O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A estreiteza moral dos pequenos homens ricos: um colega com odio (mas anonimo, covardemente)


Existem pessoas que não encontram motivos para esconder o que pensam, e existem pessoas que se escondem, não por timidez, mas por algum problema de caráter, o que as torna pequenas, se não ridiculamente covardes.
Existem pessoas que gostam do que escrevo, e existem pessoas que me odeiam, independentemente do que escrevo, e por isso aproveitam qualquer motivo para me atacar, anonimamente.
Como eu não tenho nenhum problema em desvendar, publicamente, esse tipo de ataque, vou retirar um comentário desse tipo da sua insignificante posição de nota de rodapé a um dos meus posts -- onde ele já está devidamente registrado, o que deve ter enchido de satisfação o anônimo que me ataca -- e vou promover esse comentário à altura de um post, dando toda a importância que ele merece, no sentido de revelar um pouco como são alguns colegas, que não pela diplomacia, mas pelo seu comportamento surnois -- ele deve saber o que é isso -- se revelam inteiramente na pequenez de caráter e no ódio incontido que me professam.
Para não alongar demasiado esta introdução, vou postar novamente o comentário já incluído em rodapé, para depois agregar meus comentários.
Apenas dois esclarecimentos iniciais.

1) Quem agora me escreve "Prezado Paulo Roberto", revelando apenas sua condição, mas não sua identidade (colega, portanto), é o mesmo fascista que me ameaçou anteriormente, como registrei neste post: 
2) Vejam como é insano o ódio desse indivíduo, que não ouso considerar meu colega, uma vez que meu post, este aqui:
foi sobre visitas culturais e a museus da Europa, nada a ver com exibicionismo pessoal, como aliás registrou este outro comentarista: "Agradeço pelo post, professor. Obrigado por compartilhar! Abraços e aguardamos mais informações e fotos futuras."

Imagino, assim, que o fascista em questão não tenha hobbies, ou se os têm não gosta que outros tenham os seus, o que é mais um traço de seu caráter. Se ele por exemplo tivesse um blog sobre leituras, diplomacia, ou até sobre coleção de bolinhas de gude, e fizesse um post sobre esses assuntos, creio que jamais usaria da oportunidade para atacá-lo pessoalmente, preferindo talvez comentar o próprio assunto do post.
O fato, portanto, e aqui encerro minha introdução, que seja num post sobre visitas a museus europeus que o fascista em questão utilize para me atacar revela apenas o seu ódio pessoal, não qualquer aversão ao que escrevi, que não mereceu nenhum comentário anterior de sua parte.
Agora, ele parece meio na defensiva, e tenta se explicar.
Vamos lê-lo e depois eu volto.

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ah, esses museus europeus...":
Prezado Paulo Roberto,
Tenho alguns anos à sua frente e há muito vivi em França, apreciando excelentes livros e suas belas paisagens passando por Bordeaux, Auvergne, Ile-de-France e tantas outras. Não sou tão imbecil para ficar relatando meus feitos de viagens, visto que a discrição faz parte de minha personalidade. 
Diferente de você que faz parte da escória do MRE envergonhando a carreira, com sua bipolaridade exacerbada, sou um homem respeitado décadas e décadas.
Lembro-me que quando você passava, todo “mocorongo”, nós ríamos de sua bizarrice, inclusive, em suas vestes desalinhadas e o Lula ainda nem sonhava em estar no Poder. 
Eu tenho uma empresa com filhos e noras, o que justifica o meu poder aquisitivo altíssimo: através do trabalho árduo mesmo com a idade que tenho. O tempo que você perde neste blog sem classe alguma, eu ganho trabalhando e gerando renda para o país. 
Agora você ? Vai saber...
Não faço e jamais fiz discursos. Tenho atitude. Quanto ao meu português, verifico que tens razão. De fato, escrevi rapidamente e sem observância das regras da norma culta. Um erro meu, que não me desmoraliza em nada.
Agora, quanto à sua vida – você já confessou uma das falhas de seu IR [tão burro que fez prova contra si mesmo].
Curta bastante suas viagens – relaxe e aprecie a Europa, já tive este prazer por toda a minha vida. Agora, em breve, um determinado “Banco no Brasil” apreciará e muito revelar seus investimentos na monta de R$ 200.000,00 ou mais. (“Brasas” que o diga). Não deve ter entendido a brincadeira devido ao meu português ruim, mas eu quis dizer que gosto muito de “brasas” para fazer churrasco, só nos resta saber quem será o churrasco desta vez?
Um simples professor universitário? 
Quem dera que todos os professores universitários brasileiros pudessem apreciar tamanha cultura e deter sua eloquência na lapidação de seu saber. Pena que ninguém no Brasil, saiba quem é você.
E saiba sonegação, não dá multa, mas sim cadeia, bem como o investimento em nome próprio de monta de instituição alheia.
Continue analisando o meu português, assim poderá ocupar mais o seu tempo até que volte para ao Brasil.
Eu dormirei tranquilo, quanto a você aproveite sua angústia na Alemanha e indico que vá até Augsburg e Munchen. 
Boa viagem, simples professor universitário!
Aguardarei com prazer sua recepção no Brasil...
Um anônimo estatal (e não mais governamental)
Postado por Anônimo no blog Diplomatizzando em 23/04/12 14:16

Volto agora, para comentar, topicamente, como sempre faço. Destaco cada frase relevante -- deixando de lado o irrelevante -- e venho aos assuntos:

1) Prezado Paulo Roberto,
PRA: Alto lá!. Não aceito a qualificação: nenhum fascista que diz que vai me espionar e me denunciar para a Receita pode se pretender meu "prezado". Ele certamente errou e queria, na verdade, dizer "Desprezado PR".

2) Tenho alguns anos à sua frente e há muito vivi em França, apreciando excelentes livros e suas belas paisagens passando por Bordeaux, Auvergne, Ile-de-France e tantas outras.
PRA: Fascistas também sabem apreciar o que é bom, o que torna ainda mais incompreensível, e odioso, seu ataque a um post que procurava realçar, justamente, as virtudes do turismo cultural.

3) Não sou tão imbecil para ficar relatando meus feitos de viagens, visto que a discrição faz parte de minha personalidade.
PRA: Pois é, falta de discrição agora virou “imbecilidade”. Creio que esse tipo de imbecilidade pode ser apreciada por outras pessoas, que leem os meus posts e podem até descobrir, no meio da aridez dos temas econômicos e políticos que poluem habitualmente este ambiente, alguns motivos de deleite cultural. Apenas o ódio pessoal do fascista pela minha pessoa o levou a atacar-me por meio de um post cultural.

4) Diferente de você que faz parte da escória do MRE envergonhando a carreira, com sua bipolaridade exacerbada, sou um homem respeitado décadas e décadas.
PRA: Bem, aqui ficamos sabendo que o Itamaraty -- sempre tão elogiado mesmo em certos círculos fascistas-esquerdistas -- tem uma "escória", da qual eu faço parte. Obrigado por me esclarecer. Vou tentar descobrir quais seriam os outros colegas da escória, para escrever uma história, digamos assim, isenta, do Itamaraty, falando da escória e dos homens respeitados. Precisamos apenas saber a identidade do fascista em questão, para colocá-lo no lugar certo, os de tendências totalitárias e policialescas, ainda que de grandes qualidades e "respeitado há décadas". Apareça hombre!
Agora uma coisa não entendi: “bipolaridade exacerbada”? Isso quer dizer o que? Que eu defendo dois pontos de vista opostos ao mesmo tempo? Acho que ele se engana: eu tenho sempre um lado só: o da democracia, o da transparência, nunca escondo o que digo. Por exemplo: detesto fascistas de esquerda e de direita. Acho que ambos – na verdade é uma coisa só, os fascistas, os totalitários, os polícias do pensamento – estão conduzindo o Brasil a um desastre, a começar pelo desastre moral da intolerância e do fanatismo.

5) Lembro-me que quando você passava, todo “mocorongo”, nós ríamos de sua bizarrice, inclusive, em suas vestes desalinhadas e o Lula ainda nem sonhava em estar no Poder.
PRA: Vejam vocês, eu tinha admiradores ("nós ríamos..."), do meu desalinhamento, e nem desconfiava desses críticos secretos de minha aparência desconjuntada. Confesso, ao fascista de qualidades, e a todos que me leem, que, quando penso em comprar um terno, por exemplo, logo em seguida penso que com aquele dinheiro eu poderia comprar pelo menos dez livros. E assim faço, ou desisto... Não ligo para roupas, para sapatos, para a aparência pessoal; sou, sim, muito diferente do nosso fascista de qualidade, que deve andar sempre bem vestido (ele tem dinheiro, o que eu não tenho, ou não tanto quanto ele); ele se orgulha de ser chic, e detesta mocorongos, uma preocupação estética, digamos assim. Ainda bem que o Itamaraty tem um departamento de modas e adereços, do contrário onde colocaríamos todas essas vocações frustradas?
Mas eu acho que ele se engana: o Lula passou a se vestir de Armani e a cultivar todos os luxos e nisso ele também é diferente deste diplomata mocorongo. Eu, mesmo que chegasse a ser eleito presidente -- uh, lá, lá, lá, estou brincando, claro -- continuaria a preferir os livros a comprar roupas novas. Eu sou realmente um mocorongo desalinhado, muito diferente dos companheiros arrivistas e dos fascistas de qualidades.

6) Eu tenho uma empresa com filhos e noras, o que justifica o meu poder aquisitivo altíssimo: através do trabalho árduo mesmo com a idade que tenho.
PRA: Uau! O fascista se revela, perigosamente. Depois de ser diplomata, ele se tornou um capitalista, e de sucesso. Meus parabéns, fascistas também podem ser capitalistas, e ganhar muito dinheiro. Meu poder aquisitivo não é baixíssimo, mas não saio por aí torrando como um nababo, meu único vício são os livros.
Confesso que não tenho pendor, nem competência para ganhar dinheiro. Se por acaso eu deixar de ser um "simples diplomata", como o fascista escreveu anteriormente, vou ser um simples professor. E isso me basta. Não pretendo ficar rico, nem ter sucesso: quero apenas ter o suficiente para, e me repito: (a) comprar livros; (b) comprar livros; (c) comprar livros; (d) frequentar alguns restaurantes (não tão caros quanto os do fascista capitalista, ex-diplomata); (e) viajar, culturalmente, não para praias e outros atrativos telúricos, digamos assim; (f) comprar livros, etc., etc., etc.

7) O tempo que você perde neste blog sem classe alguma, eu ganho trabalhando e gerando renda para o país.
PRA: Corrijo, meu desprezível fascista: você ganha renda para você mesmo. O Estado (que você aprecia tanto, a ponto de me ameaçar com a Receita Federal e sabe-se lá quais outras agências fascistas e policialescas) se apropria, compulsoriamente, de parte substancial da renda que você cria, para gastos improdutivos, como todo esse aparato de espionagem e arapongagem que você pretende mobilizar contra este "simples diplomata" e modesto professor.
Confesso também que meu blog e meu site não têm "classe alguma": eles são feios, desajeitados, disfuncionais, enfim, tem vários defeitos, e nisso está minha "falta de classe": sou um incompetente total em matéria técnica, e se ouso empreender essas aventuras na internet é apenas por uma incontida vocação didática, por certo não parecida com sua incontida vocação policialesca.
Meus espaços têm apenas a função didática de revelar textos e materiais que podem ser úteis à formação de jovens e outros curiosos que por eles passam.
Nisso eu não crio renda nenhuma para mim; ao contrário, eu gasto parte da minha renda alugando espaço na internet (mas apenas para o site, pois o blog é free lunch, um presente de capitalistas americanos, algo que o nosso capitalista-fascista não faria, eu acredito).
E com isso eu crio, ou ajudo a reforçar, o que se chama de "capital humano", que, numa certa ótica, vale muito mais do que a "renda" que o fascista-capitalista acredita que está “criando para o país”. Países bem sucedidos, como os EUA, por exemplo, têm 70% do seu PIB expressos em termos de knowledge, ou seja, capital humano, não capital físico.
Portanto, meu desprezível capitalista-fascista, se você realmente quiser criar renda para o país, tente aumentar o capital humano, não produzir renda para seu próprio consumo conspícuo (apud Thorsten Veblen, que você deve saber quem é, talvez já tenha até lido).

8) Não faço e jamais fiz discursos. Tenho atitude.
PRA: Claro que tem atitude. A de intimidar, ameaçar, policiar, denunciar. Isso agora, que é um ex-diplomata aposentado e capitalista de sucesso. Mas nunca deixou de ser fascista, pois isso está entranhado em sua personalidade doentia. Tão doentia que costuma julgar os colegas pela maneira que se vestem, e não pelo que eles pensam e pelo que escrevem ou defendem. Como se o Itamaraty fosse um concurso de moda, uma disputa de beleza, e como se negociações internacionais se ganhassem com a marca do terno ou o corte de cabelo. Enfim, existem alguns dandys na carreira: eles têm todo o direito...
Vou lhe confessar uma coisa, fascista policialesco. Toda a minha vida eu li, estudei o Brasil e procurei saber o máximo possível sobre o que é o Brasil para melhor defendê-lo nas negociações internacionais. Valorizo muito mais o conhecimento sólido do que as aparências externas, que alguns ignaros continuam a chamar de "punhos de renda". Talvez você as tenha, ou mereça o apodo. Eu apenas procuro formular instruções corretamente, mesmo contra a opinião de certos chefes empolados e ignorantes, que apenas valorizam a disciplina e a hierarquia, mesmo sem qualquer conteúdo prático. Esse seu estilo ancien régime (fascista, bien sur) é a coisa mais inútil que existe na diplomacia brasileira. Aliás, me diga como se vestem e se comportam seus novos amigos de partido.

9) Agora, quanto à sua vida – você já confessou uma das falhas de seu IR [tão burro que fez prova contra si mesmo].
PRA: Pois é, eu sou tão burro que produzo provas contra mim mesmo. Esteja certo de uma coisa, meu caro fascista. A agência proto-fascista que se chama Receita Federal vai provavelmente me fiscalizar outra vez, e me dar nova multa e bloqueio de qualquer outro recebimento que eu tenha de órgão federal. É simples, e dou mais uma prova. 
Não sei quantos livros, exatamente, eu tenho, cada um de uma editora. Tem aquelas que pagam direitos autorais, e outras que não pagam, tem aquelas que avisam que o fizeram, e outras não. E assim é a vida. Eu não ligo muito, pois perderia mais tempo procurando do que vale meu tempo escasso de leitura. A Receita, que tem supercomputadores -- você deve ter acesso, caro fascista, ou peça a seus colegas de partido -- faz os cruzamentos e, pimba!, descobre para mim quem me pagou e tudo o que eu não declarei. Pronto, fica tudo mais simples assim. Ele me avisam que eu recebi aqueles míseros trocados -- acredite, nunca superou 500 reais -- de tal editora, me colocam uma multa e corrigem para mim essa declaração tão chata que tenho de fazer. Uma declaração fascista...
Não sou um capitalista como você, de sucesso, e com amigos na Receita, que pode ter contabilistas para fazer sua declaração de IR. Mal dou conta de meus parcos haveres...
Eu detesto tudo isso, não tenho paciência, e sempre quero dar todo o meu dinheiro para minha mulher para ela me dar uma mesada para comprar livros, e assim me deixar livre dessas maluquices. Ela, como não é maluca, nunca aceita, e lá vou eu me atrapalhar com a Receita mais uma vez.
Façamos assim, capitalista-fascista: avise antecipadamente seus amigos da Receita para me fiscalizarem preventivamente, e me avisar de todos os royalties que preciso declarar, pois eu sinceramente não sei. Obrigado, por uma vez, sinceramente...

10) Agora, em breve, um determinado “Banco no Brasil” apreciará e muito revelar seus investimentos na monta de R$ 200.000,00 ou mais.
PRA: Uau! Nosso fascista já investigou minha vida, devassou os meus livros contábeis (que aliás não existem) e sabe mais sobre mim do que eu mesmo. Deve ser legal, no reino dos fascistas, se imiscuir nas contas dos outros. Mais um pouco e eles chegam lá...
Confesso que nunca somei o que tenho de Tesouro Direto, CDBs, poupança e dois ou três carros. Talvez o fascista amigo da Receita queira fazer a soma para mim e mandar por este mesmo meio, aberto, transparente, absolutamente devassável, como deve ser a vida de um "simples diplomata" e de um modesto professor. Isso é que é caráter...

11) Quem dera que todos os professores universitários brasileiros pudessem apreciar tamanha cultura e deter sua eloquência na lapidação de seu saber. Pena que ninguém no Brasil, saiba quem é você.
PRA: Mas isso é um elogio? Do fascista que me odeia? Estou surpreso.
Mas em seguida vem o ataque, aliás incorreto. Não sei se ele me ataca pelos livros, pelos artigos, pelo site ou pelos blogs, mas acho que sou moderadamente conhecido.
Faça o teste, fascista: coloque o meu nome, entre aspas, no Google (pode ser no Yahoo ou no Bing, também serve), e o seu; depois compare os resultados. Mas isso é enganoso, pois o Google normal é um péssimo instrumento de pesquisa para o que realmente me interessa. Não sei se você sabe o que é o Google Scholar, que retém apenas citações de obras acadêmicas. Coloque meu nome lá, e você verá quão desconhecido eu sou, no Brasil, ou no exterior. Não gosto de fazer comparações, pois sou um "simples diplomata", e um mero professor, e nunca serei um capitalista de sucesso - e certamente não tenho vocação para fascista denunciante -- mas creio que não sou tão desconhecido quanto você pensa.

12) E saiba sonegação, não dá multa, mas sim cadeia, bem como o investimento em nome próprio de monta de instituição alheia.
PRA: Acho que o fascista ou seus informantes da Receita estão enganados, ou foram enganados por homonímia. Uma vez veio um oficial de justiça em minha casa, para embargar meus bens, por causa de uma dívida não paga de um homônimo. Outra vez, foi um cartão de crédito clonado; uma outra, a propriedade de imóvel não sei onde. O Estado brasileiro trabalha mal. O fascista por certo investigou mal e me toma por um capitalista enrustido, justo eu, que não sou um capitalista de sucesso, como ele. Eu mesmo gostaria de conhecer esses meus fabulosos investimentos (em paraíso fiscal?).
Mas o Português, mais uma vez deficiente, do nosso fascista, me impede de saber o que ele pretende insinuar: “nome próprio de monta”? Parbleu: e de “instituição alheia” ainda por cima? Sou um laranja, seria isso? Ele precisa ser mais explícito, e revelar aqui, à vista de todo mundo, todos os meus investimentos não declarados. Vai ver que eu sou como aquele personagem de Molière: sou rico sem o saber... Ou então aquele chefe de quadrilha que anda solto por aí registrou coisas em meu nome, sem que eu saiba...

13) Um anônimo estatal (e não mais governamental)
PRA: E aqui termina o nosso fascista, sempre covarde para revelar o seu nome, e que aproveitou minha correção quanto às distinções a serem feitas entre o "governamental" e "estatal" para se apresentar melhor, mas sem pagar direitos autorais pela minha aula de direito administrativo.

Confesso que fico desconfortável em tão fascista companhia, mas, como Erasmo, eu sou tolerante. O Itamaraty é uma grande burocracia, tão grande, em espírito, quanto o Vaticano, com seus segredos e tendências, escolas de pensamento e preferências pessoais e isso faz a sua diversidade. Temos desalinhados mocorongos, que preferem comprar livros a comprar roupas novas; temos fascistas alinhadíssimos, que passam o seu tempo vigiando companheiros, e se possível denunciando-os à "polícia dos costumes" e aos órgãos do fascismo tributário; temos anarquistas e liberais; temos petistas e social-democratas, negros e brancos, heterodoxos e ortodoxos, e várias preferências sexuais, cela va de soi.
Existem, sobretudo, pessoas que dizem o que pensam, e não têm restrições mentais em assinar embaixo do que escrevem; que escrevem o que pensam, em total liberdade.
Mas também existem aqueles que preferem se esconder para expressar o seu ódio no plano pessoal, sem qualquer motivo, assim gratuitamente; talvez por inveja, talvez por despeito, sabe-se lá o motivo para que fascistas -- que são a escória da humanidade -- resolvam atacar colegas, chamando-os de  "escória do Itamaraty" (devo estar na pouco saudável companhia de outros anarco-libertários, também desalinhados, certamente).
Ficamos por aqui, pois este post já está cansativo.

Mil perdões a meus leitores por este assunto aborrecidíssimo, mas creio que era necessário chamar as coisas pelo nome.
E fascistas devem ser chamados pelo que são: fascistas!

Paulo Roberto de Almeida 
(Basileia, 24/04/2012; 00h53)

Estados Unidos: o poder da inocencia - Gordon Wood

Uma entrevista que eu reputo excepcional, pois os historiadores têm esse poder de ver de longe, e explicar as coisas pelos desenvolvimentos profundos, estruturais, sistêmicos. 
O mais interessante, também, é ver os EUA comparativamente à Rússia, China, e até o Brasil e o nosso continente, a América Latina.
Eu teria muitos comentários a fazer, mas acho que cada leitor deste blog deve tirar suas próprias conclusões. Eu já tirei as minhas, ou melhor: já refinei certos julgamentos que fazia, apurei meu conhecimento sobre os EUA e descobri novas perspectivas sobre velhas questões de poder, potência, dominação, sucesso e fracasso no desenvolvimento.
Paulo Roberto de Almeida 



Entrevista: Gordon Wood
Os Estados Unidos são uma ideia
Veja (Páginas Amarelas), 25/04/2012 

O historiador explica como a revolução de 1776 formou o caráter nacional do americano e como a súbita ascensão do país à condição de potência abalou sua inocência original

Gordon Wood, 78 anos e ainda na ativa, é sinônimo de excelência acadêmica nos Estados Unidos. Professor de história da Universidade Brown, ele foi um dos primeiros a se debruçar sobre o período que, no começo de sua carreira, era um poço de desprestígio: a Revolução Americana de 1776. que ninguém considerava relevante para a formação dos Estados Unidos. Desenterrando o tesouro revolucionário, Wood criou uma inovadora e requintada interpretação sobre os americanos e os Estados Unidos. Uma de suas pérolas: "Ser americano não é ser alguém, mas acreditar em alguma coisa". Especialmente acreditar em democracia e liberdade, ideias que embalaram a revolução. Nesta entrevista, concedida na sua modesta sala na universidade, Wood explica passado e presente dos Estados Unidos.

Historiadores brasileiros acreditam que o Brasil seria um país mais avançado se tivesse vivido uma ruptura, como uma revolução ou uma guerra civil. Os Estados Unidos devem o que são às rupturas?

A revolução de 1776 nos legou um conjunto de ideias e valores ao qual estamos sempre recorrendo. Originalmente, éramos na maioria ingleses e escoceses. Em seguida, chegaram os alemães, depois os irlandeses. A capacidade de assimilar todos os imigrantes decorre do fato de que ser americano não é ser alguém, mas acreditar em algo. Ser americano é acreditar nas ideias e valores promovidos pela revolução. A igualdade, a liberdade. Os americanos do século XVIII tinham essa força. e ela chegou até nós. A Argentina é um bom contraponto. Também teve uma forte imigração europeia, mas os europeus que foram para a Argentina ficaram dispersos, sem coesão. Isso tem reflexos ainda hoje porque os argentinos não fizeram a revolução dos americanos. São as ideias de democracia e liberdade que nos mantêm unidos. Na guerra civil, que durou de 1861 a 1865, o presidente Abraham Lincoln evitou a desintegração iminente do país apelando claramente para esses valores.

Os valores precedem o sentido de nacionalidade?
Na verdade, nem somos uma nação no sentido comum do termo, no sentido tribal, étnico. Somos de etnias diversas e, quando nos identificamos como americanos, a referência são as ideias, os valores. Os ingleses, os alemães e os franceses, por exemplo, têm um sentido tribal, étnico. Aliás, é o que lhes causa tanta dificuldade para lidar com imigrantes estrangeiros. Os árabes da Argélia estão na Franga ha três, quatro gerações. Nasceram na França, falam francês perfeitamente, mas os franceses não conseguem acreditar que esses árabes sejam realmente "franceses". Conosco é diferente. O mundo inteiro está nos Estados Unidos. Quem vive em Nova York sabe do que estou falando. O que mantém essa sociedade unida? É o apelo à liberdade, à igualdade. O respeito à Constituição também é parte do ideário. A Constituição é a materialização institucional da liberdade, da igualdade, da democracia.

O que explica a ambiguidade americana de prezar a democracia e ter ficado ao lado das ditaduras militares na América Latina, inclusive no Brasil?
Aí, é preciso voltar a Revolução Russa de 1917 e entender o que ela significou para os Estados Unidos. Foi uma disrupção extraordinária, um choque. Até então, os americanos saudavam as revoluções. Acreditavam que todas eram cópia da Revolução Americana. No início, em fevereiro de 1917, quando os russos derrubaram o czar, fomos o primeiro país a reconhecer o novo governo. Levamos apenas sete dias. Mas em outubro, com a ascensão dos bolcheviques, tomamos um susto. Demoramos dezesseis anos para reconhecer o governo soviético. Foi um choque pesado porque a Revolução Russa não era, claramente, uma cópia da Revolução Americana. Era um desafio à nossa revolução. Os russos eram o futuro, não os americanos. Eles ameaçavam expulsar os americanos da vanguarda da história. E isso era altamente devastador.

Os bolcheviques atacavam o capitalismo, a propriedade privada, o livre mercado. O susto americano se explica por aí? 
Esse foi o susto dos ingleses. Já na derrubada do czat os ingleses estavam repudiando a revolução pelo desprezo aos valores econômicos. Os Estados Unidos, não. O presidente Woodrow Wilson saudou os russos como parceiros ideais. Em outubro, a revolução passou a ser uma ameaça ao vanguardismo histórico dos americanos. Claro que os Estados Unidos estavam preocupados com o confronto com o capitalismo e as leis de mercado, mas boa parte da reação americana se compôs do choque de perder sua posição na história para os russos. Tanto que fomos o último país de peso a reconhecê-los. Poderíamos tê-lo feito junto com a Inglaterra ou a França. Mas fomos os últimos. A Guerra Fria começou aí. Ficou obscurecida pelas alianças da II Guerra Mundial, mas, assim que os nazistas caíram, nossa atenção voltou para os soviéticos.

O apoio dos Estadas Unidos às ditaduras sul-americanas foi reflexo do susto bolchevique? 
É a razão pela qual a ameaça do comunismo foi tão espetacularmente exagerada. Depois da II Guerra, o comunismo estava se espalhando. Tinha chegado à China, ao Leste Europeu. Por meio de Cuba, chegou à América Latina. Mas, apesar dessa proliferação, a ameaça não era robusta como se imaginava. Víamos o mundo com lentes de aumento. A ameaça do comunismo foi tão exagerada que pouquíssima gente previu o colapso da União Soviética em 1991.

A ascensão da China, estado autoritário, representa um desafio aos valores americanos? 
Os chineses não são ideologicamente imperialistas, como era a União Soviética. Eles vão continuar se expandindo na África, e mesmo no Brasil, onde já são um parceiro comercial de primeira grandeza, mas a expansão não tem caráter ideológico. Os chineses não estão interessados em promover o comunismo, que não existe mais nem na própria China. Eles são da iniciativa privada, do livre empreendedorismo. Quem se preocupa com a China no sentido expansionista são os vizinhos asiáticos — os japoneses, os filipino; os viemamitas, os sul-coreanos. Mas para eles, a presença dos Estados Unidos no Pacífico é uma força estabilizadora. Os chineses reconhecem isso.

Apesar da China, a democracia é uma ideia vitoriosa no mundo de hoje. No mesmo momento, só se fala em declínio dos Estados Unidos. É um paradoxo? 
Com a ascensão de outros países, a posição relativa dos Estados Unidos obviamente será reduzida. O crescimento do Brasil como força principal na América do Sul, por exemplo, impede o governo americano de agir como antes na região. Mas não vejo um paradoxo. Primeiro, porque nem todos concordam com a premissa de que os Estados Unidos estejam em declínio. Segundo, porque a popularização da democracia se encaixa à perfeição na psique americana. Ninguém diz que os Estados Unidos têm algo a ver com a Primavera Árabe, mas vale a ideia de que, com a mobilização democrática, os árabes estão nos copiando. Quando Ronald Reagan dizia "todo mundo quer ser livre", ele estava querendo dizer "todo mundo quer ser igual a nós".

O senhor acredita na teoria do "excepcionalismo americano", segundo a qual os americanos são um povo especial com uma missão especial? 
É uma teoria controvertida hoje, mas boa parte da nossa história é permeada pela noção de que temos a missão especial de levar democracia ao mundo. Quando John Winthrop, a bordo do navio que aportou em Massachusetts em 1630, fez o célebre discurso, um sermão na verdade, dizendo que seríamos "uma cidade no alto da colina", ele estava se referindo à religião. A "cidade no alto da colina" era a imagem para ilustrar que seríamos um modelo de cristianismo reformado. Winthrop não estava pensando em democracia. Mas os americanos tomaram o sermão como manifesto democrático e, ao longo da história, têm visto a si mesmos como modelo de democracia e com a missão de promovê-la. Na guerra civil, no famoso discurso de Gettysburg, em 1863, Lincoln expressou o sentimento de que éramos a última esperança do mundo. Ele estava certo. A monarquia predominava. As revoluções de 1848 tinham fracassado. A Revolução Francesa estava liquidada. Napoleão III era o imperador. A América era uma república isolada, em urn mundo de governos autoritários. Tenho simpatia por quem acredita na missão democrática, mas não com o envio de tropas, como fizemos no Iraque. Fui e sou contra. O Iraque é um desastre absoluto.

Com a dolorosa lição do Vietnã, por que os Estados Unidos não foram mais prudentes no caso do Iraque? 
Curiosamente, somos um país que está constantemente perdendo a inocência. Não há virgens perdendo a inocência seis ou sete vezes, só os Estados Unidos. Sempre que nos metemos num buraco alguém escreve sobre o "fim da era da inocência". Na Guerra Hispano-Americana, em 1898, perdemos a inocência. Depois perdemos a inocência na I Guerra, ao descobrir quem eram os europeus de verdade. Depois, perdemos a inocência outra vez na II Guerra, ao nos tornarmos um poder maduro. Depois, no Vietnã. O mesmo pode ser dito do Afeganistão. Há pouco, um grupo de soldados americanos queimou o Corão. Eles não têm ideia do que estavam fazendo, mas é um sinal de primitivismo. Além de termos uma certa inocência, falta-nos certo requinte para ser o país poderoso que somos. No século XIX, na fase imperial, os ingleses cometeram muitos erros, mas nunca se suspeitou que fossem inocentes.

De onde vem a falta de requinte? 
Talvez do fato de que somos democratas e, por isso. esperamos que os outros gostem de nós. Afinal, temos bom coração, não queremos o mal de ninguém. Então, quando as coisas não acontecem do jeito que esperávamos, ficamos perplexos. Estamos sempre nos perguntando: "Por que eles não gostam de nós?". No fundo, não gostamos de exercer o poder. Exercemos, mas não era bem isso que queríamos. É uma inocência. Somos os inocentes no exterior, como diz o título do livro do escritor Mark Twain.

O senhor escreveu que, no fim do século XVIII, o Ministério da Guerra americano tinha um contador, catorze escriturários e dois mensageiros. Por que virou essa potência militar? 
Faz parte da inocência americana. Tudo aconteceu de repente. Faz sessenta ou setenta anos. Antes da II Guerra, nosso Exército e nossa Marinha eram patéticos Depois, erguemos esse imenso complexo industrial-militar. Fizemos o Pentágono, a CIA. Em comparação com outros países, não tínhamos hábito nem traquejo com essas estruturas. Com a responsabilidade global na Europa e contra os soviéticos, precisávamos de uma rede de inteligência, de espiões, tínhamos de saber o que estava acontecendo. A mudança foi monumental. Internamente, o presidente Franklin Roosevelt ergueu uma enorme estrutura governamental em função da depressão. A isso, adicionou-se em seguida o estado militar. É um contraste agudo com a nossa história É tudo relativamente recente — apenas duas gerações. Thomas Jefferson e James Madison nunca aceitaram a ideia europeia de estado com elaboradas estruturas administrativas, força militar, carga pesada de impostos e alto endividamento.

É essa a origem da diferente concepção de estado entre americanos e europeus? 
Exatamente. Nunca tivemos uma concepção do estado parecida com a dos franceses, alemães e mesmo dos ingleses. Para nós, isso ocorreu muito tarde, não antes da II Guerra. Nossa burocracia é ressentida. Na França, as melhores cabeças vão para a burocracia. Isso também ocorre na Inglaterra. Entre nós, desde o início prevalecia a ideia de que o gigantismo do estado era coisa de monarquias que promoviam a guerra. Nas repúblicas democráticas, não haveria estrutura oficial excessiva e seríamos promotores da paz. Não estávamos equipados intelectualmente para lidar com essa ideia de estado. Acabamos, quase que repentinamente, construindo um estado com as ramificações burocráticas e esse imenso complexo industrial-militar.

Argentina: confirmando velhos preconceitos...

Simon Kuznetz parece ter dito -- sinto muito, mas estou reproduzindo de citações de terceiros -- que, no mundo, existiam quatro tipos de países: os desenvolvidos, os subdesenvolvidos, o Japão e a Argentina. Parece que ele também teria acrescentado -- continuo a citar de ouvido, daí eventuais diferenças com o original -- isto aqui: "existem coisas que a economia não explica: o desenvolvimento do Japão e a decadência da Argentina".
Enfim, tudo isso para introduzir o debate do momento, que é o resultado não de uma grande estratégia de desenvolvimento, mas de gestos políticos, unicamente, e eu até diria tresloucados.
Parece incrível reconhecer, mas nossos países, Brasil, Argentina, e outros na região, estão entregues a lideranças pouco preparadas, economicamente frágeis, politicamente oportunistas, administrativamente pouco competentes, quando não populistas, em alguns casos, ou claramente esquizofrênicos nos casos mais extremos. Pois é, a involução também acontece, por incrível que pareça.
Abaixo uma seleção de artigos sobre o tema do momento.
Paulo Roberto de Almeida 

Argentina contra Espanha

Infolatam
Madri, 22 de abril de 2012
Por CARLOS ALBERTO MONTANER
A Espanha não tem como conseguir que os argentinos compensem adequadamente a Repsol pela expropriação da empresa. É uma batalha perdida. Os argentinos pagarão o que tiverem vontade e quando tiverem vontade.  Há uma década declararam a falência da dívida soberana, algo bem mais grave,  e não aconteceu nada. Impunidade total. Borges opinava que os peronistas não eram nem bons nem maus. Eram incorrigíveis. Tinha razão. Este episódio demonstra isso.
É politicamente rentável ao governo de Cristina Fernández mostrar-se duro “contra a arrogante empresa estrangeira que levava os lucros e dilapidava os recursos nacionais”. Esse é um discurso que os argentinos escutam há setenta anos e a maior parte deles acredita nisso. Traz votos e gera simpatias. Inclusive, tem alguns partidários na Espanha. Aos comunistas espanhóis, parece muito bem que o estado nacionalize e estatize as empresas. É uma questão de princípios.
Já alguns políticos e servidores públicos argentinos advertiram em um tom ameaçador, deliberadamente ambíguo, que no país há outras grandes empresas espanholas que podem ser afetadas pela posição que a Espanha adotar. Entre as companhias reféns estão Telefônica e os bancos Santander e Bilbao Vizcaya. Ou Madri porta-se bem com Buenos Aires, ou elas pagam a estatização da Repsol. É muito fácil pressioná-las. Basta uma pinça entre o acosso sindical e os inspetores fiscais para que exploda o pânico.
Mas há mais. Fica a possibilidade de solicitar à Repsol milhares de milhões de dólares por danos ecológicos. Se no Equador a petroleira Chevron, apesar dos acordos assinados há vinte anos para pôr fim a qualquer irregularidade, um juiz local condenou a empresa a pagar 6 300 milhões de euros, ou 13 600 se não se desculpasse, é muito provável que a Repsol leve uma multa bem mais severa. No Equador, 30 000 assinaturas acompanharam a disputa. Na Argentina será muito fácil para a Dona Cristina recolher um milhão. O ambientalismo antiempresarial tem muitos adeptos no país. É muito popular.
Ninguém deve ser surpreendido por este episódio. Na Argentina os direitos de propriedade são muito frágeis. Se o governo é capaz de roubar as poupanças de seus próprios cidadãos, como sucedeu com o famoso “corralito”, ou de saquear o fundo de aposentadoria, e continuar ganhando as eleições, como pode ninguém duvidar que uma empresa estrangeira seja despojada de seus títulos ilegalmente se convém ao mandatário do país? Os clássicos apontam isso com um tom barroco: “o que com infante pernoita, castigado amanhece”.
Quando veio o período de privatizações na Argentina, em 1990, algumas empresas estrangeiras se beneficiaram do clima de corrupção com que aconteceram essas transações. Assim, fizeram grandes fortunas por cima e por baixo da mesa. Precedente que converte em hipocrisia qualquer invocação atual do Estado de Direito. A Argentina não é a Suécia. Nunca foi. Isso já se sabe.
Existem duas lições relacionadas ao direito que podem ser aprendidas de tudo isto. A primeira, é que resulta enormemente arriscado investir onde não existe segurança jurídica. O ganho fácil de hoje converte-se em uma perda colossal quando o cenário mudar. Há mais sentido em competir no difícil primeiro mundo, com regras claras e árbitros imparciais, ainda que a taxa de lucros seja menor, do que levar as poupanças para onde, da noite para o dia, todo o esforço empresarial desaparece pela conveniência dos políticos.
A segunda lição é que se nos dão alguma vantagem injusta para entrar em um mercado (e não me refiro à Repsol, pois suponho retitude e transparência), essa facilidade que hoje desfrutamos, amanhã outro a terá, graças às suas conexões, e por isso, também seremos injustiçados. Aquela frase de Groucho Marx, na qual expressava sua decisão de não pertencer a nenhuma associação ou clube tão degradado que fosse capaz de o aceitar, pode ser aplicada ao mundo empresarial: não vale a pena ganhar hoje fazendo armadilhas na mão do governo. Amanhã nos poderemos perder do mesmo modo. Quem faz a armadilha mata, mas também pode ser morto por ela.




Folha de S. Paulo – 62% dos argentinos apoiam expropriação de petroleira

Mas 47% acreditam que a decisão vai afetar a imagem do país no exterior
Números do jornal "La Nación" mostram que adesão à medida cai na capital e entre opositores da gestão

DE SÃO PAULO - A decisão do governo Cristina Kirchner de expropriar 51% das ações da YPF, praticamente tirando do negócio a espanhola Repsol, é apoiada por 62% dos argentinos, contra 31% que são contrários à medida.
Os números são de uma pesquisa feita pelo instituto Poliarquía para o jornal argentino "La Nación". Foram ouvidas por telefone 1.115 pessoas, entre quinta-feira e sábado. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.
A pesquisa revela ainda que para 49% dos argentinos a medida terá efeito positivo sobre a economia, ainda que 47% opine que a expropriação deve ter impacto negativo sobre a imagem da Argentina no exterior. Para 44% dos argentinos, porém, a culpa da baixa produção petroleira é do governo; 36% atribuem a crise energética às empresas privadas.
Os números mostram que 89% dos que votaram em Cristina aprovam a expropriação. O número cai a 51% entre os eleitores da oposição, embora opositores importantes tenham endossado a medida. A maior resistência à expropriação está em Buenos Aires, onde 45% são contra.

Folha de S. Paulo – A Argentina tem razão / Artigo / Luiz Carlos Bresser-Pereira

A Argentina se colocou novamente sob a mira do Norte, do "bom senso" que emana de Washington e Nova York, e decidiu retomar o controle do Estado sobre a YPF, a grande empresa petroleira do país que estava sob o controle de uma empresa espanhola. O governo espanhol está indignado, a empresa protesta, ambos juram que tomarão medidas jurídicas para defender seus interesses. O "Wall Street Journal" afirma que "a decisão vai prejudicar ainda mais a reputação da Argentina junto aos investidores internacionais". Mas, pergunto, o desenvolvimento da Argentina depende dos capitais internacionais, ou são os donos desses capitais que não se conformam quando um país defende seus interesses? E, no caso da indústria petroleira, é razoável que o Estado tenha o controle da principal empresa, ou deve deixar tudo sob o controle de multinacionais?
Em relação à segunda pergunta parece que hoje os países em desenvolvimento têm pouca dúvida.
Quase todos trataram de assumir esse controle; na América Latina, todos, exceto a Argentina.
Não faz sentido deixar sob controle de empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola.
Além disso, já foi o tempo no qual, quando um país decidia nacionalizar a indústria do petróleo, acontecia o que aconteceu no Irã em 1957. O Reino Unido e a França imediatamente derrubaram o governo democrático que então havia no país e puseram no governo um xá que se pôs imediatamente a serviço das potências imperiais.
Mas o que vai acontecer com a Argentina devido à diminuição dos investimentos das empresas multinacionais? Não é isso um "mal maior"? É isso o que nos dizem todos os dias essas empresas, seus governos, seus economistas e seus jornalistas. Mas um país como a Argentina, que tem doença holandesa moderada (como a brasileira) não precisa, por definição, de capitais estrangeiros, ou seja, não precisa nem deve ter deficit em conta corrente; se tiver deficit é sinal que não neutralizou adequadamente a sobreapreciação crônica da moeda nacional que tem como uma das causas a doença holandesa.
A melhor prova do que estou afirmando é a China, que cresce com enormes superavits em conta corrente. Mas a Argentina é também um bom exemplo. Desde que, em 2002, depreciou o câmbio e reestruturou a dívida externa, teve superavits em conta corrente. E, graças a esses superavits, ou seja, a esse câmbio competitivo, cresceu muito mais que o Brasil. Enquanto, entre 2003 e 2011 o PIB brasileiro cresceu 41%, o PIB argentino cresceu 96%.
Os grandes interessados nos investimentos diretos em países em desenvolvimento são as próprias empresas multinacionais. São elas que capturam os mercados internos desses países sem oferecer em contrapartida seus próprios mercados internos. Para nós, investimentos de empresas multinacionais só interessam quando trazem tecnologia, e a repartem conosco. Não precisamos de seus capitais que, em vez de aumentarem os investimentos totais, apreciam a moeda local e aumentam o consumo. Interessariam se estivessem destinados à exportação, mas, como isso é raro, eles geralmente constituem apenas uma senhoriagem permanente sobre o mercado interno nacional.

O Estado de S. Paulo - Espanha pede a outros países que punam a Argentina

MADRI - O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel García-Margallo, conclamou governantes da Europa e de outras partes do mundo a tomarem ações concretas contra a Argentina na tentativa de pressionar o país sul-americano a compensar a petrolífera Repsol pela expropriação da YPF.
Em declarações feitas na véspera de um encontro de chanceleres da União Europeia (UE) em Luxemburgo, García-Margallo disse que a Espanha pressionaria o bloco a retirar da Argentina o tratamento de parceiro comercial preferencial. A UE é o segundo mercado das exportações argentinas, atrás apenas do Mercosul.
García-Margallo afirmou ainda que a Espanha pediria a entidades multilaterais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) que pressionem o governo argentino a voltar a negociar. Segundo ele, a expropriação da YPF não é um problema apenas da Espanha. "Afeta todo mundo", disse.
"Os investimentos estrangeiros em um país não podem estar sujeitos aos caprichos emocionais de um líder de país", prosseguiu o chanceler espanhol, em crítica dirigida à presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner. As informações são da Dow Jones.

O Estado de S. Paulo - Como confiscar uma companhia petrolífera / Artigo / Joshua E. Keating

JORNALISTA, EDITOR ASSOCIADO DA REVISTA FOREIGN POLICY E EDITOR DO BLOG PASSPORT

O caso YPF é mais um episódio na história de estatizações no setor de petróleo, do Oriente Médio à América Latina
A indústria petrolífera global está em polvorosa desde que, na terça-feira, a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, anunciou que seu governo pretendia se apoderar de uma participação majoritária da YPF, a maior petrolífera do país. O governo espanhol ameaçou com represálias - a gigante espanhola Repsol é atualmente a maior acionista da YPF -, e a decisão que é considerada a maior nacionalização de petróleo desde que o governo russo assumiu o controle da Yukos, de Mikhail Khodorkovsky, em 2003. No mesmo dia, as ações da Repsol caíram 7,2%.
Embora a incorporação hostil de uma companhia de US$ 7,7 bilhões esteja agitando o mercado mundial, esse tipo de nacionalização tem precedentes, particularmente na América Latina. Atualmente, as estatais petrolíferas controladas pelos governos, muitos dos quais adquiriram esses patrimônios mediante estatizações unilaterais como a da Argentina, controlam 85% das reservas petrolíferas mundiais e 55% da produção.
A seguir, uma rápida visão da anatomia do take over realizado por um governo:
Primeiro passo: Escolher o momento propício. Pesquisas mostraram que as nacionalizações de companhias petrolíferas costumam acontecer quando os preços do produto estão em alta e as instituições políticas são fracas. As nacionalizações, ocorridas em países como o Iraque e a Líbia, eram relativamente comuns na década de 70, quase deixaram de ocorrer na de 80 e na de 90. Depois, voltaram com tudo na década passada, com grandes confiscos na Bolívia, Equador, Venezuela e Rússia.
O petróleo nunca foi apenas uma commodity; ele é um bem estratégico e as nacionalizações forçadas são tão antigas quanto a própria indústria petrolífera. Em 1938, o governo mexicano expropriou ativos petrolíferos estrangeiros no valor de US$ 500 mil quando as companhias não chegaram a um acordo com os sindicatos a respeito das condições de trabalho. O confisco provocou uma batalha verbal com a Standard Oil e muitos países optaram por boicotar os derivados de petróleo do México. Mesmo assim, o governo foi irredutível, e criou o monopólio estatal Pemex, a segunda maior empresa do mundo não listada em bolsa, depois da Saudi Aramco.
Muitos confiscos de empresas petrolíferas pós-soviéticos e latino-americanos ocorridos nos últimos tempos na realidade foram "renacionalizações", ou seja, incorporações de recursos energéticos privatizados durante as reformas de livre mercado da década de 90. Isso inclui a YPF, originalmente um monopólio estatal privatizado em 1993.
Segundo passo: Preparar alguma justificativa. Em geral, é prudente preparar algum tipo de arcabouço legal antes de começar a confiscar propriedades privadas. Em 2001, dois anos antes de tomar o poder, o presidente venezuelano Hugo Chávez sancionou uma nova lei de petróleo e gás que aumentava a quantidade de royalties a ser pagos pelas companhias petrolíferas estrangeiras e aumentava o controle direto do Estado sobre a estatal PDVSA, que vinha operando como entidade relativamente independente.
Nos anos seguintes, Chávez montou sua justificativa retórica contra as estatais petrolíferas estrangeiras, até que finalmente começou a confiscar seus bens em 2007. Como ele afirmou na época: "A Deus o que é de Deus, e a César o que é de César... Hoje dizemos também: ao povo o que é do povo!".
Cristina Kirchner apresentou o takeover da YPF em termos semelhantes: "Somos o único país da América Latina, e eu diria praticamente do mundo inteiro, que não administra seus próprios recursos naturais".
Terceiro passo: Apresentar uma proposta "irrecusável". A maior parte das nacionalizações de empresas petrolíferas não constitui sempre um confisco - os governos pelo menos fingem que indenizarão os donos anteriores pelos bens perdidos.
Surpreendentemente, a ONU se manifestou a respeito da questão da indenização: uma Resolução aprovada em 1962 determina que nos casos de nacionalização realizada "sob a alegação ou por razões de utilidade pública, de segurança ou de interesse nacional (...), o proprietário deverá ser ressarcido com uma indenização adequada, de acordo com as normas em vigor no País que adota tais medidas no exercício de sua soberania e de acordo com o direito internacional".
Evidentemente, ninguém presta atenção à ONU, e existe em geral discordância quanto ao valor da participação do proprietário anterior.
A Repsol calcula que o valor da sua participação de 57% na YPF é de aproximadamente US$ 18 bilhões. O governo argentino é obrigado por lei a compensá-la, mas o montante exato será determinado por um tribunal internacional, que poderá levar anos para chegar a uma sentença, e com toda probabilidade esta será consideravelmente menor do que a quantia que a companhia considera que lhe seja devida.
Além das consequências legais do fato de pôr simplesmente para fora os donos, às vezes pode ser útil permitir que eles continuem desempenhando alguma função na indústria petrolífera do país - afinal, eles provavelmente sabem o que estão fazendo. Depois que a estatal PDVSA da Venezuela se apossou em 2007 de projetos de vários bilhões de dólares no cinturão do Rio Orenoco, rico em petróleo, Chevron, BP, Total e Statoil assinaram acordos que lhes permitiam continuar operando na região como acionistas minoritárias. A Conoco Phillips e a Exxon Mobil se recusaram a trilhar o mesmo caminho.
Após a nacionalização ordenada por Chávez, a produtividade do setor despencou quase 25%.
Quarto passo: Abrandar a postura. É sempre preferível solucionar essas questões com um aperto de mão na sala do conselho, mas às vezes é necessária uma mão mais firme. Em 2009, Chávez mobilizou as tropas para garantir o confisco de 60 companhias de serviços petrolíferos no seu plano de confisco gradativo da indústria petrolífera.
Em 2006, o presidente boliviano Evo Morales ordenou às companhias petrolíferas estrangeiras - entre elas a Repsol - que renegociassem os seus contratos com o governo no prazo de seis meses ou deixassem o país. Só para deixar claro o que pretendia, enviou as tropas para ocupar 56 poços de petróleo e gás em todo o país.
A Argentina não perdeu tempo. Na terça-feira, o representante do governo no conselho da YPF chegou cedo para o trabalho, com uma lista de executivos espanhóis que haviam sido proibidos de entrar na sede da companhia.
Quarto passo (b): O método de Putin. Outro método de nacionalização, mais barato, é abrir um processo criminal contra a equipe que gerencia uma companhia petrolífera e desmontá-la, parte por parte. No caso do processo do Kremlin contra Mikhail Khodorkovsky, ex-CEO da Yukos, isso teve a vantagem adicional de eliminar um perigoso adversário político.
A Yukos foi a primeira companhia petrolífera totalmente privatizada na Rússia da era pós-soviética. Mas depois de várias disputas entre Khodorkovsky e o Kremlin - a respeito do controle estatal do setor de oleodutos, a venda planejada de grandes participações de companhias petrolíferas americanas, bem como as ambições políticas do antigo dono - ele foi preso e condenado por sonegação fiscal em 2003. Nos dois anos seguintes, a Yukos foi obrigada a pagar bilhões de dólares em impostos atrasados, o que a levou à falência.
O último dos seus ativos foi confiscado em 2005 e foi adquirido indiretamente pelo monopólio estatal Gazprom.
Quinto passo: Não se deixe derrubar. O confisco de empresas internacionais pode proporcionar pontos populistas com o eleitorado, mas também gerar muitos inimigos.
Dois anos depois de o Irã nacionalizar a Anglo-Iranian Oil Company, o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh foi derrubado em um golpe patrocinado pela CIA, que repôs o Xá Mohammed Reza Pahlevi no poder. Em 1954, o governo do Xá pagou à Anglo-Iranian uma indenização de US$ 70 milhões. Hugo Chávez sobreviveu a uma tentativa de golpe meses depois da aprovação de sua controvertida lei sobre petróleo e gás.
A nacionalização da YPF de Cristina Kirchner é o mais recente de uma série de gestos provocadores no cenário internacional, inclusive sua tentativa de reafirmar o controle sobre as Ilhas Malvinas. Embora esteja claramente explorando os benefícios políticos dessas medidas audaciosas em relação à negativa reação internacional, Cristina está enveredando por um terreno muito perigoso.

Valor Econômico - "Argentina busca inimigo externo", afirma Espanha / Artigo/  Ilan Brat

The Wall Street Journal, de Madri
O ministro das Relações Exteriores da Espanha exortou no domingo os líderes europeus e mundiais a impor sanções concretas contra a Argentina, numa tentativa de pressionar o país sul-americano a indenizar plenamente a petrolífera espanhola Repsol YPF SA pela expropriação da sua subsidiária argentina, na semana passada.
Falando antes de uma reunião em Luxemburgo a se realizar hoje com outros ministros do Exterior da União Europeia, José Manuel García-Margallo disse ao "The Wall Street Journal" em seu apartamento no centro de Madri que a Espanha vai pressionar a Europa para impor sanções sobre a Argentina, incluindo o cancelamento do tratamento preferencial no comércio externo. A UE é o segundo maior mercado de exportação da Argentina, atrás do Mercosul.
García-Margallo também disse que a Espanha iria procurar ajuda de organismos multilaterais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) para pressionar a Argentina para retomar as negociações com a Repsol, a maior petrolífera espanhola, relativas a uma indenização adequada por tomar, à força, o controle da YPF, a maior empresa de petróleo e gás da Argentina.
A intervenção na YPF "não é um problema apenas para a Espanha", disse García-Margallo. "Ela afeta a todos."
A Europa representa mais de 50% do investimento estrangeiro na Argentina, e segundo ele, "o investimento estrangeiro em um país não pode estar sujeito aos caprichos emocionais dos líderes políticos do país."
Os comentários de García-Margallo ocorrem em um momento em que a Espanha se esforça para mobilizar pressão internacional contra a Argentina, depois que a ex-colônia espanhola, sob a presidência de Cristina Kirchner, divulgou planos na semana passada para expropriar 51% da YPF. Ma medida deixou a Repsol com uma participação de 6,4% na empresa.
A Argentina insiste que tem o direito de exercer o controle soberano sobre seus recursos energéticos, mas a Espanha e outros líderes disseram que tal ato é ilegal e exigiram que a Argentina dê uma indenização adequada pela expropriação. Autoridades do governo argentino não responderam de imediato a pedidos de comentário. Cristina já havia insistido que não vai ceder à pressão espanhola, e que está agindo para garantir o suprimento energético da Argentina. Pesquisas de opinião indicam que a maioria dos argentinos apoia a estatização da YPF.
Apesar de não dar detalhes específicos, García-Margallo disse que outras represálias unilaterais poderiam se seguir à decisão da Espanha, tomada na sexta-feira, de restringir efetivamente as importações de biodiesel argentino, avaliado em cerca de 750 milhões de euros (US$ 990 milhões) em 2011, segundo a Associação dos Produtores de Energia Renovável da Espanha.
Em paralelo, disse García-Margallo, a Espanha continuaria tentando trazer a Argentina de volta à mesa de negociações com a Repsol. A Espanha procurou em vão uma solução negociada bem antes dessa decisão do governo argentino, acrescentou ele. Não houve mais contatos entre os dois países desde que a YPF foi tomada e os executivos espanhóis da YPF, expulsos da sede da firma em Buenos Aires na semana passada, disse.
"Já negociamos até a exaustão", afirmou García-Margallo. As represálias "não significam que os novos conquistadores estão impondo certas decisões".
Mesmo assim, a capacidade da Espanha de forçar a Argentina a voltar à mesa de negociações pode ser limitada. A Argentina tem mais processos pendentes no Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos do Banco Mundial do que qualquer outro país, com 25 processos de um total de 147. No entanto, mesmo nos casos em que a Argentina perdeu, nenhuma empresa ainda conseguiu receber indenizações.
Devido ao seu forte comércio com a Argentina, a UE pode ter maior influência. Autoridades do bloco disseram a altos funcionários argentinos que o caso da YPF pode comprometer todas as relações de comércio e investimento com o país sul-americano. Na sexta-feira, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução visando a suspender parcialmente o tratamento preferencial para as exportações argentinas.
García-Margallo também disse que está satisfeito com a resposta internacional à ação da Argentina na semana passada, que incluiu condenações dos Estados Unidos e de países da Ásia, Europa e América Latina.
Ele culpou problemas econômicos, incluindo a fuga de capitais da Argentina, assim como a necessidade de importar energia do exterior a altos preços, pelo ataque contra a Repsol.
"Quando um regime está em apuros, sempre procura um inimigo estrangeiro", disse ele.
(Colaborou Matt Moffett)

Valor Econômico - Ineficiência marca estatizações argentinas

Natacha Pisarenko
A YPF se somou a um conjunto de outras sete empresas reestatizadas desde a posse de Nestor Kirchner como presidente da Argentina, em 2003. Em relação às anteriores, de porte muito menor que a empresa petroleira, há um histórico de pouca transparência, processos internacionais e suspeitas de corrupção. O tema levanta poucas resistências no país porque todas as empresas que foram objeto da ação do governo estavam em estado falimentar ou com índices mínimos de operação, que melhoraram depois da retomada do controle estatal.
O caso mais recente antes da YPF era o da empresa aérea Aerolineas Argentinas, citada no Senado pelo vice-ministro da Economia, Axel Kicillof, como um modelo a ser seguido pela petroleira. A companhia de aviação foi expropriada em julho de 2008 da espanhola Marsans, em um momento em que a empresa estava afetada por greves, com salários e pagamentos a fornecedores em atraso. A expropriação ainda tramita na justiça e em fóruns internacionais como o Tribunal Arbitral do Banco Mundial, CIADI.
Uma avaliação apresentada pela Marsans e feita pelo banco Credit Suisse estimava em no mínimo US$ 350 milhões o total a ser pago pelo governo argentino. Mas o Tribunal de Taxações da Nação, o mesmo que irá arbitrar o valor a ser pago à espanhola Repsol pela YPF, decidiu que deveria ser pago apenas um peso, ao avaliar que a empresa tinha patrimônio negativo de quase US$ 1 bilhão, segundo o uruguaio Raul Vallarino, autor do livro "El caso Aerolineas Argentinas". O problema faz com que a titularidade da empresa, até hoje, seja formalmente da Marsans.
A empresa teve a gestão politizada e é conduzida por Mariano Recalde, filho de Hector Recalde, advogado da central sindical CGT. Mariano é um dos expoentes da agrupação peronista "La Campora", comandada pelo filho da presidente Cristina Kirchner, Máximo Kirchner. Desde que foi reestatizada, a Aerolineas não apresentou balanço. O último número público é de 2008. Autora do livro "La Campora" e setorista de aviação do jornal "La Nación", a jornalista Laura di Marco estima o déficit em US$ 2 milhões por dia. A se confirmar o número, seria a segunda empresa aérea com maior prejuízo no mundo, atrás apenas da Air India, de acordo com a revista especializada " Air Transport World".
Dois episódios constrangedores marcaram a gestão de Recalde. O menos grave foi um voo para aliados e amigos da casa para assistir a partida contra o Uruguai pelas eliminatórias da Copa da Africa, em 2010. O mais sério foi a operação de busca e apreensão de documentos realizadas na sede para investigar o suposto superfaturamento na compra de 20 aviões da Embraer, uma operação feita pelo seu antecessor, o atual ministro da Justiça, Julio Alak. A investigação, sob sigilo, está em curso na Justiça argentina. A Aerolineas e a Embraer negaram, à época, a existência de sobrepreço.
De acordo com um levantamento da ONG Associação Argentina de Orçamento e Administração Pública (Asap), no primeiro trimestre deste ano a Aerolineas representou uma despesa de 921,9 milhões de pesos argentinos, ou cerca de US$ 210 milhões, em subsídios do poder público, um aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano passado. É uma variação que torna modesto o aumento de 4 % nos subsídios pagos à AYSA, a empresa de água e saneamento criada em 2006 para substituir a Aguas Argentinas. A AYSA teria recebido 869,6 milhões de pesos argentinos, de acordo com a ONG.
A Aguas Argentinas era controlada por um consórcio liderado pela francesa Suez, que teve a concessão cassada em março de 2006, seis meses depois de a empresa europeia avisar que não tinha mais interesse em prosseguir com a concessão e iniciar uma negociação para a rescisão. Não houve acordo e a francesa está demandando o governo argentino no CIADI em US$ 1,7 bilhão.
AYSA tem conseguido realizar obras de porte nos últimos anos. Já foi executado, por exemplo, 65% do contrato de US$ 700 milhões que a estatal tem com a brasileira Odebrecht para a construção da estação de tratamento de Tigre, no norte da região metropolitana da capital. Metade do dinheiro saiu de um financiamento do BNDES, em troca da importação de bens e serviços do Brasil.
Além da lista das reestatizadas, que ainda inclui a Correos Argentinos, que era controlada pela família do atual prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, ainda existem as estatais criadas pelas duas gestões. Uma delas, a Enarsa, surgiu em 2004 para atuar em todos os ramos da energia. Seu presidente, Exequiel Espinosa, foi nomeado diretor da YPF depois da expropriação. A principal atividade da Enarsa tem sido a compra e venda de gás natural do exterior, sobretudo da Bolívia e do Qatar.
A empresa recebeu 2 bilhões de pesos argentinos, ou US$ 458 milhões, apenas nos três primeiros meses do ano, segundo a ASAP. É uma soma 53% superior à paga no ano passado.

Valor Econômico - Expropriação da Repsol YPF Gás afeta empresas de capital aberto

Cláudia Schüffner e Cesar Felício
A inclusão da Repsol YPF Gás no decreto de nacionalização da YPF afeta várias empresas de capital aberto com operações na Argentina e que eram sócias dos espanhóis. O movimento respinga na britânica BG, em negócios da americana Dow Chemical e também da brasileira Petrobras nas áreas de distribuição de gás, petroquímica e refino. Para a BG, é um péssimo momento. Ela tenta se capitalizar para investir no pré-sal vendendo a Comgás para a Cosan em um negócio avaliado em aproximadamente US$ 2 bilhões, e agora ganhou o governo argentino como sócio na problemática MetroGas, maior distribuidora da América Latina e que hoje é controlada pela BG através de 55% da GASA, uma joint venture.
A MetroGas é uma empresa que fatura dez vezes menos para o Grupo BG do que a Comgás, mesmo comercializando cerca de 70% a mais de gás. A distribuidora de São Paulo teve em 2011 uma receita bruta de R$ 5,1 bilhões ou cerca de 11 bilhões de pesos argentinos. Comercializou 4,9 bilhões de metros cúbicos de gás. A MetroGas conseguiu 1,1 bilhão de pesos argentinos no mesmo período vendendo cerca de 7,7 bilhões de metros cúbicos de gás.
A MetroGas está sob regime de intervenção desde 2010 por causa de um default que hoje soma US$ 307 milhões. O governo já era acionista minoritário e agora ampliou sua participação ao ficar com a fatia da YPF, que tinha 45% da GASA. A expectativa no mercado é que o governo promova uma capitalização na empresa, o que pode diluir a participação da BG, caso ela não acompanhe o movimento.
Com a expropriação da YPF, a própria Petrobras tornou-se sócia do governo em duas companhias onde tem participação societária, sem deter o controle: Refinería del Norte (Refinor), da qual tem 28,5% e Companhia Mega, em Bahía Blanca, da qual tem 34% junto com YPF (38%) e Dow Chemical (28%).
O conjunto de ativos da Petrobras na Argentina também inclui duas petroquímicas, a hidrelétrica Pichi Picun Leufu - que em 2010 foi responsável por 0,76% da geração total do país - a térmica Genelba, movida a gás, e uma participação na Transportadora Gás del Sur (TGS), entre outras heranças da Perez Companc.
Contudo, quem encabeça a lista de preocupações da Petrobras na Argentina são as problemáticas TGS, Mega e Edesur. Nas duas últimas, a Petrobras tem dado sua "contribuição social", como pode ser resumido um conjunto de subsídios e preços tabelados que ajuda a explicar o lucro da brasileira na Argentina, equivalente a US$ 170,5 milhões em 2011, um pouco melhor que os US$ 156 milhões de 2010, mas nem perto do lucro de US$ 460,6 milhões em 2006.
Nenhuma dessas empresas foi mencionada na reunião da presidente da Petrobras, Graça Foster, e do diretor internacional da estatal, Jorge Zelada, com o ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido, que trouxe também o secretário de Energia, Daniel Cameron. No atual plano estratégico da Petrobras, em revisão, estão previstos investimentos de US$ 1,8 bilhão na Argentina no período 2011-2015. No ano passado, a empresa investiu no país US$ 460 milhões e outros US$ 500 milhões já estavam programados para este ano, mas uma parte seria destinada à perfuração de novos poços no bloco Veta Escondida, cuja concessão foi cancelada pelo governo da província de Neuquén, o que De Vido promete reverter. Em 2014 e 2015 estão previstos mais US$ 250 milhões por ano.
Na reunião em Brasília, Graça demonstrou boa vontade sem assumir compromissos explícitos, avaliou uma fonte a par do assunto. E deixou claro que a Petrobras não vai investir mais sem estabilidade regulatória.
Apesar de ter desmontado parte de sua estrutura na Argentina, a brasileira ainda tem negócios problemáticos naquele país. Uma das maiores dores de cabeça é a Edesur, uma distribuidora de energia elétrica que ela está tentando vender faz tempo. A Petrobras Energía tem uma participação de 27,33% na Edesur através da Distrilec Inversora, da qual a estatal tem 48,5% em associação com a espanhola Endesa, hoje controlada pela Enel, da Itália. Nos últimos seis anos, a Edesur só deu lucro três vezes. Fechou 2011 com um prejuízo de US$ 111,68 milhões, número nove vezes superior ao prejuízo registrado em 2010. E o resultado de 2012 não deve trazer alegrias.
A razão para os problemas da Edesur, assim como para todas as empresas concessionárias, começa em 2002. Quando houve o fim da conversibilidade, foi feita uma pesificação das receitas e despesas até então dolarizadas, dentro da lei de emergência econômica baixada pelo presidente Eduardo Duhalde em 7 de janeiro de 2002. Por essa lei, os custos das empresas foram pesificados ao nível de mercado e a receita, convertida em peso pela cotação oficial, ou seja, de 1,4 para cada dólar. Isso fez com que todo o setor desequilibrasse.
Ao assumir o cargo, em 2003, Nestor Kirchner começou a renegociar uma recomposição tarifária. Pelas regras propostas à época, seria criada uma tarifa de transição, desde que as empresas constituíssem um fundo, onde a diferença seria depositada, para investimentos em infraestrutura. Algumas empresas chegaram a constituir este fundo, mas o aumento tarifário não entrou em vigor.
As empresas estão com tarifas congeladas há dez anos, em um país onde a inflação real está em torno de 20%. A sobrevivência das concessionárias só se tornou possível porque o governo ampliou o pagamento de subsídios ao consumo. O pagamento de subsídios na Argentina já chega a 4% do PIB.
A remuneração das empresas está abaixo do mercado. No caso do gás natural, por exemplo, é de cerca de US$ 2,7 o milhão de BTU. Ainda que os preços internacionais estejam baixando, por conta da entrada de gás não convencional no mercado americano, mesmo assim é um número abaixo dos contratos praticados nos países vizinhos. De acordo com levantamento do consultor Daniel Montamat, no primeiro trimestre de 2012 os preços dos produtos de energia na Argentina eram em média 58% inferiores a uma comparação com padrões internacionais. No caso dos derivados de óleo, a defasagem é de 33%. No caso dos de energia elétrica, de 68%.
O caso mais grave é o do gás natural, onde a defasagem chegava a 78%. O levantamento compara os preços da Argentina com os do Chile, Uruguai, Peru, Colômbia e Brasil. É essa circunstância que explica o estado de quebra a que chegou a MetroGas.

Nas pegadas de Erasmo, na Basileia (fotos)

Hoje, segunda-feira, todos os museus fechados, como é hábito no mundo inteiro, visitamos a única exposição aberta em Basel (aliás em Riehen, ao norte da cidade, na direção da tripla fronteira), um excepcional coleção de obras do artista impressionista (mais do que isso, claro) francês Pierre Bonnard, na Fundação Beyeler, num magnifício parque e abrigada em projeto arquitetônico do italiano Renzo Piano.


Proibidas as fotos na exposição, por isso só tirei uma (com meu pequeno iPhone), de fora do edifício, aqui ao lado.
Almoçamos no próprio restaurante da Fundação, um ravioli ao molho de funghi eu, e peixe Carmen Licia (dois cálices de vinho, indispensáveis).


Pela tarde, fomos percorrer a cidade velha, a pé. 


Primeiro fomos à MarktPlatz, onde está o velho edifício da prefeitura (ou RatHaus), mais ou menos da idade do Brasil (mas suponho que renovado mais frequentemente, e provavelmente trabalhando de forma mais eficiente do que nosso país, já que transportes, limpeza, infraestrutura, em geral, na cidade, funcionam perfeitamente.


Depois, percorremos a zona pedestre, subimos por umas ruelas, até chegar à Catedral, Basel Munster, que deve ter sido católica, nos primeiros tempos de Erasmo na cidade, mas que agora é reformada protestante.
Enfim, ela era católica muito tempo antes de Erasmo, isso é evidente, tanto é que a conversão à Reforma não alterou muita coisa externa, como prova esta escultura de São Jorge matando o dragão, que fiz rapidamente (estava um pouco frio e chuvoso).
De lá enveredamos por novas ruelas, até eu deparar com uma placa altamente significativa, para quem, como eu, aprecia, e admira, Erasmo de Roterdã (enfim, ele apenas nasceu na cidade holandesa, e ficou com esse nome a vida inteira, mas viveu em muitos lugares, especialmente em Basileia).
A placa é esta, e eu tento traduzir no que conheço de alemão: 
"Nesta casa viveu (ou habitou), como hóspede do editor (literalmente impressor de livros) Senhor Hieronymus (Jerônimo) Froben, Erasmo de Roterdã, em seus últimos anos (deveria ser meses, na verdade), de vida, de Agosto de 1535 ao 11 de Julho de 1536".
Os Froben, pai e filho donos de uma impressora, foram dos mais amigos mais chegados de Erasmo, durante todo o tempo em que ele viveu na Basileia, isto antes da, e no começo da Reforma protestante, cujos desenvolvimentos o obrigariam a sair da cidade, e se refugiar em Fribourg (ainda na Suíça), quando ele foi considerado um opositor da Reforma, depois que a cidade fez a opção por Luthero, contra os papistas. Suprema ironia: ele já tinha se refugiado na Basileia, fugindo, praticamente da Bélgica (que na verdade ainda não existia, e era território dos Habsburgos), onde vivia em Leuven (ou Louvain, para os francófonos), porque era considerado muito protestante para os fanáticos católicos da cidade.
Já quase no final da vida, e amainada um pouco a verdadeira guerra travada entre luteranos e papistas um pouco em todo o território do Sacro Império e adjacências, ele tinha sido convidado a retornar ao Brabant, e por isso empreendeu o caminho de volta ao norte da Europa. 
Parou em Basileia, já cansado, onde veio a morrer, justamente nesta casa dos editores Froben (ou Frobenius, como o próprio Erasmo escrevia em latim). Passou seus últimos meses escrevendo cartas, terminando alguns trabalhos teológicos, período entrecortado pelo enfraquecimento progressivo de sua saúde.
Hoje a casa parece bem conservada, mas é privada, não se podendo, portanto, visitar. Os atuais proprietários, ou condôminos, até aproveitaram a fama do visitante, e não dos antigos donos, para colocar esta placa comercial. 
Enfim, o que se pode fazer: a Suíça é um lugar de banqueiros, relojoeiros, chocolatiers e outros comerciantes e artesãos, além de profissionais liberais, como os do lado.


O que reter, hoje, de Erasmo? 
Respondo rapidamente: a luta contra a intolerância e o fanatismo, o amor aos livros e ao conhecimento, a procura do justo equilíbrio entre posições adversas, a sede de sempre saber um pouco mais, a necessidade de transmitir esse saber, para converter homens ignorantes em cidadãos um pouco mais consapevoli, como diriam os italianos, enfin, tolerância, cultura, o culto do intelecto, o congraçamento entre os povos, acima e além das diferenças culturais e religiosas, a despeito de diferenças de classe e de condição econômica.
Tem tudo a ver com valores que também defendo.
Recomendo a leitura de Erasmo, ou do livro de que já falei aqui, sua biografia por Stefan Zweig; deve existir alguma antiga tradução para o Português...
Paulo Roberto de Almeida 
Basileia, 23/04/2012, 22h22