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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

A Lei das Consequências Involuntárias: continuidade do declínio americano, irresistível ascensão chinesa, made by Trump... - Paulo Roberto de Almeida

A Lei das Consequências Involuntárias: continuidade do declínio americano, irresistível ascensão chinesa, made by Trump...

        Em seu pavoroso discurso de posse, o idiota que açambarcou o voto de milhões de seguidores similares, proclamou o início de uma "golden era" para os EUA e o fim do "declínio americano".
        Como ele é efetivamente um idiota, ele vai conseguir aprofundar o declínio (sobretudo pelo isolamento protecionista e a introversão produtiva) e produzir, talvez uma "golden era" para a China, que vai recolher os intercâmbios dos que forem deixados para trás pelos tarifaços do ignorante em política comercial e pelo nacionalismo rastaquera no setor industrial que ele tem a ilusão de impulsionar.
        A China fica quieta, seguindo a máxima de Napoleão: não diga nada, não faça nada, quando o seu "inimigo" estiver cometendo um erro grosseiro.
        O grande diplomata e pensador da política externa americana e da política internacional da era da Guerra Fria, George Kennan, elaborou o cerne da doutrina americana durante os 40 anos que se seguiram à divisão bipolar do mundo, entre 1946 e 1947: não o enfrentamento direto da União Soviética, herdeira do expansionismo imperialista dos fascismos militaristas dos anos 1930, mas uma política de "contenção" de suas pretensões imperiais. A política de "containment" foi adotada pela Agência Nacional de Segurança, e mantida pelos 40 anos seguintes.
O containment não impediu a projeção externa da URSS – que se estendeu à Ásia, à África, à própria América Latina – mas de certa forma impediu, ou dificultou, a que a União Soviética e seus satélites tivessem acesso – via Cocom e outros regimes de cerceamento tecnológico – a tecnologias sofisticadas de uso dual e, pelo programa Guerra nas Estrelas, de Ronald Guerra, para competir com os EUA pela supremacia na guerra tecnológica. Nos anos 1980, mas por motivos basicamente internos de ineficiência produtiva, o socialismo deu dois suspiros e depois morreu. A China, bem mais inteligente, já tinha começado sua transição para uma economia de mercado desde a era Deng Xiaoping, o que a qualificou para criar um "capitalismo com características chinesas", um sucesso econômico, a despeito de continuar sendo um país dominado por um partido leninista.
        Basicamente, o que vai acontecer é o seguinte. A política de containment de Kennan, ou qualquer outra, não vai funcionar com a China, que é um capitalismo mandarinesco e orientado racionalmente para explorar todas as possibilidades das economias de mercado, com um partido autoritário que se ocupa essencialmente de infraestrutura e de regulação “market-oriented”.
        Os EUA vão aprofundar o seu declínio, “made by Trump”, e a China vai recolher os benefícios da introversão burra de Trump, do protecionismo primário, do recuo nacionalista ignorante.
        Os chineses são suficientemente espertos para aproveitar o espaço aberto deixados por Trump para a plena expansão econômica e diplomática do engenho e arte da diplomacia do novo Império do Meio. Se o novo imperador não precipitar uma crise “made in China” – Taiwan, mar do sul da China, apoio ampliado ao tirano de Moscou em sua insana guerra de agressão à Ucrânia –, o gigante asiático sairá ainda mais fortalecido ao cabo de quatro anos de ignorância no poder do atual hegemon mundial.
        Como no caso dos impérios romano, dos Impérios centrais e czarista (Habsburgos, Hohenzollern e Romanov) e otomano, além de vários outros, inclusive o Qing, o império americano está declinando por seus próprios erros, não exatamente por uma confrontação direta com outros grandes impérios.
        O atual Império do Meio, reconstruído, agradece a ajuda inusitada de Trump, mas vai ficar quieto pelos próximos anos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de janeiro de 2025

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