-675-6, 966 p.; 1ro. vol.: ISBN: 978-85-7631-668-8, 516 p.; 2do. vol.; ISBN: 978-85-7631-669-5, 464 p.); O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (org.; Curitiba: Editora Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0); Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais(Curitiba: Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8); Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização(Rio de Janeiro: LTC, 2012, 309 p.; ISBN: 978-85-216-2001-3).
PERGUNTAS
1) Como o senhor decidiu entrar para a carreira diplomática?
PRA:Ingressei na carreira diplomática, por concurso direto, quase imediatamente após ter regressado depois de uma longa estada de mais de sete anos no exterior, uma espécie de autoexílio durante o governo militar, do qual eu era um dos opositores declarados (e que constituiu o motivo de minha saída do Brasil no final de 1970). Após retornar, no primeiro trimestre de 1977, comecei imediatamente a dar aulas em faculdades privadas de São Paulo, em matérias como Sociologia, Economia Brasileira e Economia Internacional, áreas de minha graduação e do mestrado na Bélgica, e também a colaborar com entidades universitárias em programas de formação de quadros públicos em outros estados, administrados pela UniCamp, por exemplo, onde trabalhava um antigo mestre e grande amigo meu, Maurício Tragtenberg.
A decisão de fazer o concurso emergiu quase que por acaso, ao simplesmente ler a abertura de um concurso direto para o Itamaraty, em anúncio num jornal de SP, sem estar especialmente pensando em seguir a carreira diplomática. O fato de ser um concurso direto foi um motivo e um estímulo adicional, pois certamente eu relutaria em retornar à condição de aluno (aos 27 anos), já tendo mestrado e estar em meio a um doutoramento em ciências sociais na Universidade de Bruxelas. O ingresso direto me dispensou de dois anos, provavelmente aborrecidos, que eu teria de passar no Instituto Rio Branco, lendo e estudando coisas que eu já conhecia, com poucas exceções, mais até do que alguns professores. Acresce a isso o fato de que para ser nomeado para a carreira, eu precisaria estar em ordem com os serviços de informação do regime, o que eu não tinha certeza de estar, pois durante todo o exílio fiquei colaborando com movimento de esquerda, exilados no exterior, na informação sobre e contra o regime militar: o SNI precisaria dizer se eu poderia ser admitido a serviço do Estado.
Foi, portanto, uma decisão intempestiva, tomada num relance, sem qualquer planejamento e sem sequer estar devidamente preparado para o concurso, pois não tive tempo, nem condições de estudar adequadamente, com todas as aulas e viagens que eu fazia pelo Brasil. Mas eu me encontrava em grande medida preparado para a maior parte das questões, pois tendo vivido sete anos no exterior, estudando intensamente, eu dominava naturalmente praticamente todas as matérias do concurso, menos direito e inglês (que estudei apressadamente em poucos dias). Uma questão de oportunidade e do momento vivido pela carreira diplomática naquela conjuntura, pois esses concursos diretos, paralelamente aos vestibulares do Curso Preparatório à Carreira Diplomática, do IRBr, existiram apenas por poucos anos, voltando-se depois ao sistema normal de recrutamento por meio de vestibular, e curso regular. Escapei de voltar a ser aluno.
As circunstâncias de meu ingresso na carreira diplomática e algumas outras questões pertinentes a essa decisão eu já expliquei em muitos outros textos que elaborei ao longo dos anos, justamente para responder à curiosidade de jovens candidatos, que estão listados no Apêndice, a partir do que eu me permitiria citar estes trabalhos:
2) Como é o seu cotidiano profissional? O que é um dia normal na sua vida?
PRA:Já escrevi bastante sobre o que é o “dia normal” na vida de um diplomata, na Secretaria de Estado, ou nas missões e representações no exterior. Ao final deste texto, listo alguns dos meus trabalhos a respeito, que podem servir de referência aos desejosos de saber mais sobre o desempenho típico na carreira, o que aliás deve poder ser obtido também nas páginas do Instituto Rio Branco e do próprio Itamaraty. A partir de um antigo trabalho meu, descrevo rapidamente o que seria um dia habitual de trabalho na vida de um diplomata e depois remeto ao trabalho completo.
“Na Secretaria de Estado (Brasília), processamento de papéis, que tipicamente são telegramas de embaixadas e missões no exterior, com alguma questão de negociação na qual o Brasil encontra-se envolvido; a partir do insumo inicial, o trabalho constitui uma elaboração da demanda no sentido de se dispor de informações adequadas para elaborar alguma instrução negociadora, a partir da memória existente e da consulta a outras agências públicas envolvidas no tratamento daquela matéria (comercial, financeira, de cooperação técnica, segurança etc.). No exterior, se assegura a interface entre o Brasil e governos estrangeiros ou organizações internacionais, com os quais se pode negociar diretamente (no plano bilateral) ou conjuntamente (no caso de atuação multilateral); ou seja, além do processamento da informação, há típicas situações negociais, que envolvem o recebimento de instruções precisas da Secretaria de Estado, sem o que o diplomata teria de agir segundo seu conhecimento anterior de assuntos similares e em função de uma percepção própria do interesse nacional.”
Remeto, portanto, ao trabalho de onde foi tirando essa resposta a uma das muitas questões a mim formuladas anos atrás: “Questionário sobre a carreira diplomática” (Brasília, 10 maio 2008, 5 p.; n. 1885); respostas a questões colocadas por estudante de administração, sobre a carreira diplomática; postado no Blog DiplomataZ (2.07.2009; link: http://diplomataz.blogspot.com/2009/07/19-mais-um-questionario-sobre-carreira.html#links), inclusive com respostas a questionamentos adicionais.
No Apêndice a este Questionário, existem várias outras referências a outros trabalhos meus sobre aspectos diversos da carreira diplomática, sobre a preparação e desempenho, todos eles contendo muitas opiniões pessoais e referentes a minha própria experiência em todas essas áreas.
3) Há alguma figura diplomática ou até mesmo política que lhe inspira?
PRA:Sou pouco propenso, por características pessoais, a manter alguma atitude reverencial a qualquer pessoa que seja, de qualquer carreira, formação ou atividade. Inspiração eu retiro dos livros, do estudo aplicado, da observação atenta da realidade e, obviamente, também do exemplo de personalidades que tiveram oportunidade, nem sempre com sucesso, de contribuir para o progresso espiritual e material da humanidade e também do Brasil obviamente. Já escrevi sobre algumas dessas personalidades que, sem descurar traços pessoais, filosóficos ou políticos que possam ser vistos de maneira crítica, como sempre devemos fazer (consoante minha atitude de ceticismo sadio), mas personalidades que certamente tentaram melhorar o Brasil no limite das possibilidades de seu tempo e de suas capacidades individuais. Eu os chamei, por simples provocação, de “dez grandes derrotados de nossa história”, mas está claro que não foram derrotados no sentido estrito, uma vez que permanecem na memória coletiva, e em nossa história, como grandes construtores da nação, sem ter tido necessariamente a felicidade de ter podido completar projetos pessoais e coletivos nesse sentido. O trabalho é este aqui:
Mas, ao falarmos de figuras diplomáticas que podem servir de inspiração, mesmo decorridos longos anos de suas carreiras respectivas, é inevitável termos algumas personalidades em vista, algumas que podem já ter sido citadas na minha pequena lista de “derrotados” acima (como José Bonifácio, ou Oswaldo Aranha, ou mesmo Rui Barbosa, que foi um “diplomata acidental”), outras que merecem referência em qualquer trabalho historiográfico nesse campo. Permito, assim, citar os dois Rio Branco, e até mesmo o pai, Visconde de Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos, e o Barão, Paranhos Jr., ambos por uma dedicação exemplar (o pais mais até do que o filho, até uma fase já madura da vida, quase que por acidente) não só ao Estado e à diplomacia à qual ambos serviram, como ao Brasil, em seu conjunto. Outro que poderia ser citado nesse rol, e que foi também um “derrotado”, foi San Tiago Dantas, um jurista avançado, que serviu por diversas vezes à diplomacia brasileira antes de se tornar chanceler e depois ministro da Fazenda.
Na área econômica, que é também política e muitas vezes diplomática (por algumas negociações externas que exigem certas habilidades próprias da carreira), eu me permitiria citar os “pais” do Plano Real, os homens que salvaram o Brasil de si mesmo. Não me refiro particularmente ao chanceler, depois ministro da Fazenda e posteriormente presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda que ele possa ter tido um papel crucial na aceitação, pelo vice-presidente assumido Itamar Franco, do Plano Real que ele nunca entendeu muito bem (o Itamar), mas aos verdadeiros “pais”, o pequeno grupo de economistas que lutou bravamente para tornar o Brasil um pouco menor irracional, um pouco mais normal, do que ele tinha sido nos anos e décadas anteriores de políticas econômicas erráticas e de inflacionismo construído pelo próprio Estado. Esses “pais”, e provavelmente estou esquecendo alguns, se chamam Pedro Malan, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Winston Fritsch, André Lara Resende, Pérsio Arida, Clovis Carvalho, Francisco Lopes, e alguns outros que já tinham participado de planos anteriores (frustrados) e que tinham adquirido experiência no trato do monstro muito pouco metafísico que enfrentamos durante décadas: os gastos públicos excessivos por parte do Estado, os desequilíbrios fiscais e os déficits orçamentários, o emissionismo irresponsável, o protecionismo, o estatismo, o dirigismo anacrônicos e prejudiciais, enfim, muitos dos males que já tinham sido diagnosticados décadas antes por homens como Eugênio Gudin e Roberto Campos, e que eles não tinham conseguido vencer.
Creio que cabe essa homenagens aos “pais do Real”, pois eles construíram parte do Brasil de hoje: não conseguiram terminar a obra (depois continuada por Armínio Fraga, por exemplo), por circunstâncias políticas, assim como creio que cabe uma palavra de repúdio aos economistas aloprados alinhados com as teses espúrias, anacrônicas e prejudiciais do Partido dos Trabalhadores, e sobretudo de repúdio a seus líderes políticos, Lula e Dilma à frente, por terem colocado as bases daquilo que eu chamo de A Grande Destruição, a obra de desmantelamento de tudo o que os “pais do Real” tanto se esforçaram por preservar. Vale, portanto, o registro.
4) O senhor é diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, o IPRI. Para os acadêmicos que têm dúvida, qual a diferença entre o IPRI e a Fundação Alexandre de Gusmão, a FUNAG?
PRA:O IPRI é um dos órgãos subordinados, junto com o CHDD – o Centro de História e Documentação Diplomática, sediado no Rio de Janeiro –, à Funag, que é por sua vez vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. Teoricamente o IPRI se destina a fazer pesquisas, divulgação, informação e publicações nas grandes áreas que são as suas, que se confundem, grosso modo, com o trabalho do Itamaraty, ou seja, a agenda corrente da política externa brasileira, e também os grandes temas da política internacional, dos problemas que envolvem nossa participação nos grandes foros de negociação internacionais. Eu disse teoricamente porque o IPRI não dispõe de um orçamento próprio, praticamente não tem pesquisadores, a não ser alguns poucos, e depende, para o essencial de suas atividades, dos recursos, possibilidades e da boa disposição da Funag, e do Itamaraty obviamente, para desenvolver essas atividades. Eu procuro sugerir atividades nas áreas descritas acima, mas também tomar iniciativas nos meios diplomáticos e acadêmicos para promover uma intensa agenda de atividades ao menor custo possível, ou seja, convidando pessoas de passagem por Brasília para falar em nossos auditórios e salas de reuniões sobre os mesmos temas de que se ocupam os diplomatas e os acadêmicos, o que poderia ser resumido nos meus dois princípios de trabalho: tudo o que me dá prazer intelectual (e tem muita coisa nesse universo) e tudo o que o Itamaraty não faz, ou seja, aquilo que foge, habitualmente, à agenda diplomática corrente, que é bastante bem coberta pela própria Funag.
Um pouco do que eu fiz, neste ano em que estou à frente do IPRI está resumido em algumas postagens do meu blog Diplomatizzando, especificamente nesta aqui:
5) Que trabalho o IPRI desempenha e como o mesmo se relaciona e contribui para com a academia de Relações Internacionais? E como área acadêmica contribui para o IPRI?
PRA:A Funag, como um todo, e também seus órgãos subordinados, o IPRI e o CHDD, foram justamente criados para estabelecer pontes, diálogo, cooperação entre a chamada sociedade civil e o MRE, especificamente entre os meios acadêmicos e o ambiente diplomático, em suas diferentes vertentes: pesquisa, seminários, eventos diversos e iniciativas conjuntas que possam aproximar e explorar as interfaces e as possibilidade de cooperação nesses meios. Creio que, num julgamento pessoal, o espírito e a letra dos instrumentos e das instituições dedicadas a esses intercâmbios têm sido amplamente atendidos, desde a criação da Funag, ainda no regime militar (1971) e depois do IPRI (1987, celebrando, portanto, 30 anos em 2017) e pouco depois o CHDD. As publicações – livremente disponíveis, quase todas, na Biblioteca Digital da Funag – estão aí para provar o que digo, mas isso é apenas uma parte dos milhares de eventos e empreendimentos registrados ao longo dessas décadas, pois a maior parte dos trabalhos é justamente constituída por seminários organizados pelo IPRI ou pela Funag, abertos geralmente ao público externo (especialistas, acadêmicos, burocratas de outros órgãos), ou eventualmente fechados ao próprios diplomatas, quando se trata de discutir temas sensíveis vinculados a negociações internacionais.
O IPRI é parte desse mesmo ambiente e propósitos, mas como disse, ele dispõe de poucas ferramentas e recursos (se algum), pois conta com pessoal reduzido na parte de pesquisas, e praticamente nenhum na parte de organização de eventos, o que fica a cargo da Funag. Mas, pode-se dizer que nossos “pesquisadores” são todos os diplomatas da Casa, pois normalmente publicamos os trabalhos do Instituto Rio Branco, com destaque para as teses do Curso de Altos Estudos que se supõe constituam matéria prima para a comunidade acadêmica de RI e de áreas afins. Por outro lado, essa vasta comunidade – atualmente, pois antes era muito reduzida – também colabora com os eventos, publicações e outras iniciativas do IPRI, como do CHDD e da Funag, de maneira geral. Esse é o nosso trabalho, e creio que, na modéstia de meios que são os do Itamaraty no orçamento global do Estado, e os da própria Funag, desempenhamos essas funções de modo altamente satisfatório.
Eu, pelo menos, não posso dizer que tenho muito tempo livre no IPRI para deleite pessoal ou para empreender minhas próprias “afinidades eletivas”, que nem sempre coincidem com a agenda oficial do MRE, da Funag, ou mesmo do IPRI. De toda forma, meus trabalhos pessoais eu os desenvolvo em casa, ainda que reconhecendo que existe, atualmente, uma enorme interface de identidade entre o que eu pesquiso, em caráter pessoal, e o que eu faço no próprio IPRI.
6) O senhor possui um blog "Diplomatizando", no qual faz posts relacionados às Relações Internacionais, política externa, cultura, etc.; além de obter diversas obras publicadas. O amor pela escrita se desenvolveu em que momento de sua vida?
PRA:Sempre fui um leitor voraz e um “escritor” compulsivo. Coloco essa palavra entre aspas, pois não me considero um “escritor profissional”, e certamente não um do gênero literário. Sempre escrevi porque, no início, queria resumir o que eu tinha lido e aprendido nos livros, e depois comecei a escrever o que eu mesmo pensava a respeito do que eu tinha lido, vivido, observado. Obviamente, os primeiros trabalhos foram resenhas de livros, depois evoluindo para “artigos” e mais adiante, já na vida universitária, para a produção de textos com pretensão “científica”. Bem mais tarde, já aos quarenta anos, vieram os livros, quando decidi coletar os muitos escritos resultando de aulas, seminários, trabalhos diversos da vida profissional (diplomática) e acadêmica, em volumes organizados oferecidos a editoras (as mais diversas).
Os blogs (eu tive vários, sendo que o Diplomatizzandoé o mais recente e o mais ativo) são o que eu chamo de “divertissement”, ou seja, não tão “sérios” quanto o meu site pessoal (ainda em organização: www.pralmeida.org), e apenas destinados a recolher, num mesmo ambiente, materiais os mais diversos: notícias, notas variadas sobre temas conjunturais ou de estudo, trabalhos meus ou referências de trabalhos de terceiros, de entidades oficiais, de outros colegas ou até desconhecidos, que eu julgo, sob critérios puramente pessoais ou aleatórios, como “interessantes” o suficientes para merecer registro e postagem. O Diplomatizzandoé uma espécie do que antigamente se chamava de “gabinete de curiosidades”, um repertório, uma biblioteca, um “museu”, um catálogo de publicações, ou seja, um espaço livre onde eu posso depositar tudo aquilo que eu julgo meritório intrinsecamente, o que é muita coisa (indo da história antiga à política contemporânea, e passando por todas as áreas do conhecimento humano). Ele pode ser descrito como uma pequena enciclopédia de meus interesses intelectuais.
Num determinado momento de nossa história recente, e aqui eu recorro à minha “historiografia” particular – o AC e DC, ou seja, Antes e Depois do regime dos Companheiros, durante o qual eu fui afastado de qualquer trabalho prático no exercício legítimo de minha carreira diplomática –, o Diplomatizzando se converteu numa espécie de “quilombo de resistência intelectual”, ou seja, onde eu tinha o meu pequeno espaço de liberdade, no qual eu me permitia postar todas as minhas críticas, veladas ou abertas, ao espetáculo que eu considerava lamentável de incompetência total no exercício das funções públicas pelos companheiros amestrados em seu partido “neobolchevique” e sobretudo suas distorções no exercício da diplomacia nacional, sem deixar de mencionar a corrupção evidente na condução de muitas das políticas públicas (eventualmente também na própria diplomacia). Acredito que o blog me granjeou certas inimizades na carreira – das quais nada tenho a objetar, pois que entendo que diplomatas “normais” são geralmente bem mais discretos e menos vocais do que eu fui durante todos esses anos – e também alguma admiração, dentro da carreira e fora dela, por justamente ter a coragem de romper o consenso (virtual, praticamente universal) sobre as “excelências” dos governos companheiros e até de sua diplomacia.
Devo ter granjeado, igualmente, alguma admiração, mas muito mais objeção nos meios acadêmicos, especialmente nos dedicados à diplomacia, pois o tom geral dos trabalhos acadêmicos era de aprovação, senão de admiração, pela chamada “diplomacia ativa e altiva”, quando eu simplesmente a considerava uma fraude e uma mistificação. Nunca me importei com as críticas, e nunca me deixei levar pelos elogios: eu sempre fiz o meu trabalho solitariamente, isoladamente, e o único meio de “comunicação” com o público foi justamente por meio do meu blog Diplomatizzando. Confesso não ter a menor ideia de sua eventual influência nos vários meios que o alcançam – o que ocorre, aliás, de forma passiva, pois jamais remeto trabalhos a listas pessoais, simplesmente os deixo à disposição dos interessados – pois não costumo seguir a linha dos acessos, apenas o fazendo indiretamente (pelos relatórios regulares, “Analytics”, da plataforma Academia.edu, por exemplo). Meu propósito não é o de disputar espaços com ninguém, não fazer publicidade indevida de minha produção, apenas ficar em paz com a minha própria consciência e oferecer ao público em geral, aos jovens estudantes em particular, uma visão crítica, “contrarianista”, de alguém que muito leu na vida, muito estudou, muito viajou, e que tem alguma experiência a transmitir, em termos das melhores práticas ou políticas que possam servir ao desenvolvimento do Brasil e de seu povo.
Vindo de uma família muito modesta, tendo ascendido socialmente pelo estudo e pelo trabalho, considero que o Brasil é atualmente um país muito injusto, pois não oferecer mais aos jovens da condição que era a minha nos anos 50 ou 60 as boas escolas que me permitiram galgar posições importantes na vida profissional e intelectual. Nem tudo eu credito às escolas públicas, obviamente, pois muito dependeu de meu próprio esforço, uma vez que, em lugar de ficar jogando futebol nas ruas ou me dedicar a qualquer outro lazer, eu passava horas e horas na biblioteca pública infantil que tive a sorte (e a iniciativa pessoal) de frequentar em minha infância e primeira adolescência, num ambiente de livros que sempre me cercou durante toda a vida.
Tudo isso se reflete em meus escritos, inéditos, e nos trabalhos publicados, e constituem a minha razão de viver, como estou fazendo justamente agora, “perdendo” toda uma noite para compor um “texto-guia” (que não será lido, obviamente), em resposta a um roteiro para entrevista de jovens estudantes de RI e possivelmente candidatos à carreira diplomática. Faz parte de minha personalidade dedicar a obras deste gênero, que eventualmente vão terminar sendo divulgadas unicamente no meu blog Diplomatizzando, uma vez que não se prestam a nenhum outro meio ou veículo.
7) Há alguma diferença entre o Paulo Roberto diplomata e o Paulo Roberto escritor?
PRA:Eu não diria, pois como sempre repito, nunca deixei o cérebro em casa quando vou para o trabalho, ou nunca o deposito na portaria quando adentro no prédio da SERE, ou em qualquer outra instalação. Não quero com isso dizer que meus colegas abandonem sua individualidade ao iniciar uma rotina de trabalho na diplomacia, mas a verdade é que eu NUNCA me eximi de expressar minha opinião pessoal sobre quaisquer temas ou problemas da diplomacia apenas porque ela pudesse contrariar alguma postura oficial, ou os argumentos de quaisquer outros colegas, mesmo superiores. Ou seja, eu nunca deixe de ser quem eu sou, apenas por estar investido de funções oficiais na burocracia do Estado.
Mas é claro que podemos traçar uma diferença entre o Paulo Roberto de Almeida burocrata, que tem de cumprir suas obrigações funcionais, e o mesmo indivíduo, que conheço bem, obviamente, quando ele se encontra no recôndito do lar, como se diz, quando se permite emitir opiniões pessoais totalmente livres de quaisquer constrangimentos funcionais. Tenho procurado respeitar, razoavelmente, os ritos e obrigações a que somos adstritos, ou seja, não ficar emitindo opiniões pessoais sobre temas e agendas da diplomacia que possam contrariar a postura oficial, pois isso está regulado em nossos estatutos do serviço exterior (nos quais se requer autorização da Casa para manifestação pública sobre esses temas oficiais, o que acho basicamente correto, só discordando da famigerada “lei da mordaça”, uma circular de censura preventiva propriamente restritiva). Nem sempre cumpri esse ritual, sobretudo durante o regime companheiro, quando registrei diversos episódios contrários, não exatamente ao que eu pensava pessoalmente, mas contrários aos interesses nacionais do Brasil, pois que os companheiros conduziam uma miserável diplomacia partidária, mais identificada com os interesses cubanos (expressos nas reuniões do Foro de São Paulo, por exemplo) do que os nacionais. Não tive nenhuma hesitação em denunciar isso publicamente, e por isso mesmo paguei um alto preço pela minha atitude, ficando totalmente à margem do trabalho na Secretaria de Estado DURANTE TODO o reinado lulopetista no Brasil.
Aproveitei esse período, quando fiz da Biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho, para ler muito, escrever bastante, e publicar um pouco. Especificamente sobre essa questão das diferenças entre o diplomata escritor e o funcionário da ativa, tenho um pequeno texto sobre os diplomatas como memorialistas, o que não é ainda o meu caso (mas que talvez venha a ser). Este aqui:
8) O senhor foi citado na última prova de admissão à carreira diplomática, agora em 2017. Como foi a sensação?
PRA:De certo modo, foi uma completa surpresa, por dois motivos principais. Em primeiro lugar porque NUNCA escrevi pensando em servir de guia aos candidatos à carreira, inclusive porque os meus trabalhos, ainda que didáticos, muitos deles, não constituem propriamente materiais de estudos, ou manuais sistemáticos para uso nos concursos: eles são mais apropriadamente o reflexo de pesquisa bem mais especializadas do que gerais, servindo, portanto, a um público mais de pós-graduação, ou aos leitores cultos, do que a jovens iniciantes nos estudos ou “concurseiros”. Em segundo lugar porque como sempre mantive uma postura totalmente independente não só em relação à diplomacia companheira, aquilo que eu sempre chamei de “lulopetismo diplomático”, mas também, em muitos casos, em relação à próprias posições oficiais da diplomacia governamental (do Itamaraty, dos presidentes de plantão, etc.). Não tenho nenhum problema em afirmar isto, porque é a mais absoluta verdade: sou uma pessoa totalmente alheia a defender posturas oficiais de quaisquer governos, de quaisquer tendências que sejam, eu me guio apenas por certos critérios de racionalidade, que são os que adquiro com base no estudo, na pesquisa, na reflexão, na observação ponderada da experiência de outros povos e nações, sempre pensando no que seria melhor para o Brasil e seu povo, independentemente do que possam pensar os governantes do momento. Em resumo, nunca escrevi para diplomatas ou para quaisquer outro público: sempre escrevi o que eu mesmo penso dos problemas focados em meus trabalhos.
Tanto é assim que meus livros nunca foram publicados pelo Itamaraty, nem eu desejei que fossem, para evitar qualquer acusação de “chapa branca”, ou defesa das posturas oficiais. O único livro publicado pelo Itamaraty é uma pesquisa sobre os fundamentos de nossa diplomacia econômica no século XIX, ou seja, um trabalho de investigação histórica (ainda assim com argumentos sobre a era republicana que não condizem com a “versão oficial”, como o nosso arraigado protecionismo, por exemplo).
O fato de um trecho de um livro meu ser citado numa prova de ingresso à carreira (sem que eu saiba como isso se deu, nem vou procurar saber) talvez seja apenas o reconhecimento, por algum professor, do valor e da legitimidade de meus trabalhos. Mas registre-se que isso se deu apenas ao final, e ao término (que espero definitivo), do miserável regime companheiro que praticamente destruiu o Brasil, economicamente e moralmente, o que também afetou sua diplomacia, por mais que meus colegas não o queiram reconhecer. Nada disso afeta minha produção, ou a continuidade de meu trabalho: não vou aderir ao “mercado” (enorme e lucrativo) dos concursos, pois não tenho interesse em produzir para os outros, apenas em dar continuidade a meu trabalho de pesquisas e reflexões (que eventualmente poderão servir aos “concurseiros” e à própria diplomacia oficial, mas isso independentemente de minha vontade e propósitos).
9) O senhor iniciou sua carreira diplomática em 1977. Desde lá, o que mudou no que tange ao modo de se fazer a diplomacia?
PRA:Pouco mudou, a não ser o uso, cada vez mais intenso, dos meios de comunicação social, mas eles são apenas ferramentas de trabalho. O essencial permanece exatamente como era: estudo, pesquisa, informação, preparação de posições que o Brasil deve defender nos foros bilaterais, plurilaterais e multilaterais; a defesa dessas posições, ou seja, negociações nesses ambientes; e a representação do país a serviço dos interesses nacionais, e em defesa da já imensa comunidade de brasileiros expatriados (muitos por motivos econômicos, ou de segurança, infelizmente levados a se deslocar ao exterior, para melhores oportunidades de emprego, de criação de riqueza, para segurança pessoal, para um futuro melhor para os filhos, pois devemos reconhecer que o Brasil se tornou um país muito difícil nos últimos tempos, inclusive no plano ético ou simplesmente moral).
Nesses últimos 40 anos, o Brasil cresceu, entrou em crises, retomou sua trajetória de desenvolvimento, enfrentou desafios externos, mas sobretudo internos, pois devemos também reconhecer que praticamente TODOS os problemas e desafios que hoje enfrentamos derivam de nossos próprios erros, da inépcia ou corrupção de nossas “elites” (e todos os que governam são elites, mesmo sindicalistas mafiosos ou políticos vindos dos “meios populares”). Nesse percurso tivemos momentos, externamente, de grande receptividade internacional e outros de descrédito ou de desalento, como agora, por exemplo. Nada disso deve nos fazer perder o rumo que queremos imprimir ao país: uma nação democrática, fundada nas mais amplas liberdades, capaz de garantir um mínimo de segurança a seu povo, boas condições de estudo, de saúde e de infraestrutura e sobretudo podendo oferecer um ambiente aberto à livre iniciativa de seus cidadãos. Todos os países passam por fases mais felizes ou menos felizes numa longa trajetória histórica: o importante é que façamos o nosso trabalho sempre com esse objetivo, que é o de deixar aos nossos filhos e netos um país melhor do que aquele que recebemos de nossos pais e avós.
A política externa tem um papel muito pequeno a desempenhar nesse processo, senão o de apontar as trajetórias “mais felizes”, os desempenhos mais propícios ao atingimento dos objetivos nacionais de desenvolvimento e de liberdades, que são os exemplos de outros povos e nações que prosperaram num ritmo mais rápido, e mais equilibrado, do que aquele que conhecemos até aqui. O Brasil certamente não é um país fracassado, mas também não é o de maior êxito no contexto internacional. Pois bem: devemos tomar inspiração nos exemplos de maior êxito – mas nunca existe um “modelo ideal” a ser seguido – e nos afastar nas experiências mais fracassadas, que são, deve-se dizer, exatamente essas que conhecemos recentemente: excesso de gastos públicos, políticas econômicas e setoriais equivocadas (talvez deliberadamente, feitas para roubar e corromper), incapacidade de conceber e implementar reformas (todos os países devem fazê-lo, o tempo todo), adaptação a um mundo globalizado, em lugar de se fechar num protecionismo tão ridículo quanto anacrônico. Devemos nos proteger sobretudo dos demagogos, dos falsos moralistas, dos mentirosos, dos ineptos e dos corruptos, que são, infelizmente muito numerosos nos meios políticos.
10) Quais atributos um diplomata deve ter para contribuir de maneira significativa nas relações internacionais do Brasil?
PRA:Creio que já respondi abundantemente a essas questões (inclusive pelos muitos trabalhos que vão listados ao final), mas aqui vai um resumo do que penso. O diplomata deve ser não um burocrata acomodado na estabilidade do serviço público – o qual, aliás, eu julgo que não deveria existir, mesmo para diplomatas, pois essa situação conduz naturalmente a acomodações – mas um estudioso em tempo integral e em ritmo constante, sempre pesquisando o existe de melhor no mundo para eventualmente recomendar ao Brasil. É pelo estudo, antes, na preparação, durante o ingresso, e depois, no exercício da profissão, que o diplomata deve se pautar: um estudo no trabalho, mas também fora dele, pois nem tudo está na diplomacia, e sim na observação de todos os aspectos que fazem a vida no contexto contemporâneo, de profunda interpenetração dos povos, culturas, economia e política. Sendo um grande estudioso, um cidadão que pensa e que, de certa forma, foge da “normalidade”, o diplomata poderá ser um grande servidor do Brasil e de seu povo, no Brasil e no exterior.
11) Como o senhor concilia todas as suas tarefas?
PRA:Com extremo sacrifício do lazer pessoal, por vezes do convívio familiar, uma vez que estou o tempo todo lendo, refletindo, estudando, escrevendo, ou seja, recolhido ao meu universo de leituras e escritas, o que nem sempre é saudável do ponto de vista social ou familiar. São vícios que se adquirem ao longo da vida, e que adquiri ainda na adolescência, dos quais é difícil se desfazer na vida adulta.
Costumo dizer que só durmo nas horas vagas, como aliás estou fazendo agora mesmo, no momento em que escrevo estas linhas, já extensas demais. Em resumo: é difícil conciliar, e na maior parte dos casos é preciso sacrificar uma parte da vida, do lazer, da saúde até, para ter o que se deseja. Cada um decide quais são suas prioridades na vida: as minhas estão concentradas no estudo, na reflexão e na escrita. O importante é manter a sua integridade pessoal e a honestidade intelectual.
12) Quais são suas dicas para quem está querendo prestar o CACD?
PRA:Nada além do que já disse aqui: estudo, estudo, estudo, boas leituras, menos ferramentas sociais (ainda que elas ofereçam muito para os estudos, mas elas nos distraem também), e mais anotações, sínteses, pesquisa, concentração. Saber separar o que é prioritário do que é acessório, também é importante, pois como não podemos ler tudo, é preciso saber distinguir o que é relevante, importante, essencial, do que é puramente complementar ou secundário. Mas, no meio de tudo isso é preciso conservar a empatia pelo que se faz. Ser “concurseiro”, visando algum emprego público, qualquer um, é provavelmente a pior recomendação que se possa fazer a alguém. A diplomacia não é um “emprego”, ela é uma vocação, e só se tira prazer de um trabalho qualquer quando estamos nele por empatia profunda, não para preencher a carteira, viajar pelo mundo, ou garantir uma estabilidade para toda a vida. Fora de todo o charme e glamour que possam ter a diplomacia – e nisso vão muitos equívocos –, a diplomacia também pode ser difícil, pessoalmente ou no plano profissional, por implicar muitas mudanças na vida, postos nem sempre ideais (e mesmo difíceis), situações que aliás enfrentamos em todas as demais profissões: burocracia, chefia, insuficiência de meios, insatisfação temporária com o trabalho, cansaço, etc. Assim é a vida...
13) O que é diplomacia pra o senhor?
PRA:Existem muitas questões sobre a natureza da diplomacia, em geral, e diversos livros sobre o tema, de autores consagrados, estrangeiros e brasileiros. O embaixador Sérgio Bath, por exemplo, já escreveu um pequeno livro sobre o tema, publicado numa dessas coleções de introdução: O que é diplomacia(São Paulo: Brasiliense, 1989). Recomendo a leitura.
Existem também questões sobre o próprio exercício da diplomacia, do ponto de vista pessoal, no trabalho, sobre como, por exemplo, ela poderia ser mais especializada, ou generalista, como ela de fato é (ou seja, alternando postos consulares com atividades bilaterais, multilaterais, administrativas, etc.). Já escrevi sobre isso também, podendo citar este meu trabalho: “Carreira Diplomática: Geral ou Especializada?: Respondendo a dúvidas legítimas” (Brasília, 16 janeiro 2010, 4 p.; n. 2102); respostas a questões colocadas por uma candidata à carreira diplomática. Postado no blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/01/1700-carreira-diplomatica.html).
Muito eu já respondi nas questões anteriores, mas para evitar de me repetir, e para aproveitar respostas já feitas em questionamentos anteriores, remeto a estes meus trabalhos, divulgados em meu blog, e que podem satisfazer à curiosidade de alguns:
2222. “Respondendo a questões sobre a carreira diplomática”, Shanghai, 5 novembro 2010, 32 p. Introdução a compilação de respostas a questões colocadas por leitores do blog sobre a carreira diplomática, estudos preparatórios e o concurso de ingresso. Postado no blog Diplomatizzando(5/11/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/11/carreira-diplomatica-respondendo.html), inclusive com as questões e comentários submetidos a seguir.
No mais, eu diria apenas que a diplomacia não é tudo para mim, ainda que ela seja muito, ou seja, minha vida profissional em toda a minha fase adulta. Mas o exercício da profissão de burocrata da política externa sempre foi combinada às lides acadêmicas, que também exerci de modo quase contínuo ao longo de todos esses anos. Mas, o mais importante mesmo é a minha produção intelectual: é ela que me dá, de verdade, satisfação e cumpre o objetivo relevante de minha vida, que é a de me elevar pelo conhecimento e pelo prazer espiritual de estar sempre aprendendo (e ensinando, também, pois uma coisa faz parte da outra). O que eu recomendaria, portanto, é isto: sejam diplomatas, mas não apenas, ou só, diplomatas. Cultivem alguma arte do espírito e algum sentido pessoal, vocacional, além do trabalho, qualquer que seja essa outra atividade. A minha é ler, refletir, escrever, publicar, mas cada um saberá determinar aquilo que lhe dá mais prazer em sua vida, até não fazer mais nada além de ser um bom diplomata, o que já é muito.
Apêndice: trabalhos correlatos de Paulo Roberto de Almeida
Materiais pertinentes à carreira diplomática (em ordem cronológica inversa)
Nota: alguns dos links citados internamente aos trabalhos aqui listados podem estar defasados, pelo fato de remeterem à estrutura do site que mantive durante vários anos, o qual teve de ser reorganizado no período recente, tarefa ainda não concluída.
2409. “Grande estratégia e idiossincrasias corporativas: uma reflexão baseada em George Kennan”, Brasília, 14 julho 2012, 7 p. Considerações sobre posturas na carreira diplomática, com base em trecho da biografia do diplomata e historiador americano por John Lewis Gaddis: George F. Kennan: An American Life(New York: The Penguin Press, 2011), lida na edição Kindle. Blog Diplomatizzando(4/01/2016; link: http://www.diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/george-kennan-era-um-contrarianista.html).
2222. “Respondendo a questões sobre a carreira diplomática”, Shanghai, 5 novembro 2010, 32 p. Introdução a compilação de respostas a questões colocadas por leitores do blog sobre a carreira diplomática, estudos preparatórios e o concurso de ingresso. Postado no blog Diplomatizzando(5/11/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/11/carreira-diplomatica-respondendo.html), inclusive com as questões e comentários submetidos a seguir.
1780. “Aspectos da carreira diplomática: algumas considerações pessoais”, Brasília, 10 de agosto de 2007, 1 p. Palestra em curso preparatório à carreira diplomática. Exposição desenvolvida oralmente em torno dos seguintes pontos: 1. O ingresso: estudos preparatórios e exames de entrada; 2. Estrutura da carreira e fluxos da mobilidade ascensional; 3. Trabalho na SERE e nos postos do exterior: nomadismo vertical e horizontal; 4. Gostosuras e travessuras: os bônus e malus da carreira diplomática; 5. Uma experiência pessoal: combinando diplomacia e academia.
1670. “Dez obras fundamentais para um diplomata”, Brasília , 29 setembro 2006, 6 p. Lista elaborada a pedido de aluno interessado na carreira diplomática: obras de Heródoto, Maquiavel, Tocqueville, Pierre Renouvin, Henry Kissinger, Manuel de Oliveira Lima, Pandiá Calógeras, Delgado de Carvalho, Marcelo de Paiva Abreu e Paulo Roberto de Almeida, para uma boa cultura clássica e instrumental. Blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2006/09/625-dez-obras-fundamentais-para-um.html). Relação de Publicados n. 709.
1481. “Recomendações bibliográficas para o concurso do Itamaraty”, Brasília, 13 out. 2005, 6 p. Indicações resumidas a partir do Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, versão 2005, para atender às demandas de candidatos à carreira diplomática. Circulada em listas de candidatos.
1403. “Conselhos de um contrarianista a jovens internacionalistas”, Brasília, 5 março 2005, 6 p. Alocução de patrono na XI turma (2º semestre de 2004) de Relações internacionais da Universidade Católica de Brasília (10/03/2005). Mesmo texto aproveitado para alocução de paraninfo na turma de RI da Universidade do Sul de Santa Catarina, Unisul, Tubarão, SC, de 2004 (8/04/2005). Blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/conselhos-de-um-contrarianista-jovens.html).
1377. “História Mundial Contemporânea”, Brasília, 23 janeiro 2005, 6 p. Nota de revisão e comentários ao programa de preparação ao concurso à carreira diplomática, encaminhada ao Diretor do IRBr.
1374. “Concurso de Admissão à Carreira Diplomática: Comentários ao Guia de Estudos”, Brasília, 20 janeiro 2005, 8 p. Comentários ao programa do concurso do IRBr, para atender solicitação do Diretor do IRBr.
1181. “A formação e a carreira do diplomata: uma preparação de longo curso e uma vida nômade”, Brasília, 14 janeiro 2004, 3 p. Reelaboração ampliada do trabalho 1156 – destinado originalmente ao Guia para a Formação de Profissionais do Comércio Exterior, das Edições Aduaneiras – para o jornal acadêmico da Faculdade de Direito da PUC-Campinas. Blog Diplomatizzando(27/05/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/preparacao-para-carreira-diplomatica.html).
915. “Profissionalização em relações internacionais: exigências e possibilidades”, Washington, 26 junho 2002, 6 p. Trecho das “Leituras complementares”, do capítulo 11: “A diplomacia econômica brasileira no século XX: grandes linhas evolutivas” do livro Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas(pp. 244-248), para divulgação pelo Centro de Serviços de Carreiras do Curso de RI da PUC-Minas. Blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/profissionalizacao-em-relacoes.html).
800. “Dez Regras Modernas de Diplomacia”, Chicago, 22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p. Ensaio sobre novas regras da diplomacia, com inspiração a partir do livro de Frederico Francisco de la Figanière: Quatro regras de diplomacia (Lisboa: Livraria Ferreira, 1881, 239 p.). Espaço Acadêmico(Maringá: UEM, a. I, n. 4, set. de 2001 - ISSN: 1519.6186). Blog Diplomatizzando(16/08/2015, link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/08/dez-regras-modernas-de-diplomacia-paulo.html). Relação de Publicados n. 282.
Existem, provavelmente, muitos outros textos similares ou funcionalmente equivalentes, tratando de questões paralelas, mas provavelmente não classificados sob as rubricas “carreira” ou “diplomacia”, antes, durante ou depois do período coberto nesta listagem, que deve ser considerada como parcial. Se possível organizarei todos os trabalhos em bases metodologicamente homogêneas, para discorrer de maneira sistemática sobre os diferentes aspectos da carreira, desde a preparação para o ingresso até o desempenho ulterior, mas farei isso oportunamente. O blog Diplomatizzandooferece possibilidades de busca por palavras-chave, assim como as principais ferramentas de busca disponíveis.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19-20 de agosto de 2017