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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A agenda de Trump - Deirdre Nansen McCloskey Folha de S. Paulo

Trump acaba de provocar uma economista transgênero que não deixará passar o ataque a todos os LGTBQI+, e responderá à altura. PRA


Introdução de Maurício David:
Quando eu vivia em Santiago do Chile no começo dos meus anos de exílio e era um mero estudante de economia na Escola de Economia da Universidade Católica do Chile (berço dos posteriormente famosos “Chicago boys” que viriam a ser o núcleo de economistas neoliberais que formularam as políticas econômicas de Pinochet no Chile pós-golpe militar de 1973), McCloskey era um economista mais ou menos conhecido ( menos do que mais, na verdade, mas não totalmente desconhecido...) nos Estados Unidos (um professor – vejam bem que escrevi professor, e não professora), da qual havia lido alguns artigos interessantes sobre metodologia econômica. Passou-se algum tempo e o professor McCloskey descobriu o seu lado feminino, passou a usar elegantes trajes femininos e cabelos longos cacheados e mudou o seu nome para Deirdre para grande escândalo dos seus colegas à época ( hoje não provocaria muito escândalo, mas lembrem-se que estou falando do final dos anos 60 e começo dos anos 70... Imaginem só o escândalo que ainda provocaria no Brasil de hoje se o presidente Lula de repente descobrisse o seu lado feminino, passasse a usar elegantes roupas femininas e perucas cacheadas e se casasse com o Ministro-sindicalista Luís Marinho... nem a deputada petista trans Erika Hilton aguentaria o baque...). Hoje, esta entrevista da agora professora não provoca escândalo, apenas curiosidade... Mas ela está com medo de perder direitos... Arre !
MD

A agenda de Trump
Deirdre Nansen McCloskey
Folha de S. Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Muitas de suas propostas serão contestadas em tribunal, e o Judiciário ainda não está totalmente do seu lado

Eu moro em Washington e nesta segunda a cidade estava bloqueada para a segunda posse de Donald Trump. Serei diretamente afetada pela implementação da sua agenda de usar o poder coercitivo do Estado federal para atacar imigrantes, funcionários públicos federais e gays, porque uma de suas ordens será que o Departamento de Estado emita passaportes e outros documentos conforme o gênero em que você nasceu. Quando o meu for renovado, em janeiro de 2027, ele terá que dizer gênero "masculino" em vez de "feminino". Uma pessoa rica como eu não precisa se preocupar muito. Mas pessoas trans pobres serão as únicas prejudicadas.

Ele não pode obter tudo o que quer, porque os Estados Unidos ainda são uma nação de leis. Muitas de suas propostas serão contestadas em tribunal, e o Judiciário ainda não está totalmente do lado de Trump. E o Exército, crucialmente, ainda não é político, como sempre foi, surpreendentemente. Vocês, brasileiros, sabem bem como são importantes um Judiciário independente e um Exército apolítico.
É verdade que Trump tem maiorias, embora muito pequenas, em ambas as casas do Congresso. Se ele quiser tornar os servidores federais menos seguros em seus empregos, pode fazê-lo. E os congressistas, especialmente na câmara baixa, estão aterrorizados com as ameaças dele de se opor à reeleição em dois anos de qualquer um que vote contra a sua agenda.

Suas ameaças se tornam verossímeis por dois fatos. Primeiro, a disposição de muitos americanos, embora não seja uma grande maioria, é conservadora, e muitos são populistas trumpistas que agora votam com entusiasmo. E, segundo, o sistema "primário" que cresceu nos últimos 50 anos facilita para os conservadores radicais entrarem na câmara baixa.
Antigamente, os candidatos a cargos de nossos meros dois grandes partidos eram escolhidos como são no Brasil, por políticos profissionais em segredo, em "salas cheias de fumaça", como diz a expressão americana. Os políticos apresentavam candidatos que achavam que venceriam a chamada eleição "geral", aquela que realmente coloca as pessoas no poder.
Mas hoje os candidatos de ambos os partidos enfrentam uma eleição primária anterior, que geralmente é restrita a pessoas que se declararam anteriormente a favor de um dos partidos. Crucialmente, o meio do eleitorado não se preocupa em votar nas primárias. Os extremos sim. Portanto, hoje em dia, os democratas acabam com candidatos de esquerda mais radicais e os republicanos com candidatos mais radicalmente conservadores.

Em 1972, por exemplo, eu ainda era um pouco de esquerda, ainda não como sou hoje, totalmente fora do espectro comum —uma liberal essencial sentada em nossa pequena casa na árvore olhando assustada para os partidos estatistas no espectro. E, como eu era contra a Guerra do Vietnã em curso sob o então presidente Nixon, trabalhei como observadora de votação para o democrata radical antiguerra George McGovern, que tinha saído do sistema primário. Na eleição geral, ele perdeu em cada um dos 50 estados, exceto meu Massachusetts natal.

O presidente dos EUA é importante para os brasileiros, nem preciso dizer. Observem atentamente.

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