Minha observação é que esse balanço não se aplica apenas ao governo Dilma, mas ao "universo mental" (que reputo deformado) de toda a diplomacia lulopetista, pois Madame Pasadena nunca mandou nada, de fato, em seu governo, pelo menos não em política externa, onde o partido decidia qual deveria ser a linha a ser imposta à diplomacia profissional, e essa linha era a do "comitê central" do partido neobolchevique, mas fortemente influenciada, quando não dirigida, pelos companheiros de outras paragens.
A cidadania precisa se dar conta de uma triste realidade: assim como fomos governados, desde 2003, por uma organização criminosa -- e repito, um partido mafioso --, na política externa estivemos subordinados a interesses que não eram apenas os nossos, ou mais exatamente os do Brasil, e sim os de um grupo obscuro de mandantes na política externa que deram uma orientação bolivariana, para não dizer castrista.
Como sempre, assino embaixo do que escrevo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de setembro de 2016
Balanço da política externa do governo
Dilma
Nunca antes o interesse nacional foi deixado em
segundo plano como nos últimos anos
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 13/09/2016
Para que a opinião pública saiba a extensão da crise em que o
Brasil se encontra depois de 13 anos de governos do PT, cabe fazer um balanço
em outras áreas, como está sendo feito na economia. A política externa foi um
dos pontos mais vulneráveis do governo Dilma, pelos erros e equívocos que se
repetiram e pelos minguados resultados que apresentou. Pouco restou das
bravatas repetidas por Lula de querer liderar a América do Sul, de mudar o eixo
da dependência externa econômica e comercial do Brasil e de contribuir para
modificar a geografia política no mundo.
Durante os cinco anos de seu governo, a presidente Dilma Rousseff
resumiu sua política externa como a “busca de inserção soberana do Brasil no
cenário internacional, pautada pela ética e pela busca de interesses comuns”.
Ela manteve intacta a política externa dos oito anos do presidente Lula. Essa
política foi diferente das anteriores não pelas prioridades – que eram as
mesmas –, mas pelas novas ênfases como resultado da forte influência partidária
sobre o Itamaraty.
Na realidade, demos as
costas a importantes nações democráticas e abraçamos regimes de clara
inclinação totalitária, em flagrante contraste com as melhores tradições da
nossa diplomacia. A partidarização da política externa teve consequências severas
na política de comércio exterior: acentuou o isolamento do Brasil e do Mercosul
nas negociações comerciais; empobreceu nossa pauta de comércio, ao invés de
dinamizar trocas e oportunidades. Foi mantida a estratégia de negociações
comerciais, que isolou o Brasil. Deixaram de ser cumpridos os princípios
constitucionais de não ingerência e defesa da soberania, seguidamente
desrespeitados nos governos do PT no altar da ideologia. A credibilidade, a
independência, o equilíbrio e os valores (democracia e direitos humanos), que o
PT dizia apoiar internamente, não foram respeitados na política externa.
No concerto das
nações, nos últimos cinco anos o Brasil retraiu-se e baixou a voz, reduzindo
sua contribuição nas grandes discussões do cenário internacional. Na região,
assumiu uma agenda que não é a nossa e, por isso, a ação do Itamaraty se tornou
passiva e reativa, deixando o Brasil a reboque dos acontecimentos: prevaleceram
as afinidades ideológicas e a paciência estratégica, que prejudicaram o
processo de integração regional e paralisaram e desfiguraram o Mercosul,
deixando-o sem nenhuma estratégia. O isolamento do Brasil, que em 13 anos
negociou apenas três acordos de livre-comércio, prejudicou os interesses
públicos e privados nacionais. As ações de política externa nas negociações
comerciais continuaram a privilegiar os interesses político-partidários, e não
o interesse nacional. O governo Dilma não buscou inserir os setores industriais
e de serviços nos grandes centros difusores de tecnologia. Deixando de
participar das negociações de acordos preferenciais de comércio e das cadeias
produtivas de alto valor agregado, o Brasil perdeu espaço no comércio global.
Partidária, a política
externa do PT quebrou o consenso interno porque faltou equilíbrio entre a defesa
de princípios permanentes e do interesse nacional. Os resultados da política
externa, nos últimos cinco anos, não corresponderam à importância que o Brasil
tem na região e no mundo. Deve-se reconhecer que houve avanços e alguns êxitos
quando o Itamaraty pôde atuar como principal formulador da política externa. Os
retrocessos ocorreram nas áreas em que as políticas tradicionais foram
influenciadas por tendências partidárias, como no Mercosul, na integração
regional, nas relações comerciais com a África e com o Oriente Médio, na
estratégia de negociações comerciais, no sumiço do Brasil no cenário
internacional causando a perda de credibilidade do Itamaraty, tanto interna
quanto externamente.
Talvez o incidente
diplomático mais grave durante o governo Dilma tenha sido a questão da
espionagem da NSA no governo e em empresas brasileiras. A decisão final do
governo brasileiro de adiar a visita de Estado a Washington fez com que acordos
e interesses brasileiros não avançassem, assim prejudicando nossos interesses.
Alguns exemplos
mostram como o interesse nacional foi sempre deixado em segundo plano nos
últimos anos: o financiamento de cerca de US$ 950 milhões para o porto de
Mariel, em Cuba, pelo BNDES; o perdão de US$ 900 milhões de dívidas de 12
países africanos (só o autoritário Congo se livrou de US$ 352 milhões); o
pagamento de US$ 434 milhões adicionais ao governo boliviano pela compra do gás
natural, como parte de acordo de 2007 entre Lula e Evo Morales; e a suspensão
do Paraguai para permitir o ingresso da Venezuela como membro pleno do
Mercosul.
Nunca antes na
História deste país a Presidência influiu tanto nas questões que cabe ao
Itamaraty analisar e recomendar cursos de ação à chefia do Executivo para as
tomadas de decisão. Não é segredo o desapreço com que o Itamaraty foi tratado
pela presidente Dilma Rousseff nos últimos anos e a pouca importância que foi
dada às posições tradicionais recomendadas pela Chancelaria nos problemas que
afetam diretamente o interesse nacional. O Itamaraty deixou de ser o primeiro
formulador e coordenador em matéria de projeção internacional do País, em razão
de interferências indevidas em seu trabalho analítico e em seus processos
decisórios.As novas diretrizes de política externa do governo de Michel Temer
afastam a influência partidária e retomam as prioridades do interesse
brasileiro. As decisões de ampliar a coordenação na área externa com a
transferência da Apex para o Itamaraty e da Camex para a Presidência da
República, com a secretaria executiva na Chancelaria, recolocam agora o
Ministério das Relações Exteriores no lugar central que havia perdido.
*Presidente do
Conselho de Comércio Exterior da Fiesp