Constatação simplória 3
Paulo Roberto de Almeida
O Brasil, a despeito da iniquidade de sua estrutura social, de seu sistema econômico excludente, de suas instituições políticas dominadas por uma casta de arrivistas e aproveitadores, apresenta-se como um tecido elitista aberto aos oportunistas.
As chamadas elites não são formadas apenas por oligarquias emboloradas, aquelas descendentes dos latifundiários escravocratas e altos magistrados do Império, mas soube-se abrir aos novos burgueses da República, aos empresários atilados da era Vargas, aos adesistas das ditaduras militares, aos novos esforçados bandeirantes do agro, aos “reis da soja”, da carne, aos industriais do Estado tecnocrático, aos banqueiros protegidos da concorrência externa, aos provedores das compras governamentais exclusivamente nacionais, aos mandarins da aristocracia do Judiciário e, modernamente, a qualquer “influenciador digital” mequetrefe, a novos cantores afinados ao gosto popularesco, enfim, a qualquer um que se encaixe nos padrões pouco exigentes de uma “elite” intelectualmente medíocre, mas financeiramente ambiciosa.
Esse é o o Brasil, inovador e conservador ao mesmo tempo, avançado e atrasado, esperançoso e decepcionante.
Como disse Mario de Andrade, em 1924, duzentos anos atrás, “progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade”. Profeta!
Paulo Roberto de Almeida
SP, 3/01/2025
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