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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Divida Publica dos EUA maior do que o PIB: desafios presentes

O que tinha de acontecer aconteceu. Aliás, desde fevereiro último, mas só tomei conhecimento dessa matéria hoje, 1 de maio de 2012.
A dívida pública total do governo dos EUA tinha acabado de ultrapassar o tamanho do PIB, ou seja, o que os americanos devem, a si mesmos, aos estrangeiros que detém títulos da dívida federal -- feita pelo governo da União, excluindo, portanto, os particulares, que devem ter uma dívida maior do que o seu patrimônio, na média -- ultrapassa, por enquanto de pouco, o que os americanos produzem anualmente como riqueza.
Simplesmente ultrapassar não seria talvez o problema, se ela não crescesse a um ritmo três vezes mais rápido do que a produção de riqueza. Como dito na matéria abaixo, nenhum país, aliás nenhuma família, ou pessoa, pode viver tranquilamente devendo mais do que ela ganha, legalmente, como rendimentos, salários, honorários, royalties, etc.
Claro, se você tem uma "tia rica", que lhe paga o seu cartão de crédito, você ainda pode viver, durante certo tempo, gastando mais do que tem, mas isso um dia acaba: a tia rica pode morrer, ou simplesmente deixar de financiá-lo generosamente.
Os europeus, e alguns asiáticos, no pós-guerra, viveram com essa tia rica generosa, que eram os próprios EUA. Depois os EUA encontraram outra "tia rica", espalhada pelo resto do mundo, que eram todos os povos que tinham imensa confiança na economia e no poderio americanos, que viviam à sombra dessa potência -- evitando, assim, de ter de gastar mais com sua própria defesa -- e que não se incomodavam de devolver um pouco dos dólares que ganhavam exportando para os EUA investindo em títulos americanos.
Até hoje, aliás, o esquema funciona assim: os chineses realizam um superávit extraordinário exportando produtos americanos para os EUA, e retribuem com a compra de títulos do Tesouro americano.
A "tia rica" dos EUA ainda é o direito de senhoriagem sobre os dólares que emitem e que espalham abusivamente pelo resto do mundo, empurrando para os outros, portanto, um pouco da sua prodigalidade.
Mas tudo isso um dia acaba.
Americanos, talvez de direita, mas certamente conservadores, no plano fiscal, pretendem um governo limitado, que não construa desastres no futuro, ou seja, para os seus filhos.
Este é o sentido da matéria abaixo...
Paulo Roberto de Almeida 

Debt officially larger than the economy

By Robert Romano

Americans For Limited Government, Feb. 9, 2012.


You can put it in the history books now. That was the day the $15.6 trillion national debt surpassed 100 percent of the $15.4 trillion Gross Domestic Product (GDP).
Based on the latest data by the Bureau of Economic Analysis, the economy just grew by $142.2 billion in the first quarter, or an annual rate of 2.2 percent. That compares to data from the U.S. Treasury showing the national debt grew by $359.6 billion at an annual rate of 9.4 percent.
That’s at a rate of $3.95 billion in new debt every day, compared with just $1.56 billion in economic growth. This year, at that rate, it will expand by $1.4 trillion. $14 trillion over the next ten years.
“No nation can long sustain itself when it takes on debt at nearly 5 times the rate its economy grows,” remarked Americans for Limited Government President Bill Wilson.
Wilson noted the tepid 2.2 percent rate in the first quarter came well below the Obama Administration’s rosy projection of 3 percent growth for the year.
“In 2011, they projected 3.1 percent growth and only got 1.8 percent. As their growth projections prove to be way off once again, revenues will fall short of expectations, and the national debt will continue to grow that much faster,” he explained.
That, coupled with foolish administration and congressional policies underfunding the Social Security program by $95 billion this year, explains why there will have to be another vote in Congress to raise the $16.394 trillion debt ceiling.
Ironically, Republican leaders in Congress reportedly were attempting avoid a controversial showdown on the payroll tax issue in an election year. But by voting for the payroll tax deal, they guaranteed the mother of all controversial issues will likely come up this summer in the midst of the heated election battle.
But, this time, Congress will likely just sweep the issue under the rug and pass another gargantuan debt ceiling increase, not demanding any spending cuts or significant in return. After all, they caved last time. All they got was that stupid committee.
Which is just as well, really. Congress has not been able to reduce the debt at all since 1957, despite numerous claims of having “balanced” the budget since then.
Plus, the only way we can even meet our debt obligations right now is with a printing press. The Federal Reserve holds over $1.66 trillion in U.S. treasuries, with hundreds of billions in more purchases guaranteed for the foreseeable future.
That is because we are spending so much that not even financial institutions with unlimited credit lines from the central bank and sovereigns the world over have enough to lend to us. So we have to print in order to fill the gap.
In that context, it is no wonder the U.S. lost its gold-plated Triple-A credit rating with Standard & Poor’s, despite Treasury Secretary Timothy Geithner’s assurances that we would not.
“Absolutely not,” Geithner had said in an interview with ABC News’s “This Week” about the prospect in Feb. 2010, adding, “That will never happen to this country.”
Except it did. The establishment was wrong. Just like it was wrong about the positive effects of trillions of dollars of fiscal and monetary stimulus. Said ALG’s Wilson, “Unemployment is still above 8 percent, which the Administration said would never happen if the ‘stimulus’ was passed. Growth is still quite sluggish, only coming in at 2.2 percent in the first quarter, despite promises of a V-shaped recovery.”
So much for that.
Wilson said the weak economy would hurt Obama’s reelection chances: “[With] almost $4 a gallon for gasolinefood prices once again increasinghome values continuing to drop into a double-dip recession, 1 in 2 recent college graduates cannot find full-time work to pay off hundreds of billions of student loan debt, the election outlook for Obama must look quite gloomy.”
“This is Jimmy Carter all over again — only worse,” Wilson concluded. That’s actually true. When Jimmy Carter was running for reelection, the gross debt was just $907.7 billion or 32.5 percent of the $2.785 trillion GDP.
All of which gives Obama the unique honor of being the most awful president since Carter was run out of town on a rail. Come to think of it, that may not be a bad idea. Voters should consider that before we reach any more depressing milestones that threaten to bankrupt the entire country.

Robert Romano is the Senior Editor of Americans for Limited Government.

Um retrato da politica brasileira: nao parece Chicago da Lei Seca?

Sem comentários. (PRA)

OPERAÇÃO MORDAÇA - CAPÍTULO I
Quidnovi, 09/03/2012 - 20:17

Ainda estava escuro, quando às 6 horas da manhã, do dia 29 de fevereiro de 2012, a mansão de luxo, na Rua Cedroarana, Quadra G-3, Lote 11, no Residencial Alphaville Ipês, em Goiânia, de propriedade do governador de Goiás Marconi Pirillo até 2010, foi invadida pela “swat” da Polícia Federal. Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso numa ação cinematográfica. O arrombamento da porta da sala e a chegada dos agentes federais ao quarto de Carlos Cachoeira coroava a Operação Monte Carlo.

Cachoeira, como é chamado, acordou assustado. No corredor, a sua prisão era assistida pela fresta da porta por uma criança de 12 anos, sua enteada, e pela esposa, Andressa. O delegado que comandava a operação pediu que o contraventor abrisse o cofre, mas Cachoeira argumentou que não sabia o segredo. Só Andressa tinha a senha. A polícia entrou no quarto e exigiu que o cofre fosse aberto. Imediatamente a esposa de Cachoeira mostrou o que havia guardado em segredo: joias, inclusive de família, uma quantia em dinheiro de um imóvel vendido por Andressa, documentos e alguns DVDs de conteúdo ainda não revelado.

Governador de Goiás Marconi Perillo
O delegado espalhou sobre a cama todas as joias, a maioria herança de família, principalmente dos avós e do ex-marido de Andressa Wilder Morais, atual suplente do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A esposa do contraventor pediu ao delegado que deixasse as jóias e que não invadisse o quarto que sua filha dormia. O pedido foi atendido. Cachoeira foi levado pela polícia, enquanto a criança atônita tentou ir ao seu encontro, sem entender o que se passava. Até este momento, Andressa estava forte. Mas ao ver a filha, a esposa de Cachoeira desmontou.
A Polícia Federal acreditou ter fechado a Operação Monte Carlo naquele momento, mas não sabia que ali começava um dos maiores escândalos da política brasileira. Cachoeira foi para a carceragem da PF em Brasília e preferiu o silêncio.
Em fevereiro de 2004, Carlinhos foi protagonista do escândalo Waldomiro Diniz, onde o assessor do ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, foi denunciado por receber propina do esquema de jogo clandestino no país. Naquele momento, Cachoeira recebeu total apoio do PT comandado por Zé Dirceu, que rotulava o contraventor como “empresário do jogo”, e o Ministério Público como “aparelho repressor e conspiratório.”

José Dirceu
O ministro da Justiça era Márcio Tomaz Bastos. O advogado, era Antônio Carlos de Almeida e Castro, o Kakay. Quem acusava era o mesmo Ministério Público, que agora também comanda a operação só que a serviço do PT .
As digitais do PT foram constatadas quando a Polícia Federal começou as investigações sob o comando da sede em Brasília. O Palácio do Planalto acompanhava tudo e aguardava o momento certo para contrapor o escândalo do Mensalão que será votado nos próximos meses pelo Supremo Tribunal Federal.
Cachoeira tinha um forte esquema de proteção na Polícia Federal de Goiás, onde contava com seu fiel escudeiro o chefe da inteligência da Polícia Federal. Cachoeira sempre foi um homem muito bem relacionado. Colaborador de todas as horas nas campanhas políticas, principalmente do PT. As investigações aconteciam e surpreendiam o comando da PF. Políticos de alto escalão se misturavam com empresários e contraventores.
Cachoeira foi transferido como preso comum para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Desembarcou na cidade sob um sol escaldante, de 42 graus, e foi levado para a cela 17 do presídio. Parecia que a situação tinha chegado ao fim, quando o contraventor foi chamado para raspar a cabeça e receber o tratamento de preso de alta periculosidade. Enquanto a máquina deixava à vista o couro cabeludo de Cachoeira, lágrimas de ódio rolavam pelo seu rosto. Naquele momento, revendo o filme da prisão de Fernandinho Beira Mar, o silêncio de Carlos Cachoeira se transformava em ira contra o PT. Somente no dia seguinte teve o direito de encontrar seu advogado Ricardo Sayeg.
Aí começava o desabafo de alguém que sabe muito e não vai evitar a vingança. Os responsáveis pela Operação Monte Carlo foram os petistas, o alvo; o líder de oposição Demóstenes Torres (DEM-GO) e a isca; o mesmo Cachoeira que no passado foi tão amigo do PT, e agora tão usado.

Aécio Neves
Com a chegada do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Congresso, era esperado que naturalmente o neto de Tancredo Neves fosse o líder da oposição ao Governo Dilma. Aécio recebeu algum recado e se mantem apagado no cenário político. Com isso, o líder do Democratas se destacou nacionalmente como o homem que lidera a oposição. Com o destaque, o senador passou a ser o inimigo número um do Partido dos Trabalhadores, que começou a caçada. Aécio Neves, taxado por ter telhado de vidro, trabalhou como bom mineiro, no silêncio, e assiste o colega de oposição servindo de boi de piranha. Nos bastidores se comenta que Aécio só irá assumir a liderança da Oposição no último ano do Governo Dilma evitando o desgaste prematuro.

Apesar do PT ter pesado a mão sobre Demóstenes Torres não foram encontradas provas que possam calar a voz da oposição. A relação do senador com Carlos Cachoeira é meramente social, como as mantidas com outros empresários do estado de Goiás. É menos íntima, por exemplo, do que a mantida entre o ex-presidente Lula e o seu churrasqueiro Jorge Lorenzetti, envolvido num escândalo de repasse de R$ 18,5 milhões em verba pública para sua ONG. Tanto barulho por conta de um fogão e uma geladeira, presente de casamento da esposa de Carlinhos para a esposa de Desmóstenes, amigas de longa data? Com certeza, há mais fartura à mesa do PT.
O exército de Cachoeira também foi desestabilizado. Funcionários públicos, empresários, políticos, policiais, familiares e pessoas que emprestavam o próprio nome para manter a força e o poder de quem hoje detém um arsenal capaz de mudar a história política do país foram presos ou desarticulados com a Operação Monte Carlo.
Cachoeira sempre foi um homem prevenido. Na era dos escândalos detonados dentro e fora dos Governos, o contraventor documentava todos os encontros com seus “parceiros”, em vídeo, áudio, contratos de gaveta, e as transações bancárias no Brasil e no exterior. Monitorava seus “sócios” através de agentes de informações. Durante todos esses anos que transitou nas altas rodas políticas e sociais do país, Carlinhos Cachoeira produziu vários documentários, capazes de mudar o curso da vida, principalmente de quem será julgado ainda este ano pelo Supremo, com a chance de ter o ministro algoz do Mensalão do PT, Joaquim Barbosa, na presidência da maior instância jurídica do País.
No encontro com o seu advogado Ricardo Sayeg, em Mossoró, Cachoeira avisou que a família e amigos tem nas mãos “esse” material que será despejado na imprensa nos próximos dias. Nesta sexta-feira, o contraventor começou a cumprir sua promessa. A Revista Veja, divulgou on line, vídeo no qual Carlinhos tem uma conversa com o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), na qual oferece R$ 100 mil para ajudar o petista e insinua já ter contribuído com a mesma quantia para o candidato em outra campanha.
Só um detalhe: Otoni nunca declarou a quantia ao Tribunal Regional Eleitoral e não consegue explicar o porquê disso.

A TRAJETÓRIA DE CACHOEIRA
Carlinhos Cachoeira cresceu no meio da jogatina. Seu pai fez parte do grupo de Castor de Andrade e levou para Goiás o conhecido jogo do Bicho. Seus irmãos difundiram pelo Estado o jogo e a chegada das máquinas caça-níqueis. Cachoeira, no entanto, se aperfeiçoou com projetos oferecidos em vários Estados batizado de On Line Real Time. Trata-se de um software que permite ligar as caça-níqueis diretamente à Caixa Econômica, buscando, aos moldes das Loterias, a legalização do jogo.
Carlinhos montou várias empresas para gerenciar o jogo nos Estados. E começou sua fortuna. Procurava grupos coreanos, italianos, espanhóis e vendia à vista, a exploração do jogo pelo país. Assim passou a recrutar políticos que viabilizavam a exploração dos jogos de azar pelos Governos estaduais. Cachoeira sofisticou seus negócios a partir da implantação de seu novo sistema com o apoio do então governador de Goiás Maguito Vilella, padrinho do seu primeiro casamento. Carlinhos criou a empresa Gerplan no governo de Vilella.

Marconi Perillo
Com a entrada do governador tucano Marconi Pirillo, o empresário do jogo expandiu seus negócios para vários Estados, até bater de frente com os interesses do então ministro chefe da Casa Civil, o petista Zé Dirceu.
Waldomiro Diniz, assessor de Zé Dirceu na Casa Civil, trabalhava para a família Ortiz, forte concorrente de Carlinhos Cachoeira. Os Ortiz lutavam pela permanência do jogo clandestino, pois reconheciam que o negócio era mais rentável. Carlos Cachoeira queria a legalização porque detinha toda uma estrutura profissional com tecnologia de hardware e software para a arrecadação do jogo pelo governo em tempo real e com a garantia de desconto dos impostos.

Waldomiro Diniz
Cachoeira então gravou Waldomiro pedindo propina para a campanha do PT em 2002. Com isso, o empresário do jogo usava o flagrante para combater a propina paga pela família Ortiz ao assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, responsável também pelo pagamento do mensalão do PT dentro do Congresso Nacional.
Waldomiro era tido como uma águia, mas foi abatido pelo Ministério Público em pleno voo. O escândalo fragilizou José Dirceu permitindo o ataque de Roberto Jefferson, que culminou com a cassação do mandato de deputado e a demissão da Casa Civil.
Cachoeira foi cercado de atenções pelo PT durante todos esses anos para
evitar um escândalo maior em torno do financiamento de campanhas em vários Estados. Este roteiro, com conteúdo explosivo, desta vez virá à tona, pois Carlinhos planeja em sua solidão na cela 17 do Presidio de Segurança Máxima de Mossoró, como se vingar do PT que o abandonou e o colocou nesta situação.

Nesse arsenal explosivo tem várias empresas: Construtoras, Laboratórios, Bancos no Brasil e no Exterior. Na próxima edição, o Quidnovi vai mostrar, com documentos, como a máfia do jogo atua com o braço político nos cofres públicos.
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Complemento informativo: 
Todo mundo menos eu, Coluna Carlos Brickmann
(*) Coluna exclusiva para a edição dos jornais de Quarta-feira, 2 de maio


Anthony Garotinho, principal adversário político do governador fluminense Sérgio Cabral, divulgou fotos devastadoras (www.gabeira.com.br): Cabral e o dono da Delta, Fernando Cavendish, até agora personagem principal da CPI do Cachoeira, dançando juntos em Paris, enquanto suas companheiras exibiam ao fotógrafo as solas vermelhas dos caríssimos sapatos Louboutin. Num lugar chiquérrimo, a mais cafona das celebrações - sabe-se lá o que celebravam. 
Mas Garotinho não está a salvo: quem pagou a postagem de cartas pedindo votos a seus candidatos, nas eleições de 2004, foi, em grande parte, a Delta, de Cavendish. Nas cartas, Garotinho, evangélico, dizia estar orando pelos eleitores. Sua fatia da Delta, parece, não foi tão apetitosa; mas também comeu por lá.
Neste caso Delta-Cachoeira, não há quem escape: amigos, inimigos, antigos amigos hoje inimigos, antigos inimigos hoje amigos, ferozes defensores da moralidade dos outros, gente mais tolerante com a moralidade dos outros (e também com a própria). Há o tucano Perillo, governador de Goiás, há Demóstenes Torres, do DEM goiano, há Agnelo Queiroz, do PT de Brasília, há o peemedebista Sérgio Cabral, há Garotinho do PR (o mesmo do ex-ministro Alfredo Nascimento, aquele que caiu do Ministério mas manda muito no Senado e no partido). A CPI teme ligar a metralhadora, porque a arma pode girar.
Tanta gente! Daqui a pouco teremos de lembrar um velho sucesso de Carlos Galhardo (e também de Silvio Caldas): "Todo mundo, menos eu".
Velhos versos
Certos antigos poemas são irretocáveis. Desta mesma composição, uma única quadrinha: "Entre as luzes fatais da cidade/ A orgia cruel te envolveu/ Todo mundo chorou de piedade/ Todo mundo, menos eu".
Outros comentários já estão ficando fora de moda. O jornalista Ennio Pesce, sempre brilhante, costumava dizer que o mal do mar de lama é que as praias não davam para todo mundo. Pois não é que, neste caso, as praias cresceram muito?

segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Barao, politicamente incorreto, sem censura...

Apenas uma contribuição ao debate, se debate existe, na verdade.


Salvem o Barão!

Paulo Roberto de Almeida

Sim, salvem o Barão, não exatamente da memória coletiva, e das justas homenagens que se lhe deva prestar, mas de alguns de seus mais gentis detratores, especialmente as feministas, os racialistas e os politicamente corretos.
Este é o ano do Barão, ou pelo menos o ano das comemorações do centenário da morte de José Maria da Silva Paranhos Júnior, ocorrida em fevereiro de 1912, em seu gabinete do Itamaraty. Ele devia estar recebendo homenagens e sessões comemorativas, e na verdade está; como patrono e santo protetor da diplomacia brasileira, ele vem sendo objeto de merecidos encômios nos setores mais diversos da sociedade, com destaque para o próprio MRE, a Academia Brasileira de Letras e o IHGB, do qual ele foi presidente. Mas, no meio de todas as festividades, surgem por vezes aqueles que retomam a sua memória para observar que, por uma razão ou por outra, ele não representa mais a diversidade cultural brasileira. Gostaria de considerar aqui apenas duas manifestações mais recentes, que mereceram minha atenção, uma oficial, a outra privada.

Na cerimônia do dia do diplomata, realizada em 20 de abril de 2012, no Palácio do Itamaraty de Brasília, em presença de muitas autoridades da República, foram ouvidos os discursos de praxe: o do ministro, o do paraninfo, o da presidente (no final), e o da oradora escolhida pela turma que se estava graduando. Foi justamente a peça coletiva – elaborada ao que parece por cem cabeças (era o número aproximado dos formandos) – a que reteve minha atenção, pela natureza, digamos especial, dos argumentos. Como os integrantes escolheram homenagear uma colega falecida  no final do ano passado, em consequência de enfermidade tropical contraída em viagem a serviço, a turma resolveu adotar seu nome e prestar-lhe uma justa honraria, como mulher, como negra e como acreana. Até aí tudo bem e associo-me às manifestações de pesar por tão infeliz desenlace de uma missão oficial a serviço do Itamaraty e da política externa brasileira. O mais curioso, porém, é que no confronto talvez involuntário de suas biografias, o Barão acabou fazendo figura de homem branco, do centro político e econômico do país.
Vejamos alguns dos trechos pertinentes desse discurso:
“Este discurso é uma obra coletiva.
“Cem anos atrás, falecia, José Maria da Silva Paranhos Júnior, homem branco, nascido no então centro político e econômico do país, o Barão do Rio Branco. Quatro meses atrás, falecia Milena Oliveira de Medeiros, mulher negra e acreana, cidadã de Rio Branco. Ela e ele diplomatas, separados pelo longo século XX.
(...)
“O que pensarão as futuras gerações de diplomatas ao descobrirem que a turma que se formou no ano de 2012, no centenário do falecimento do Barão, não escolheu o seu nome para patrono? Saberão que nossa turma escolheu homenagear uma mulher, e uma mulher negra, parte desse restrito grupo que conseguiu vencer os obstáculos que injustiças históricas fizeram aparecer em seus caminhos. Entrou pela porta da frente, em uma sociedade que sempre escondeu nos fundos as questões com as quais tem de lidar.
“Mais simbólico do que eleger o Barão, foi escolher Milena, nascida em Rio Branco. Homenageá-la é também homenagear José Maria. Sem ele, Milena talvez não tivesse nascido no território do Brasil. Sem ela, nossa diplomacia teria sido menos diversa, menos humana, menos brasileira.
“Milena simboliza a nova geração de diplomatas, das chamadas “turmas de cem”, que caminha para a diversidade de origens geográficas, de gênero, de cor e de poder aquisitivo. Mais do que representar o presente, Milena anuncia o futuro do Itamaraty e da política externa brasileira, cada vez mais plural e mais tolerante, cada vez mais coerente com os nossos princípios.
(...)
“Ainda assim, entre os 108 diplomatas que hoje se formam, encontramos menos diversidade de origem, de raça, de gênero, de crença, de classe social, de orientação sexual do que gostaríamos. Faltam mulheres, índios, negros, deficientes. A diversidade característica da população brasileira ainda não se reflete na participação política, tampouco na formação do quadro diplomático.
“Se houve avanços, e certamente houve, admitamos que não foram suficientes Ainda somos um ministério majoritariamente branco e masculino. No ano em que elegemos, de forma inédita, a primeira mulher presidenta do Brasil, continuamos sendo apenas um quarto do quadro de diplomatas. No nível de ministros de primeira classe, somos apenas 15%. Não podemos aceitar essa discrepância como dado. Nossa eventual omissão será condenada pelas futuras gerações.”

O discurso, por falta de link – pelo menos detectável – para o seu texto escrito, está disponível em vídeo, na integralidade, no seguinte link do YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=d02HOA8Flp0&list=UURglUr6V_SSeKhynBPy--KQ&index=6&feature=plcp; para todos os discursos iniciais, ver este link: http://www.youtube.com/watch?v=T04TtI70Nl4; para o discurso da presidente, este: http://www.youtube.com/watch?v=ak51lm3-QMo&feature=relatedTambém publiquei esse material, com transcrição do discurso da presidente, neste link: http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/04/dia-do-diplomata-os-discursos-como-eles.html.

Que observações eu teria a fazer com respeito aos trechos selecionados do discurso da turma 2012 do Instituto Rio Branco? Talvez apenas a lição fundamental de todo historiador: a de que não se deve ler a história com os olhos no presente, sob risco de incorrer no pecado do anacronismo, numa versão mais acadêmica, ou no viés do politicamente correto, na versão moderna dos comportamentos adequados ao tempo. O Barão não foi condenado explicitamente, por ser um branco da elite política do país, mas perpassa no discurso a ideia de que o Itamaraty não corresponde ao que é, hoje, a sociedade brasileira e que caberia fazer algo para reparar “injustiças”. Como se disse, a omissão da presente geração “será condenada pelas futuras gerações”.
Foi também em nome de “injustiças históricas” que os juízes do Supremo se julgaram no direito de abolir a Constituição e sancionar a legalidade das cotas raciais em vigor em universidades e certos órgão públicos. Talvez os diplomatas da presente turma estejam pensando igualmente que um sistema de cotas ajustaria o Itamaraty mais rapidamente ao perfil diversificado da sociedade brasileira. As cotas teriam de ser extensivas e focadas em gênero, raça, orientação sexual, ou qualquer outra deficiência “estrutural”, segundo se depreende da obra coletiva que foi o discurso em nome da última turma dos cem. Imagino que apenas cotas poderiam romper com o padrão atual, considerado nefasto e não representativo do Brasil atual, mas que ameaça perdurar: um Itamaraty branco, masculino, de pessoas da elite, das capitais importantes do país.
Não sei como esse sistema “diversificador” seria recebido por eventuais desfavorecidos dentre estes últimos candidatos, caso sua pontuação – que é o resultado unicamente do mérito, através do estudo – fosse desconsiderado numa seleção “alternativa”. Talvez o assunto subisse novamente ao Supremo, que teria, então, de confirmar novamente que, no Brasil, a Constituição é apenas relativa, e que o artigo que não reconhece distinções de qualquer gênero teria de ser contrabalançado pelo ideal de justiça e de igualdade de oportunidades. Assim é, se lhe parece...

Adiante. Tomei conhecimento do seguinte comentário a propósito das “memórias” do Barão, publicadas no n. 76 do Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros (janeiro-fevereiro-março 2012, p. 26-29; disponível no Blog Diplomatizzando, link: http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/04/as-memorias-do-barao-do-rio-branco.html). O comentarista parece estar visivelmente indignado, não apenas com o discurso da turma 2012 do Instituto Rio Branco, mas com o próprio Barão. Senão vejamos:
“Lamentei muito que a ADB tenha publicado um texto do Barão com referências ao patrono da diplomacia brasileira dizer que o Brasil é um país de pouca inteligência política, chamar um militar de ‘mula fardada’ e demonstrar pouco afeto pela cidade do Rio de Janeiro, deixando claro preferir território europeu ao seu nacional. Em um momento em que a última turma de diplomatas formada deixou o Barão de lado, e em que outros setores da casa se movimentam contra os diplomatas em um sindicato que supostamente defenderia a todos, achei inoportuno…”

Confesso que fiquei perplexo, e me pergunto como se poderia tentar responder a este comentário, que demonstra um legítimo sentimento de desprazer, em face de certa displicência com a memória do Barão, evidenciada tanto no discurso como nas ditas “Memórias”. Não sei se o próprio Barão poderia responder a um comentário tão ácido sobre suas palavras, mas duvido que ele pudesse ou quisesse fazê-lo, na mais imaginativa das hipóteses. Na impossibilidade do próprio Barão se encarregar da tarefa, o jeito é desempenhar-se com os meios de bordo. Vejamos o que comentar, de minha parte.
Suponho que a primeira coisa que o Barão do Rio Branco faria, de sua parte, seria lamentar a falta de senso de humor do comentarista acima transcrito. Pela nota introdutória às “Memórias”, era patente que ele só estava tecendo considerações desabusadas sobre seus contemporâneos porque resguardado pelo sigilo da fonte; para tanto, ele havia solicitado um prazo prudencial. Mas ele não poderia prever, obviamente, que pessoas provavelmente mal intencionadas se empenhariam em divulgar o que foi pensado apenas como anotações pessoais, para futuras e verdadeiras memórias.
A segunda coisa que provavelmente o Barão faria seria lamentar a falta de conhecimento histórico do comentarista acima transcrito. Um dos motivos do possível agravamento da doença do Barão foram suas reais aflições com as intervenções armadas conduzidas pela “mula fardada” contra certos governos estaduais, notadamente na Bahia. O Barão tem sua saúde abalada justamente no momento em que o governo federal mandava bombardear a capital baiana, numa demonstração de que as “salvações nacionais” representavam, na verdade, o esmagamento dos inimigos do “voluntarioso marechal”, por quaisquer meios à disposição, inclusive os canhões. Na Bahia, Ruy Barbosa, que havia sido candidato contra Hermes da Fonseca em 1910, foi derrotado vergonhosamente uma segunda vez, não pelo voto, mas pelos obuses. O Barão, compreensivelmente, se desesperava, não apenas em função da fatalidade trágica que atingia seu amigo baiano, mas sobretudo pela péssima imagem que essa política da canhoneira projetava contra o Brasil no exterior. Não cabem dúvidas de que o episódio baiano, em janeiro de 1912, que já vinha de uma série de outras intervenções nos estados, agravou seu estado de saúde e pode ter acelerado o desfecho fatal, no mês seguinte.
Quanto às pestilências do Rio de Janeiro, elas eram de sobejo conhecidas, mesmo depois do saneamento (à força) de Oswaldo Cruz e dos trabalhos de infraestrutura do prefeito Pereira Passos. Não fosse por isso, o calor do Rio recomendava ao Barão e a quase todo o corpo diplomático refugiarem-se na serra sempre quando possível.
Por fim, restam as considerações certamente depreciativas do Barão em relação à pouca inteligência e preparação da classe política para governar o Brasil e levá-lo a uma posição de destaque no cenário internacional. Estimo, pessoalmente, que outra não seria a constatação do Barão, se vivo fosse e se contemplasse a situação da governança, não apenas no Brasil, mas igualmente em países supostamente avançados. Como já sabia Maquiavel – do qual me permiti atualizar seus conselhos aos candidatos a príncipes – existem constâncias na vida política de uma nação que não mudam tão facilmente, mesmo passados alguns séculos de progressos materiais. Não por outra razão ele buscava na Roma antiga os exemplos que lhe permitiam ilustrar a conduta dos homens de seu tempo. Não creio, sinceramente, que desde o Renascimento, os costumes políticos, no Brasil e em outros lugares, tenham sido renovados de maneira espetacular.

Concluindo, eu diria que o politicamente correto e o anacronismo histórico constituem dois males dos quais devem escapar analistas sutis e perceptivos como devem ser os diplomatas, de quaisquer épocas, em quaisquer países. O sentido do humor também pode ajudar a enfrentar realidades que nem sempre são as melhores que se pode ter...

Paulo Roberto de Almeida
Paris, 1ro. de maio de 2012

Integracao europeia: rede internacional de pesquisa historica


INFORMATION
Réseau international de chercheurs en histoire de l'intégration européenne

Chers collègues,
Le réseau RICHIE (Réseau international de chercheurs en histoire de l'intégration européenne), créé en 2005, rassemble plus de 500
chercheurs en Europe et ailleurs. L'histoire de l'intégration européenne est entendue au sens large, associant également les pays d'Europe
orientale et les perspectives des pays candidats, associés ou simplement extérieurs, comme les États-Unis. Elle couvre l'histoire politique,
économique ou l'histoire des relations internationales entre autres.

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Ministros liricos (e pouco supremos) detonam a Constituicao - Percival Puggina

Eu sempre achei os ministros da última leva -- digamos, os que vieram a partir de 2003 -- de uma mediocridade exemplar. 
Engano meu. Estava errado.
São todos medíocres, os de antes também.
Só assim é possível entender a unanimidade mais burra já vista nos anais inconstitucionais brasileiros.
Estamos criando o Apartheid no país, e não existe recurso contra esse supreminho de araque.
Só a pressão popular.
Acho que a população brasileira, depois de alguns entreveros, vai pedir revisão dessa imensa bobagem que os medíocres magistrados cometeram...
Paulo Roberto de Almeida 



NAS MÃOS DOS MINISTROS-CONSTITUINTES
Percival Puggina
Blog, 30/04/2012 

            Assisti a boa parte das sessões em que o STF deliberou sobre a adoção de quotas raciais para ingresso nas universidades públicas. Praticamente todos os votos foram ornados com líricas declarações de amor à justiça pela igualdade. Estavam dispostos a servi-la às mancheias. O ministro Fux, por exemplo, não falava. As palavras lhe gotejavam como favos de mel enquanto o versejador Ayres Britto ralava os cotovelos na quina da mesa. Joaquim Barbosa cedeu a cadeira a Castro Alves e quedou-se em pé, atrás, feliz por "estar ali, nest'hora, sentindo deste painel a majestade". 
            A ministra Rosa Maria, tecendo frases como quem bordasse sobre tela, assentou "que a ação tinha de ser julgada à luz da Constituição, que consagra o repúdio ao racismo e o direito universal à educação". Foi um alívio, àquelas alturas, ficar sabendo que a ação seria julgada à luz da Constituição porque eu já desconfiava de que os votos estavam sendo iluminados pelos estatutos de algum movimento racial. Contudo, ficaram a quilômetros das ponderações da ministra as inevitáveis decorrências do voto que deu: doravante incorrerá em racismo e afrontará o direito universal à Educação toda universidade, pública ou privada, toda feira do livro, todo prêmio literário, que não prover as tais cotas. Marco Aurélio, por pouco, muito pouco, não disse que a  adoção de quotas raciais se justifica porque o Estado é laico. 
            Levandowski, o ministro-relator, foi saudado como a princesa Isabel da sessão. Só não lhe deram tapete vermelho e damas de companhia porque não ficaria bem. Mas sua imensa contribuição para a justiça racial no Brasil o fará ombrear, na história, com a filha de D. Pedro II. Ao lado da Lei Áurea, haverá de estar, para sempre, o Voto Diamantino que relatou à corte. O ministro, contudo, tinha um problema. Havia um preceito, na Constituição, segundo o qual ninguém pode ser discriminado por motivos de cor, etc.. E era demasiado óbvio que o regime de cotas raciais feria essa prescrição ao criar exceções ao mérito como critério seletivo. A arguição de inconstitucionalidade do regime de cotas alegava que os positivamente discriminados ingressam na universidade com nota inferior à obtida por aqueles que, negativamente discriminados, ficam de fora apesar de haverem obtido nota superior. Como saiu-se dessa encrenca o ministro? A possibilidade da discriminação positiva não poderia ser permanente, disse ele. Não poderia ser uma porta aberta para a eternidade. Precisaria valer apenas enquanto necessária. Só por uns tempos. Caso contrário, ocorreria a inconstitucionalidade. Capice? Enxuguemos pois as consequências, provisoriamente, através dos séculos, enquanto permanece aberta, a montante, lá no bê-á-bá do sistema público de ensino, a torneira das causas. Mas quem se importa?
            De jeitinho em jeitinho, vai-se a Constituição para o brejo, a segurança jurídica para o espaço e o Poder Legislativo para o outro lado da praça. Se o Congresso se omite em legislar, andam dizendo os ministros-constituintes, o STF precisa agir subsidiariamente. Esquecem-se de um dado da dinâmica parlamentar: quando o Congresso não delibera é porque não há entendimento sobre a matéria. E isso é absolutamente normal, significando que o parlamento, provisoriamente, decidiu não decidir. Aliás, a ideia de que o Estado precisa emitir leis sobre tudo e sobre todos é irmã do totalitarismo. Quando, nas normas que conduzem qualquer organização humana - do estatuto do clube à constituição nacional - se pretende criar exceções ou regulamentar detalhes, produz-se uma balbúrdia com efeito contrário ao pretendido. Em vez de esclarecer, confunde-se cada vez mais. Por favor! Menos leis, mais liberdade.

* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público - Antônio Augusto Cançado Trindade

Recebo com extrema satisfação a informação abaixo, uma vez que fui um dos primeiros a resenhar esta obra importante, multivolume, e multi-períodos, composta pelo meu amigo e grande jurista, Antonio Augusto Cançado Trindade.
O anúncio da segunda edição -- com um novo prefácio do seu autor e organizador -- e sua disponibilização online é uma grande notícia para todos os pesquisadores e estudiosos da diplomacia brasileira, pois o DIPúblico brasileiro é essencialmente, ou quase exclusivamente diplomático.
Usei quase todos os volumes no curso destas décadas, com ênfase na primeira fase republicana, para escrever meus trabalhos, embora selecionando os textos de conteúdo mais econômico ou político, e não necessariamente jurídico. Mas, num último trabalho sobre a doutrina brasileira da não intervenção ainda compulsei vários volumes, para poder ter uma ideia abrangente da atitude brasileira ao longo do tempo.
Devo dizer que o trabalho do jurista AACT é da mais alta qualidade, e me permito transcrever, depois da nota da Funag, uma resenha que preparei, em duas etapas, sobre os vários volumes desse Repertório (que não estava completo, ainda, quando fiz a resenha).
Paulo Roberto de Almeida 



FUNAG - Reedição do "Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público"
No contexto do 40º aniversário de sua criação, a Fundação Alexandre de Gusmão lançará brevemente segunda edição do “Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público”, elaborada pelo Professor, hoje Juiz da Corte Internacional de Justiça, Antônio Cançado Trindade.

Originalmente publicados entre 1984 e 1988, os cinco volumes e o índice analítico que compõem a obra abrangem manifestações brasileiras relativas a questões de direito internacional de 1889 a 1981. A segunda edição, que conta com um novo prefácio do Juiz Cançado Trindade, estará também disponível na biblioteca virtual da FUNAG.

Em encontro na FUNAG, o Juiz Cançado Trindade e o Presidente da Fundação celebraram a nova edição e discutiram como levar adiante a atualização do repertório até períodos mais recentes.


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DIREITO INTERNACIONAL

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 dezembro 1986, 5 pp.
Publicada na seção “Crítica” da revista Humanidades
(Brasília, Ano IV, nº 12, fevereiro-abril 1987, pp. 119-120).
Relação de Trabalhos n° 076. Publicados nº 035.


Antonio Augusto Cançado Trindade:
Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público
(Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, 1984 a 1986, para os diferentes volumes cobrindo quatro períodos, de 1899 a 1981).

A América Latina tem, reconhecidamente, uma longa tradição em matéria de Direito Internacional Público. Mesmo os não especialistas saberiam reconhecer a importância da contribuição continental nesse terreno bastando, por exemplo, fazer referência ao  princípio do uti possidetis, à cláusula Calvo, à doutrina Drago (ambas, aliás, suscitadas por um problema cruelmente atual, o da dívida externa dos países latino-americanos), ao instituto do asilo diplomático ou ao conceito de mar patrimonial. O Brasil, por sua vez, possui longa prática diplomática, alicerçada em sólida e igualmente longa tradição jurídico-legal, o que tornou sua política externa respeitada internacionalmente e merecedora da confiança dos demais membros do sistema interestatal contemporâneo.
A codificação da tradição internacionalista latino-americana deveria, assim, representar um subsídio indispensável ao processo de elaboração do Direito Internacional Público, ramo do direito em constante evolução e transformação. Em que pese, porém, a existência de alguns bons manuais de Direito Internacional Público elaborados no contexto latino-americano – dentre os quais destacaríamos o do brasileiro Hildebrando Accioly e o do chileno Fernando Gamboa Serazzi – e dedicados à evolução doutrinária e jurisprudencial do chamado jus gentium, os especialistas e observadores da já referida tradição ressentiam-se da falta de codificação similar para a prática dos Estados no campo das relações diplomáticas e do Direito Internacional Público. Essa lacuna, pelo menos no que concerne o Brasil, vem sendo preenchida pelo extraordinário labor solitário do eminente internacionalista Antonio Augusto Cançado Trindade, professor de Direito Internacional Público da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco e Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores.
A obra que ora se apresenta sob os auspícios da Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty, vem completar uma série de três outros volumes dedicados ao tema da prática diplomática brasileira, cobrindo respectivamente os períodos de 1961-1981, 1941-1960 e 1919-1940 (publicados nessa ordem). Autor de vasta produção especializada no campo do Direito Internacional Público, incluindo, além de numerosos artigos e monografias publicados nos principais periódicos do mundo, dois outros volumes editados pela Universidade de Brasília – Princípios do Direito Internacional Contemporâneo (1981 ) e O Esgotamento de Recursos Internos no Direito Internacional (1984, cuja versão original foi agraciada com o Premio Yorke, da Universidade de Cambridge) – o Professor Cançado Trindade realizou, com os quatro livros editados, um esforço altamente meritório e rigorosamente inédito não apenas nos anais do Direito Internacional brasileiro, como na história jurídica da América Latina e do Terceiro Mundo.
Com efeito, apesar da existência de Relatórios de Chancelarias, bem como de Coleções de Atos Internacionais publicados por diversos Governos do continente, não havia, até o presente momento, um Repertório, organizado de forma lógica e sistemática, da prática diplomática corrente de algum Estado latino-americano. O Brasil junta-se, assim, aos poucos países do hemisfério norte que coletam em seus Digests ou Repértoires anuais os elementos mais significativos de suas práticas nacionais respectivas em matéria de Direito Internacional Público e de relações diplomáticas.
A importância do trabalho do Professor Cançado Trindade para o Brasil e para as demais nações do continente é tanto maior que a divulgação sistemática e selecionada da prática diplomática brasileira contribui para projetar num âmbito mais amplo os interesses econômicos, políticos e diplomáticos propriamente nacionais ou regionais, sobretudo aquelas posições de princípio ligadas à lenta elaboração de uma nova ordem econômica internacional (de que a Convenção sobre o Direito do Mar é um marcante exemp1o) .
Mas, em que consiste exatamente o Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público – este “ciclópico trabalho” – segundo a feliz caracterização empregada pelo Embaixador João Hermes Pereira de Araújo – que cobre o conjunto das relações internacionais do Brasil entre 1899 e 1981? A estrutura dos quatro volumes é basicamente idêntica, com pequenas variações em função do período tratado, consistindo de nove partes articuladas em torno das seguintes rubricas:
l) Fundamentos do Direito Internacional, destacando-se, nos princípios que regem as relações amistosas entre os Estados, a “soberania permanente sobre recursos naturais”, de introdução mais recente; 2) Atos Internacionais, cobrindo a ampla processualística dos tratados entre Estados e organizações; 3) Condição dos Estados, envolvendo reconhecimento, jurisdição, imunidades, responsabilidade internacional e sucessão de Estados; 4) Regulamentação dos Espaços, territorial, marítimo, aéreo e espacial; 5) Organizações Internacionais; 6) Condição dos Indivíduos, compreendendo direitos humanos e direito de asilo; 7) Solução Pacífica de Controvérsias e Desarmamento, inclusive, para o período recente, um capítulo para a questão do terrorismo; 8) Conflitos Armados e Neutralidade; 9) miscelânea, abrigando, entre outros temas, cláusula da Nação-Mais-Favorecida e, em acordo com os novos tempos, Multinacionais e Segurança Econômica Coletiva.
Em cada um desses grandes blocos de problemas do Direito Internacional Público abriga-se um manancial extraordinário de informações e documentos de referência sobre a prática brasileira nos quatro períodos delineados.
A periodização adotada por Cançado Trindade para cobrir esses 82 anos (de 1899 a 1981) de prática brasileira do Direito Internacional Público, se parece atender mais a critérios de conveniência do que propriamente razões de ordem metodológica, tem pelo menos o mérito de sublinhar a notável continuidade demonstrada pela prática diplomática do Brasil, a despeito mesmo de rupturas na ordem política e constitucional em alguns momentos (1930, 1937, 1964) de nosso itinerário republicano. Fica aliás a sugestão, para um ulterior volume de interpretação e de comentários sobre a prática diplomática agora repertoriada, de proceder-se a uma análise diacrônica comparativa sobre as posições adotadas pelo Brasil em face de desafios similares em momentos diversos de nossa história.
Estabelecida a divisão temática, vejamos com que tipo de “matéria-prima” trabalhou Cançado Trindade na monumental compilação que agora esta chegando a seu termo. O simples enunciado dos diversos tipos de fontes documentais dá uma ideia da grandiosidade do esforço empreendido pelo brilhante internacionalista: a maior parte dos textos selecionados é proveniente de material impresso oficial do Itamaraty, consistindo de relatórios anuais encaminhados à Presidência da República, pareceres jurídicos dos Consultores do Itamaraty, correspondência e expedientes de serviço (notas trocadas com outras Chancelarias, declarações de beligerância, documentos internos ostensivos, memoranda não publicados etc.), discursos e pronunciamentos do Ministro das Relações Exteriores, intervenções de delegados brasileiros em conferências especializadas ou em sessões de organizações internacionais e demais declarações oficiais do Governo brasileiro sobre temas de relações internacionais, incluindo-se declarações conjuntas de natureza bilateral. Figuram ainda, neste vasto e completo repertório, discursos pronunciados por parlamentares nos plenários do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, bem como exposições e debates realizados em suas respectivas Comissões de Relações Exteriores por ocasião do comparecimento do Chanceler brasileiro.
Imagine-se as dificuldades do trabalho engajado por Cançado Trindade: não bastasse o critério de escolha e seleção da documentação disponível – tarefa por si só angustiante para o honnête homme e quase um tormento para o scholar consciencioso, que trabalha sobre uma verdadeira mina de preciosidades documentais – deve-se levar em conta a verdadeira multiplicidade de vias para o acesso às fontes e o caráter frequentemente confidencial dos documentos compulsados. Ainda que a maior parte da documentação reunida estivesse sob forma impressa, o distanciamento em relação a nossa época a torna quase que inédita, entregue que estava, nas últimas décadas, a um outro tipo de “crítica roedora”.
Como bem disse o Embaixador Jose Sette Câmara, Cançado Trindade “conseguiu condensar uma imensa área de informação que estava dispersa e perdida na poeira dos arquivos do Itamaraty”. Mesmo que nosso reconhecimento de pesquisadores não se esgote neste aspecto específico do garimpo documental, somos todos gratos a Cançado Trindade por esse longo convívio com “traças literárias” de diversas épocas, dispensando-nos de igual frequentação. No caso deste ultimo volume, que cobre, inter alia, a gestão do Barão do Rio Branco, alguns documentos são efetivamente inéditos, pois que entre 1903 e 1911 não foi publicado o Relatório do MRE.
No que se refere à substância mesma do material selecionado, os documentos escolhidos são altamente significativos e esclarecedores da posição oficial brasileira sobre os grandes temas do Direito Internacional Público, permitindo igualmente ao historiador uma visão evolutiva da política externa brasileira em diversas questões cruciais de nosso relacionamento internacional. A título de exemplo, comparecem nos diversos volumes problemas tão diversos como um “excerto do Relatório do Itamaraty... sobre o Reconhecimento pelo Brasil do Governo Provisório da Rússia, em 9 de Abril de 1917” (1899-19l8), o “Parecer do Consultor Jurídico do MRE, Clovis Beviláqua, sobre... a Retirada do Brasil da Liga das Nações” (1919-1940), telegrama enviado por Giraud e de Gaulle a Getúlio Vargas a propósito do “Reconhecimento pelo Brasil do Comitê Francês de Libertação Nacional, em 1943” (1941-1960), ou a “Nota de Denúncia do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, de 11 de março de 1977” (1961-1981).
Como se não bastasse tal riqueza documental, Cançado Trindade ainda brinda-nos, em cada um dos respectivos capítulos introdutivos aos volumes editados, com quatro excelentes análises descritivas e críticas sobre o estudo das práticas nacionais de Direito Internacional Público e o papel dos repertórios sistemáticos no processo de codificação progressiva nesse campo, que dão testemunho, por elas mesmas, da excepcional erudição, saber jurídico e aggiornamento bibliográfico do jovem Consultor Jurídico do Itamaraty.
Esses textos, que mereceriam uma eventual unificação metodológica e publicação independente, são, nominalmente, os seguintes: “Os Repertórios Nacionais do Direito Internacional e a Sistematização da Prática dos Estados” (1961-1981), “A Expansão da Prática do Direito Internacional” (1941-1960), “A Emergência da Prática do Direito Internacional” (1919-1940) e “Necessidade, Sentido e Método do Estudo da Prática dos Estados em Matéria de Direito Internacional” (1899-1918). Particularmente o primeiro e o ultimo texto introdutório justificariam uma outra resenha crítica, que não caberia contudo nos limites deste trabalho de apresentação; eles constituem, ademais, um registro atualizado e sintético da experiência de outros países em matéria de repertórios de prática diplomática, permitindo uma visão global da diversidade metodológica e conceitual ainda vigente nos registros nacionais de Direito Internacional Público.
Estes quatro volumes (editados entre julho de 1983 e agosto de 1986) serão seguidos, brevemente, de um Índice analítico, absolutamente indispensável ao pesquisador sistemático, bem como de uma 2a. edição do primeiro volume publicado, estendendo o período coberto até 1986. Fica desde já a sugestão ao Ministério das Relações Exteriores, através da Fundação Alexandre de Gusmão, para que inscreva em seu programa de trabalho a atualização periódica do Repertório iniciado pelo Professor Cançado Trindade. É também digna de reter a recomendação do Professor Alexandre Charles Kiss, autor do Repértoire francês, no sentido de que seja providenciada uma edição em francês e em inglês do Index e do sumário dos volumes editados, ao que eu acrescentaria a sugestão de uma apresentação especial da prática brasileira ao público estrangeiro por parte do Professor Cançado Trindade. Nossa prática diplomática, inclusive a que está presentemente sendo escrita por ele mesmo na Consultoria Jurídica do Itamaraty, merece, sem dúvida alguma, ser melhor conhecida no âmbito internacional. Sejamos, literalmente, internacionalistas assumidos!

PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco.
 [29.12.1986; n° 142]