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terça-feira, 18 de março de 2014

Politica economica: entrevistas com economistas, 1 - Blog Mansueto Almeida

Debate na Revista Época Negócios – 1

EpocaA última edição da Revista Época Negócios nas bancas traz dez entrevistas com economistas de diferentes tendências e afinidades eleitorais. Antes de comentar as entrevistas, é preciso enfatizar que a  revista está de parabéns por promover esse debate eclético com economistas que pensam de forma diferente. Infelizmente e, ao contrário do Estadão, as entrevistas não estão disponíveis no sitio da revista para não assinantes.
Pelo que li não vi ninguém elogiando a política macroeconômica do Governo Dilma e me assustei com alguns diagnósticos errados (vou falar quais) de economistas famosos e propostas sem candidatos, i.e. propostas de alguns economistas que não têm respaldo de nenhum dos candidatos, como eles próprios reconhecem.
Escrevo abaixo o primeiro post com a minha impressão pessoal das entrevistas. Repito, interpretação “pessoal”, a minha compreensão que pode ser diferente da sua que lê este post. A sua pode ser muito melhor do que a minha.
(1) André Lara Resende: o economista destaca os mesmos pontos que destacou na sua entrevista ao Estado de São Paulo da semana passada. Afirma que a poupança no Brasil é baixa e que há um excesso do crescimento do gasto corrente em detrimento do investimento. Adicionalmente, mostra que o Brasil está preso na armadilha da renda média e que ,para crescer mais rápido, precisa aumentar o investimento e aumentar a produtividade do trabalho através da educação de qualidade.
Em relação ao crescente esforço do governo Dilma para se aproximar do mercado, Lara Resende achou que foi uma tentativa tosca e insincera. O economista fala que não acredita em soluções heróicas em 2015 (mas quem acredita?) e que é preciso o país ter uma visão de longo prazo, que hoje não existe. No mais, o economista fala que defede uma alternância de poder e que confia nos dois candidatos da oposição para arrumar a casa, apesar de sua simpatia maior pelo candidato do PSB.
(2) Delfim Netto: começa falando que a situação não é trágica. Quem fala que a situação é trágica? Pelo que sei são muito mais pessoas simpatizantes do governo que acreditam que só poderemos crescer com uma taxa de câmbio de mais de R$ 3,20/US$ 1  (Bresser) e com uma forte recuperação da indústria (Belluzzo).
Economistas que fazem contas sabem que a situação atual do Brasil é muito melhor que em 1995 e 2002, e que poderia estar ainda melhor se não fosse o voluntarismo errado da política econômica pós-2009. Delfim critica a falta de diálogo do governo Dilma com o empresariado e critica menos a situação fiscal do que eu esperaria, dado o que ele escreve sobre o assunto.
Delfim, por exemplo, é um dos grandes críticos da contabilidade criativa e por mais de uma vez já externou preocupação com o uso excessivo que se fez de bancos públicos. E fala de forma clara e educada: “60% de divida bruta é um número um pouco alto para país emergente”. Na verdade, não é pouco é MUITO. O Brasil e Índia são os dois países emergentes de maior dívida bruta como porcentagem do PIB -olhem os dados do FMI.
O professor fala de forma clara que o governo precisa anunciar o superávit primário e cumprir, e fala que os três candidatos têm condições de fazer os ajustes. Aqui vou usar inside information. Em 2011 ,conversei com o professor Delfim em um dos nossos encontros na FIESP e ele estava absolutamente convicto que o governo Dilma retomaria a agenda de reformas do primeiro governo Lula.
Não retomou e apenas no final do mandato o governo começou o processo de concessões. Se em um eventual segundo governo Dilma a política econômica será mais do mesmo ou algo radicalmente diferente ninguém sabe, nem economistas do próprio PT que converso em encontros fechados. O professor Delfim fala que podemos crescer mais se “tomarmos as medidas certas”. Embora ele não detalhe quais são as medidas certas, sei que no diagnóstico do professor isso passa por redução do gasto público (o que pega programas sociais) e redução de carga tributária.
A propósito, vale a apena destacar que o professor Delfim junto com o economista Fábio Giambiagi tentaram implementar a ideia de uma juste fiscal gradual em 2005 que foi chamando pela então ministra Dilma Rousseff como um “plano rudimentar”.
(3) Nelson Barbosa: Na minha visão, Nelson aqui na Época Negócios foi muito mais crítico do que sua entrevista ao Estado de São Paulo. Para quem esperava uma defesa fervorosa da política macroeconômica do governo atual, Nelson critica a política de contenção de reajuste da energia e dos combustíveis; critica o fato de o custo das térmicas não ter sido repassado já este ano para os consumidores, fala que é preciso ter metas de primário e inflação como referências e mostra que “ajuste fiscal” vai exigir mexer nos programas sociais: abono salarial, seguro desemprego e previdência.
No mais, defende mudanças no uso excessivo do BNDES e quando perguntam se o candidato Aécio poderia cortar a carga tributária, Nelson fala que não no início do mandato mas talvez ao longo do mandato. Não entendi o porque da pergunta porque nunca vi Aécio defender corte imediato de carga tributária e todos sabem que Nelson Barbosa junto com Henrique Meirelles está no grupo que conversa frequentemente com o ex-presidente Lula e ainda tem forte interlocução com o governo (mas não com o Arno Augustin).
Ao contrário do que a imprensa pensa -que economistas de escolas diferentes se encontram para trocar socos- há pouco mais de um mês Eu, Samuel Pessoal e Nelson Barbosa participamos de um debate fiscal fechado na FGV e foi muito bom, com mais convergência do que divergência. O mesmo aconteceu em um debate que participei com Bernard Appy em Dezembro em São Paulo, mais convergência do que divergência.
No mais, Nelson enfatiza que o problema fiscal não é só de gestão, o que concordo 100%. Quem discorda disso é justamente que não olha os dados das contas públicas com cuidado, por isso que Nelson Barbosa passou a defender mudanças nos programas sociais e reforma da previdência!! Isso mesmo: REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Será que Nelson bebeu do veneno dos “neoliberais” e seu coração foi roubada pela bruxa do conto de fadas da terra dos economistas mágicos?
(4) Samuel Pessoa: Samuel destaca os pontos que já vem destacando nas suas entrevistas, enfatizando uma reforma tributária voltada para simplificação tributária e não para redução da carga tributária, pois  não há espaço fiscal para reduzir a carga tributária no momento. Tanto ele quanto Nelson Barbosa reconhecem que é preciso aumentar a arrecadação com a reversão de várias desonerações concedidas ao longo do governo Dilma.
Samuel mostra que o problema do crescimento do gasto público não é decorrente de um inchaço da máquina pública e sim de regras que determinam o crescimento do gasto social. Acho que todos os economistas que aprenderam fazer a contas e debatem sobre política fiscal – Eu, Samuel, José Roberto Afonso, Nelson Barbosa, Bernard Appy, Marcos Lisboa, Fernando Rezende, Raul Veloso, Fábio Giambiagi entre outros  temos o mesmo diagnóstico.
No mais, Samuel critica as politicas que ele chama de nacional desenvolvimentista e mostra que a visão desse tipo de política é o que diferencia as candidaturas. Quem quer que seja o próximo governante vai continuar com a agenda social mas com ajustes, caso contrário caminharemos para uma crise ou para um elevado aumento de carga tributária.
A propósito, quando Samuel fala a verdade irrita economista que falam da boca para fora em ajustar o modelo macroeconômico mas não falam do problema do crescimento do gasto social e nem da carga tributária. Se Samuel mentisse, esses economistas achariam muito bom. As pessoas gostam de economistas mentirosos.
(5) Luiz Carlos Bresser Pereira: Eu pensava que o ex-ministro Bresser fosse defender o governo Dilma como tantas vezes fez com o modelo Argentino. Para minha decepção ele fala claramente em desajuste macroeconômico decorrente do elevado déficit em conta corrente e do elevado déficit público. Ele bebeu do veneno neoliberal? não, mas comunga em parte com a agenda que tanto critica.
O interessante é que o  professor não acredita que nenhum dos candidato teria condições ou vontade de adotar o modelo que ele propõe: forte desvalorização da taxa de câmbio, com aumento do superávit primário e com imposto sobre commodities. Uma política de “issimos”: ajuste fiscal fortíssimo com um ajuste do câmbio fortíssimo. Critica a suposta política do senador Aécio porque acha que os “economistas liberais” que assessoram o candiato farão apenas um ajuste fiscal sem o ajuste cambial.
O engraçado é que o professor diz que é contra “cortar a previdência” mas não fala o que faria. Mas ninguém de bom senso fala em cortar previdência, mas sim em controlar o crescimento do gasto, inclusive sociais e previdência. O professor quer ajustes fortíssimos, mas não tem a mínima ideia do que fazer.  O que é engraçado é que a proposta de um pacote vem de um heterodoxo e não de um ortodoxo – o Plano Bresser para o crescimento é algo mais radical do que o que se discute em qualquer um dos partidos e ele sabe que o seu plano, no curto prazo, implica em queda do salário real. Será que o eleitor quer isso? Duvido porque na urna o eleitor que mais aumento de salário mínimo e quer consumir mais HOJE.
Vou parar aqui e, mais tarde, comento as outras cinco entrevistas que faltam. Como vocês podem notar, até agora nenhum dos entrevistados saiu defendendo a política macroeconômica do governo Dilma ou a “nova matriz econômica”. Assim, por enquanto, respondendo a provocação amigável do jornalista José Paulo Kupfer, o meu recibo continua sendo o mesmo que escrevi sobre as entrevistas do Estadão.

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