O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Trajetória do pensamento brasileiro - 200 anos de produção intelectual - Paulo Roberto de Almeida

Meu próximo livro:
Trajetória do pensamento brasileiro:
dois séculos de produção intelectual




    Prefácio: dois séculos de produção intelectual no Brasil        
1. O primeiro estadista: Hipólito José da Costa
2. O patriarca da nação: José Bonifácio de Andrada e Silva     
3. O patrono da historiografia: Francisco Varnhagen      
4. O pioneiro da industrialização: Irineu Evangelista de Souza  
5. Um germanófilo insurreto: Tobias Barreto     
6. Um monarquista frustrado: Joaquim Nabuco   
7. O pai da diplomacia brasileira: Barão do Rio Branco  
8. Um historiador diplomático: Oliveira Lima                
9. Um tribuno republicano: Ruy Barbosa                  
10. Um revolucionário modernizador: Oswaldo Aranha                                                  
11. Um visionário do progresso: Monteiro Lobato                                                          
12. A luta pela educação: Fernando de Azevedo                                                              
13. O progresso pelas mãos do Estado: Roberto Simonsen                                             
14. Um Dom Quixote pela economia de mercado: Eugênio Gudin                                 
15. Um jurista weberiano malgré lui: Raymundo Faoro                                                  
16. O pensador da política: Afonso Arinos de Mello Franco                                           
17. O economista desenvolvimentista: Celso Furtado                                                      
18. O progresso na inserção econômica global: Roberto Campos                                   
19. Um estudioso da sociedade patriarcal: Gilberto Freyre                                              
20. A interpretação marxista da história: Caio Prado Jr.                                                  
21. Um sociólogo incontornável: Florestan Fernandes                                                    
22. Do marxismo ao liberalismo: Antonio Paim                                                              
23. O enfant terrible do liberalismo: Gustavo Franco                                                      
24. A diplomacia na construção da nação: Rubens Ricupero                                           

Apêndices
Livros de Paulo Roberto de Almeida                        
Nota sobre o autor                                                     

Ainda em composição...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de setembro de 2019

Política Externa Brasileira e Soberania Nacional - Samuel Pinheiro Guimaraes e Paulo Roberto de Almeida (26/09, Brasilia)

Nesta quinta-feira (26 de setembro) o Seminário Diálogos em Construção terá como tema a 
Política Externa Brasileira e Soberania Nacional 

O evento vai acontecer às 19h30, no Centro Cultural de Brasília (Jesuítas), com a participação dos embaixadores Paulo Roberto de Almeida e Samuel Pinheiro Guimarães Neto.
Mais informações: https://bit.ly/2kR1gKt
O evento terá transmissão ao vivo no canal do youtube do OLMA: https://www.youtube.com/channel/UCLmHVrMFDzLXx0u9mFrom6g 
Fone: 3426-0400






domingo, 22 de setembro de 2019

O charme empoeirado dos sebos - Arnaldo Godoy e Carlos Drummond de Andrade

Arnaldo Godoy, meu amigo e colega acadêmico, retira das catacumbas de sua imensa biblioteca uma deliciosa crônica de Drummond sobre esses quase desaparecidos objetos de prazer intelectual, numa conjuntura em que até mesmo os sebos já se converteram em virtuais.
Paulo Roberto de Almeida

EMBARGOS CULTURAIS

Drummond de Andrade e o espaço democrático dos sebos


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Livrarias são negócios em extinção. Foi-se o tempo no qual passávamos horas folheando passagens, namorando capas, fazendo contas do que poderíamos levar, levando. Livros que muitas vezes nunca lemos, e talvez nunca leremos, mas que precisamos que estejam perto, bem pertinho. Inevitável a pergunta de quem nunca leu, ou não gosta de ler, ao fitar uma biblioteca gorda: você já leu todos esses livros?
As livrarias, assim como os cinemas, transformaram-se em meganegócios de shoppings. São livrarias do tipo cheesecake, nas quais toma-se um café caríssimo, contemplam-se gôndolas cheias de best-sellers, de autoajuda (se fossem bons, não haveria tantos) e de receitas para todos os tipos de concurso, de carcereiro até auditor de qualquer auditoria. Vendem-se também moleskines. São lindos cadernos de capa dura, decorados, estão em moda, e foram popularizados porque um escritor inglês de livros de viagem, Bruce Chatwin (1949-1989) os utilizava. Essas livrarias também caminham para o fim. O kindle, que aliás é muito eficiente, toma espaços, sem ocupar espaços.
Sobram os sebos. Também em extinção. A estante virtual, um inegável s.o.s. bibliográfico, no caso, não conta. Falo dos sebos de verdade, cujo nome deriva dos livros antigos e gordurosos, porque lidos pela noite, ao lado das velas. Ilustro a angústia com uma deliciosa crônica de Carlos Drummond de Andrade, O Sebo[1], na qual esse incomparável escritor mineiro captou todas as nuances que definem os sebos como espaços decididamente democráticos. 
Segundo Drummond os sebos foram “cedendo lugar a lojas sofisticadas, onde o livro é exposto como artigo de moda, e há volumes mais chamativos do que as mais doidas gravatas, antes objeto de decoração de interior, do que de leitura”. No sebo, de acordo com Drummond, realizamos operações de resgate, encontrando livros que um dia presenteamos, que nunca encontramos, que perdemos, ou que esquecemos em algum lugar. Para Drummond, esse resgate é uma operação de ternura: vem para minha a estante!
Sebos, segue o autor, devem ser agradavelmente desarrumados, “como convém ao gênero de comércio, para deixar o freguês à vontade”. Os fregueses não se conhecem uns aos outros, mas “são todos conhecidos como frequentadores crônicos de sebo”. De acordo com o escritor mineiro, frequentadores de sebo usam roupas escuras, falam baixo e andam devagar. Sebo não é lugar de gritaria. Amantes de sebo formam uma confraria silenciosa. Para Drummond, procurar aquele livro, mesmo não achando, é ótimo. Segundo o escritor, em sua casa não havia lugar nem para as contas de luz, mas os livros continuavam a chegar. A mulher, zangada, exclama: trouxe mais uma porcaria para casa! O comprador compulsivo de livros lembra que não se trata de uma porcaria, o livro tem um verso ou uma passagem que um dia comoveu o casal. Foi antes do cotidiano cruel, que não souberam, ou não conseguiram domar. Faltou livro, para um dos dois. 
Para Drummond os sebos são promíscuos. Convivem em prateleiras cheias de pó autores distintos, distantes e diversos, que nunca se entenderiam. Tem de tudo, Dante, Mandrake, Tolstoi, o próprio Drummond, Constituição de 1988 (edição de 1991), todo tipo de Machado de Assis e até aquele Júlio Verne que você leu em 1975, e agora pode dar para o filho adolescente. 
Principalmente, para Drummond, “o sebo é a verdadeira democracia, para não dizer: uma igreja de todos os santos, inclusive os demônios, confraternizados e humildes”. Segundo esse sensível autor, saímos dos sebos com um “pacote de novidades velhas”, a sensação de que se visitou, “não um cemitério de papel, mas o território livre do espírito, contra o qual não prevalecerá nenhuma forma de opressão”. 
Enquanto existirem sebos, e esses maravilhosos livros que constroem nossas almas, não triunfará o obscurantismo do twitter e dos zaps rápidos. No twitter, não se escreve. No twitter se gorjeia. Essa é a explicação da ferramenta: pia-se, como uma ave. Por isso, o símbolo é um pássaro. Repararam?
Por outro lado, o sebo, assim inspira Drummond, pode ser também um alinhamento de estacas que serve de barreira defensiva contra aqueles que querem refundar a astronomia, sem estudá-la, remodelando os astros, na forma e na essência, tornando-os planos e não gravitacionais. O sebo é um garimpo, no qual a pedra preciosa é a própria alma do frequentador. Nos livros usados, encontramos marcas, bilhetes, fotos, contas de água, anotações, sonhos em formas de páginas amareladas. 
Essa crônica de Drummond, O Sebo,é receita impecável para uma leitura com voz carinhosa, para a pessoa amada, como forma de explicação, ou de justificação. Também não se pode esquecer que aquele verso ou aquela passagem que um dia empolgaram podem voltar a qualquer momento. É justamente essa lembrança que pode separar o que é sólido do que é efêmero. Porque aquele livro esquecido e reencontrado pode ser o pacto fundante do amor incondicional. 

[1] Carlos Drummond de Andrade, O poder ultrajovem, Rio de Janeiro: Record, 2011, pp. 177 e ss.

The importance of presidential leadership for Brazilian foreign policy - Sean Burges (Foreign Policy, 2017)

O artigo abaixo foi escrito pelo brazilianist Sean Burges em 2017, ou seja, bem antes que se imaginasse que a diplomacia do Brasil e a sua política externa fossem ameaçadas por lideranças tão medíocres quanto as atuais.
Paulo Roberto de Almeida

The importance of presidential leadership for Brazilian foreign policy
Policy Studies, 2017
Sean Burges