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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 18 de março de 2014

Venezuela: companhias aereas se retraem


América Latina

Air Canada suspende voos para a Venezuela

Empresa que fazia três voos semanais entre Caracas e Toronto alega falta de segurança no país

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Manifestante queima foto do ex-presidente Hugo Chávez em Caracas
Manifestante queima foto do ex-presidente Hugo Chávez em Caracas - Reuters
A Air Canada suspendeu voos para a Venezuela, citando preocupações com a segurança do país como motivo, relata a BBC nesta terça-feira.  A companhia aérea disse que consideraria retomar as operações assim que a situação na Venezuela se estabilizar. A empresa operava três voos de ida e volta entre Caracas e Toronto por semana. Desde que começou a onda de manifestações contra o governo de Nicolás Maduro,29 pessoas foram mortas e mais de 300 ficaram feridas em seis semanas. Os manifestantes protestam contra a alta da inflação, a criminalidade, a escassez de alimentos básicos e por mais liberdade de expressão.
Em comunicado oficial, a companhia aérea canadense informou que "devido à agitação civil em curso na Venezuela, a Air Canada não pode mais garantir a segurança de sua operação e suspendeu voos para Caracas até novo aviso". O texto também avisa que os passageiros que já tinham passagens serão reembolsados ou remanejados para voos de outras empresas.

A Air Canada não é a primeira a alterar sua operação na Venezuela. Segundo a BBC, nas últimas semanas, outras companhias também reduziram suas operações, mas não as suspenderam por completo. Em janeiro, a companhia aérea equatoriana Tame suspendeu voos para Venezuela. A principal queixa das empresas diz respeito aos controles cambiais fictícios ditados pelo governo.

Galeria de fotos: Os protestos contra Maduro nos muros de Caracas
No câmbio oficial, um dólar valer cerca de 6,30 bolivarianos e no câmbio das ruas, o real, a moeda americana chega a ser comprada na escala de 1 para 70 bolivarianos – valor mais de dez vezes superior. Por terem de seguir regras fiscais e contábeis, as empresas só podem operar com o câmbio oficial do governo e acabam perdendo muito dinheiro com isso. Companhias aéreas internacionais dizem que o governo de Maduro deve a elas mais de 3 bilhões de dólares.
Maduro disse que as companhias aéreas que reduziram suas operações na Venezuela enfrentarão "medidas severas". Ele também afirmou que as “empresas que deixarem o país não irão voltar enquanto nós determos o poder”.
Regras de controles rígidas sobre divisas estrangeiras foram impostas pela primeira vez em 2003, pelo então presidente Hugo Chávez. Com isso, o governo espera conter a fuga de capitais, mas a insistente crise econômica e a falta de segurança institucional têm levado investidores a desistirem da Venezuela. Dois meses atrás, o governo introduziu novos controles cambiais e hoje é impossível comprar dólares no mercado oficial venezuelano, mas apenas vender a um preço muito abaixo do real.

Venezuela: a herança maldita de Chávez 

Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela em fevereiro de 1999 e, ao longo de catorze anos, criou gigantescos desequilíbrios econômicos, acabou com a independência das instituições e deixou um legado problemático para seu sucessor, Nicolás Maduro. Confira:

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Criminalidade alta

A criminalidade disparou na Venezuela ao longo dos 14 anos de governo Chávez. Em 1999, quando se elegeu, o país registrava cerca de 6 000 mortes por ano, a uma taxa de 25 por 100 000 habitantes, maior que a do Iraque e semelhante à do Brasil, que já é considerada elevada. Segundo a ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), em 2011, foram cometidos 20 000 assassinatos do país, em um índice de 67 homicídios por 100.000 habitantes. Em 2013, foram mortas na Venezuela quase 25 000 pessoas, cinco vezes mais do que em 1998, quando Hugo Chávez foi eleito. 

Apesar de rica em petróleo, a Venezuela é o país com a terceira maior taxa de homicídios do mundo, atrás de Honduras e El Salvador. Entre as razões para tanto está a baixa proporção de criminosos presos. Enquanto no Brasil a média é de 274 presos para cada 100 000 habitantes, na Venezuela o índice está em 161. De acordo com uma ONG que promove os direitos humanos na Venezuela, a Cofavic, em 96% dos casos de homicídio os responsáveis pelos crimes não são condenados. 


Leia

A herança maldita dos companheiros: o desastre da politica energética na eletricidade

As empresas de transmissão de energia cobram do governo uma conta de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões que, até o momento, não consta no calendário de pagamento das dívidas do setor elétrico. Esse valor refere-se à indenização, pendente, de investimentos feitos antes de 2000 pelas empresas que anteciparam a renovação de seus contratos de concessão. O número está fora de todas as previsões anunciadas pelo governo até agora e faz pesar ainda mais a conta do setor de energia elétrica. Caso o pagamento seja feito neste ano, como esperam as empresas, o governo poderá ter de recorrer ao Tesouro Nacional mais uma vez. A indenização é devida porque o governo decidiu antecipar a renovação dos contratos do setor elétrico –que venceriam entre 2015 e 2017– para baixar o preço da energia desde o início de 2013.
Inicialmente, o governo se comprometeu a bancar indenizações apenas de investimentos realizados pelas transmissoras após 2000. Ao perceber a insatisfação do setor, o governo publicou um novo decreto em que garantiu indenizar também os investimentos mais antigos feitos por essas empresas. Embora tenha conquistado aprovação maciça delas ao plano, o governo nunca chegou a divulgar quanto pagaria a cada uma. Inicialmente, o governo estimou esses gastos em R$ 10 bilhões. Os números exatos ficaram de ser levantados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), mas a agência definiu apenas quais serão os critérios usados para chegar à indenização.
A Abrate (Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica), por sua vez, estima que as nove transmissoras envolvidas no processo, juntas, teriam de receber cerca de R$ 15 bilhões. “Só a Eletrobras calcula que deva receber cerca de R$ 8 bilhões”, afirma José Cláudio Cardoso, presidente da associação. As companhias esperam uma definição do governo e o início do pagamento ainda neste ano. Para Cardoso, a solução desse impasse, que se arrasta desde 2012, é fundamen- tal para que as empresas tenham saúde financeira e mantenham seus ativos em bom estado.

Politica economica: entrevistas com economistas, 2 - Blog MansuetoAlmeida

Debate na Revista Época Negócios -2

Neste post, completo minhas impressões das dez entrevistas da revista Época Negócios com economistas de diferentes visões.
(6) Otaviano Canuto: gosto muito do Otaviano por vários motivos, dentre os quais, ele sabe escutar e debater de forma extremamente elegante. Otaviano coloca corretamente que o principal desafio para o próximo governo é revisitar o gasto público, i.e. reduzir o crescimento da despesa não financeira. Se isso não for feito, o equilíbrio virá pelo aumento da carga tributária; exatamente o mesmo ponto destacado pelo economista Samuel Pessôa.
Canuto destaca o problema da burocracia de pagar impostos no Brasil que, segundo o Banco Mundial, exige 2,6 mil homens-hora por ano. Assim, da mesma forma que Samuel, Canuto mostra que reduzir o número de impostos e a burocracia no pagamento de impostos aumentaria a eficiência das empresas.
Canuto não avança muito sobre quais gastos do setor público deveriam ser controlados, mas corretamente aponta para um amplo levantamento da eficácia das políticas públicas. Como ele fala, “há no gasto público direitos conquistados, benesses resultado de intervenções no passado que não são mais justificáveis”. Para bom entendedor meia palavra basta.
(7) Luiz Carlos Mendonça de Barros: o economista mostra a complementariedade entre os governos FHC e Lula. Um vez as reformas necessárias para o Brasil crescer e o outro deu continuidade a política econômica e ampliou os programas de transferência de renda. O resultado foi uma década de crescimento inclusivo, com o apoio do boom das commodities.
O economista mostra que o governo Dilma errou no diagnóstico do problema de crescimento do Brasil, ao incentivar a demanda quando o problema não era mais escassez de demanda. Fala que a “turma do governo” por um tempo agrediu o setor privado, mas que no período recente houve algum aprendizado, como é o caso da política de concessões. Critica também a política fiscal expansionista do governo que, na sua visão, atrapalha a tarefa do Banco Central de reduzir a inflação.
Um dos grandes equívocos da entrevista do economista é falar que o senador Aécio Neves fala através do Samuel Pessôa: reduzir salários, fazer reforma, etc. Nunca escutei algo do tipo “reduzir salários”. Mas a preocupação do economista reflete bem algo que escutei recentemente de político já aposentado: “há um programa para ganhar eleição e há outro para governar”. Será que não há como ser mais honesto com o eleitor? É isso que a sociedade de fato quer? Ótimo, então vamos discutir princípios gerais na eleição e esquecer programas de governo. Mas acho que os jornalistas não aceitarão.
No mais, outro equivoco do economista e de muitos outras pessoas é afirmar que reformas são sempre ruins e impopulares. A única forma de manter a conquista da classe média não é com mais subsídios, mas sim com o controle do crescimento do gasto, o que exigirá mudanças de regras (reformas), para que não haja um novo aumento de carga tributária. O economista fala que facilmente se recompõe o superávit primário no Brasil. Sim, com aumento de carga tributária e reversão das desonerações; mas não sei se isso é fácil como ele Mendonça de Barros afirma.
(8) Paulo Rabelo de Castro: achei a entrevista um pouco confusa e parte de um pressuposto, equivocado, que o grande problema do crescimento do gasto público está ligado a um problema de gestão. Isso não é verdade para o Governo Central. De 1999 a 2013, mais de 80% do crescimento da despesa não financeira do Governo Central decorre dos programas de transferência de renda e previdência. Poderia chamar o melhor gestor do mundo e com as regras atuais ele não poderia fazer absolutamente nada.
Confesso que não entendo quando o economista fala que o mercado bate palmas para a política econômica e para o desequilíbrio macroeconômico. Não conheço ninguém no mercado que “bate palmas para a política econômica”. Todos xingam, principalmente em ambientes fechados.
O economista critica a ênfase no aumento do primário que, segundo ele, quanto maior pior. Como assim? Ele está propondo superávit primário “zero”? aumento da dívida pública? É essa a proposta do economista Paulo Rabello de Castro?  Não, parece que ele está criticando o aumento do primário via aumento de impostos quando o caminho deveria ser cortar o gasto.
OK, entendi. Mas cortar quais gastos? Bom, o economista fala que a despesa corrente do governo está descontrolada mas não fala exatamente “qual despesa corrente”. Passa a impressão que um choque de gestão resolve tudo e critica o senador Aécio por não falar como vai reduzir a despesa com juros do setor público para em seguida falar que o governo Dilma tentou reduzir os juros de forma voluntariosa e errou. Mas esse é o debate.
O Brasil só conseguirá reduzir juros com um superávit primário maior que reduza de forma mais rápida a divida bruta e líquida e é falacioso achar que o aumento do superávit primário virá integralmente de corte de gastos. Isso é impossível no curto prazo a não ser com um corte brutal dos gastos sociais. É esta a proposta de ajuste do economista?
Da mesma forma que o economista Bresser Pereira, Paulo Rabelo de Castro não acredita que nenhum dos candidatos tenha coragem de implementar o que ele defende. E o mais irônico é que tanto ele quando Bresser não concordam entre si, ou seja, não daria para eles se unirem e formarem um novo partido.
(9) Luiz Gonzaga Belluzzo: Bem no estilo Belluzzo fala que a indústria brasileira saiu derrotada nos últimos 35 anos e que adotamos políticas macroeconômicas ilusórias baseadas na valorização da taxa de câmbio e abertura da economia. Levando essa critica ao pé da letra, o ex-presidente Lula para ele foi tão ruim quanto os demais ao permitir a valorização do Real, que atrapalhou a indústria.
Esse é o problema dialético dessa turma: querem elogiar o presidente Lula mas têm vergonha da política econômica do presidente Lula baseado na expansão dos gastos sociais e do consumo com a valorização do Real. Eles queriam um Lula que tivesse olhado com amor para indústria com taxa de câmbio mais desvalorizada  e ampliado as políticas de transferência de renda e o consumo – uma combinação de políticas contraditórias. Exaltam a democracia mas sempre citam a política industrial da China como modelo.
Corretamente, o professor Belluzzo fica incomodado com o pouco esforço inovador do empresariado brasileiro. Por que será? Talvez porque não precise ser tão inovador dado o nível de proteção que temos. Mas ele tem razão quando fala da necessidade de incentivos à inovação a fundo perdido – todo mundo concorda.
O professor escorrega quando parte para afirmações vagas quando é questionado sobre inflação e diz que não vai entrar no fetichismo dos números. Pelo santo Deus o que é isso? Diz que a inflação não pode sair do controle, mas parece mostrar um certo saudosismo do crescimento com inflação de 10% ao ano!! Mas pelo menos reconhece a necessidade de um ajuste fiscal, embora não diga como fazê-lo.
Por fim, diz que não vê consistência nos candidatos da oposição e externa a esperança que a presidente Dilma seja “mais política e menos operacional”. O que isso significa? Será que o professor reprova a atuação de nossa presidenta como economista?
(10) João Paulo dos Reis Velloso: Tenho um grande respeito pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso e por continuar participando ativamente do debate econômico. Fala que no Brasil de hoje não temos uma visão estratégica e que há uma preocupação excessiva com o curto-prazo. É verdade.
Apesar de o seu foco em planejamento e no longo prazo, fala que temos problemas macroeconômicos e que a área fiscal está sendo mal conduzida. Acredita que qualquer um dos candidatos pode fazer as reformas necessárias, i.e. construir um plano estratégico de crescimento desde que haja vontade.
Comete um deslize ao ligar o problema do gasto público e o baixo investimento com o número de ministérios. O seu irmão Raul Velloso mostra como outros analistas que o que pesa são as transferências para famílias. Assim, fechar ministérios ajuda, dá um sinal positivo de austeridade, mas não resolve o problema. No mais, defende uma reforma trabalhista, algo que nenhum dos outros economistas falou.
Minhas considerações finais
O esforço da revista foi muito bom e, mais uma vez, gostaria de parabenizar os editores e os repórteres, dentre os quais José Paulo Kupfer, Cristiane Barbieri, Darcio Oliveira, David Cohen e Marcelo Cabral pelo trabalho.
Como já comentei antes, não vi ninguém elogiando a política macroeconômica do governo Dilma e notei que vários falam do resgate de credibilidade. A questão fiscal é minimizada por apenas dois dos dez economistas entrevistados: (1) Luiz Carlos Mendonça de Barros, que acredita ser fácil resolver o problema, e (2) Paulo Rabello de Castro que não aceita aumento do primário pelo aumento da receita.
Outros falam da importância de aumentar o primário mas não dizem como: (1) Reis Velloso, (2) Belluzzo, (3) Otaviano Canuto, (4) Bresser; (5) Delfim e (6) André Lara Resende.
Apenas dois entrevistados, Samuel Pessôa e Nelson Barbosa, são mais explícitos ao afirmar que há necessidade de controlar o crescimento dos gastos sociais, caso contrário, o equilíbrio virá exclusivamente pelo aumento da carga tributária. Coincidentemente ou não, os dois economistas conversam todas as segundas no IBRE-FGV.
Não podemos dizer que dessas entrevistas sai um modelo ou um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil. Luiz Carlos Mendonça de Barros fala em manter as conquistas de FHC e Lula mas não fala como; Bresser tem um modelo analítico na cabeça mas falta um político que compre a ideia e um eleitor que olhe mais para o futuro do que para o presente; Belluzzo insiste na importância da indústria e da taxa de câmbio desvalorizada na linha do professor Bresser; mas não entra em detalhes para escapar do fetichismo dos números e nem explica como renegociar o contrato social.
No final, chega-se facilmente a uma conclusão. Os políticos parecem ter uma ideia melhor do que fazer e o que não fazer do que os economistas. No mais, ninguém fez menção a “nova matriz econômica” que, como já comentei antes, é uma agenda cada vez mais sem paternidade. Em algum momento teremos que fazer um teste de DNA.

Politica economica: entrevistas com economistas, 1 - Blog Mansueto Almeida

Debate na Revista Época Negócios – 1

EpocaA última edição da Revista Época Negócios nas bancas traz dez entrevistas com economistas de diferentes tendências e afinidades eleitorais. Antes de comentar as entrevistas, é preciso enfatizar que a  revista está de parabéns por promover esse debate eclético com economistas que pensam de forma diferente. Infelizmente e, ao contrário do Estadão, as entrevistas não estão disponíveis no sitio da revista para não assinantes.
Pelo que li não vi ninguém elogiando a política macroeconômica do Governo Dilma e me assustei com alguns diagnósticos errados (vou falar quais) de economistas famosos e propostas sem candidatos, i.e. propostas de alguns economistas que não têm respaldo de nenhum dos candidatos, como eles próprios reconhecem.
Escrevo abaixo o primeiro post com a minha impressão pessoal das entrevistas. Repito, interpretação “pessoal”, a minha compreensão que pode ser diferente da sua que lê este post. A sua pode ser muito melhor do que a minha.
(1) André Lara Resende: o economista destaca os mesmos pontos que destacou na sua entrevista ao Estado de São Paulo da semana passada. Afirma que a poupança no Brasil é baixa e que há um excesso do crescimento do gasto corrente em detrimento do investimento. Adicionalmente, mostra que o Brasil está preso na armadilha da renda média e que ,para crescer mais rápido, precisa aumentar o investimento e aumentar a produtividade do trabalho através da educação de qualidade.
Em relação ao crescente esforço do governo Dilma para se aproximar do mercado, Lara Resende achou que foi uma tentativa tosca e insincera. O economista fala que não acredita em soluções heróicas em 2015 (mas quem acredita?) e que é preciso o país ter uma visão de longo prazo, que hoje não existe. No mais, o economista fala que defede uma alternância de poder e que confia nos dois candidatos da oposição para arrumar a casa, apesar de sua simpatia maior pelo candidato do PSB.
(2) Delfim Netto: começa falando que a situação não é trágica. Quem fala que a situação é trágica? Pelo que sei são muito mais pessoas simpatizantes do governo que acreditam que só poderemos crescer com uma taxa de câmbio de mais de R$ 3,20/US$ 1  (Bresser) e com uma forte recuperação da indústria (Belluzzo).
Economistas que fazem contas sabem que a situação atual do Brasil é muito melhor que em 1995 e 2002, e que poderia estar ainda melhor se não fosse o voluntarismo errado da política econômica pós-2009. Delfim critica a falta de diálogo do governo Dilma com o empresariado e critica menos a situação fiscal do que eu esperaria, dado o que ele escreve sobre o assunto.
Delfim, por exemplo, é um dos grandes críticos da contabilidade criativa e por mais de uma vez já externou preocupação com o uso excessivo que se fez de bancos públicos. E fala de forma clara e educada: “60% de divida bruta é um número um pouco alto para país emergente”. Na verdade, não é pouco é MUITO. O Brasil e Índia são os dois países emergentes de maior dívida bruta como porcentagem do PIB -olhem os dados do FMI.
O professor fala de forma clara que o governo precisa anunciar o superávit primário e cumprir, e fala que os três candidatos têm condições de fazer os ajustes. Aqui vou usar inside information. Em 2011 ,conversei com o professor Delfim em um dos nossos encontros na FIESP e ele estava absolutamente convicto que o governo Dilma retomaria a agenda de reformas do primeiro governo Lula.
Não retomou e apenas no final do mandato o governo começou o processo de concessões. Se em um eventual segundo governo Dilma a política econômica será mais do mesmo ou algo radicalmente diferente ninguém sabe, nem economistas do próprio PT que converso em encontros fechados. O professor Delfim fala que podemos crescer mais se “tomarmos as medidas certas”. Embora ele não detalhe quais são as medidas certas, sei que no diagnóstico do professor isso passa por redução do gasto público (o que pega programas sociais) e redução de carga tributária.
A propósito, vale a apena destacar que o professor Delfim junto com o economista Fábio Giambiagi tentaram implementar a ideia de uma juste fiscal gradual em 2005 que foi chamando pela então ministra Dilma Rousseff como um “plano rudimentar”.
(3) Nelson Barbosa: Na minha visão, Nelson aqui na Época Negócios foi muito mais crítico do que sua entrevista ao Estado de São Paulo. Para quem esperava uma defesa fervorosa da política macroeconômica do governo atual, Nelson critica a política de contenção de reajuste da energia e dos combustíveis; critica o fato de o custo das térmicas não ter sido repassado já este ano para os consumidores, fala que é preciso ter metas de primário e inflação como referências e mostra que “ajuste fiscal” vai exigir mexer nos programas sociais: abono salarial, seguro desemprego e previdência.
No mais, defende mudanças no uso excessivo do BNDES e quando perguntam se o candidato Aécio poderia cortar a carga tributária, Nelson fala que não no início do mandato mas talvez ao longo do mandato. Não entendi o porque da pergunta porque nunca vi Aécio defender corte imediato de carga tributária e todos sabem que Nelson Barbosa junto com Henrique Meirelles está no grupo que conversa frequentemente com o ex-presidente Lula e ainda tem forte interlocução com o governo (mas não com o Arno Augustin).
Ao contrário do que a imprensa pensa -que economistas de escolas diferentes se encontram para trocar socos- há pouco mais de um mês Eu, Samuel Pessoal e Nelson Barbosa participamos de um debate fiscal fechado na FGV e foi muito bom, com mais convergência do que divergência. O mesmo aconteceu em um debate que participei com Bernard Appy em Dezembro em São Paulo, mais convergência do que divergência.
No mais, Nelson enfatiza que o problema fiscal não é só de gestão, o que concordo 100%. Quem discorda disso é justamente que não olha os dados das contas públicas com cuidado, por isso que Nelson Barbosa passou a defender mudanças nos programas sociais e reforma da previdência!! Isso mesmo: REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Será que Nelson bebeu do veneno dos “neoliberais” e seu coração foi roubada pela bruxa do conto de fadas da terra dos economistas mágicos?
(4) Samuel Pessoa: Samuel destaca os pontos que já vem destacando nas suas entrevistas, enfatizando uma reforma tributária voltada para simplificação tributária e não para redução da carga tributária, pois  não há espaço fiscal para reduzir a carga tributária no momento. Tanto ele quanto Nelson Barbosa reconhecem que é preciso aumentar a arrecadação com a reversão de várias desonerações concedidas ao longo do governo Dilma.
Samuel mostra que o problema do crescimento do gasto público não é decorrente de um inchaço da máquina pública e sim de regras que determinam o crescimento do gasto social. Acho que todos os economistas que aprenderam fazer a contas e debatem sobre política fiscal – Eu, Samuel, José Roberto Afonso, Nelson Barbosa, Bernard Appy, Marcos Lisboa, Fernando Rezende, Raul Veloso, Fábio Giambiagi entre outros  temos o mesmo diagnóstico.
No mais, Samuel critica as politicas que ele chama de nacional desenvolvimentista e mostra que a visão desse tipo de política é o que diferencia as candidaturas. Quem quer que seja o próximo governante vai continuar com a agenda social mas com ajustes, caso contrário caminharemos para uma crise ou para um elevado aumento de carga tributária.
A propósito, quando Samuel fala a verdade irrita economista que falam da boca para fora em ajustar o modelo macroeconômico mas não falam do problema do crescimento do gasto social e nem da carga tributária. Se Samuel mentisse, esses economistas achariam muito bom. As pessoas gostam de economistas mentirosos.
(5) Luiz Carlos Bresser Pereira: Eu pensava que o ex-ministro Bresser fosse defender o governo Dilma como tantas vezes fez com o modelo Argentino. Para minha decepção ele fala claramente em desajuste macroeconômico decorrente do elevado déficit em conta corrente e do elevado déficit público. Ele bebeu do veneno neoliberal? não, mas comunga em parte com a agenda que tanto critica.
O interessante é que o  professor não acredita que nenhum dos candidato teria condições ou vontade de adotar o modelo que ele propõe: forte desvalorização da taxa de câmbio, com aumento do superávit primário e com imposto sobre commodities. Uma política de “issimos”: ajuste fiscal fortíssimo com um ajuste do câmbio fortíssimo. Critica a suposta política do senador Aécio porque acha que os “economistas liberais” que assessoram o candiato farão apenas um ajuste fiscal sem o ajuste cambial.
O engraçado é que o professor diz que é contra “cortar a previdência” mas não fala o que faria. Mas ninguém de bom senso fala em cortar previdência, mas sim em controlar o crescimento do gasto, inclusive sociais e previdência. O professor quer ajustes fortíssimos, mas não tem a mínima ideia do que fazer.  O que é engraçado é que a proposta de um pacote vem de um heterodoxo e não de um ortodoxo – o Plano Bresser para o crescimento é algo mais radical do que o que se discute em qualquer um dos partidos e ele sabe que o seu plano, no curto prazo, implica em queda do salário real. Será que o eleitor quer isso? Duvido porque na urna o eleitor que mais aumento de salário mínimo e quer consumir mais HOJE.
Vou parar aqui e, mais tarde, comento as outras cinco entrevistas que faltam. Como vocês podem notar, até agora nenhum dos entrevistados saiu defendendo a política macroeconômica do governo Dilma ou a “nova matriz econômica”. Assim, por enquanto, respondendo a provocação amigável do jornalista José Paulo Kupfer, o meu recibo continua sendo o mesmo que escrevi sobre as entrevistas do Estadão.

Heranca maldita dos companheiros: o desastre da politica energetica nos combustiveis

Política do governo prejudica Petrobras e etanol, diz analista

Folha de S.Paulo, 16/3/14


Para executivo da AIE, política do governo afeta tanto investimentos nas usinas como na exploração de petróleo.
O controle do preço da gasolina é um dos responsáveis pelo retrocesso do setor de etanol no Brasil. Ao lado dos problemas climáticos e da crise de 2008, a política do governo na área energética, que também cria problemas para a Petrobras, desestimula os investimentos no setor.
Parece mais uma queixa dos usineiros, mas a análise é de um dos especialistas mais respeitados no setor de energia do mundo.
Segundo Antoine Halff, chefe da divisão de Mercados da Agência Internacional de Energia (AIE), apesar das dificuldades, o país será um grande fornecedor global de etanol e petróleo no futuro.
Folha - Apesar do potencial do Brasil em etanol, há desinvestimentos no setor. Qual é o principal entrave?
Antoine Halff - É uma combinação de fatores. Isso reflete problemas climáticos, que reduziram as safras recentes, o impacto da crise financeira na indústria --muitas quebraram-- e ainda há uma herança do alto endividamento do setor. Mas também há um fator político para essa desaceleração que tem a ver com a política de preços para a gasolina. Esse conjunto tornou mais difícil para o etanol competir com a gasolina.
Os produtores também reclamam que não há uma política de longo prazo para o etanol.
Eu não diria que não há um programa. Há um mandato para a mistura da gasolina e de biodiesel nos combustíveis fósseis no Brasil. Isso tem sido um apoio --e em alguns momentos as metas tiveram de ser revistas porque eram muito ambiciosas.
Mas ele é suficiente?
Programas podem ser muito bons, mas também podem ter efeitos negativos. É preciso ser muito cauteloso, combinar ambição e modéstia. Isso soa contraditório, mas visão sem realismo pode levar ao desastre.
Um dos problemas desses programas de metas é que, quando eles são desenhados sem flexibilidade, sem considerações sobre eventuais mudanças nas condições de mercado, o governo pode ter de voltar atrás. Isso cria uma confusão muito grande nos mercados.
Então o maior problema do setor é o controle na gasolina?
Eu acho que esse não é um problema só do Brasil. Há muitas economias que têm controlado os preços da gasolina e subsidiado o consumo.
É hora de revisitar essas políticas, porque elas não são sustentáveis. No Brasil, os subsídios atrapalham a Petrobras, que tem revertido recursos que poderiam ser aplicados no desenvolvimento da exploração de petróleo para isso. Mas também prejudica a indústria de etanol, ao reduzir sua competitividade.
A Petrobras desapontou o mercado na exploração do pré-sal. Ela ainda é viável?
Eu acho que boa parte desse desapontamento é apenas um reflexo de quão altas as expectativas estavam.
Como explicar os atrasos?
Parte desse atraso reflete desafios tecnológicos, dificuldades técnicas, aumento de custos. E algumas empresas privadas estão reclamando de regulações, especialmente relacionadas à exigência de conteúdo local. Dizem que o custo disso é muito alto, proibitivo, e que isso está impedindo muitas coisas.
Mas eu acho que isso também deve ser visto sob outra perspectiva: o conteúdo local não é necessariamente um problema. O debate é mais sobre como ele foi desenhado e é implementado.
Então o sr. aprova a exigência de conteúdo local?
Acho que a ideia de conteúdo local soa muito bem como um esforço para permitir que toda a economia se beneficie desses recursos. O problema é que isso precisa ser implementado de uma forma suficientemente flexível e sofisticada para não prejudicar a economia e criar consequências indesejadas.
RAIO-X ANTOINE HALFF
CARGO
Chefe da Divisão de Indústria de Petróleo e Mercados da Agência Internacional de Energia (AIE)
CARREIRA
Francês, o executivo tem experiência de 20 anos no setor de energia, com passagens por governos, consultorias e setor financeiro.