Falta de credibilidade de quem?
Editorial do Valor chama a atenção para uma novela que vem se desenvolvendo há meses, e que já ameaça se transformar na próxima grande crise do governo Lula: a credibilidade do IPCA junto à população.
Não que isso seja propriamente uma novidade. Alguns anos atrás, negociando um contrato de aluguel, pedi a troca do índice de reajuste de IGPM para IPCA. O corretor externou a sua desconfiança em relação a um índice “calculado pelo governo”, mas seguiu com o meu pedido junto ao proprietário, e o índice acabou sendo modificado. Nessa ocasião, pude perceber o custo de termos governos com pouca credibilidade ao longo de anos.
Há uma falta generalizada de conhecimento de como os índices de inflação são calculados. Trata-se de médias calculadas em várias cidades do país, considerando uma cesta de consumo de referência. Só por muita coincidência o índice medirá a nossa inflação pessoal. Além disso, tendemos a prestar mais atenção aos preços que sobem do que aos preços que caem, reforçando a ideia de que a nossa inflação é maior do que a “oficial”.
Por tudo isso, quanto menos o IBGE estiver na ribalta, melhor. Trata-se de tema sensível, em que discussões públicas dificilmente resultam em boa coisa. Mas Lula, fiel à ideologia petista, apontou o tarefeiro Márcio Pochmann para liderar o instituto. Sua passagem pelo IPEA, entre 2007 e 2012, foi marcado pelas mesmas polêmicas que agora vemos no IBGE. Pode-se argumentar que a revolta dos técnicos é mero corporativismo contra iniciativas que podem fazer com que se reduza o escopo de seu trabalho, o que é verdade. Pouco importa. O fato é que tem barulho, uma especialidade de Pochmann, a última coisa de que o IBGE precisa, neste ou em qualquer momento.
Pessoalmente não tenho nenhuma desconfiança sobre o cálculo do IPCA. Trata-se de algo facilmente verificável, pois há vários outros índices sendo calculados por entidades privadas e que servem como checagem do índice oficial. Além disso, os próprios funcionários do IBGE denunciariam qualquer tentativa de manipulação, o que não ocorreu até o momento, apesar da desinteligência envolvendo Pochmann.
A questão, no entanto, não é essa. A questão é de percepção. O governo não tinha a intenção de impor um imposto sobre o PIX, mas um aperto do torniquete sobre essas transações foi o suficiente para que a história da “taxação do PIX” pegasse. Da mesma forma, não creio que o governo tenha a intenção de manipular índices. Mas o ruído em torno do IBGE é prato feito para esse tipo de especulação. Nesse sentido, acho que o título do editorial está errado. O correto seria dizer “Falta de credibilidade do governo traz risco para o IBGE”. Seria mais conforme à realidade do atual governo.
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