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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 6 de agosto de 2017

Retomada do trabalho no Itamaraty, depois de 13 anos de regime companheiro - Paulo Roberto de Almeida


Retomada do trabalho no Itamaraty, depois de 13 anos de regime companheiro: um relatório das atividades desde a volta do exterior

Paulo Roberto de Almeida
 [Junção dos trabalhos 3145 e 3146; relatório de atividades desde o retorno ao Itamaraty; balanço e avaliação]


Introdução
Não é segredo para nenhum colega do Itamaraty – embora seja eventualmente desconhecido para a maior parte dos “paisanos”, ou seja, os de fora, com exceção de um pequeno círculo de acadêmicos mais próximos – que eu permaneci à margem de qualquer trabalho na Secretaria de Estado durante a duração completa dos governos companheiros no Brasil, ou seja, desde o início de 2003, quando fui vetado para dirigir o mestrado em diplomacia no Instituto Rio Branco, até o mês de agosto de 2016, quando fui finalmente confirmado como novo Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag/MRE. Durante todo o período tive atividades total ou parcialmente fora do Itamaraty, ou simplesmente fiquei no chamado DEC, título vulgar do “Departamento de Escadas e Corredores”, ou seja, daqueles que vivem no limbo ou no ostracismo não declarado oficialmente.
Devem existir muitas razões para tal afastamento, embora eu mesmo não possa dizer com certeza quais as razões exatas dessa “distinção”: provavelmente fui tomado por, ou considerado, um “inimigo do regime lulopetista", o que aliás muito me honra, pois ser classificado como opositor da organização criminosa que assaltou o Brasil entre janeiro de 2003 e maio de 2016 é certamente um prêmio do meu ponto de vista: não tive o desprazer de trabalhar para uma diplomacia que sempre considerei fundamentalmente equivocada e danosa para o país.
Tendo sido reintegrado, há exatamente um ano, ao serviço exterior, na condição de “ativo”, venho, por meio de dois relatórios parciais e complementares, prestar contas aos interessados de uma parte, ao menos, de minhas atividades desde que voltei do exterior, no final de 2015. Como sou pago pela coletividade para prestar serviços ao Estado em funções diplomáticas, o que os companheiros fizeram nos últimos treze anos foi simplesmente uma irregularidade administrativa, provavelmente passível de algum processo, o que evitei fazer por diversos motivos. Os que assim procederam, tinham provavelmente a intenção de me dobrar, ou seja, de me intimidar, evitar que eu fizesse críticas ao regime companheiro, em especial sua diplomacia. Nunca me intimidei: como já repeti várias vezes, nunca deixei o cérebro em casa quando saía para o trabalho, e tampouco o depositava na portaria ao adentrar no ministério. Sempre disse o que pensava, sempre registrei minhas opiniões e posturas, e geralmente escrevia e publicava o que me parecia adequado, num plano mais acadêmico do que profissional, e sempre considerei expressar-me objetivamente, com a independência e honestidade intelectual que são os critérios básicos pelos quais me guio em minhas tarefas reflexivas.
Não vou retomar agora toda a trajetória da minha longa “travessia do deserto”, pois ela está suficientemente refletida nas dezenas, centenas de trabalhos produzidos ao longo desses treze anos de produção contínua. No plano estritamente diplomático, posso apenas referir-me a um volume de trabalhos seletivos em temas de política externa do Brasil e de sua diplomacia, assim registrado:
3121. Quinze anos de política externa: ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017; Brasília: Edição do Autor, 2017, 366 p. Volume de ensaios compilados sobre as temáticas do título. Disponibilizado na Academia.edu (link: https://www.academia.edu/33186849/QUINZE_ANOS_DE_POLITICA_EXTERNA_ENSAIOS_SOBRE_A_DIPLOMACIA_BRASILEIRA_2002-2017 ). Informado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html; twittado neste link: https://shar.es/1Rvapr).
O que consigno abaixo, de forma unificada, são os dois relatórios parciais de atividades no último ano e meio desde minha volta do exterior, em dezembro de 2015. Espero que eles sejam suficientemente transparentes aos que por acaso desconheciam completamente minha condição profissional, e minha postura política, na longa travessia histórica do Brasil entre A.C. e D.C., ou seja, antes e depois dos companheiros (não pretendo que isso seja inscrito na nossa historiografia, mas para mim esse intervalo de tempo tem um significado especial).

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de agosto de 2017

Aqui as fichas dos dois trabalhos transcritos no seguimento: (aqui suprimidos por redundância)

3145. “IPRI-Funag/MRE: como cheguei à sua direção?”, Brasília, 4 agosto 2017, 7 p. Relato sobre os trabalhos realizados até dar início às atividades como Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag/MRE. Transcrição dos principais textos produzidos nos meses anteriores a agosto de 2016. Postado no blog Diplomatizzando (link: (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/apos-um-ano-no-comando-do-ipri-um.html) e disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1613606942036083).

3146. “Um ano no IPRI: relato das atividades desenvolvidas”, Brasília, 5 agosto 2017, 11 p. Lista dos eventos realizados no IPRI e transcrição de fichas de trabalhos pertinentes desenvolvidos durante o primeiro ano de atividades na direção do IPRI. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/ipri-atividades-promovidas-na-gestao-de.html) e disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1614471058616338).

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de agosto de 2017
Publicado parcialmente no blog Diplomatizzando e registrado em Academia.edu, seção de drafts, e em Research Gate.

sábado, 5 de agosto de 2017

O caso ainda nao resolvido do ‘pensamento diplomatico’ brasileiro na era militar - Paulo Roberto de Almeida


O caso ainda não resolvido do ‘pensamento diplomático’ brasileiro:
hipóteses sobre o regime militar (1964-1985)

Paulo Roberto de Almeida
 [proposta de trabalho; II Jornada de Pensamento Político Brasileiro]

Resumo:
            Projeto de trabalho em torno de um possível paradigma diplomático abrigado sob a hipótese conceitual da existência de um “pensamento diplomático brasileiro” na vigência do regime militar brasileiro (1964-1985), no seguimento de obra preliminar, já publicada pela Funag, sobre o “pensamento diplomático brasileiro” no período 1750-1964 (ISBN: 978-85-7631-462-2), mas constituído, de fato, por capítulos biográficos. O projeto de trabalho identifica as questões metodológicas e os elementos substantivos identificados com a construção de uma pesquisa empiricamente fundada, mas também sujeita a análise interpretativa quanto à natureza das iniciativas diplomáticas e ao sentido e a orientação das políticas externas registradas no período em consideração, sobre esse alegado (ou eventual) “pensamento diplomático brasileiro”.


1. Existiu, existe, tem vigência um “pensamento diplomático brasileiro”?
Em um projeto de pesquisa elaborado para o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag), proposto originalmente em 2012 ao então presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, embaixador José Vicente Pimentel, sob o título de “Pensamento Brasileiro em Política Internacional”, eu pretendia explorar a hipótese da emergência e gradual consolidação de um eventual pensamento nacional na área de relações internacionais e de política externa do Brasil, por via do exame circunstanciado e contextualizado das grandes linhas de reflexão de diferentes personagens (não apenas diplomatas, mas também tribunos, militares, acadêmicos e outros “membros” de uma tênue comunidade dedicada às relações exteriores do país) que contribuíram para a elaboração doutrinal e as atividades práticas vinculadas à interface externa do Brasil.
Esse projeto, submetido ao exame de colegas de carreira e a alguns membros da comunidade acadêmica (embora limitada a Brasília), acabou tomando a forma de uma obra coletiva, sob o signo do “Pensamento Diplomático Brasileiro”, sobre o qual eu mantinha fundadas dúvidas, dada a heterogeneidade de seus fundamentos conceituais. O empreendimento, que adotou uma abordagem biográfica de alguns desses personagens, foi objeto de um único seminário de avaliação das contribuições textuais oferecidas pelos participantes do exercício, e o seu resultado, rapidamente editado, foi publicado pela Funag em 2013, sendo apresentado numa “conferência de relações internacionais”, organizada pela Fundação no final desse ano. Prudentemente, eu havia sugerido que a cronologia desse exercício tivesse a sua data de corte em março de 1964, com vistas a evitar os problemas metodológicos e políticos que fatalmente emergiriam a partir da eventual inclusão da era militar no âmbito das contribuições analíticas então oferecidas pelos colaboradores convidados. Isso não impediu, infelizmente, aproximações indevidas, historicamente anacrônicas, entre o período da política externa independente e a diplomacia lulopetista, completamente fora do alcance e do escopo da obra.
Participei do projeto oferecendo um texto introdutório, de caráter analítico e metodológico, sobre os conceitos selecionados para guiar o exercício, questionando inclusive a existência de um “pensamento”, e seu hipotético caráter “diplomático”, no longo período cronológico (1750-1964) finalmente retido como balizas temporais da obra de referência pretendida pela Funag. Adicionalmente, ofereci um texto sobre Oswaldo Aranha, feito em colaboração com o – e a partir de texto já elaborado previamente pelo – embaixador João Hermes Pereira de Araújo. Os registros editoriais desses dois textos são os seguintes: 
1) “Pensamento diplomático brasileiro: introdução metodológica às ideias e ações de alguns dos seus representantes”, in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: Funag, 2013, 3 vols.; ISBN 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 15-38;
2) “Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco” (com João Hermes Pereira de Araújo), in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: Funag, 2013, vol. 3, p. 667-711 (obra completa disponível em formato zipado no site da Funag: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip).
Eu me perguntava, inicialmente, se os três conceitos, “pensamento”, “diplomático” e “brasileiro”, seriam “apropriados, coerentes entre si, justificados e adequados aos objetivos” da obra pretendida, ou seja, se existia alguma “unidade intelectual” que revelasse “alguma identidade de propósitos num longo continuum de ideias e de ações voltadas, ambas, para a diplomacia e para a política internacional do Brasil ao longo de mais de dois séculos”. Eu me dediquei, no resto da introdução metodológica a examinar “cada um dos componentes do título desta obra coletiva, para debruçar-[me], complementarmente, sobre as ideias e ações a eles associadas”. Não é o caso, neste momento, de voltar a discutir essas questões, já amplamente tratadas no primeiro dos dois textos, tendo a abordagem do caso de Oswaldo Aranha, realizada no segundo texto, seguido, grosso modo, o enfoque proposto na introdução.
A tarefa colocada pela Funag neste momento, depois de minha designação como diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, em agosto de 2016, é a da continuidade daquela obra no seu imediato seguimento cronológico, ou seja, o exame de um eventual “pensamento diplomático” no contexto temporal do regime militar, iniciado em 1964 e encerrado em 1985. Com alguma relutância aceitei participar do projeto, depois de já ter elaborado, primeiramente um projeto completo para esse tipo de empreendimento, e depois um texto de síntese destinado precipuamente a outra coletiva: “As relações internacionais do Brasil na era militar (1964-1985)”, a ser publicado no volume 4 desta publicação: Jorge Ferreira  e Lucília de Almeida Neves Delgado (orgs.), Brasil Republicano (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira). Este meu texto, obrigatoriamente limitado a duas dezenas de páginas, oferece uma síntese descritiva da diplomacia do período militar, acompanhado de bibliografia pertinente.
Aceita, preliminarmente, a viabilidade do projeto da Funag, de seguimento dessa temática do pensamento diplomático nas duas décadas do regime militar, decidi dar continuidade ao exercício anterior, não pela análise de um idealizado “pensamento diplomático” durante esse período, mas por meio de um ensaio tratando exclusivamente da economia brasileira nas três décadas que se estendem do início dos anos 1960 ao final dos 80. Por “economia brasileira” deve-se entender tanto a evolução objetiva dos principais indicadores macroeconômicos e setoriais ao longo do período, como também as políticas econômicas, as relações econômicas internacionais do Brasil e até o “pensamento” econômico de alguns dos principais personagens dessa época.
Não obstante, talvez não seja inútil oferecer uma reflexão tentativa sobre o que significa a existência de um “pensamento diplomático brasileiro” durante a era militar. Exploro, portanto, numa perspectiva puramente conceitual, a noção de “pensamento diplomático brasileiro” nesse período, tal como suscetível de cobrir um amplo espectro de formulações, ações e reações diplomáticas brasileiras, disseminadas por diferentes administrações (e orientações) de política externa, com atores diversos ao longo de um período bastante complexo – certamente excepcional – da história do Brasil.

2. Um “pensamento diplomático” na era militar?: premissas e fundamentos
A primeira questão a ser considerada é a existência de um suposto “pensamento diplomático” na era militar, como de resto em qualquer outra época, antes ou depois dessa fase especial da história brasileira. Falar em “pensamento diplomático” implica necessariamente partir de certa homogeneidade de conceitos e de formulações gerais nos planos dos princípios e valores aplicados na frente externa, e que mantenham certa consistência com as articulações políticas e diplomáticas durante mais de um governo, apresentando, portanto, certa estabilidade temporal e suficiente coerência interna para justificar essa designação. Em outros termos, significa haver um corpo harmônico de ideias, ou um conjunto de princípios organizadores da política externa que possa ser reconhecido, interna e externamente, como representativo do Estado ou da nação, suscetível, portanto, de se apresentar sob essa roupagem de “pensamento”.
Se esses são os requisitos, é altamente duvidoso que tenha existido UM pensamento diplomático na, ou da era militar, ainda que possam ter existido várias formulações de política externa que foram em parte dominadas pelo pensamento militar – ou de segurança nacional –, mas também, em grande medida, influenciadas e administradas (e em vários setores dominadas, segundo as fases ou os temas) pelo estamento profissional do Itamaraty. O corpo diplomático nacional, ou seja, os funcionários do serviço exterior do Estado, de nível diplomático, foram os atores (por vezes formuladores) que asseguraram certa continuidade de ideias e de posturas, antes, durante e depois da era militar, com nuances e matizes próprias a cada uma de suas fases, que foram diversas, tanto pela dinâmica interna do regime militar, como pelos influxos da agenda externa, regional e mundial. Mas cabe reconhecer, igualmente, que os próprios militares também tinham seu manancial de ideias e princípios, e de posturas no plano externo, que alimentaram, domaram ou inflexionaram essa diplomacia profissional, seja diretamente (pelas suas lideranças sucessivas), seja indiretamente, por meio de suas instituições de ensino e de formação de oficiais superiores, como a Escola Superior de Guerra (aliás conhecida como “Sorbonne”), admitindo igualmente pessoal selecionado da sociedade civil.
Como a era militar se distingue, principal e precisamente, por ter sido militar, caberia, em consequência, analisar em primeiro lugar, os fundamentos do pensamento militar, se é verdade que existiu UM pensamento militar, o que também é duvidoso, já que os militares, tanto quanto os civis, também se dividiram em tendências políticas e econômicas diferentes, ao longo do período autoritário. Essas diferenças, por vezes sutis, em outros casos declaradas, ficavam patentes por ocasião das escolhas dos generais-presidentes que se sucederam no poder, e nas conjunturas de crise política (como o recrudescimento da oposição contra o regime e do acirramento da luta armada, que precipitaram novos fechamentos autoritários, como por ocasião do AI-5) que dividiram o establishment militar, até dramaticamente, como revelado na oposição do ministro do Exército Sylvio Frota ao general Ernesto Geisel, por sinal provocada em parte por medidas e posturas tomadas na frente diplomática (reconhecimento da China comunista, por exemplo, mas também o do movimento guerrilheiro instalado em Luanda como o governo legítimo de Angola no momento da independência).
Por outro lado, caberia, igualmente, analisar, algumas variantes do pensamento diplomático, com matizes diferentes no mesmo período, em função das personalidades que ocuparam cargos políticos e funcionais (Ministro de Estado das Relações Exteriores e Secretário-Geral do Itamaraty). Após uma curta fase inicial marcada por uma adesão mais estrita aos cânones daquele momento, ou seja, a aliança com Washington, o Itamaraty retoma as linhas básicas de sua “doutrina”, caracterizada fundamentalmente por uma diplomacia do desenvolvimento, retirando elementos conceituais de uma “ideologia cepaliana”, ou seja, substituição de importações, integração regional, papel ativo do Estado nas diretrizes relevantes das políticas públicas, em especial na área econômica, mas que também retirava fundamentos da “ideologia unctadiana”, ou seja, forte identificação com projetos reformistas no quadro das relações econômicas internacionais (não reciprocidade no comércio, tratamento especial e mais favorável para países em desenvolvimento, transferência de tecnologia, controle dos investimentos estrangeiros, em especial das multinacionais, e maior participação nas estruturas dominantes nessa área: instituições de Bretton Woods e Gatt).
Quais seriam os traços definidores da política e do pensamento governamentais durante o período militar? Correndo o risco de uma síntese redutora, vejamos os principais elementos que compunham a “ideologia da governança pública” no decorrer do regime e que, de uma forma ou de outra, também influenciaram, ou infletiram, a política externa, tanto em seus principais princípios de atuação, ou seja, doutrina, quanto na vertente de sua execução, ou seja, na atividade diplomática. Esses elementos conceituais podem ser resumidos nos argumentos seguintes:

1) uma forte ideologia da segurança nacional, transmitida em grande medida a partir de sua matriz americana do início da Guerra Fria e moldada no Brasil pelas academias militares a partir da experiência própria das FFAA com o combate ao comunismo (simbolizado pela Intentona de 1935) e no enfrentamento ao desafio ideológico representado pela União Soviética e seus agentes nacionais (basicamente o PCB, depois dividido nas correntes maoístas e cubanas);
2) o nacionalismo econômico reforçado pela consciência dos chefes militares – e apoiado pelas lideranças empresariais – de que o Estado deveria ser o elemento indutor, guia e promotor do processo de desenvolvimento, que se identificava essencialmente com a forte ênfase dada à indústria nacional e ao mercado interno;
3) uma política agressiva de desenvolvimento econômico, em grande medida fundamentado nos recursos e no mercado nacionais, a partir de políticas setoriais integradas a planos de desenvolvimento voltados para o crescimento econômico acelerado e para a construção da autonomia nacional, inclusive tecnológica;
4) políticas industriais e comerciais ultraprotecionistas, voltadas para esses objetivos desenvolvimentistas, o que de certa forma se ajustava aos diagnósticos cepalianos e unctadianos sobre o pleno domínio dos recursos nacionais e sua mobilização para os fins pretendidos, o que moldou diferentes vertentes da atuação diplomática brasileira, sobretudo nos organismos multilaterais regionais e internacionais, na defesa dessa visão desenvolvimentista e quase autárquica das políticas públicas, afetando investimentos, tratamento do capital estrangeiro, solução de controvérsias e fluxos comerciais;
5) prevalência do controle estatal sobre diferentes mercados – agrícola, bens de consumo, bens de capital, infraestrutura de forma geral, mão-de-obra, etc. – o que se manifestou não apenas pela regulação setorial, mas pela criação e disseminação de empresas estatais numa vasta gama de atividades produtivas e de infraestrutura;
6) preferência por reformas que tendiam a reforçar esse controle estatal sobre o domínio econômico, em lugar de favorecer as liberdades econômicas do setor privado e a integração do Brasil à economia mundial;
7) controle do sistema político, visando “purga-lo” de elementos “indesejáveis”, o que de certa forma implicou em concessões às oligarquias dependentes do Estado;
8) enorme esforço de modernização material e apoio irrestrito à capacitação nacional em capital humano e em ciência e tecnologia, voltados para os pontos altos da cadeia – a superestrutura universitária – em detrimento da educação de base, que não acompanhou o ritmo acelerado de crescimento da primeira fase da era militar;
9) modernização do Estado e valorização do chamado “estamento burocrático”, o que beneficiou amplamente a corporação diplomática, tratada praticamente em situação de igualdade com a corporação militar;
10) subordinação das diferentes políticas setoriais, inclusive a política externa, aos imperativos da segurança nacional e do desenvolvimento autônomo do país, com a mobilização da corporação diplomática inclusive para a cooperação estratégica e militar com parceiros externos (venda de armamentos e acordos em tecnologias sensíveis, como nuclear e espacial).

Mas estes são traços genéricos, de corte sociológico, sobre o regime militar, aqui considerado como um “personagem histórico” Este “personagem”, todavia, está longe de ser homogêneo em suas diversas fases e, sobretudo, está longe de representar uma continuidade política ou econômica, sequer nas principais políticas – macroeconômicas ou setoriais, entre elas a política externa – que se sucederam ao longo dos 21 anos de domínio das FFAA sobre o sistema político e sobre os principais vetores das políticas econômicas. Um enquadramento econômico e uma contextualização no ambiente internacional são essenciais para se bem compreender os passos e as decisões dos cinco governos militares, nos planos interno e externo, que marcaram o regime desde meados dos anos 1960 até duas décadas depois.

3. As relações internacionais do Brasil na era militar: breves considerações
As relações internacionais do Brasil durante o regime militar brasileiro podem ser analisadas, por uma parte, do lado das políticas mantidas pelos diferentes governos dos cinco generais presidentes que se sucederam ao longo do período – e, a despeito do que se crê habitualmente, elas diferiram bastante entre si – e, de outra parte, através das reações e interações mantidas por esses governos como respostas a questões da agenda internacional (dos órgãos das Nações Unidas, por exemplo), a pressões de parceiros (conflitos com os Estados Unidos sobre temas comerciais ou de propriedade intelectual, sobre a proliferação nuclear, entre outros contenciosos) ou, objetivamente, a partir de eventos ou processos dotados de grande impacto na economia do país (os dois choques do petróleo, em 1973 e 1979, ou o aumento dos juros americanos, que resultou na crise da dívida externa a partir de 1982). Vários elementos importantes dessas diplomacias resultaram, no entanto, de iniciativas dos próprios dirigentes, militares ou diplomatas, em função da percepção que mantinham sobre os interesses fundamentais do Brasil.
Um dos autores mais qualificados na exposição objetiva, linear, de toda a era militar, Fernando de Mello Barreto (Os Sucessores do Barão, 1964-1985: relações exteriores do Brasil; São Paulo: Paz e Terra, 2006), resume assim, num artigo de síntese na revista Política Externa (2014) sua visão geral do período:
As ações diplomáticas daquela época não foram uniformes, apesar de algumas características comuns constantes. Fatores internos e externos acarretaram mudanças nas posições internacionais brasileiras entre 1964 e 1985. Portanto, os cinco presidentes do regime militar levaram a cabo políticas externas com algumas diferenças marcantes entre elas, especialmente nos primeiros anos e na segunda metade da década de 1970.

De fato, o desenvolvimento geral das políticas públicas, inclusive a externa, diferiu bastante entre o início e o final da era militar, espelhando, talvez as fases de ascensão e declínio do regime. Os próprios rótulos oportuna e sucessivamente usados para definir as “diplomacias” do regime militar trazem conotações variadas usadas pelos cinco presidentes para caracterizar suas respectivas diplomacia com algum grau de inovação conceitual. Depois da chamada “Política Externa Independente”, no início dos anos 1960, tivemos vários slogans para definir as supostamente diferentes orientações externas dos governos sucessivos do regime militar, sinteticamente resumidas a seguir. Da ditadura à redemocratização, este foram os rótulos escolhidos no período:
(a) uma “diplomacia dos círculos concêntricos” (1964-67), supostamente baseada nas teses do coronel Golbery do Couto e Silva sobre a ancoragem do Brasil no chamado Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, e geralmente considerada como “alinhada” a Washington pelas interpretações acadêmicas tradicionais, o que está longe de refletir a complexidade diplomática daquela fase;
(b) a “diplomacia da prosperidade” (1967-69), do governo Costa e Silva, retomando as grandes linhas (sem o uso dos conceitos) da diplomacia anterior ao golpe, ou seja, da Política Externa Independente, marcada, por exemplo, pela recusa do Tratado de Não Proliferação Nuclear; ela se desdobrou, logo em seguida, no projeto militar do:
(c) “Brasil Grande Potência”, do governo Médici (1969-74), durante o qual ficaram patentes a vocação do Brasil a assumir um papel, não de mero seguidor da grande potência hemisférica, mas de um verdadeiro protagonista na região, assim como o perfil potencial, embora iniciante, de um candidato a integrar o circulo restrito das potências dotadas de força própria no sistema internacional;
(d) seguiram-se as novas orientações diplomáticas dadas pela dupla Geisel-Azeredo da Silveira, no que se chamou de “pragmatismo responsável e ecumênico” (1974-79), que de fato representou uma inovação conceitual e prática em diversas áreas de interesse, aliás dotada de intenso ativismo diplomático; e, finalmente:
(e) o “universalismo” (1979-85) de Saraiva Guerreiro, que consolidou as grandes linhas da gestão anterior, mas com um tratamento mais burocrático do que personalizado dos temas da agenda corrente (nada muito original, portanto).

Esses rótulos, supostamente definidores da política externa que se pretendia implementar em cada fase, ou que foi tentativamente implementada, não têm muita importância em si mesmos, ou seja, como reveladores da política externa efetivamente seguida, no âmbito do governo que os escolheu, mas são reveladores de certa psicologia de seus autores, ou proponentes, inclusive no que se refere à necessidade pressentida de apresentar alguma justificativa, ou legitimação, em vista das mudanças propostas, que podem representar uma espécie de inflexão, ou ruptura, ao que vinha sendo seguido anteriormente. Assim foi com a chamada PEI, que supostamente representaria uma saída do “alinhamento incondicional” com as posturas internacionais dos EUA, em direção (mas de forma moderada) do chamado não-alinhamento, do neutralismo ou de uma “terceira posição”, cujo charme e distinção, na fase anterior ao golpe, não deixava de encabular, retrospectivamente, os membros da diplomacia profissional servindo ao regime militar. Em sua vigência, o rótulo de maior “sucesso conceitual”, durante esse longo período, foi aquele que efetivamente correspondeu a uma fase de maiores mudanças nas orientações de política externa e de ativismo diplomático, ou seja, o “pragmatismo responsável e ecumênico”, da dupla Ernesto Geisel e Antonio Azeredo da Silveira, notável pela inflexão decidida da segurança para o desenvolvimento, como não deixou de registrar uma das melhores analistas do período, Letícia Pinheiro.
Mas não é o caso de examinar, aqui e agora, as características de cada uma dessas diplomacias respectivas, que de fato foram relativamente inovadoras em relação ao que havia antes e ao que foi feito depois. O trabalho a ser conduzido, num novo exercício abrangente de análise de um suposto “pensamento diplomático” durante a era militar, compreenderia o exame dos itinerários respectivos das diferentes políticas externas do período, o que também implica tratar da questão da continuidade ou da ruptura nas principais orientações diplomáticas em cada fase, tal como definidas na defesa que delas fizeram seus respectivos proponentes, diplomatas profissionais ou tecnocratas (civis e militares) do regime.
Em política externa, o normal é a continuidade, sendo mais raras as fases de ruptura, inclusive por causa dos compromissos externos que não podem ser rompidos facilmente, e porque também existe um corpo consolidado de posições que reflete um determinado modo de inserção no sistema de relações internacionais – nas suas diferentes vertentes, bilateral, regional, multilateral – e um staff especializado, de caráter permanente, que tende a ser conservador nos hábitos e no pensamento. Os diplomatas são, em geral, continuístas, legitimistas (no sentido em que sempre vão defender o governo do momento), burocráticos, cautelosos ao extremo e, portanto, tendentes ao continuísmo em política externa e na política nacional, de modo amplo.
Isso não impede o acolhimento de novas ideias, quando elas correspondem ao Zeitgeist, ou os ares do momento, como podem ter sido, em suas respectivas épocas, o desenvolvimentismo cepaliano e de JK, a Política Externa Independente, de Quadros e Arinos, preservada na administração Goulart-San Tiago Dantas, e até o último chanceler do regime de 1946, João Augusto de Araújo Castro, um dos raros diplomatas não burocratas, e tido por muitos como intelectual. Aquilo que se pode chamar de ideologia do desenvolvimento é a ideologia oficial do Itamaraty, e é também a ideologia nacional brasileira desde a era Vargas, e especialmente desde os últimos anos da república de 1946, mas também durante quase toda a era militar, e paradoxalmente no decorrer da diplomacia lulopetista. Não existe propriamente novidade em registrar que o presidente Lula era um grande admirador do presidente Geisel, o mais autoritário, concentrador, estatizante e intervencionista dos presidentes militares, assim como a dupla Samuel-Amorim era admiradora confessa da Política Externa Independente, e ambos não relutavam em admitir que estavam resgatando tudo aquilo que tinha sido defendido nos anos de suposto não-alinhamento com a potência imperial e de compromissos com os objetivos desenvolvimentista daquela época. Ainda que Lula não exibisse, nem de longe, qualquer uma das supostas “qualidades” do presidente Geisel, de certa forma um “tecnocrata” exemplar do regime militar, ele tinha grande apreço, mesmo de forma inconsciente e totalmente instintiva, pela via “prussiana” do desenvolvimento brasileiro, ou seja, pelo alto, feita de um exagerado intervencionismo estatal, um protecionismo igualmente míope e todo aquele impulso megalomaníaco de fazer do Brasil uma grande potência, respeitada nos cenários regional e internacional.
O próprio corpo de servidores do Itamaraty tende a ser mais continuísta, com base naquela “ideologia desenvolvimentista” que já era a sua desde meados dos anos 1950, e que persiste, sob variedades levemente modificadas, até os dias que correm. Mas os diplomatas profissionais também são “legitimistas”, no sentido em que podem se adaptar facilmente a mudanças de postura, tais como emanadas da presidência da República. Tal foi o caso da primeira fase do regime militar – o suposto alinhamento do governo Castelo Branco com as teses da potência líder do Ocidente, o que não corresponde inteiramente à verdade dos fatos – e também das várias mudanças operadas no breve interlúdio de Fernando Collor na presidência (1990-92), quando novas orientações, de abertura econômica e de liberalização comercial, foram impressas naquela conjuntura (revisão metodológica no Mercosul, adoção de ampla reforma tarifária, que correspondeu à Tarifa Externa Comum, aceitação dos novos temas na Rodada Uruguai do Gatt, revisão da política nuclear, início do processo de privatização de companhias estatais, etc.). Foi também o caso da presidência FHC, quando se alterou a política nuclear brasileira, no sentido da aceitação do TNP (1968), e de diversos outros compromissos em geral alinhados com a postura globalizante e progressista do presidente. Não é necessário registrar que o Itamaraty se acomodou, ao seu estilo profissional, às idiossincrasias dos tempos não convencionais do lulopetismo.
O período final do regime militar já não exibia mais aquelas preocupações exageradas com a segurança – ou seja, o anticomunismo oficial – que tinham caracterizado o seu início. Já não se falava mais em “Brasil Grande Potência”, inclusive porque foram anos e anos de crises contínuas (o segundo choque do petróleo, em 1979, a crise da dívida externa, a partir de 1982, e que ocupou o Brasil e a sua diplomacia pela década e meia seguinte), e sim em esforços de desenvolvimento no quadro das grandes mudanças trazidas pelo “aggiornamento” nos regimes comunistas, inauguradas pelo reformismo da era Deng Xiaoping na China, e logo seguidas pelo “glasnost” e pela “perestroika” do breve período Gorbatchev na União Soviética.
A diplomacia brasileira continuou a ser conservadoramente desenvolvimentista, e bastante relutante em aceitar novos compromissos de abertura econômica ou de liberalização comercial, embarcado na integração bilateral com a Argentina, processo que foi ampliado em formato quadrilateral no início dos anos 1990, com a constituição do Mercosul. A diplomacia de FHC foi basicamente profissional, ou seja, itamaratiana, com as já mencionadas inovações na área da política nuclear e da aceitação cautelosa de novos compromissos em matéria de acordos comerciais (multilaterais e hemisféricos). Os companheiros, por sua vez, inventaram iniciativas mentirosamente “inéditas” que se conformassem ao seu desejo de se enquadrar na fábula do “nunca antes” e de um “ativismo” e de uma “altivez”, que disfarçaram mal seu alinhamento inquestionável com os interesses da mais longeva ditadura da América Latina. Mas nos temas que realmente integravam a agenda diplomática, o continuísmo no seu encaminhamento, ainda que não nos procedimentos, foi de rigor.
A prioridade para a América do Sul, por exemplo, já estava dada desde o início da era FHC, e mesmo antes, sob a gestão de Itamar Franco, quando se tentou contrapor às iniciativas americanas – a de Bush pai e a de Clinton – de um amplo acordo hemisférico de livre comércio a proposta de um superficialmente formulado projeto de Alcsa, uma área de livre comércio sul-americana (jamais realizada formalmente, senão por uma miríade de acordos parciais na Aladi). A abertura e o relacionamento com grandes parceiros do chamado Sul Global (uma invenção geográfica sem qualquer sentido econômico ou mesmo diplomático) já estava posta desde muito antes igualmente, inclusive porque o Itamaraty sempre foi adepto dessas alianças terceiro-mundistas. O projeto de FHC de integrar fisicamente a América do Sul foi despudoradamente roubado, reinventado sob outro nome e, como várias outras iniciativas companheiras nessa área, permaneceu não implementado, por falta de competência para levá-lo adiante, sem as parcerias anteriormente previstas no projeto original. O multilateralismo como metodologia geral também nunca deixou de ser praticado por uma diplomacia feita mais de transpiração do que de inspiração.

4. Um caso a resolver: existiu um ‘pensamento diplomático’ de 1964 a 1985?
Dadas estas considerações de ordem geral sobre a diplomacia brasileira ao longo do último meio século, seria possível, a partir daí, estabelecer um debate fundamentado sobre o seria, ou o que representaria, um “pensamento diplomático” durante o regime militar, certamente um amálgama de diferentes vertentes ideológicas, de inspirações conceituais e de inovações metodológicas? Talvez, mas isso implicaria em examinar, ou reexaminar todos os “discursos” diplomáticos (presidenciais e de chancelaria) das duas décadas correspondentes e tentar extrair, a partir dessa massa que já vimos ser bastante diferenciada em seus propósitos e motivações, alguma rationale que caracterize de fato a existência desse suposto pensamento.
Ele seria, provavelmente, uma síntese das tradições bem assentadas da diplomacia profissional com os novos impulsos doutrinais e os requerimentos práticos – segurança, desenvolvimento, autonomia, defesa da soberania, busca de espaços nos sistemas regional e internacional, etc. – próprios do “pensamento militar”, se é que ele também existiu de forma consolidada na expressão das diversas correntes das FFAA que se mantiveram no poder durante o período. Este seria um empreendimento ao qual eu poderia me dedicar no âmbito do novo projeto proposto pela Funag na continuidade da obra “Pensamento Diplomático Brasileiro”, de 1750 a 1964. Uma discussão desse tipo implica um exame dos escritos, pronunciamentos, memórias e documentos dos principais personagens (não apenas diplomatas) envolvidos na formulação e execução das principais iniciativas do país na vertente externa, mas também do debate nacional, de modo amplo, em torno da maquinaria diplomática em suas frentes de atuação.
Talvez eu me dedique a esse tipo de exercício intelectual, mas não antes de concluir um exame completo da “economia” do período militar, ou seja, uma análise das políticas econômicas, das relações econômicas internacionais do período, das conjunturas externas e seu efeitos sobre o Brasil, bem como os resultados desses diferentes elementos objetivos tal como refletidos nos principais indicadores do período, em suas diferentes fases. Os “discursos” diplomáticos refletirão, em parte, as injunções externas, mas também não deixaram de expressar os objetivos manifestos dos governos em defesa do “interesse nacional” na frente externa, um conceito plenamente identificado com a era militar.
O empreendimento, tal como descrito e discutido preliminarmente neste projeto de trabalho, pode se revelar interessante, mas a consistência da hipótese conceitual sobre a existência de um “pensamento diplomático” ainda permanece, no estado atual da pesquisa, sob questionamento. Em todo caso, Trata-se de um esforço exploratório provavelmente suscetível de render alguns ensaios de qualidade sobre os fundamentos políticos, econômicos (e até filosóficos, talvez) e propriamente diplomáticos (no sentido funcional da expressão) das diferentes (não necessariamente contraditórias) políticas externas implementadas sob os governos militares durante o período autoritário. O presente texto, portanto, tem caráter puramente tentativo, no sentido de examinar hipóteses em torno de um conceito ambíguo, ainda não convertido em paradigma de expressão diplomática.


Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag;
Professor de Economia Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub).
Brasília, 4 de maio de 2017

Fundando um banco de desenvolvimento: o BNDE de Roberto Campos - Paulo Roberto de Almeida

Mais um dos textos que eu produzi em homenagem a Roberto Campos, no ano de seu centenário.


Fundando um banco de desenvolvimento: o BNDE

Paulo Roberto de Almeida
Publicado in: Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro (orgs.), Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100 (São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017, 344 p; ISBN: 978-85-66418-13-2), p. 71-74. Relação de Publicados n. 1258.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico é o resultado de um longo e exitoso processo de cooperação econômica bilateral, entre os Estados Unidos e o Brasil, que vinha sendo implementado praticamente desde a conferência extraordinária de chanceleres das repúblicas americanas, realizada no Rio de Janeiro em janeiro de 1942, imediatamente após o ataque traiçoeiro do Japão à frota americana sediada no Pacífico, em Pearl Harbor (Havaí), em 7 de dezembro de 1941, o qual recebeu a também imediata condenação do Brasil, que estendeu total solidariedade ao grande irmão do hemisfério. Um dos parágrafos da declaração final do Rio de Janeiro já trazia embutida, aliás, a ideia da criação de uma entidade dedicada ao restabelecimento dos pagamentos correntes – que seria materializada, dois anos depois, na instituição do FMI – e do apelo à retomada dos financiamentos ao desenvolvimento, o que era parcialmente suprido pelo Eximbank (criado em 1934) e que seria depois atendido pela fundação do Banco Mundial. As conferências de Chapultepec, no México, em janeiro de 1945, e de Bogotá, que instituiu a OEA, em 1948, também fazem parte desse mesmo impulso à cooperação econômica hemisférica, esta última, por sinal, introduzindo a demanda latino-americana de um “Plano Marshall para a América Latina”.
Um acordo concluído entre o ministro das Relações Exteriores Raul Fernandes e o embaixador americano no Rio de Janeiro, em dezembro de 1950, ao final do governo Dutra, criou uma comissão bilateral voltada para as demandas brasileiras de assistência em seu processo de desenvolvimento. Roberto Campos, que havia retornado pouco mais de um ano antes de sua estada de seis anos nos EUA, teve a chance de participar de mais um exercício de planejamento econômico estatal, essencial na sua formação ulterior de grande tecnocrata do desenvolvimento brasileiro. Como ele mesmo relatou em suas memórias: “Uma das mais gratificantes experiências de minha vida foi a participação, como conselheiro econômico, na Comissão Mista Brasil-Estados Unidos. Experiência gratificante pela contribuição que a Comissão trouxe sob dois aspectos. Primeiro, a implantação no Brasil de técnicas de análise de projetos e de rentabilidade e, segundo, sua contribuição essencial para a criação do BNDE, encarregado de provar a contrapartida em cruzeiros, para os financiamentos estrangeiros obtidos através da Comissão.” (A lanterna na popa, 1994, p. 151).
O relatório final da Comissão, de 31 de dezembro de 1953, resume os 41 projetos examinados por técnicos dos dois países, e sua redação traz a marca de Roberto Campos que, junto com mais dois técnicos brasileiros (Glycon de Paiva e o coronel Mario Poppe de Figueiredo) e dois americanos, desempenhou a função de assessor econômico da seção brasileira, ao lado do mesmo Glycon de Paiva, Valentim Bouças e Lucas Lopes, sob a liderança do presidente brasileiro Ary Frederico Torres (ver The Development of Brazil; report of the Joint Brazil-United States Economic Development Commission; Washington: Institute of Inter-American Affairs, 1953). O prefácio tocava no aspecto do financiamento: “A necessidade de capital privado foi reconhecida por ambos os governos, mas ficou claro que capital de empréstimo de fontes públicas também era necessário para superar os ‘estrangulamentos’ em setores básicos, como transporte e energia, sem o qual as oportunidades para investimentos de capitais privados poderiam ser seriamente prejudicadas.” (p. vi).
Mais adiante, o BNDE, que tinha sido criado no curso da assistência prestada, é expressamente mencionado: “Com respeito ao financiamento potencial dos projetos, a principal responsabilidade pela atribuição de empréstimos e créditos em cruzeiros, particularmente no setor ferroviário, ficaria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, que tinha sido organizado durante a vigência da Comissão Mista para essa finalidade.” (p. vii). O BNDE passaria a trabalhar conjuntamente com o BIRD e o Eximbank para o componente em divisas desses financiamentos, que foi confirmado como “a agência primordialmente responsável pela implementação dos projetos de investimentos nos campos fundamentais recomendados pela Comissão Mista.” (idem).
De fato, o BNDE foi criado pela lei 1658, de 20 de junho de 1952, e passou imediatamente a trabalhar. Roberto Campos foi designado, logo no dia 2 de agosto, diretor superintendente, encarregado da organização do Departamento Econômico, ao lado de Glycon de Paiva, que chefiava o Departamento Técnico. Pouco depois, no entanto, com o afastamento do diretor-superintendente Ari Torres, o presidente Vargas resolveu nomear “um homem de sua confiança pessoal [o jornalista José Soares Maciel Filho], infelizmente com total despreparo econômico e, curiosamente, também sem peso político específico”. (1994, p. 193). Menos de um ano depois de ter assumido o cargo no BNDE, o primeiro secretário Roberto Campos apresentou, com Glycon de Paiva, em 22 de julho de 1953, “nossa carta conjunta de renúncia a Getúlio Vargas, uma vez que Maciel Filho insistia na politização” do BNDE (p. 206). Campos obteve sua remoção como cônsul em Los Angeles, de onde retornou em 1955, já no governo Café Filho, quando seu amigo Eugênio Gudin tinha sido nomeado ministro da Fazenda e Glycon de Paiva foi convidado para presidir o BNDE: seu primeiro ato foi convocar Roberto Campos para trabalhar novamente no Banco.
Ao tomar posse como diretor-superintendente do BNDE, em 14 de março de 1955, Roberto Campos declararia: “Alguém já disse que a tarefa do estadista é, essencialmente, explodir mitos antes que os mitos explodam o Estado. (...) O primeiro [mito] é a noção de que o combate à inflação (...) é incompatível com a preservação do desenvolvimento econômico. Ora, a verdade é que uma inflação persistente e aguda, como a da recente conjuntura brasileira, estrangula fatalmente o desenvolvimento econômico, mais cedo ou mais tarde... (...) A segunda das ilusões... (...) reside em julgar-se que é possível esperar prestação e ampliação de serviços pelo Governo, com desatenção ao custo econômico real desses serviços. (...) O terceiro mito é pensar que o bem-estar e a elevação do padrão de vida podem ser atingidos diretamente por medidas legislativas ou imposições redistributivas, por melhor concebidas que pareçam. É que o bem-estar é um subproduto do desenvolvimento econômico e não um artigo de destilação direta.” (Campos, Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 158-160).
Convertido mais adiante em presidente do BNDE, pelo presidente Juscelino Kubitschek, Roberto Campos confirmou, em seu discurso de despedida, em 29 de julho de 1957, que “logrou o BNDE [ou seja, ele mesmo] escapar ao tríplice escolho em que não raro se machucam e espedaçam as nossas empresas do Estado: a politização, o empreguismo e a descontinuidade”. (idem, p. 255).
A verdade é que, como ele relatou em suas memórias, as suas “relações com Juscelino se haviam gradualmente esfriado. Eram fatores cumulativos. Juscelino sentia minha latente hostilidade pela sua dileta pirâmide ‘Brasília’.” Os resultados da política econômica de JK foram duas: “aceleração da inflação e derrocada cambial” (1994, p. 376).
Ele informa ainda: “Esse interregno de ostracismo permitiu-me dedicar um pouco mais de tempo à docência da cadeira de Moeda e de Crédito na Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, então Universidade do Brasil, cadeira em que havia sucedido ao professor Gudin. (...) Na saída do BNDE, acompanharam-me vários colegas do Itamaraty – Miguel Osório de Almeida, Geraldo Holanda Cavalcanti e Lindenbergh Sette – que eu havia atraído para o banco e para o Conselho de Desenvolvimento, pelo interesse que tinham em planejamento econômico. Passaram a enfrentar problemas de sobrevivência, ao perderem as gratificações que suplementavam os magros salários do Itamaraty.” (1994, p. 379).

Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira e diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag/MRE.
 [Brasília, 8 fevereiro 2017]

Bretton Woods: o nascimento da atual ordem economica internacional - Paulo Roberto de Almeida

O trabalho abaixo não é exatamente sobre Bretton Woods, embora o seja. Explico. Pediram-me para escrever algo a respeito de Bretton Woods num livro em homenagem a Roberto Campos, o que fiz, com o texto abaixo. Acho que se sustenta como relato histórico.
Paulo Roberto de Almeida 


Bretton Woods: o aprendizado da economia na prática

Paulo Roberto de Almeida
Publicado in: Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro (orgs.), Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100 (São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017, 344 p; ISBN: 978-85-66418-13-2), p. 52-56. Relação de Publicados n. 1257.

Em maio de 1944, o presidente Franklin D. Roosevelt, no seguimento de preparativos que vinham sendo feitos desde longos anos pelo Departamento de Estado, sob a liderança de Cordell Hull, formula um convite a 44 “nações unidas e associadas”, entre elas o Brasil, para discutir a reconstrução econômica do pós-guerra, por meio de uma conferência diplomática que deveria reunir-se em Bretton Woods e dedicar-se a superar o quadro de anomia institucional que prevalecia no mundo desde a crise de 1929 e a depressão dos anos 1930. Tratou-se de um momento único, de certa forma ainda prevalecente, na história das relações econômicas internacionais contemporâneas, uma vez que dessa conferência emergiram as mais importantes instituições da cooperação monetária e financeira entre as principais economias de mercado do pós-guerra, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). A reunião, realizada num “bucólico hotel desse vilarejo, nas montanhas do New Hampshire” (Campos, A Lanterna na Popa; Rio de Janeiro: Topbooks, 1994: p. 62), constituiu, igualmente, uma oportunidade inédita oferecida a uma comunidade diversificada de importantes economistas e de diplomatas experimentados de estar “presente na criação” do mundo atual, como relatado mais tarde por um dos Secretários de Estado do país anfitrião, Dean Acheson. Roberto Campos foi um desses homens, a despeito de não ser, ainda, nem um importante economista, nem um diplomata experimentado.
Assim que foi removido para os Estados Unidos, nos primeiros meses do envolvimento americano na Segunda Guerra Mundial, na sequência do ataque japonês a Pearl Harbor, e já se ocupando, quando na Secretaria de Estado, dos pedidos de abastecimento ao Brasil em materiais essenciais à sua economia junto ao governo americano, Roberto Campos começou seriamente a estudar economia. Ele, que reconhecia “não ter entrado na diplomacia por vocação e ter estudado economia por acidente” (1994, p. 110), logo teria oportunidade de aprender economia na prática, pois, menos de dois anos depois de removido para os EUA, foi designado para integrar, na qualidade de assessor, a delegação brasileira.
O Brasil esteve representado em Bretton Woods pelo ministro da Fazenda do governo Vargas, Arthur de Souza Costa, que chegou a presidir um dos comitês (o de “organização e administração”) da Comissão I da Conferência (que tratava do próprio FMI). Acompanhavam-no, como delegados, entre outros, Francisco Alves dos Santos Filho, da Carteira de Câmbio do Banco do Brasil; Valentim Bouças, à época pertencente à Comissão bilateral de Controle dos Acordos de Washington sobre a dívida brasileira; Eugenio Gudin, membro do Conselho Econômico e Financeiro e do Comitê de Planejamento Econômico da presidência da República; Octávio Gouveia de Bulhões, da Divisão de Estudos Econômicos e Financeiros do Ministério da Fazenda; e Vitor Bastian, Diretor do Banco da Província do Rio Grande do Sul (de onde vinha Souza Costa antes de ser convidado por Vargas para substituir Oswaldo Aranha na Fazenda). Fazia ainda parte da delegação um jovem economista do Banco do Brasil, Santiago Fernandes, ademais, obviamente, de Roberto de Oliveira Campos, então segundo secretário da Embaixada em Washington. Sua integração à delegação brasileira foi solicitada pelo próprio ministro da Fazenda, Arthur da Souza Costa, provavelmente sob recomendação de outros membros mais influentes da equipe negociadora.
A delegação brasileira propôs uma conferência específica para promover a estabilidade nos preços dos produtos de base, ideia que seria retomada na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Emprego em Havana e em diversas reuniões econômicas que, nos anos 50 e começo dos 60, levam à constituição da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. No entanto, os esforços do Brasil e de outros países para viabilizar medidas em prol do desenvolvimento econômico não encontraram eco nos debates em Bretton Woods. Os acordos de constituição do FMI, assim como o Acordo Geral de 1947, negociado três anos depois em Genebra, não fizeram nenhuma distinção entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Não se tratava, no entanto, de uma discriminação voluntariamente perversa: o problema simplesmente não se colocava, na ótica dos que convocaram a Conferência de Bretton Woods. A reorganização econômica e monetária do mundo era um problema a ser resolvido basicamente entre as grandes potências, que se consideravam como as únicas “responsáveis pela ordem internacional”. Em Bretton Woods atuaram essencialmente os EUA e a Grã-Bretanha: todos os demais participantes eram meros figurantes. O fato de os acordos de Bretton Woods não trazerem nenhuma distinção entre países avançados e países em desenvolvimento pode ser explicado pelo contexto da época, quando a questão prioritária era a da reconstrução econômica dos países em guerra, a começar pelas potências capitalistas da Europa.
A par de assistir, ainda que como mero assistente da delegação, a importantes debates entre as principais personalidades presentes, Campos travou relações com técnicos brasileiros, com os quais viria a trabalhar ou a colaborar nos anos seguintes (entre eles Eugênio Gudin, Valentim Bouças, Octavio Gouvêa de Bulhões e Vitor Bastian Pinto) e com grandes economistas internacionais, com os quais também manteve relações em sua carreira ulterior, como Edward Bernstein, do Departamento do Tesouro americano, ou Lionel Robbins, do Reino Unido, que ele depois recebeu várias vezes na embaixada em Londres, quando representante do Brasil (1974-1982).
Gudin e Bulhões, os verdadeiros articuladores das posições brasileiras em Bretton Woods, argumentaram em prol de um esquema de estabilização dos preços e de controle dos estoques dos produtos de base, de maneira a evitar as flutuações erráticas que pudessem perturbar as receitas de exportação, a estabilidade de preços e o próprio crescimento do comércio de matérias primas. No entanto, o máximo que se conseguiu obter em Bretton Woods nesse particular foi um chamamento à organização de uma nova conferência das Nações Unidas para tratar dessas questões, que foram, todavia, apenas parcialmente encaminhadas em Havana.
De volta à rotina de Washington, para tratar dos suprimentos para Volta Redonda e para outras carências essenciais da “economia de guerra” no Brasil, Campos confirmou sua “profunda e penosa impressão da dependência brasileira em relação a suprimentos externos” (1994: 74):
Literalmente, a economia brasileira paralisaria, não fossem os fornecimentos americanos. Além de produtos como aço, celulose e papel de imprensa, produtos químicos de base, máquinas e equipamentos, havia uma fundamental dependência em relação ao petróleo importado.
Convenci-me então da extrema urgência de desenvolvimento do petróleo nacional no prazo mais curto possível, pouco importando a origem dos capitais. Nunca entendi, por isso, durante as discussões do Estatuto do Petróleo, no governo Dutra, os devaneios nacionalistas, segundo os quais a exploração de petróleo por empresas estrangeiras, os chamados ‘trustes do petróleo’, significariam uma espécie de penhora da independência.
Para mim, ao contrário, a forma mais humilhante de dependência estratégica era não ter o petróleo produzido localmente. Tê-lo produzido no país, ainda que por capitais estrangeiros, seria uma forma de diminuir a dependência. E uma forma extremamente racional, pois, dado o alto risco da exploração petrolífera, seria melhor reservar os escassos capitais nacionais para atividades de remuneração certa. (...)
A experiência de Washington vacinou-me assim contra o ‘nacionalismo petrolífero’, que seria mais tarde objeto de passionais debates, ao longo de trinta anos de história brasileira. (1994: 74-5)

Essa rara combinação de sólida formação teórica, no campo da economia, com a experiência prática adquirida na diplomacia, e seu envolvimento em conferências diplomáticas em momentos decisivos da formulação e implementação da ordem econômica mundial que, de certa forma, ainda é a nossa – qual seja, o universo conceitual e organizacional de Bretton Woods e do sistema multilateral de comércio – permitiu que Roberto Campos combinasse essa expertise nascida do estudo da economia com a vivência real em instâncias definidoras da estrutura contemporânea da economia mundial para exercer seus talentos na burocracia pública o com brilho invulgar que sempre o caracterizou, e que o marcaram como um dos homens públicos que mais influência exerceram tanto sobre o ambiente regulatório brasileiro dessas décadas, quanto sobre o próprio debate público na área econômica (e até política), ou seja, sobre o pensamento econômico brasileiro da segunda metade do século 20 (e de certa forma ainda hoje).

Paulo Roberto de Almeida, diplomata de carreira e Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag/MRE.

[Brasília, 7 de fevereiro de 2017]