Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Carta Internacional: chamada para artigos
The Journal was created in 1993 by the International Research Center of USP (University of São Paulo), and since 2011 it is under responsibility of Brazilian International Relations Association.
Carta Internacional publishes papers in Portuguese and in English that have relevant contributions to development of the international relations study in Brazil.
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Carta Internacional
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Associação Brasileira de Relações Internacionais - ABRI
domingo, 14 de fevereiro de 2016
Dez grandes "derrotados" de nossa historia (agora o artigo completo) - Paulo Roberto de Almeida
Confesso que tenho duas grandes confissões a fazer: uma boa, outra menos boa. A boa é que eu gostei muito de escrever esse texto, que pode ser a base de alguma obra maior, sobre as grandes reformas nunca feitas em nosso país em 200 anos de história; ele estava há muito tempo em minha cabeça, mas nunca tinha feito sequer uma anotação para ele, pois a gente espera alguma grande oportunidade para sentar, pensar, refletir, pesquisar algumas coisas e depois elaborar algo mais estruturado. Pois bem, nunca tinha feito, pois essas oportunidades sempre são perdidas, como diria Roberto Campos.
Foi preciso receber um convite do Rodrigo da Silva, do Spotniks, para escrever um texto sobre um assunto completamente diferente para eu me decidir finalmente a escrever; e ele veio de um só jato, como se diz; escrevi durante uma noite inteira, entre meia noite e cinco da manhã, que são as minhas melhores horas de escrita (para desconforto de alguns próximos). Eu gostei muito, portanto, de ter recebido o convite, o que me permitiu "desovar" algo que estava dormindo em minha cabeça desde algum tempo.
Como sempre digo, quando me decido a escrever algo: o artigo (ou o livro) já está pronto, só me falta escrevê-lo, o que é a parte mais fácil (com alguma revisão posterior para corrigir os inúmeros erros de digitação e concordância que inevitavelmente surgem de uma escrita muito rápida, mas que não acompanha um pensamento duas vezes mais rápido).
A confissão menos boa, mas que faço mesmo assim é que não gosto do título. Não gosto de ter chamado meus dez personagens de "derrotados", ainda que estas aspas possuem um enorme significado implícito, obviamente.
Eu não considero esses brilhantes pensadores "derrotados", inclusive porque eles integram a memória coletiva de nosso povo como alguns dos melhores brasileiros que se esforçaram para fazer do país uma sociedade melhor, mais justa, mais moderna, mais conforme os valores universais do direito e da democracia.
Mas optei por deixar "derrotados" (que devem ser lidos sempre com aspas) com o objetivo precípuo de chocar, de impactar, de incitar à curiosidade os estudantes mais jovens pela história, pela obra e pelo pensamento desses brasileiros geniais, e possivelmente estimular mestrandos e doutorandos a pesquisar sobre seus projetos de reforma, e de trazer novamente à tona uma agenda inconclusa de modernização do país, de sua política e de sua economia, enfim, projetos para "civilizar" o Brasil, como diziam os primeiros pensadores da nacionalidade.
Estas são as minhas reflexões adicionais sobre esse texto que me deu imenso prazer ao "retirá-lo" de minha cabeça e colocar sob a forma de um arquivo eletrônico, agora à disposição dos interessados graças à generosidade do Rodrigo da Silva e do Spotniks.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14/02/2016
Dez grandes derrotados da nossa história (ou, como o Brasil poderia ter dado certo, mas não deu)
O Brasil, já disse alguém, não é para principiantes. Vamos admitir que a frase expresse a realidade, ainda que ela seja uma mera banalidade conceitual. A verdade é que nenhuma sociedade urbanizada, industrializada, conectada, ou seja, complexa, como são quase todas as nações contemporâneas, é de fácil manejo para amadores da vida política ou para iniciantes no campo da gestão econômica. Não deveria haver nada de surpreendente, portanto, em que o Brasil, de fato, não seja para principiantes, como dito nesse slogan tão folcloricamente simpático quanto sociologicamente inócuo.
1) Hipólito José da Costa
2) José Bonifácio de Andrada e Silva
3) Irineu Evangelista de Souza
4) Joaquim Nabuco
5) Rui Barbosa
6) Monteiro Lobato
7) Oswaldo Aranha
8) Eugênio Gudin
9) Roberto Campos
10) Gustavo Franco
Os “derrotados” do desenvolvimento brasileiro: um balanço frustrante
**Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas. Foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington (1999-2003). Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
[Texto PRA: Brasília 7 fevereiro 2016, 14 p.]
Republica podre dos petralhas: uma delação quase inútil de Delcidio Amaral
O limite de Delcídio
Sentindo-se traído pelo PT e pelo Planalto, que prometeu por meio de um ministro livrá-lo da cadeia, senador já tem preparado um esboço de delação
Mel Bleil Gallo Revista IstoÉ, 12/02/2016Na última semana, depois de oitenta dias preso numa cela improvisada de menos de 20 metros quadrados na sede do Batalhão de Trânsito em Brasília, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) era um pote de mágoas. Mostrava irritação especial com a cúpula do PT e do governo. Ainda nos primeiros dias de cárcere, um ministro de Dilma fez chegar a ele um recado de que sua prisão não perduraria. A promessa era de que o governo interferiria junto ao Judiciário, nos bastidores, para afrouxar a prisão preventiva decretada pelo Supremo, após gravações mostrarem que ele estava interferindo nas investigações da Lava Jato. Em troca, o petista pouparia o partido e seus principais líderes de novos constrangimentos. O acordo não foi honrado. O rancor somado às pressões de familiares, principalmente de sua esposa Maika, levou Delcídio ao seu limite. Agora, pessoas próximas a ele dizem que o acordo de delação premiada é cada vez mais inevitável e que ele já teria estipulado até mesmo uma data para a decisão: depois do julgamento de um agravo regimental interposto contra a decisão do ministro do STF Teori Zavascki, que impediu a sua soltura no fim do ano. Se sofrer outro revés no pedido - que deve ser apreciado em breve pelo tribunal – a delação se tornará uma realidade.
Os advogados responsáveis pelo caso já começaram a relacionar as informações que ele poderá acrescentar às investigações. Ocorreram até negociações preliminares com procuradores. Um esboço do que poderá ser a delação de Delcídio está redigido e em posse de membros da força tarefa da Lava Jato. Os apelos para que o senador entre no time dos delatores e assim possa adquirir o direito à prisão domiciliar são feitos principalmente pela sua mulher, Maika. Empresária que costumava frequentar as colunas sociais de Campo Grande e os mais badalados endereços em Brasília, no Rio e em São Paulo, vem sendo hostilizada. Ao lado das filhas, se mudou do Mato Grosso do Sul para Florianópolis, onde a família possui um imóvel. Em suas conversas com o senador, Maika faz questão de lembrar o que chama de abandono a que o marido vem sendo submetido.
As visitas na prisão são autorizadas às quintas, sábados e domingos, por uma hora e meia pela manhã e pela mesma quantidade de tempo à tarde. Nenhum politico de peso ou autoridade do Planalto visitou o senador. O horário disponível é preenchido em sua maioria por seus advogados, sobretudo Maurício Leite e Antônio Figueiredo Basto, pela esposa e pelas filhas. Os dias na prisão têm sido agoniantes para Delcídio. Na cela improvisada há uma cama, um armário e uma escrivaninha, à qual o petista se senta para ler - exaustivamente, segundo relatam policiais do batalhão - as peças relacionadas a seu processo no STF. Vez por outra, tem à disposição um espaço para tomar sol, além de uma sala e um banheiro.
Conhecido pelos hábitos de bon vivant, agora Delcídio convive com uma dieta especialmente preparada de acordo com as restrições médicas alegadas por sua defesa. Um forte contraste, sobretudo se comparado a ocasiões como a festa de 15 anos da filha caçula, na qual seis chefs de cozinha diferentes prepararam mais de 30 iguarias aos presentes, regadas a champagne Veuve Clicquot e whisky Johnny Walker. Conforme relataram colunistas locais, os pratos iam de tornedores de pupunha grelhados na manteiga de sálvia a camarões da Escócia com purê de macaxeira e wasabi, além de queijos importados, foie gras e todo o mais que pudesse impressionar a elite campograndense.
A provável delação de Delcídio tem potencial devastador. Ele não deve apenas confirmar o relato de outros delatores. Deverá ir além. Próximo do governo dos últimos três presidentes, ex-militante tucano e profundo conhecedor da área de energia no País, Delcídio tem conhecimento, de fato, para confirmar se os mandatários do Planalto sabiam da existência do Petrolão e, mais ainda, se apoiaram ou se beneficiaram diretamente do esquema.
Primeiro senador encarcerado em exercício desde a redemocratização, Delcídio teve sua prisão preventiva determinada após o Supremo ter acesso à gravação de uma conversa entre o petista e Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. No encontro, realizado no dia 04 de novembro do ano passado, no Hotel Royal Tulip em Brasília, Delcídio ofereceu a Cerveró uma fuga do País além de uma mesada de R$ 50 mil, para que em troca seu nome fosse preservado na delação premiada do ex-diretor à Polícia Federal.
Economia: "Esperança decrescente no Brasil" - Arminio Fraga
Entrevista. Armínio Fraga
Arminio Fraga diz que, caso estivesse no governo, promoveria uma ‘grande mudança no regime econômico’ e alerta que o Brasil ‘está correndo bastante risco’
'Levy jogou na defesa, eu ia jogar no ataque'
FERNANDO DANTAS / RIO - O ESTADO DE S.PAULO
O Estado de S. Paulo, 13 Fevereiro 2016 | 15h 52
Ex-presidente do Banco Central e apontado para ser ministro da Fazenda caso Aécio Neves vencesse as eleições de 2014, Arminio Fraga considera o atual momento político-econômico brasileiro pior do que o início dos anos 90, quando, em plena hiperinflação e moratória, entrou na vida pública como diretor do Banco Central. Para Fraga, o Brasil perdeu o rumo durante o governo Lula, e acordou num “pesadelo de um país paralisado, com um modelo ruim que não está sendo corrigido”.
Cético em relação ao novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ele diz que o antecessor, Joaquim Levy, aceitou o cargo por “coragem, com um pinguinho de sonho e loucura”. Fraga mantém-se convicto de que a situação do País seria outra em caso de vitória tucana, pois ele “jogaria no ataque”, com uma “grande mudança de regime econômico”, enquanto Levy “jogou na defesa”, para “segurar a barra e ver se conseguia ganhar tempo”. A seguir, trechos da entrevista à Agência Estado, concedida na quinta-feira, na sede no Rio da gestora Gávea Investimentos, da qual é sócio fundador.
Quais são os principais focos de preocupação econômica no mundo?
Acho que o epicentro ainda está mais na China, mas há também a sensação de que, se as economias principais derem para trás, não tem mais muito o que fazer, não há muito espaço fiscal e monetário. Não acredito que dê para ir tão longe no juro negativo, o que já vem ocorrendo em diversos países. Tem até relatórios de mercado falando que daria para ir até 4% de juro negativo, mas sou cético. Não há muita folga se tiver um problema. E todo o esforço dos bancos centrais até agora parece ter tido como efeito principal evitar outra depressão. Mas não muito mais. Do ponto de vista de inflação, pouquíssimo. Essas mudanças todas também estão afetando os bancos, que lidam com dinheiro, que está rendendo juro negativo. É uma margem de remuneração que desaparece. E aí há temores sistêmicos, envolvidos com problemas políticos de se proteger os bancos, é complicado. Outra questão é a alavancagem, que, ao contrário do que alguns suporiam, cresceu muito de 2007 para cá. Na China, por exemplo, as empresas aumentaram a alavancagem de 2007 para cá em 80 pontos porcentuais do PIB, mesmo com todo o crescimento do PIB chinês.
O sr. entrou na vida pública no governo Collor, um dos piores momentos econômico-políticos desde a redemocratização. Como compara aquela crise com a de hoje?
Sim, fui diretor do Banco Central em 1991 e 1992. O Brasil vinha de mais de dez anos de queda no PIB per capita, moratória, hiperinflação, uma situação caótica. Mas havia certa esperança de que poderia virar, já havia uma reflexão sobre a hiperinflação. Agora é muito diferente. Com a chegada do presidente Lula, parecia que o Brasil havia achado um caminho bom, com mudanças no lado social, e sem seguir a cartilha do PT, sem quebrar o Brasil. A frustração hoje é muito grande porque o Brasil chegou a bater na trave, fez vários gols nessa sequência de FHC 1 e 2 e Lula 1. Havia a sensação de que o País tinha uma agenda e de repente isso sumiu. Em algum momento, o País se perdeu completamente. Algo que veio junto com uma deterioração de costumes e da nossa política, que hoje é caótica, com quase 30 partidos. A sensação é que ninguém quer fazer qualquer passo mais ousado, qualquer sacrifício. O Brasil desembocou nessa situação meio fragilizado, dobrou as apostas todas, de expansão de crédito e fiscal, desleixo com a inflação, e acordou num pesadelo de um país paralisado com um modelo ruim, que não está sendo corrigido. É uma dinâmica econômica trágica, triste, algo inusitado para mim. Então, eu diria que, a meu ver, hoje está pior do que lá atrás, no início dos anos 90.
Como vê a questão da dívida pública?
Acho que nosso Estado está cheio de problemas, é grande, ineficaz e a dinâmica financeira é inacreditavelmente complicada. E isso em meio a uma brutal recessão. São os astros se alinhando negativamente, mas não vamos culpar o zodíaco – nós mesmos alinhamos esses astros de uma forma inimaginável, fora de qualquer proporção. Então, há essa evolução galopante da dívida federal, os Estados estão em péssima situação, e o pior é o meu querido Rio de Janeiro, porque somos de certa maneira um emirado petrolífero. O governo bloqueou as contas do Rio Grande do Sul outra vez. O governo federal não tem como ajudar. E o mal-estar vai aumentando, desordem urbana, insegurança, agora essa incrível epidemia de zika. É um quadro dramático.
O Brasil voltará a crescer num ritmo compatível com a convergência para os padrões dos países mais avançados?
Do jeito que a economia está hoje desenhada, mesmo que este ciclo passe – e não vai passar fácil –, não está com cara de que o País vai crescer muito. Há essa ideia de que possa ser cíclico, de se fazer um ajuste gradual. Na verdade, tem de ajustar muita coisa, porque senão não vai ser cíclico, não: isso é uma queda de padrão, é um degrau. Caiu e acabou. Para voltar, vamos ter de trabalhar muito.
Como viu a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa?
Achei estranho o Joaquim ter ido, e manifestei isso na época, como amigo dele. Acho que foi coragem, com um pinguinho de sonho e de loucura. Motivos bons, mas ele me surpreendeu. Infelizmente, deu no que parecia que ia dar. Porque um ministro da Fazenda, por melhor que seja, não é o presidente. Hoje, temos um novo ministro da Fazenda que foi o arquiteto de um modelo que deu errado. Portanto, tem de se provar em dobro. Como se a situação já não fosse complicada o suficiente, ele traz essa bagagem. Não é nada pessoal, tenho certeza de que ele quer acertar, mas parte em desvantagem no placar.
Barbosa tem defendido a CPMF e a reforma da Previdência. O que acha?
Não acredito que a CPMF vá resolver coisa alguma, é um imposto de péssima qualidade, cumulativo, causa distorções. O ministro está dando alguns sinais positivos, mas sem muita convicção, e tem vários públicos para agradar, inclusive o próprio PT. Nós precisamos é de uma recauchutagem geral da política econômica para dar a virada, o que passa por uma profunda reforma do Estado, que não deve acontecer sem uma importante reforma política.
O sr. não foi ministro da Fazenda por uma diferença pequena de votos entre Dilma e Aécio Neves. O que faria se Aécio tivesse ganhado?
O que eu faria é o que publiquei em artigos, inclusive no Estadão. É uma grande mudança de regime econômico, não é apertar um botão aqui e outro acolá. Precisamos de uma resposta muito mais abrangente e mais forte. Desvinculação de receitas; uma profunda reforma da Previdência, mexendo na idade e desvinculando o piso do salário mínimo; profunda reforma tributária; reforma trabalhista; abrir gradualmente a economia; desmontar a nova matriz econômica. Em paralelo a outros esforços, que trariam os juros para baixo para todo mundo. Um BNDES mais transparente e com mais rigor na análise do impacto social.
2015 foi um ano muito mais terrível do que o previsto. Isto não comprometeria também o desempenho de Aécio caso vocês ganhassem?
Nós sabíamos com bastante precisão o quadro fiscal geral. Estava claríssimo que, já durante a campanha, o governo tinha chutado o pau da barraca. O resultado disso é bem conhecido hoje. O Aécio acreditava que seria possível fazer um arranjo político bom e nós tínhamos uma proposta que creio que teria um impacto muito positivo nas expectativas, criando um círculo virtuoso. Que ia ser difícil eu não tenho dúvida, mas o clima ia mudar muito rapidamente.
O sr. diz que a vitória de Aécio poderia dar uma virada na confiança. Mas não foi isso que se tentou, sem sucesso, com a nomeação de Levy?
O Joaquim era ministro, não era presidente. E ele estava razoavelmente consciente de que a missão dele era mais defensiva do que ofensiva. Segurar a barra, ver se conseguia ganhar um tempo. Trouxe boas propostas, falou do patrimonialismo. No meu caso, ia ser diferente. Eu iria com uma equipe extraordinária, muito completa, com o presidente alinhado, com a proposta apresentada em campanha. Eu fui contratado para jogar no ataque, e não na defesa. O Joaquim foi jogar na defesa, uma opção que ele fez. Eu respeito.
Qual sua visão sobre o impeachment?
A minha posição é institucional. Acho que é legítimo, desde que ocorra dentro do devido processo. Se acontecer, é porque tinha de acontecer, e eu não teria medo, desde que fosse assim.
Como avalia a situação inflacionária?
Estamos falando de dois, três anos de profunda recessão com a inflação alta. Alguns preços que estavam represados foram liberados, isso foi importante, e o câmbio se depreciou, como tinha de acontecer. Feitos esses ajustes, daqui para a frente a inflação tenderia a cair. Isso é possível, mas não é certo. As expectativas ainda estão muito voláteis. Esse estado de estagflação pode se prolongar, inclusive com pressões no câmbio. Estamos correndo bastante risco. Com essa recessão, a inflação deveria estar caindo bem mais.
E a atuação do Banco Central?
Entendo a dificuldade do BC nos anos recentes, num quadro bastante esquizofrênico. Você quer segurar a inflação, e o governo expande mais o crédito dos bancos públicos, expande o fiscal, faz pedalada, etc. É uma tarefa muito inglória. Nesse contexto, o Banco Central teve, sim, alguns momentos de fraqueza, lamentavelmente. Mas muitos BCs têm. O Banco Central não é o nosso maior problema.
O sr. tem alguma esperança no Brasil?
Decrescente.
Impeachment: existe luz no fim do túnel do TSE? - Revista IstoÉ
Brasil
O novo pesadelo de Dilma
Situação da presidente nunca foi tão desfavorável no TSE. Enquanto processos da Lava Jato se avolumam, o ministro Gilmar Mendes prepara-se para assumir o tribunal e conduzir o processo com o devido rigor
A decisão do Supremo Tribunal Federal de alterar o rito do processo de cassação na Câmara dos Deputados jogou uma ducha de água fria no impeachment, mas não representou o fim de outro pesadelo para a presidente Dilma Rousseff. A partir de maio, um novo fantasma voltará a assombrar o Planalto: o ministro que tem defendido o necessário rigor na apreciação das contas eleitorais presidirá o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mendes chegará ao comando da Corte no exato momento em que lá se julgará a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) contra Dilma e seu vice, Michel Temer. A denúncia, uma das quatro ingressadas pelo PSDB, acusa a chapa da petista de abuso de poder econômico, político e uso de recursos desviados de estatais na campanha. Foi justamente Gilmar Mendes que fez com que o processo prosperasse. Em outubro do ano passado, Mendes convenceu a maioria dos integrantes do tribunal a reabrir o caso, que havia sido arquivado pela ministra Thereza de Assis de Moura por falta de provas. O problema para o governo é que de lá para cá a situação de Dilma no tribunal só se agravou graças ao compartilhamento de informações obtidas pela Lava Jato. Técnicos do tribunal esquadrinham delações, documentos, interceptações telefônicas e sentenças do Petrolão para encontrar elos com recursos que ingressaram ou saíram das contas da chapa da petista ao Planalto. Mensagens de Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, sugerem que parte do suborno por contratos da Petrobras abasteceu o caixa oficial da campanha de Dilma. O próprio empreiteiro também confirmou, em depoimentos de delação premiada, a prática irregular. Disse que sofreu coação para doar R$ 10 milhões. A UTC doou 7,5 milhões. Só não deu mais, porque seu dono foi preso. A defesa de Dilma e Temer maneja para que este material não seja usado. Argumentam não haver relação entre os processos penais do Petrolão e a ação sobre irregularidades eleitorais, justificativas rechaçadas pelo procurador Eugênio Aragão. Agora, terão de convencer o colegiado do Tribunal Superior Eleitoral, presidido por Gilmar Mendes. Uma eventual condenação pode levar o País a uma nova eleição – e é nisso que a oposição hoje aposta suas fichas.
A ascensão de Gilmar Mendes em um momento tão decisivo acende o sinal de alerta no Planalto. Em decisões e entrevistas, ele já condenou a forma com que o Partido dos Trabalhadores e seus aliados montaram um esquema de desvios de recursos públicos para financiamento de campanha eleitoral. “Ladrões de sindicato transformaram o País em um sindicato de ladrões”, chegou a declarar. Na presidência do TSE, Gilmar Mendes poderá comandar mais de perto o andamento dos processos de cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer que tramitam na Corte. O principal deles, em que Dilma já recebeu intimação para produzir provas de defesa, questiona uma série de irregularidades. A chapa de Dilma e Temer teria mentido nos programas eleitorais. Beneficiou-se do uso de cadeia nacional. Não conseguiu comprovar despesas de campanhas, como o uso de gráficas fantasmas, entre outras práticas ilícitas. Aos procuradores, o dono da UTC indicou que parte dos R$ 26,8 milhões que o PT pagou a VTPB Serviços Gráficos e Mídia Exterior teve origem no Petrolão. Só a campanha de Dilma desembolsou para a VTPB quase R$ 23 milhões, dinheiro que daria para imprimir 368 milhões de santinhos. O montante é duas vezes e meia o total de eleitores habilitados no País. Não será fácil explicar.