Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Construção não. Para todos os efeitos já está construído: agora só estão implementando. A bem da verdade, a construção começou no governo FHC, com as tais políticas de ação afirmativa. Depois, os companheiros simplesmente ampliaram desmesuradamente o alcance, a extensão, o escopo, a intensidade, o volume, a desfaçatez, a cara-de-pau, a vergonha dessa política racista, racialista, declaradamente aparteísta, que constitui um racismo ao inverso, a separação mental da população brasileira entre os negros, ou afrodescendentes, de um lado, e todos os demais, do outro.
PASSA UM BOI, PASSA A BOIADA
Percival Puggina
Zero Hora, 04 de novembro de 2012
Volto ao assunto porque, malgrado venha suscitando pouco interesse, ele é política e socialmente relevante em todos os seus aspectos. Quando o STF declarou constitucional o sistema de cotas raciais adotado pela UnB, ocorreu algo extraordinário. Ficou óbvio que os ministros queriam aprovar o sistema. A Constituição, não obstante, vedava a discriminação racial. Coube ao relator, Ricardo Lewandowski, esgueirar seu voto favorável às cotas por uma estreita ponte pingente (daquelas que balançam mas não caem). E sobre ela cruzou a insuperável barreira constitucional. Como? Elementar, meu caro Toffoli: as cotas raciais só devem viger enquanto necessárias, doutrinou ele. Ou seja, provisoriamente. Pronto! Passou o boi.
Naquela ocasião, escrevi um artigo afirmando que, a partir de tão destrambelhada decisão, todo certame intelectual, toda prova de habilitação, todo exame de ordem, todo concurso para magistratura, que não previsse cotas raciais seria provisoriamente inconstitucional. Com efeito, se a necessidade de discriminar impunha-se sobre o cristalino óbice da Carta, então deveria prevalecer para tudo mais. Não deu outra. Está passando a boiada. Vários concursos já enveredaram por aí. Tenho recebido mensagens de pessoas queixosas com a discriminação sofrida em processos seletivos. Afinal, se haver cursado tal ou qual curso superior era pré-requisito do concurso, que diferença pode haver entre o diploma de um branco e o diploma de um negro? Ambos superaram as barreiras de entrada e saída da Universidade. Por que, então, continuar levando em conta a cor da pele? Considerá-los hipossuficientes, mesmo com diplomas sob o braço, insulta os negros! Isso, para mim, é racismo da pior espécie, ofensivo, aviltante.
Por trás de tanta falta de juízo há política e ideologia. Há a completa submissão dos prejudicados, incapazes de levantar um dedo e balançá-lo para a esquerda e para a direita dizendo não. Há a multidão dos que creem que nada têm a ver com isso, embora paguem religiosamente todas as contas. E há a demagogia, que é, sempre, um sucesso de público, notadamente quando distribui agrados e favores. Por mais que os fatos se encarreguem de desacreditá-los, sempre surgem novos demagogos e novas formas de sedução para atrair eleitores. Aliás, não nos faltariam estadistas se a mentira e a demagogia não fossem mais sedutoras do que a verdade. Mas, pelo jeito, jamais precisaremos, nas funções de Estado, criar cotas para os menos capazes nem para os menos responsáveis.
Reconheço que as diferenças reais entre ricos e pobres, sadios e enfermos, jovens e idosos, entre outros, exigem tratamento correspondente de parte do poder público. Mas não vejo sentido em discriminações raciais. Estabelecê-las é de uma gravidade extrema! No meu ponto de vista, os defensores das cotas raciais podem ser classificados em três grupos: a) o grupo dos demagogos que as concedem (PT e partidos de esquerda); b) o grupo dos interessados que delas se beneficiam direta ou potencialmente; c) o grupo dos racistas que não sabem o quanto são racistas. (*)
Fui dar uma olhada no ministério de dona Dilma, que anuncia para dezembro a adoção da política de cotas para os concursos públicos federais. São 25 ministérios de fato, mais nove secretarias e seis órgãos com status de ministério, ligados, também, diretamente à Presidência da República. Total, para fins protocolares: 40 senhores ministros e ministras. Quantos negros? Lamento informar que apenas um. Aliás, uma. Não por acaso, a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Não sei por que, após essa constatação, me sobreveio a sensação de que alguém, em algum lugar, estava sendo hipócrita. Se o governo vê com tão bons olhos uma política de cotas raciais, por que não a adota no próprio governo? Uma ministra cotista entre 40 colegas?
* O texto que enviei para a coluna de Zero Hora não inclui este parágrafo por exceder o limite de palavras possibilitado pela diagramação.
As interest rates fall, spreads and profits are coming under pressure
The Economist, Oct 20th 2012 | São Paulo
| from the print edition
ON OCTOBER 10th Brazil’s Central Bank cut its policy interest rate
for the tenth time in just over a year, to 7.25%. The move surprised
analysts, since rates were already historically low and inflation above
the centre of the monetary-policy committee’s 2.5-6.5% target. Neither
economic growth, likely to finish the year at an anaemic 1.5%, nor the
currency, which tends to rise with rates as return-seeking foreign
investors pile in, are supposed to play a part in its deliberations. But
most analysts now believe that its decisions are taken with an eye to
boosting growth and weakening the currency, and that unless inflation
threatens to break the 6.5% barrier, rates will stay low for some time.
For now, subdued global demand means that inflation is unlikely to
slip its leash. But in the longer term the government will have to rein
in public spending and push through difficult reforms if it wants Brazil
to grow faster than 3-4% a year without fuelling inflation. Recent
moves to cut payroll taxes, limit public-sector pay rises, reduce energy
costs and improve a woeful transport infrastructure should help to
raise this distinctly modest economic speed limit. They have also
convinced many that the president, Dilma Rousseff, will do whatever it
takes to save the bank from having to hike again.
Permanently lower interest rates would be the most positive
economic development in Brazil since hyperinflation was vanquished
almost 20 years ago, says Enestor dos Santos of BBVA, a Spanish bank
active in the region. Firms would invest more—and making a decent return
would mean funding productive projects, not just parking cash in
government bonds. Returns to lender
But some industries will see profits fall. When investors realised
that electricity firms would have to accept much lower returns from
early next year, or else be ineligible to rebid for concessions that run
out between 2015 and 2017, share prices slumped. Masha Gordon of PIMCO,
a fund manager, praises the government for blocking its ears to vested
interests and calling time on Brazil’s “free lunch”. Toll-road and
energy concessionaires who signed deals when rates were much higher
benefited hugely as they fell, she points out, leaving some low-risk
projects earning real returns approaching 20%. That could hardly be
expected to last.
But it is banks that will have to do most to adapt to Brazil’s new
low-interest environment, says Ms Gordon. Their net interest margins
have been falling for years as the rates they charge on loans fall in
line with the policy rate, and the room to cut the rates they offer on
deposits reduces. That has eaten into returns (see chart). The pressure
on profits has built recently as the government has pushed banks to pass
on lower rates to customers, faster.
The two big state-controlled banks, Caixa Econômica Federal and Banco
do Brasil, have slashed rates at the government’s behest. Private banks
have had to follow suit or lose market share. According to Anefac, an
accountants’ trade body, the average rate paid by Brazilian retail
borrowers in September fell below 100% for the first time. Rates for
business loans are also at an all-time low—48% a year.
By Brazilian standards such rates may be low; by international ones,
they are eye-watering. The biggest reason, says Sergio Furio of
bankFacil, a start-up that offers consumer-finance information online,
is the inefficiency of Brazilian banks. Although their revenues per
employee are broadly in line with other large economies, their low
productivity is masked by very high prices. They need twice as many
staff to generate the same volumes as banks in Europe or America, he
points out—but are still profitable because margins are two or three
times as high, too.
“Brazilian banks have been relying on the last gasp of outrageous
interest rates,” says Mr Furio. Instead they should be trying to become
more efficient and to attract a better class of customer. High-cost
loans put off numerate, well-heeled types who could be relied on to
repay them. That adverse selection means rates must be pushed up even
higher to cover frequent defaults. BankFacil hopes to make money by
breaking this cycle, referring newly educated, creditworthy users to
financial institutions which can then charge them less.
The highest interest rates of all are on credit cards, which in
Brazil are mostly used to buy goods in “interest-free” instalments.
Retailers offer self-financed payment plans over up to 18 months. They
hide their own financing costs inside the sticker price and only request
payment from the customer’s card issuer month by month. Banks make
little money from this peculiar “credit on credit”, which makes up 70%
of total credit-card loans in Brazil. Only when a cardholder misses a
payment does the card issuer finally get to charge interest. But the
chance of default among such late payers is a hefty 28%, meaning rates
must be astronomical if banks are to make a profit at all.
Last month Itaú Unibanco, Brazil’s largest privately controlled bank,
let it be known that it would like to put an end to credit cards being
used this way. But the government worries that Brazilian consumers are
so used to paying for everything from clothes to white goods to cars in
supposedly interest-free instalments that they might then stop spending
altogether, nipping a nascent recovery in the bud. Any move will have to
be gradual.
The good news is that Brazilian banks have lots of fat to cut before
they reach the bone. They have also acquired plenty of new customers
during the past decade, says Franklin Santarelli of Fitch Ratings, an
expensive process that should reap rewards during the next one. Brazil
is “just moving into the mainstream,” says Ceres Lisboa of Moody’s,
another ratings agency. Its banks, like those elsewhere, have to work
out how to make money with lower margins and higher volumes.
Acertou! Ele mesmo: o governo. Como se diz na linguagem dos vendedores de ocasião: você compraria um carro usado do governo? Eu não, nunca: que mente, engana, frauda contas, anuncia uma coisa e depois faz outra, mantém metas irrealistas e, sobretudo não cumpre o que prometeu, não merece crédito nenhum, nem no mercado de carros usados, nem em qualquer outro mercado. Talvez só no mercado de mágicas de araque, no qual o espertinho tira coisas da cartola, mas naquele estilo manjado de circo mambembe de interior. Aliás, esta é a cara do governo: um troupe de comediantes amadores, um verdadeiro exército de Brancaglione de mágicos de quinta categoria, fingindo que praticam economia, só conseguem enganar aqueles que partilham das mesmas crenças no keynesianismo de botequim que eles praticam. Paulo Roberto de Almeida
Meta de dez anos para o PIB terá baixa credibilidade
Editorial Econômico, O Estado de S.Paulo, 07 de novembro de 2012
Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, o governo pretende adotar
uma meta de longo prazo para o Produto Interno Bruto (PIB) e para o PIB
per capita, com o objetivo de estimular as empresas a realizar
investimentos. A escolha de uma meta de longo prazo foi certamente a saída diante
dos erros constantes das previsões do ministro da Fazenda sobre o PIB
trimestral. A dúvida é se uma meta para cinco ou dez anos para o PIB
terá maior credibilidade e levará as empresas a investirem
proporcionalmente à previsão. A pretensão revelada pelo ministro do MDIC peca de início quanto a
quem cabe, essencialmente, fazer investimentos. A maior responsabilidade
nisso é do governo, para melhorar a infraestrutura no País. O setor
privado reagirá, pois, em função dos programas do governo, que podem ser
realizados em colaboração com o setor privado, seja sob a forma de
concessões ou de Parceria Público-Privada. A adoção dessas fórmulas dá
maior segurança à administração de grandes projetos. É preciso entender como o setor privado responde aos investimentos
realizados pelo governo. Esses investimentos exigem, de modo geral, um
prazo longo durante o qual são pagos salários e se adquirem materiais e
equipamentos, antes que a obra contribua diretamente para o aumento do
PIB. Mas é a partir do aumento da renda, que eleva imediatamente a
demanda, que o setor privado reage e faz investimentos de curto prazo
para atender a essa demanda. Não se deve, porém, minimizar as dificuldades que o governo
encontrará para fixar uma meta para cinco ou dez anos para o PIB, e que
seja aceita com credibilidade pelo setor privado. Em primeiro lugar, as
empresas estão habituadas ao desrespeito, pelo governo, das metas, tanto
da inflação quanto das contas fiscais. Reconquistar a confiança não é
trabalho fácil. Mas é ainda mais delicado fixar uma meta como essa no
clima ruim que o mundo globalizado atravessa hoje. O governo tem abusado
ao atribuir dificuldade a essa situação, mas reconheçamos que ela tem
alguma influência sobre a evolução de nossa economia. Hoje, nosso
comércio internacional se encontra muito dependente dos preços das
commodities, que dependem de variações do clima. Finalmente, até agora o governo exibiu muita incapacidade na
administração de grandes projetos, assim como não conseguiu eliminar os
obstáculos burocráticos que elevam os custos de investimentos públicos e
privados.
Thomas K. McCraw, a Pulitzer Prize-winning historian who used biography
to explore thorny issues in economics, died on Saturday in Cambridge,
Mass. He was 72.
Mr. McCraw earned a master’s degree and doctorate in
history from the University of Wisconsin and taught at the University of
Texas before moving to Harvard.
He had been treated for heart and lung problems, his wife, Susan, said.
Adams was president of the Union Pacific Railroad in the 1880s;
Brandeis, the lawyer and Supreme Court justice, worked to curb the power
of banks and corporations in the late 19th and early 20th centuries;
Landis was chairman of the Securities and Exchange Commission during the
Depression, and Kahn was chairman of the Civil Aeronautics Board, which
deregulated airline fares in 1978.
The book was recognized for melding scholarship and engaging prose.
“Mr. McCraw explains sophisticated economic theory in accessible terms,”
The New York Times Book Review said, “and he has a historian’s knack
for isolating such basic American traits as a mistrust of big business
and for showing how regulators manipulated these traits to implement
their policies.”
In “Prophet of Innovation: Joseph Schumpeter and Creative Destruction”
(2007), Professor McCraw examined capitalism through the life story of
its leading 20th century advocate, with his Darwinian theory of
“creative destruction”: that businesses must be rendered obsolete and
extinct by other, better businesses if an economy is to move forward.
In “The Founders and Finance: How Hamilton, Gallatin and Other Immigrants Forged the American Economy,”
published this year, he wrote about how a nation born into financial
ruin after the Revolution saved itself and created a stable financial
system. He credited the efforts of immigrants like Alexander Hamilton,
born on the Caribbean island of Nevis, who was the nation’s first
secretary of the Treasury, and the Swiss-born Albert Gallatin, who was
the fourth Treasury secretary and whose almost-13-year tenure remains
the longest in American history.
“The key feature of his work is the use of biography,” said Geoffrey G.
Jones, who succeeded Professor McCraw as the Isidor Straus Professor of
Business History at Harvard. “You hear about personal lives,
motivations, but he manages to deal with issues, like regulation, that
are usually left to dry textbooks. That was his real gift.”
Thomas Kincaid McCraw was born on Sept. 11, 1940, in Corinth, Miss.,
near where his father, John, a civil engineer for the Tennessee Valley
Authority, was helping to build a dam. The family moved frequently, and
Thomas graduated from high school in Florence, Ala.
He attended the University of Mississippi on a Navy R.O.T.C. scholarship
and after graduation served four years in the Navy, mostly in Bermuda.
He earned a master’s degree and doctorate in history from the University
of Wisconsin and taught at the University of Texas before moving to
Harvard.
Professor McCraw lived in Belmont, Mass., with his wife, the former
Susan Morehead. College sweethearts at Mississippi, they married in
1962. His other survivors include a daughter, Elizabeth McCarron; a son,
Thomas Jr.; a brother, John; and three grandchildren.
Professor McCraw’s other books include “American Business, 1920-2000: How It Worked” (2000), a compact overview.
At Harvard, he developed a standard first-year course for M.B.A.
students, “Creating Modern Capitalism,” which enhanced the profile and
popularity of business history at the school and whose syllabus became a
textbook, now widely used, of the same name.
“He was a historian who made things accessible to a far wider range of
people than normally read scholarly works,” Professor Jones said. “And
not by trading down. The work isn’t simplistic. It’s engaged with
materials in the deep sense. It’s just very accessible. That’s a very
difficult thing to pull off. Very few academics can.”
A version of this article appeared in print on November 7, 2012, on page A25 of the New York edition with the headline: Thomas K. McCraw, 72; Scholar of Lively Histories.
Se eu fosse da turma do Al Capone, também ficaria preocupado quando a "tchurma" dos Intocáveis resolvem usar menos revólveres e metralhadoras e mais a máquina de calcular para ver se, em vez de pegar os bandidos em crimes de sangue, passassem a indiciá-los por crimes financeiros ou fraude fiscal. Aliás, foi apenas por isso que Al Capone foi para a cadeia, não por mandar matar dezenas de inimigos e alguns amigos também...
Os Intocáveis, no caso são o PGR e os vaidosos togados da cega justiça...
Paulo Roberto de Almeida
Por que calar Marcos Valério?
José Nêumanne
O Estado de S.Paulo, 07 de novembro de 2012
O que Marcos Valério Fernandes de Souza tem a dizer
sobre a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do
ex-ministro Antônio Palocci no escândalo de corrupção do mensalão não
pode ser ouvido como o verbo divino ou a voz do povo. Condenado a mais
de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por um rosário
de crimes, o cidadão em questão não é propriamente o que minha avó (e
talvez a dele próprio) chamaria de "flor que se cheire". Mas também não
se pode por isso - e só por isso - considerar in limine que tudo o que
ele tem a dizer seja mentiroso e desprezível. Desqualificar seu
depoimento por esse motivo será o mesmo que negar a veracidade de tudo o
têm dito, falam ou declararão outros réus do mesmo processo - José
Dirceu e José Genoino entre eles.
"Se eu fosse condenado a 40 anos de prisão, também estaria me
mexendo", disse o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, apontado
pelo operador do mensalão como o interlocutor dos petistas com ele.
"Não temos nada a temer. Tudo o que ele poderia ter falado falou no
processo", completou o loquaz e truculento presidente nacional do
Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão. "Tem que respeitar o
desespero dessa pessoa", avisou o secretário-geral da Presidência,
Gilberto Carvalho, que informou que não o processará. Embora óbvio, o
primeiro argumento não autoriza a negar o direito do réu de falar,
narrar e opinar. A condenação lhe tolhe a liberdade e evita seu convívio
com a sociedade, não o impede de falar. Quanto ao segundo, quem não
deve não teme. E ficam no ar perguntas que não querem calar: como Falcão
ficou sabendo tudo o que Valério teria a dizer sobre o momentoso caso?
Por que Carvalho anuncia desde já que não o processará?
Só que o "homem-bomba enjaulado", na definição exata da coleguinha
Eliane Cantanhêde, da Folha de S.Paulo, tem todas as razões para se
defender. E, mais ainda, o dever, como cidadão, de contar o que sabe.
Ninguém precisa acreditar nele, mas a cidadania brasileira tem direito
de saber o que ele tem a dizer.
A versão de que ele teria sido convocado pelo PT para pagar pelo
silêncio do empresário Ronan Maria Pinto pode ser estapafúrdia e
fantasiosa. Mas o que, afinal, não é fantasioso no episódio grotesco e
macabro do assassinato de Celso Daniel, o então coordenador do programa
do candidato Lula à Presidência? A família do morto, por exemplo, não dá
um tostão furado de fumo podre pela versão da Polícia Civil paulista
(sob governos tucanos e do DEM), à qual o PT se agarra com fervor
religioso, de que o prefeito de Santo André foi baleado na cabeça, numa
madrugada escura e brumosa, por um menor a oito metros de distância.
Aristóteles e seu discípulo Tomás de Aquino duvidariam disso.
Pode ser que a versão de Marcos Valério seja apenas uma tentativa de
jogar farinha no ventilador para merecer o prêmio pela delação, com uma
redução de sua pena. Mas, no mínimo, ela serve para chamar a atenção
devida para um episódio nunca esclarecido. Que motivos escusos teria o
apolítico João Francisco Daniel, irmão do morto, para garantir que ouviu
Gilberto Carvalho contar que recebia do prefeito malas de dinheiro vivo
e as entregava ao então presidente nacional do PT, José Dirceu,
condenado, como Valério, por corrupção ativa e formação de quadrilha
pelo STF? Tudo o que o respeitável oftalmologista teve de recompensa
pelo depoimento foi um exílio forçado em local incerto e não sabido em
território nacional, interrompido por curtas temporadas para exercer a
profissão no ABC de origem. E que razões pode ter tido o governo francês
para dar asilo político à família de Marilene Nakano e Bruno José
Daniel, que acharam mais prudente passar uma temporada no exterior para
escapar da vingança dos assassinos do ilustre parente? Afinal, não teria
sido um crime banal, um sequestro malsucedido, planejado e executado
por bandidos comuns trapalhões? Nem a Velhinha de Taubaté acredita nessa
versão!
Conceder ou não ao acusado de ter aplicado o desbaratado esquema de
desvio de dinheiro público para comprar adesões a tucanos numa campanha
em Minas e apoio parlamentar a petistas no governo federal é uma decisão
que cabe ao procurador-geral e aos ministros do Supremo. É assunto no
qual não procede a interferência do PT, da oposição e dos governos
federal e estaduais. Da mesma forma, o atendimento ao pedido de inclusão
no programa de proteção à testemunha é da alçada exclusiva do
Ministério Público e do Judiciário, não cabendo a ninguém fora de seus
quadros querer influir ou mesmo opinar. Mas até um palpiteiro de jornal
como o degas aqui pode recorrer à lógica aristotélica ou tomística para
chamar a atenção para o que está por trás desses movimentos, sejam do
condenado ou dos dirigentes do partido de seus colegas de pena.
Valério tem medo de morrer e o legítimo direito de querer preservar a
própria vida e proteger a família. Para tanto recorre ou ao que de fato
sabe e pode incomodar poderosos (Gilberto Carvalho, homem de confiança
de Lula, é ministro próximo à presidente Dilma) ou ao que seus ex-amigos
sabem que fizeram e não sabem se, afinal, ele sabe. Aqui se repete a
anedota do marido que não sabia por que espancava a mulher, mas
desconfiava que ela sabia.
Okamotto pretende desqualificar, em princípio, o que Valério tem a
dizer recorrendo ao óbvio que nada justifica. Falcão se contradiz, pois,
se de fato os petistas não devem e estão certos de que a testemunha
nada de novo tem a revelar, não há o que temer. E ao não recorrer à
Justiça para desmentir sua versão, Carvalho mostra que prefere manter o
caso Santo André na sombra. Então, seria o caso de deixá-la falar,
dando-lhe a oportunidade de se enforcar com a própria corda. Quem tenta
calá-la, seja por que motivo for, deixa no ar um cheiro de brilhantina
(para não dizer coisa menos cheirosa) de que ela pode ter algo incômodo a
contar. E rasgar a cortina que oculta a verdade sobre por que, de fato,
Celso Daniel foi torturado até a morte. * JORNALISTA E ESCRITOR ===================
Coluna Esplanada
Dirceu e os imperdoáveis
Condenado pelo Supremo no processo do mensalão, ex-ministro da Casa Civil José Dirceu está inconformado
por Leandro Mazzini
Condenado pelo STF no processo do mensalão, o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu está inconformado. Numa conversa recente com amigos,
disse que não foi ele o chefe do esquema. Apontou três cabeças: dois
ex-ministros do então presidente Lula – um integrante do núcleo
palaciano e outro da Esplanada, hoje deputado – aliados a um conhecido
advogado que desfilava de Jaguar por Brasília, dono de uma casa avaliada
em R$ 10 milhões no Lago Sul. Nenhum deles foi condenado e Dirceu não
os perdoa. Desabafo José Dirceu tem dito que paga o pato pelo cargo importante que
ocupava. Apesar do desabafo, vai acatar a decisão. E homem de partido,
não pensa em delação premiada. Confissão Aos que ouviram o ex-todo poderoso, ficou notório
que, ao apontar os
cabeças, Dirceu confessou que conhece o esquema que sempre negou.
É o que dá fazer política na base do impulso, da demagogia, da improvisação. Não se poderia esperar dos populistas gramscianos melhor exemplo de descoordenação de políticas do que esses impulsos irracionais que não tomam por base estudos técnicos e planejamento irracional.
Enfim, não se poderia esperar outra coisa do MEC atual, passado, futuro, o formigueiro caótico das "saúvas freireanas". Eles ainda vão conseguirafundar ainda mais a educação no Brasil.
Aliás, pelo que já fizeram, do pré-primário ao pós-doc, já ganharam todos os prêmios de crescimento da mediocridade e de erosão de qualidade. Vamos para o brejo, relativo e absoluto na área do ensino.
Paulo Roberto de Almeida
Não há recursos para as cotas
Editorial, O Estado de S.Paulo, 07 de novembro de 2012
Quando o governo divulgou o decreto e a portaria que
regulamentam a Lei de Cotas, que reserva 50% das vagas em universidades
federais a estudantes oriundos da rede pública de ensino médio e a
estudantes pobres, pretos, pardos e indígenas, alguns reitores
reclamaram que não dispunham de recursos suficientes para custear as
aulas de reforço, oferecer cursos de nivelamento e oferecer moradia e
alimentação para os cotistas.
O mais veemente foi o reitor Roberto Salles, da Universidade Federal
Fluminense. Ele reclamou da insuficiência de verbas do Programa Nacional
de Assistência Estudantil (Pnaes) e afirmou que, se o governo não
garantir auxílio financeiro, muitos cotistas não conseguirão concluir os
cursos. Só o aumento das verbas evitará evasões, afirmou. "O problema é
dramático. Precisamos fazer com que o estudante continue na
universidade e se forme", diz a pró-reitora de graduação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Angela Rocha.
Em resposta, o Ministério da Educação (MEC) divulgou nota afirmando
que os recursos do Pnaes quadruplicaram, entre 2008 e 2012, e informando
que o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni) "viabilizou" a construção de moradias e
restaurantes universitários nas instituições mantidas pela União.
Duas semanas depois do início dessa polêmica, os integrantes do Fórum
Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis
(Fonaprace) fizeram as contas e divulgaram o volume de recursos de que
precisam para implementar a Lei de Cotas, como quer o Palácio do
Planalto. Segundo eles, as universidades federais precisarão de pelo
menos R$ 2 bilhões para arcar com os gastos de transporte, alimentação,
moradia e assistência pedagógica dos cotistas que ingressarão em 2013.
Esse valor é quase quatro vezes superior aos recursos previstos para o
Pnaes para o próximo ano. "Os recursos atuais de assistência estudantil
são insuficientes. Não conseguimos atender à demanda de 44% dos
estudantes das universidades federais que são das classes C, D e E",
afirma o coordenador do Fonaprace, Ronaldo Barros. "Questões sobre
bolsas, transporte, residência estudantil e necessidades de novos
restaurantes universitários têm impacto nas contas da universidade", diz
o pró-reitor de graduação da Universidade Federal do Ceará. Isso mostra
que eram os reitores - e não os burocratas do MEC - que estavam com a
razão, na polêmica em torno das verbas necessárias para a implantação da
Lei de Cotas.
Nos debates do Fonaprace, o reitor da Universidade Federal do Ceará
fez uma observação importante. Segundo ele, quando as autoridades
educacionais começaram a pressionar os dirigentes das universidades
federais para implantar a Lei de Cotas já no vestibular de 2013, alguns
reitores reagiram com sensatez, afirmando que essa lei foi sancionada
pela presidente Dilma depois de definido o orçamento do Pnaes para o
próximo ano. Apesar da advertência, dizem os pró-reitores de assuntos
comunitários, o Palácio do Planalto continuou exigindo a implantação da
Lei de Cotas nos próximos vestibulares, ao mesmo tempo que continuou
garantindo que as verbas do Pnaes serão suficientes para atender às
necessidades das universidades.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e
especialista em gestão e avaliação educacional, Ocimar Munhoz Alavarse
lançou um alerta após a divulgação dos cálculos do Fonaprace sobre o
montante de recursos de que as instituições federais de ensino superior
necessitam para implantar a Lei de Cotas. "A cada ano teremos um
contingente maior de alunos cotistas, o que pode tornar complexo esse
problema de assistência estudantil, que não vem de hoje."
Nos três últimos anos, os vestibulares das universidades federais
foram prejudicados pelas trapalhadas no Enem. Agora, o processo seletivo
será prejudicado pela pressa com que o governo, pensando nas eleições
municipais, quis aplicar uma lei demagógica. É desse modo que a educação
tem sido gerida.
The yuan is displacing the dollar as a key currency
The Economist, Oct 20th 2012 | HONG KONG
IN TOKYO last week the bigwigs of international finance paid
close attention to a speech by Ben Bernanke, chairman of America’s
Federal Reserve. His speech urged them, in effect, to pay less
attention. Many policymakers in emerging markets complain that Fed
easing destabilises their economies, contributing to higher inflation
and asset prices. Mr Bernanke pointed out that emerging economies can
insulate themselves from his decisions by simply decoupling their
currencies from the dollar. It is their habit of shadowing America’s
currency, however loosely, that obliges emerging economies to ease
monetary policy whenever he does.
Policymakers may heed Mr Bernanke’s words—freeing them to ignore his
decisions—sooner than he thinks. In a (more thinly attended) speech on
the same day, a deputy governor of China’s central bank pointed out that
China no longer hoovers up dollar reserves with its past abandon. And
according to a new study by Arvind Subramanian and Martin Kessler of the
Peterson Institute for International Economics in Washington, DC, the
dollar’s influence is waning in the emerging world. Currencies that used
to shadow the greenback are no longer following it so closely. Some are
floating more freely. But in other cases they are steadily falling
under the spell of a different currency: the yuan.
Some inflation-prone emerging economies, such as Ecuador, have
adopted the dollar as their official currency. Others, such as Jordan,
peg their exchange rate to it. These official policies are one measure
of the dollar’s international role. Messrs Subramanian and Kessler use a
different measure, based on the way exchange rates behave in the
market. They identify currencies that tend to move in sympathy with the
dollar in its daily fluctuations against a third currency, such as the
Swiss franc. This “co-movement” could reflect market forces, not
official policies. It need not be a perfect correlation. It need only be
close enough to rule out coincidence.
Based on this measure, the dollar still exerts a significant pull
over 31 of the 52 emerging-market currencies in their study. But a
number of countries, including India, Malaysia, the Philippines and
Russia, appear to have slipped anchor since the financial crisis.
Comparing the past two years with the pre-crisis years (from July 2005
to July 2008), they show that the dollar’s influence has declined in 38
cases.
The greenback has in the past played a dominant role in East Asia.
But if anything, the region is now on a yuan standard. Seven currencies
in the region now follow the yuan, or redback, more closely than the
green (see chart). When the dollar moves by 1%, East Asia’s currencies
move in the same direction by 0.38% on average. When the yuan moves,
they shift by 0.53%.
Of course, the yuan does not yet float freely itself. Since June 2010
it has climbed by about 9% against the dollar, fluctuating within
narrow daily bands. Its close relationship with the greenback poses a
statistical conundrum for Messrs Subramanian and Kessler. How can they
tell if a currency is following in the dollar’s footsteps or the yuan’s,
if those two currencies are moving in close step with each other? In
previous studies, wherever this ambiguity arose, currencies were assumed
to be following the dollar. The authors relax this assumption, arguing
that the yuan now moves independently enough to allow them to
distinguish its influence. But some of the yuan’s apparent prominence
may still be the dollar’s reflected glory.
Outside East Asia, the redback’s influence is still limited. When the
dollar moves by 1%, emerging-market currencies move by 0.45% on
average. In response to the yuan, they move by only 0.19%. But China’s
currency will continue to grow in stature as its economy and trading
activity grow in size. Based on these two forces alone, China’s currency
should surpass the dollar as a key currency some time around 2035, Mr
Subramanian guesses. By that point, the Fed chairman will be the one
pulling in the smaller audiences.