O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 30 de abril de 2017

Atualizando Lattes: numeros e titulos da producao (seletivamente) - Paulo Roberto de Almeida

Passei parte do dia atualizando o CV Lattes, o que ainda não havia feito este ano, registrando os trabalhos do primeiro quadrimestre de 2017, e aproveitando para ver onde andava o velocímetro, ou o contador dos diversos trabalhos publicados.
Transcrevo aqui alguns dos resultados (mas apenas os mais recentes e os primeiros): 


Artigos completos publicados em periódicos
1. RBPI: itinerário de uma revista essencial. Mundorama (25/04/2017; link: <http://www.mundorama.net/?p=23514>)
2. O que esperar de 2017: economia e política internacional?.  Mundorama (21/03/2017; link: http://www.mundorama.net/?p=23347).

3.  The Great Destruction in Brazil: How to Downgrade an Entire Country in Less Than Four Years, Mundorama (n. 102, 1/02/2016, ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/02/01/the-great-destruction-in-brazil-how-to-downgrade-an-entire-country-in-less-than-four-years-by-paulo-roberto-de-almeida/).
(...)
338. O Momento Político Brasileiro: Notas sobre a conjuntura política atual. Plural, São Paulo, v. 1, n.2, p. 89-95, 1978.
339. Soljenitzyn nas pegadas de Lênin. Opinião, São Paulo, v. 181, n.23 abril, p. 23-24, 1976.
340. La Fable du Miracle Économique: le développement de l?économie mondiale capitaliste au Brésil. America Presse, Paris, v. 14, n.Avril-Mai, p. 4-5, 1974.
341. L'Etat Brésilien. La Revue Nouvelle, Bruxelles, n.11, p. 426-432, 1973.

342. Le Brésil: un miracle aux pieds d'argile. L'Entreprise et l'Homme, Bruxelles, v. 9, Novembre, p. 466-472, 1973.

Livros publicados/organizados ou edições
1. (org./autor) O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos. 1. ed. Curitiba: Appris, 2017. v. 1. 373p .

2. Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht: Essays über die Auslandsbeziehungen und Außenpolitik Brasiliens. 1. ed. Sarrebrucke: Akademiker Verlag, 2015, 206p .

3. Révolutions Bourgeoises et Modernisation Capitaliste: Démocratie et autoritarisme au Brésil. 1. ed. Sarrebruck, Alemanha: Éditions Universitaires Européennes, 2015. 390p .

4. Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais. 1. ed. Curitiba: Appris, 2014, 289p .
(...)
28. Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização. 1. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998, 360p .

29. Mercosul: Fundamentos e Perspectivas. 1. ed. São Paulo: LTr, 1998, 160p .
(...)

33. O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras. 1. ed. São Paulo: Editora Aduaneiras, 1993, 204p .

Capítulos de livros publicados
1. Roberto Campos: o homem que pensou o Brasil. In: Paulo Roberto de Almeida (org.). O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos. 1ed. Curitiba: Appris, 2017, p. 19-33.

2. Roberto Campos: uma trajetória intelectual no século XX. In: Paulo Roberto de Almeida (org.). O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos. 1ed. Curitiba: Appris, 2017, p. 203-256.

3. Bretton Woods: o aprendizado da economia na prática. In: Ives Gandra da Silva Martins; Paulo Rabello de Castro (orgs.). Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100. 1ed. São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017, p. 52-56.

4. Fundando um banco de desenvolvimento: o BNDE. In: Ives Gandra da Silva Martins; Paulo Rabello de Castro (orgs.). Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100. 1ed. São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017, p. 71-74.

5. Roberto Campos: receita para desenvolver um país. In: Ives Gandra da Silva Martins; Paulo Rabello de Castro (orgs.). Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100. 1ed. São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017, p. 245-248.

6. Oswaldo Aranha: in the continuity of Rio Branco?s Statesmenship. In: José Vicente Pimentel (org.). Brazilian Diplomatic Thought: policymakers and agents of Foreign Policy (1750-1964). 1ed. Brasilia: Funag, 2017, v. 3, p. 685-730 (available: http://funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-EN/livros/PDB-Ingles-VOL-3.pdf).

7. O pensamento estratégico de Varnhagen: contexto e atualidade. In: Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.). Varnhagen (1816-1878): diplomacia e pensamento estratégico. 1ed.Brasília: Funag, 2016, p. 125-197 (disponível: link: http://funag.gov.br/loja/download/1156-varnhagen-1816-1878.pdf).
(...)
117. Os Anos 80: da nova Guerra Fria ao fim da bipolaridade. In: Flávio Sombra Saraiva (org.); Amado Luiz Cervo; Wolfgang Döpke; Paulo Roberto de Almeida. Relações internacionais Contemporâneas: da construção do mundo liberal à globalização, 1815 a nossos dias. Brasília: Paralelo 15, 1997, p. 303-353.

118. Mercosur y Unión Europea: de la cooperación a la asociación. In: Georges Couffignal e Germán A. de la Reza (orgs.). Los Procesos de Integración en América Latina: enfoques y perspectivas. Estocolmo: Institute of Latin American Studies, University of Stockholm, 1996, p. 113-130.

119. The ?New? Intellectual Property Regime and its Economic Impact of Developing Countries: a preliminary overview. In: Giorgio Sacerdoti.(org.). Liberalization of Services and Intellectual Property in the Uruguay Round of GATT. 1ed. Friburgo: University Press of Firbourg, 1990, p. 74-86.

120. A Diplomacia do Liberalismo Econômico: As relações econômicas internacionais do Brasil durante a Presidência Dutra. In: José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.). Sessenta Anos de Política Externa Brasileira. São Paulo: Cultura Editores associados, 1990, v. 1, p. 173-210.

121. O Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes. In: Maria Angela d?Incao (org.). O Saber Militante: Ensaios sobre Florestan Fernandes. 1ed. São Paulo - Rio de Janeiro: UNESP - Paz e Terra, 1987, p. 209-229.

Textos em jornais de notícias/revistas
1.  Roberto Campos, 100 anos: atualidade de suas ideias, Mundorama (21/04/2017; link: http://www.mundorama.net/?p=23501).

2.  Roberto Campos, 100 anos: sempre atual, O Estado de S. Paulo (15/04/2016; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,roberto-campos-100-anos-e-sempre-atual,70001738944).
(...)
77. Roberto Campos: dois anos sem bons combates de idéias, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 06 out. 2003.

78. O Brasil e o Consenso de Washington, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 04 set. 2003.

79. Robert Levine: um gigante do brasilianismo acadêmico, Jornal da Ciência, Rio de Janeiro, SBPC, v. 2253, 04 abr. 2003.
80. O Brasil e o FMI: meio século de idas e vindas, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 27 jan. 2003.

81. Ricos e Arrogantes (Entrevista concedida à revista Veja: Páginas Amarelas). Veja, São Paulo, n. 723, p. 11-15, 24 out. 2001.

Apresentações de Trabalho
1. Roberto Campos, 100 anos: atualidade de suas ideias. 2017.

2. Da velha guerra fria geopolítica à nova guerra fria econômica: cenários prospectivos das relações internacionais. 2017.

3. A política externa e a diplomacia brasileira no século XXI. 2017.

4. Velhos e novos movimentos políticos na crise brasileira recente. 2016. 

5. Da democracia na América do Sul: o que Tocqueville diria das atuais mudanças políticas e econômicas no continente?. 2016.
(...)
40. O impacto da economia nas relações internacionais contemporâneas. 2012.

41. Pensamento brasileiro em Relações Internacionais. 2012.

42. A política externa das relações Sul-Sul: um novo determinismo geográfico?. 2012.

43. Brazil as a regional player and as an emerging global power: Foreign policy strategies and the impact on the new international order. 2007.

Outras produções bibliográficas
1. Volta ao Mundo em 25 Ensaios: Relações Internacionais e Economia Mundial. Hartford, CT, EUA: Autor, 2014 (livro digital).

2. Rompendo Fronteiras: a Academia pensa a Diplomacia. Hartford, CT, EUA: Autor, 2014 (livro digital).

3. Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros. São Paulo: Autor, 2014 (livro digital).

4. Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas. São Paulo: Autor, 2014 (livro digital).


Participação em eventos, congressos, exposições e feiras
1. O que esperar de 2017? Política, economia e relações internacionais. 2017. (Seminário).

2.Latin American Studies Association. Presidential leadership and economic regimes in Brazil: structural transformations, institutional building up. 2014. (Congresso).

3. Economic & Business History Society. Brazilian Economic Historiography: an essay on bibliographical synthesis. 2013. (Congresso).

4.Brazilian Studies at London's King's College. Emerging Brazil: the past, the present, and the future. 2012. (Oficina).

5. Dépasser les dichotomies: (comment) penser autrement les Amériques?.La grande marche en arrière de l'Amérique Latine. 2012. (Seminário).

6. La politique extérieure du Brésil: du passé lointain au futur proche. 2012. (Oficina).
(...)
119.V° Corso sulla cooperazione e lo svluppo internazionali: Città e campagna nei processi di sviluppo.Modernisation et Urbanisation au Brésil: 1940-1990. 1990. (Simpósio).

120. V Encuentro Regional de História (Montevideu).Internacionalismo Proletário no Cone Sul: a experiência internacional do sindicalismo brasileiro no começo do século. 1990. (Simpósio).

121.Conferência comemorativa do 20° aniversário do Instituto Universitario di Bergamo.The New Intellectual Property Regime and its Economic Impact on Developing Countries. 1989. (Simpósio).

122. Europa e Brasil no limiar do Ano 2000. Retorno ao Futuro: a ordem internacional em direção do horizonte 2000. 1988. (Simpósio).

123. Seminário sobre a obra de Florestan Fernandes. O Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes. 1986. (Seminário).

124. Conferência sobre os Partidos Políticos e a Política Externa no Brasil. Partidos Políticos e a Política Externa no Brasil. 1985. (Simpósio).

(Seleção dos títulos iniciais e finais de algumas séries selecionadas)

sábado, 29 de abril de 2017

Carlos Henrique Cardim: discurso de posse na Academia Brasiliense de Letras (11/04/2017)

Meu amigo Carlos Henrique Cardim, grande intelectual, colega diplomata (embaixador) e professor de Ciência Política na UnB, tomou posse, no dia 11 de abril de 2017, como o mais novo membro da Academia Brasiliense de Letras.
Seu discurso de posse, que reproduzo abaixo é um verdadeiro monumento à inteligência, mas melhor ainda do que o texto escrito foi o seu discurso falado, entremeado e entrecortado por clins d'oeil para a plateia, ênfases nas expressões, sorrisos para a audiência e toda a simpatia exarada durante o pronunciamento.
Paulo Roberto de Almeida



Carlos Henrique Cardim
Discurso de posse na Academia Brasiliense de Letras
Brasília, D.F, 11 de abril de 2017.

A Quarta Montanha
         "No Brasil, há 4 montanhas, a serem conquistadas. A primeira educação, a segunda economia, a terceira política, e a mais elevada e íngreme das 4, a montanha da cultura". Pensamento atribuído ao Presidente Juscelino Kubitscheck.
         A realização plena de uma vida, no Brasil, na visão de JK, passa apor 4 conquistas, chegando ao quarto patamar, o planalto da cultura. Realização não para se vangloriar, para posar de superior, mas para poder criar mais livre, poder compartilhar, poder dar e poder receber.
         As Academias de Letras, as Academias de Ciências, os Institutos de Estudos estão nesta quarta montanha. Acompanhados, é claro, de suas bibliotecas.
         A escalada da quarta montanha leva a um "plateau", onde existe a possibilidade de ver, de teorizar, como disse Augusto Comte, de formular "doutrina que explicaria o conjunto do passado e obteria (...) a presidência mental do futuro".
         Melhor disse De Gaulle, ao repetir várias vezes, em sua vida pública: "Quando tudo vai mal e quando se procura uma decisão, há que olhar para o cume. Lá não há engarrafamentos". Este é um dos muitos pensamentos do grande líder francês que estão no seu diálogo com André Malraux, no notável livro "Quando os robles se abatem". E que esclarecem o De Gaulle interior. É uma obra que tem pouco precedentes, porque Voltaire se esqueceu da conversação que teve com Frederico, assim como Diderot a que teve com Catarina II.
         Desta clareza de visão deriva, igualmente, a responsabilidade do intelectual e do político sobre os resultados e conseqüências práticas de suas idéias. Como sublinhou Max Weber, a ética da convicção deve estar acompanhada da ética a responsabilidade.  
         Por falar em responsabilidade do intelectual, lembro aqui a recomendação muito concreta de Ortega y Gasett que todo acadêmico tem o dever de traduzir, ou promover a tradução, de pelo menos 1 livro importante por ano para sua sociedade.
         Por fim, sobre o tema da responsabilidade do intelectual,, é sempre bom destacar o momento no famoso "Mito da Caverna" de Platão, no qual o indivíduo que saiu da caverna e começa a ver o mundo real, com dores nos olhos ainda  acostumado à escuridão, resolve voltar para contar a seus históricos companheiros da caverna as maravilhas dos descobrimentos que está a fazer. Este é um momento de  forte generosidade, porque ele poderia ter decidido seguir caminho sozinho e solitário. É o sentimento de compromisso em compartir o bem alcançado que o  faz dar os passos de volta para contar aos amigos aquilo novo que está conhecendo.

"o gesto primário".
         O ato de posse na Academia Brasilense de Letras tem marca própria e especial, por se tratar de cerimônia com dois sentidos ao mesmo tempo.
         Primeiro sentido é, como disse Lúcio Costa no seu projeto de Brasília, "gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse, dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja o próprio sinal da cruz". Posse da cidade-capital. A maioria dos que estão aqui têm duas cidades: a natal e Brasília.
         Segundo sentido, é posse em instituição criada há cerca de 50 anos, em 1968, por grupo de intelectuais - Almeida Fischer, Hermes Lima e Cândido Mota Filho, entre outros - para promover o estudo da nossa língua e de contribuir para a elevação cultural do povo brasileiro.
         Agradeço, inicialmente, os colegas da Academia Brasilense de Letras pela indicação de meu nome para integrar o seu convívio. Agradeço em particular o Presidente da AbrL, Professor Carlos Fernando Mathias de Souza e o Padre José Carlos Brandi Aleixo, pela gentileza de aceitar falar em nome da Academia para me receber.
         A Academia Brasiliense de Letras tem a missão de ser uma das entidades fundadoras da cidade-capital. Ao fundar, também, funde talentos e aspirações vindas de todos os cantos do país.
         A partir do novo centro do país recebe, cria e irradia patrimônio cultural local e nacional.
         Vir para Brasília, no meu caso, como somente diplomata, no começo, igualmente, significou vir para o interior profundo do país, e potencialmente ir para o exterior, para o mundo. Dois movimentos em uma só ação.
         A Academia, local de amizade, cume da quarta montanha, ponto de encontro de leituras, forja do novo, é também local gerador de tradição. Sinto-me bem ao fazer parte desta tradição.
         Como bem disse San Tiago Dantas, "o primeiro requisito da cultura é a memória".
         No mesmo diapasão, quero sublinhar frase de Alceu Amoroso Lima que gostaria fosse o mote principal deste discurso:           
         "O passado não é o que passou.
          É o que ficou do que passou".
                 
Celebração em ... Moscou!
         Quero, inicialmente, explicar aos meus colegas acadêmicos e à amigas e amigos presente, o motivo do atraso em marcar a cerimônia de minha posse. Nos últimos dois anos, 2015 e 2016, tive 3 cirurgias nos dois olhos: duas por cataratas, e uma terceira por causa de descolamento de retina no olho esquerdo, considerada a mais complicada operação oftalmológica e com risco real de cegueira..
         Graças a Deus, e aos médicos Dr. Carlos Eduardo Arieta e Emerson Fernandes de Sousa e Castro, recomendados pelos amigos Antonio Roberto Batista e Dante Alário Júnior, e, "last but not least", o cuidado de Rosa, as cirurgias foram exitosas e após convalescência estou em fase final de recuperação.
         Em se tratando de reunião na Academia de Letras da capital federal, tomo a liberdade de narrar, neste ambiente de amizade, fato que me ocorreu, após ter confirmado o sucesso na cirurgia de descolamento de retina. O médico liberou-me para viagens, inclusive internacionais, no final de 2015. Fui a Moscou representar o Brasil na Reunião dos Ministros de Ciência e Tecnologia dos BRICS.  
         Ao final do encontro, resolvi assistir um espetáculo no Teatro Bolshoi, e tive a sorte de encontrar um bom ingresso, na terceira fila da platéia. O programa desta noite era a ópera de Tchaicovsky "Iolanda". Pouco conhecida esta obra, para meu espanto, trata justamente da questão da visão. É a história de uma princesa cega de nascença, que está prometida para um príncipe, que por sua vez está interessado em outra mulher... Acontece, no entanto, que um companheiro do príncipe se apaixona pela princesa cega, e com ela deseja se casar. Confessa isso ao príncipe que compreende a situação, que é também boa para ele, e autoriza e abençoa o casamento de seu amigo.
         E eu lá, na terceira fileira, com este enredo, com a música sublime de Tchaicovski, tocada pela orquestra e o bailado e os cenários do Bolschoi... Encantamento estético e impacto do tema!
         Chega ao momento final desta desconhecia e impactante ópera para mim. Mas, aí vem o instante culminante. A cena do casamento. A princesa, após várias tentativas de cura da cegueira, inclusive com um mago do Oriente, tem o diagnóstico da impossibilidade de cura pela medicina, mesmo a esotérica. Somente, diz o mago do Oriente, uma suprema força de vontade da princesa, e a intervenção divina poderá curá-la.
         Cena final. Na cerimônia de casamento, a princesa começa a ver! Tchaicovsky coroa sua obra com forte hino de ação de graças a Deus pelo dom da visão! E eu lá na terceira fila! Não poderia haver melhor celebração para mim que benção do grande compositor russo! Esta coincidência, óbvio  com a mão oculta do Senhor, foi para mim a dádiva gratuita de um verdadeiro milagre em Moscou.
         Ao narrar este episódio ao colega Embaixador Marcos Azambuja. Ele, com seu conhecido senso de humor, disse-me: "Que beleza Cardim! Mas esta sua história me faz lembrar resposta do Senado Vitorino Freire, quando foi questionado sobre sua operação de descolamento de retina por jornalista à procura de manchete. Como todo político, Vitorino acreditava  que homem público não deve falar de seus problemas de saúde. Assim respondeu à indagante jornalista: "Você entendeu errado o boato. O que tive foi um deslocamento de rotina; e não um descolamento de retina...".
         No meu caso tive os dois. Minha viagem à Rússia já era  a quarta em quatro anos. Posso dizer que Moscou entrou na minha rotina internacional.

Tão firme como os tipos gráficos.
         Conheci a Academia Brasiliense de Letras (ABrL) pelas mãos de Waldemar Lopes (1911-2006), em 1974. Em visita ao amigo, em Brasília, encontrei-o, em sua casa, preparando o próximo número da revista da ABrL. Fazia a diagramação do texto, ultimava o projeto gráfico da capa e dava uma revisão geral do material. Foi um encontro, basicamente, de dois humildes e entusiastas cultores da edição de livros e revistas.
         Waldemar Lopes é um nome metade pessoa, metade instituição como dizia Machade Assis definindo os Senadores do Império. Dispensa maiores apresentações aqui.
         A relação de amizade, apesar da diferença de idade, e admiração surgiram a partir de grupo de estudantes em São Paulo,que eu fazia parte, reunidos em torno de uma entidade nossa: o "Centro Latino Americano de Coordenação Estudantil CLACE". Um dos membros da entidade, o hoje Professor Eiiti Sato, ganhou prêmio de concurso organizado pela OEA sobre o tema do Pan-Americanismo. Desta data em diante desenvolveu-se entre o Dr. Waldemar Lopes e os componentes do CLACE forte relação de amizade.
         Waldemar e eu tínhamos um passado tipográfico. Ele, no município de Quipapá, em Pernambuco, em 1926, na fazenda da família, "Novo Horizonte", que tinha pequena gráfica - provavelmente caso único no Brasil - onde Waldemar editava um jornalzinho semanário "O Ideal". Eu, em São Paulo, onde participava ativamente de entidade cultural com colegas jovens, publicávamos vários jornais estudantis, e tínhamos, também, uma pequena gráfica.
         Nossa amizade era tão firme como o chumbo dos tipos gráficos.
         É motivo de alegria e celebração para mim ter Waldemar Lopes como "padrinho" nesta Casa das Letras de Brasília.
         Em 1976, entrei para o Itamaraty, e vim servir em Brasília. A partir desta data, pude desfrutar mais amplamente do convívio com Waldemar e sua esposa Iraci Lopes.
         Waldemar era um construtor de encontros no sentido que Romano Guardini expôs em seu livro sobre Sócrates.   
         Guardini, ao comentar os relacionamentos humanos e a dificuldade de verdadeira comunicação e autêntico diálogo entre as pessoas, destacava a importância dos indivíduos que logram estabelecer em torno de si áreas de real encontro com o outro. Assim se expressava: "Nem todas as personalidades facilitam na mesma medida o que se pode chamar de ´encontro`, pois esse supõe um caráter especial. Um homem pode possuir qualidades admiráveis, mas tão peculiares, que estabeleçam uma barreira entre ele e quem se lhe aproxime. Outros logram influir mais intensamente, mas somente através de suas criações, enquanto eles mesmos, pessoalmente, se retiram de todo. Por outro lado, estão aqueles que cativam, humanamente, mas que, além disso, nada significam". Para Guardini o homem que possibilita o "encontro" é um tipo raro e não abundante na história, e se caracteriza por "essa força do tocante e do comovedor na mais intensa medida"
         Foi por este "tipo raro e não abundante" que tive a sorte de conhecer amigos futuros como Walter Costa Porto, parceiro em tantas empreitadas culturais, editoriais e políticas.
         A lembrança de Waldemar Lopes tem tudo a ver com o espírito da Academia de ser ponte entre gerações.

A Cadeira número 11.
         A mesa e a cadeira são símbolos marcantes da vida intelectual. O grande mestre Miguel Reale costumava dizer: "Vida intelectual é mesa!". Esta cadeira, número 11, da Academia Brasiliense de Letras, cujo patrono é Farias Brito, já foi ocupada por Hamilton Nogueira, e por José Carlos de Almeida Azevedo.
         Hamilton de Lacerda Nogueira (1897 - 1981) nasceu em Campos, no Estado do Rio de Janeiro, em 1897. Formado em Medicina, teve papel de liderança no movimento leigo católico, no Centro Dom Vital. Iniciou a vida política, elegendo-se Senador à Assembléia Nacional Constituinte, pelo então Distrito Federal, em 1946, pela UDN, União Democrática Nacional. Foi Deputado Federal, nas Legislaturas de 1959 e 1963. Integrou o MDB. Escreveu ensaios sobre Jackson Figueiredo, Freud, Dostoiewski, Conrad e uma crítica sobre Macunaíma, elogiada por Mário de Andrade. Poliglota, aos 60 anos começou a estudar hebraico, chinês e dinamarquês, dedicando-se à pintura. Em 1948, indicou o nome de Oswaldo Aranha para o Prêmio Nobel da Paz.
         José Carlos de Almeida Azevedo (1932-2010) foi oficial da Marinha do Brasil, Doutor em Física pelo MIT (EUA), Vice-Diretor do Instituo de Pesquisa da Marinha, e Reitor da UnB de 1976 a 1985. Joaquim Nabuco, em Balmaceda, assinala, nos membros da Marinha, "sua simpatia pelas idéias e pelas coisas que ele sabe ser universais, porque as encontrou à volta do Globo, nas diversas escalas do seu navio". Dedicado ao tema da educação é autor do livro Omissão da Universidade?. Participou ativamente do debate de questões pedagógicas, por meio de artigos nos jornais "Folha de S. Paulo", "O Estado de São Paulo" e "O Globo".
         Foi Reitor da UnB, no período de transição política no Brasil, particularmente, na fase comandada pelo Ministro da Justiça Petrônio Portella, sob a liderança do Presidente Ernesto Geisel. Lembro-me o Presidente chileno, o notável político Patrício Aylwin, assinalar que o processo de transição "é uma delicada obra de relojoaria política". Com avanços e recuos, fase tensa na qual o novo, apesar de vigoroso, ainda é frágil, e o arcaico, apesar de superado, ainda não desapareceu. No bem sucedido caso brasileiro da transição, o que ficou foi um avanço da sociedade, acima de nomes singulares, superior, ao que Marco Maciel tanto criticava, "a excessiva fulanização da política brasileira".
         Azevedo sempre esteve preocupado em atingir padrões de alta qualidade em seu labor universitário. Além da qualidade, teve também como prioridade a quantidade. Ou seja, aliar qualidade com quantidade era seu maior desafio.          Exemplo desta prioridade, foi o acordo firmado entre a UnB e a Open University britânica, para assimilar a metodologia do ensino à distância, e lançar no Brasil os primeiros cursos de extensão nessa modalidade de educação, produzidos pelo Decanato de Extensão e pela Editora UnB, nas áreas de Ciência Política e Relações Internacionais.
         O Reitor Azevedo sempre deu apoio total à edição de livros pela UnB, com projeto próprio e em co-edições. Implantou-se, assim, a Editora UnB como a primeira "academic press" no Brasil, no estilo da Harvard, Oxford e Cambridge. Quando se fala em implantar uma editora, deve-se ter em mente o número mínimo de 500 títulos em seu fundo editorial. De 1978 a 1985, a Editora UnB alcançou marca de cerca de 700 títulos, entre obras publicadas e negociadas.        Nesse contexto, foram convidados destacados nomes brasileiros e estrangeiros para virem a Brasília participar dos "Encontros Internacionais da UnB", como por exemplo, Karl Deutsch, Raymond Aron, Maurice Duverger, Norberto Bobbio, Gilberto Freyre, Afonso Arinos, Miguel Reale, John Kenneth Galbraith, Robert Dahal e Richard Leakey.
         Destaca-se, igualmente, a promoção pela UnB em 1976 de importante encontro acadêmico internacional reunindo cerca de 25 grandes nomes acadêmicos, de variadas tendências - conservadores, liberais, socialistas e marxistas - presidido pelo Embaixador Roberto Campos.
         A respeito da contribuição cultural da Editora UnB, sublinho um título, entre dezenas de expressiva relevância: a tradução por primeira vez para o português da obra de Max Weber Economia e Sociedade, o maior clássico das Ciências Sociais do século XX. Ao ler, recentemente, texto de 1957 de Hermes Lima, um dos fundadores de nossa Academia, verifiquei as constantes referência do mestre bahiano a Weber. Lembrei-me que, nos anos 1970, estudei Weber pela gloriosa edição do Fondo de Cultura Economica do México, fundado em 1934, cujas edições, à época em que fiz faculdade, constituíam verdadeira "universidade de ciências sociais na América Latina".  
         A contribuição editorial e de atividades de extensão da UnB, no período de 1976 a 1985, tem sido considerada por analistas como passos relevantes no processo de abertura democrática no Brasil.
         No período de 1978 a 1983 ocupei os cargos de Decano de Extensão da Universidade de Brasília (UnB),  e Presidente do Conselho Editorial da Editora da UnB.
         A capital vai, assim, se construindo como cidade universitária, também. José Bonifácio, que a batizou com o nome de Brasília, defendia que a primeira universidade brasileira deveria ser instalada em São Paulo por ser mais saudável para os alunos e professores do que o Rio de Janeiro. Hoje, José Bonifácio preferiria, sem dúvida, Brasília.

Sócrates sertanejo.
         Farias Brito (São Benedito, Ceará, 1862 - Rio de Janeiro, 1917) abre o primeiro capítulo, de sua obra Finalidade do Mundo, com a afirmação de que "As duas manifestações fundamentais do espírito humano na marcha geral da sociedade são a política e a filosofia. A política dá em resultado o direito; a filosofia dá em resultado a moral. (...) moral é fim da filosofia".
         Fica evidente o patrocínio de Sócrates ao pensador cearense que vê no sábio ateniense seu maior patrono espiritual e intelectual. Na visão socrática de Farias Brito, a filosofia era um aprendizado existencial da morte, e o reconhecimento racional de que "só sei que nada sei". Diz ele "tudo em minha vida está subordinado a esse pensamento".
          Nas palavras de Nestor Victor, Farias Brito era "um sertanejo que se fez sábio e um sábio que achou melhor ser um santo. Saiu, por isso, um filósofo à maneira de Sócrates, filósofo principalmente para conhecer-se a si mesmo e aprender a morrer, no que ainda traduziu a tristeza ensimesmada do homem do sertão".

Um encontro com Karl Popper.
         Sócrates é o primeiro clássico. Fundador do pensar no Ocidente. Karl Popper, um dos maiores filósofos do século XX, considera "A Apologia de Sócrates", o melhor texto da Filosofia.
         Tivemos, eu e o Padre Aleixo, o privilégio de um encontro com Popper, em sua residência em Londres. Lembro-me que, no jardim enquanto tomávamos chá com o Mestre, fiz um comentário para Popper elogiando a bela e enorme árvore a nosso lado. Popper, então me respondeu: "Você tem razão. É uma linda árvore. Plenamente crescida e realizada. Minha mulher e eu a plantamos, quando comecei a dar aulas na "London School of Economics  LSE", no anos 40. Lecionava Filosofia dda Ciência. Veja só: Hoje a árvore está completa. E eu tenho mais dúvidas e perguntas do que há 40 anos atrás !".
         Era o eco do ensinamento de Sócrates: "tudo que sei é que nada sei".

Farias Brito, Pará e Platão.
         Essa profunda afinidade de Farias Brito e Sócrates tem uma passagem bastante curiosa. Como foi dito, Farias passou relevante etapa de sua vida em Belém do Pará, de 1902 a 1909. Nesse período, publica o terceiro volume de  Finalidade do Mundo e a obra A Verdade como Regra das Ações. Além de advogar, dá aulas de Filosofa na Faculdade de Direito.
         A profícua produção acadêmica de Farias Brito em Belém desmente a tão propalada tese que no fundo é um preconceito sobre a dificuldade dos climas quentes e tropicais para a tarefas superiores do pensamento.
         Ainda como desmentido ao preconceito, assinalo que, em 1980, após 70 anos da passagem de Farias Brito por Belém, a Universidade Federal do Pará (UFPA) inicia uma publicação que honra a vida cultural do Brasil: a tradução do grego por Carlos Alberto Nunes das obras completas de Platão. É iniciativa a nível das melhores editoras universitárias do mundo como Oxford, Harvard, Cambridge e "Belles Letres". O primeiro volume com a "Apologia de Sócrates", ganhei do então Senador e ex-Reitor da UFPA, Aluisio Chaves. Chamou-me a atenção que o "Corpus Platonicum" fosse editado dentro da "Coleção Amazônica", na "Série Farias Brito" da UFPA. Traço provinciano? Não, na verdade, homenagem ao semeador da generosa e forte semente das idéias filosóficas em solo paraense. Como disse Djacir Menezes: "Como historiador e expositor dos sistemas da filosofia moderna foi realmente excepcional".

Língua e Filosofia.
         Barreto Filho, em introdução à obra de Farias Brito,  detectou com argúcia que: "Para que um povo possa se ligar intimamente ao trabalho filosófico universal é necessário, antes de mais nada, que alguém pense na sua língua o que já foi pensado por outros. A linguagem é instrumento não só de transmissão, mas de assimilação de idéias, e cada língua corresponde a uma mentalidade que, para pensar, necessita desse sistema próprio de expressão. A linguagem filosófica, mais trabalhada em Portugal por um Manuel Bernardes ou um Frei Heitor Pinto, era de extrema penúria no Brasil. Não conseguimos formar nenhum centro de estudos filosóficos, e o positivismo acabou proscrevendo das nossas escolas o próprio ensino da filosofia. Nesse longo hiato, encerrado pelas nossas atuais faculdades de Filosofia, Farias Brito é o solitário detentor entre nós da tradição filosófica. Repensou por si mesmo todas as doutrinas e formou um instrumento de expressão adequado para fixá-las e transmiti-las".
         Destacar a relação entre língua e Filosofia é a melhor maneira de terminar este discurso na "Academia Brasiliense de Letras", que prevê em seus Estatutos, entre seus objetivos principais, o de cultivar a língua.
         Certa vez indagaram a Confúcio - por sinal contemporâneo de Sócrates - qual deveria ser a primeira tarefa de um governante. Ao que o mestre respondeu: "Definir as palavras". Laborar e encontrar, como queria Gustave Flaubert, "le juste mot". A palavra certa. Com as palavras de nossa língua não somente pensamos, mas também construímos o presente e o porvir.
         No início desta oração, lembrei a frase de Alceu Amoroso  Lima: "O passado não é o que passou. É o que ficou do que passou". Inspirado por Tristão de Athayde, cujos artigos me guiaram na adolescência, e por Brasília, a capital da esperança, nas palavras de André Malraux, ouso dizer que "O futuro não é o que virá. Será o que plantarmos no presente". Plantarmos com pensamentos e palavras na nossa língua.

Referências.
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Prata da Casa: antecipando as miniresenhas de obras de diplomatas - Paulo Roberto de Almeida

A revista da ADB ainda vai demorar um pouco para ser publicada. Por isto, antecipo aqui as seis mini-resenhas preparadas para seu número do próximo quadrimestre.
Paulo Roberto de Almeida 



Paulo Roberto de Almeida
 [Miniresenhas; Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XIX, n. 95, fevereiro de 2017 a maio de 2017, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)]


(1) Paulo Roberto de Almeida (org.):
       O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos
       (Curitiba: Editora Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0)


            Roberto Campos foi, possivelmente, um dos maiores intelectuais brasileiros da segunda metade do século XX, com a peculiaridade de que, além de ser diplomata, se tratava também de um dos grandes economistas, homens públicos e estadistas, que dedicou sua vida a tentar salvar o Brasil de si mesmo, sem no entanto conseguir êxito na empreitada. Organizado por um diplomata que leu, ou releu, toda a sua obra, desde a tese defendida na George Washington University em 1947, até seus últimos escritos, passando pelas suas indispensáveis memórias, o livro também contou com a colaboração de outro diplomata, Carlos Henrique Cardim, que discorreu sobre a participação de Roberto Campos nos encontros internacionais da UnB, que ele também organizou. Paulo Roberto de Almeida traçou sua magnífica trajetória intelectual.



(2) José Vicente Pimentel (ed.):
       Brazilian Diplomatic Thought: policymakers and agents of Foreign Policy (1750-1964)
        (Brasília: Funag, 2016, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-547-6);


Diversos diplomatas colaboraram na empreitada: Synesio Sampaio Goes Filho (Alexandre de Gusmão), João Alfredo dos Anjos (José Bonifácio), Luis Cláudio Villafañe G. Santos (Duarte da Ponte Ribeiro), Luis Felipe de Seixas Corrêa (Honório Hermeto Carneiro Leão), Rubens Ricupero (A política externa da Velha República e o capítulo sobre o Barão do Rio Branco), Carlos Henrique Cardim (Rui Barbosa), Kassius Diniz da Silva Pontes (Euclides da Cunha), Paulo Roberto de Almeida (introdução metodológica e um capítulo sobre Oswaldo Aranha, a partir de texto original de João Hermes Pereira de Araujo), Eugênio Vargas Garcia (Cyro de Freitas Valle), Guilherme Frazão Conduru (José Carlos Macedo Soares), Samuel Pinheiro Guimarães (Afonso Arinos de Mello Franco), Gelson Fonseca (San Tiago Dantas) e Ronaldo Mota Sardenberg (João Augusto de Araújo Castro).




(3) Ives Gandra da Silva Martins; Paulo Rabello de Castro (orgs.):
       Lanterna na proa: Roberto Campos Ano 100
       (São Luís: Resistência Cultural, 2017, 342 p.; ISBN: 978-85-66418-13-2)


Sessenta e dois colaboradores nesta outra homenagem a Roberto Campos, entre eles quatro diplomatas: Eduardo dos Santos (sobre a sua chefia, de 1974 a 1982, da embaixada em Londres), Paulo Roberto de Almeida (Bretton Woods, BNDE e receita para desenvolver um país), Rubens Barbosa (Um homem adiante de seu tempo) e Sérgio Eduardo Moreira Lima (“Bob Fields”: o estigma, o diplomata e os valores nacionais). Cada um deles desenvolve diferentes aspectos da vida, da obra e das atividades econômicas ou diplomáticas de Roberto Campos, sempre enfatizando seus ideais de liberdade, de economia de mercado, de reformas estruturais para arrancar o Brasil de uma situação de pobreza evitável para colocá-lo numa condição de prosperidade possível.




(4) Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.)
       Visões da obra de Hélio Jaguaribe
       (Brasília: Funag, 2015, 135 p.; ISBN: 978-85-7631-539-1)

Em homenagem feita pelos 90 anos do grande pensador do nacionalismo brasileiro, Samuel Pinheiro Guimarães analisou sua contribuição para a diplomacia, enfatizando a “notável atualidade nas ideias que [HJ] defendeu para a política externa”. Para “demonstrar” tal atualidade, destacou trechos do livro O Nacionalismo na Atualidade Brasileira, de 1958, indicando as similaridades com as políticas e posturas defendidas de 2003 a 2016 pela diplomacia brasileira, da qual ele foi um dos principais ideólogos. As mesmas oposições à época destacadas por HJ, entre o capital estrangeiro e o nacional, a autonomia ou a submissão ao império, a união da América Latina para “neutralizar o poder de retaliação dos Estados Unidos” (p. 89), seriam plenamente atuais (pelo menos para esse ideólogo). Como se queria demonstrar...



(5) Henrique Carlos Ribeiro Lisboa:
       A China e os chins: recordações de viagem
       (Rio de Janeiro: Fundação Alexandre de Gusmão/CHDD, 2016, 334 p.; ISBN: 978-85-7631-593-3)


Em 2012, os Cadernos do CHDD já tinham publicado os relatos dos diplomatas brasileiros que foram à China na famosa missão do governo imperial de 1880, que tinha por objetivo firmar um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação com o Império do Meio. Um dos integrantes dessa missão foi Henrique Lisboa, que produziu, em 1888 (com a primeira publicação em Montevidéu), este relato visando informar sobre o que era a China, mas também com a intenção, segundo ele, de “concorrer (...) para a resolução do árduo problema que, há alguns anos, conserva em crise a sociedade brasileira: ‘a transformação do trabalho’.” Ou seja, buscava-se substituir os escravos africanos por trabalhadores chineses, num processo de “imigração livre”, o que não era todavia aceito pelos mandarins das relações exteriores da China. Oportunidade perdida!



(6) Sergio de Queiroz Duarte:
       Desarmamento e temas correlatos
       (Brasília: Funag, 2014, 244 p.; ISBN: 978-85-7631-507-0; Coleção Em Poucas Palavras)


A coleção costuma ter 120 páginas: o tema tratado por Sérgio Duarte exigiu, porém, o dobro da extensão. Ele descreve todo o complexo compreendido no vasto universo das armas de destruição em massa, desde os primeiros esforços de desarmamento, como o programa dos “Átomos para a Paz”, os tratados pertinentes às diversas categorias de armas (químicas, bacteriológicas e biológicas, nucleares), bem como as zonas livres destas últimas, ademais dos vetores (mísseis e foguetes), dos regimes de controle e dos organismos vinculados a esse interminável, e talvez insuperável, esforço. Isso dentro das 120 páginas tradicionais da coleção: as restantes são ocupadas pela listagem dos principais acordos no campo do desarmamento e pela transcrição dos relevantes (Tlatelolco, TNP e Proibição completa de testes nucleares).



[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26-27 de abril de 2017; 3107.]

Até o próximo número, com possivelmente mais seis mini-resenhas. Aguardem o livro que vai consolidar o conjunto de mini-resenhas.