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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 15 de novembro de 2020

Ricupero, sobre a vitória de Joe Biden (FSP)

 Já coloquei neste espaço minha resposta pelo NÃO.

A vitória de Joe Biden é uma boa notícia para o Brasil? SIM

Haverá espaço para relação construtiva, inclusive em meio ambiente e comércio

  • 7
Rubens Ricupero

Diplomata, ex-embaixador do Brasil em Washington (1991-1993) e Roma (1995); ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda (1993-1994 e 1994, governo Itamar)

Para o Brasil, isto é, para o povo brasileiro, é bom. Para o governo Jair Bolsonaro, não tanto. Os leitores talvez não se lembrem da frase do general Juracy Magalhães: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Pois bem, neste caso ele teria razão.

Basta pensar no aquecimento global. Se não fizer mais nada além de voltar ao Acordo do Clima de Paris, Joe Biden já terá feito um bem imenso ao mundo e, portanto, à parte que nos cabe no planeta comum.

Rubens Ricupero
O diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero - Divulgação

Para o nosso povo, abandonado pelo próprio governo diante da Covid-19, é ótimo que o novo presidente tenha a intenção de prestigiar a ciência na luta contra a pandemia, regressar à Organização Mundial de Saúde e liderar o esforço mundial por uma vacina.

Também será excelente para os amantes da liberdade que Biden convoque, como anunciou, uma Cúpula em favor da Democracia para discutir o aumento do autoritarismo, a luta anticorrupção e os direitos humanos. Quem não vai gostar são os que defendem torturadores, os nostálgicos da ditadura e do AI-5, que querem fechar o Congresso e o Supremo. Para os democratas, a notícia traz alento e esperança.

Da mesma forma, só hipócritas obscurantistas lamentarão que o futuro governo dê impulso às políticas de promoção da igualdade da mulher, aceitação das mudanças sociais em comportamento sexual, diversidade e LGBT. Ao contrário, terá o aplauso de todos os que favorecem a emancipação individual e a evolução da consciência moral da humanidade.

Para o povo brasileiro, que partilha com o americano a herança racista da escravidão, a disposição de Biden de superar o racismo estrutural servirá de estímulo para enfrentarmos nossos fantasmas nessa área. O mesmo vale para a desigualdade crescente, incomparavelmente mais grave entre nós.

O interesse do Brasil nem sempre coincide com o do governo Bolsonaro. Exceto para quem crê que é bom para o país deixar a Amazônia e o Pantanal serem incinerados por grileiros, madeireiros ilegais, pecuaristas gananciosos. Ou permitir que garimpeiros envenenem rios e povos indígenas.

Não para se alinhar à agenda americana, e sim para realizar as genuínas aspirações de nosso povo, a eleição de Biden representa oportunidade de mudar, mais que ameaça. O próprio governo Bolsonaro, se tivesse um mínimo de bom senso, deveria aproveitar a ocasião para repensar a política externa e as orientações em meio ambiente e direitos humanos.

Da parte do democrata Biden, tudo indica que haverá espaço para relação construtiva com o Brasil, inclusive em meio ambiente e comércio. Do lado do governo brasileiro, os sinais não são animadores. A ameaça de recorrer à pólvora para rebater declarações sobre a Amazônia não vai tirar o sono do Pentágono. Mas revela a tamanha imaturidade de Bolsonaro, que provocará no exterior misto de espanto e galhofa.

A eleição de Biden completa o cerco de isolamento internacional de um governo já com péssimas relações com França, Alemanha, União Europeia, China e boa parte da América Latina. Diante disso, Bolsonaro tem duas saídas possíveis. Ou responde com equilíbrio e sensatez, começando por cumprir o dever de civilidade de felicitar o vitorioso na disputa americana, ou age como o fanático que redobra a aposta no erro.

Seja qual for a escolha do governo, o misto de alegria e alívio que saudou a vitória de Biden traz esperança de que se aproxima do fim a hora do poder das trevas nos Estados Unidos e, oxalá, no domínio do seu imitador nos trópicos. E isso é o melhor de tudo para o Brasil!

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

RCEP: a resposta chinesa à tentativa de isolamento comercial por parte dos EUA

 Não é exatamente uma resposta ao TPP — que deveria ser a 12, mas acabou ficando em 11, porque o Trump resolveu retirar os EUA, o que considero um ENORME erro estratégico, ainda que consertável, pelo Biden —, mas é um dos grandes blocos comerciais do mundo, talvez o maior do mundo, no conceito de cadeias de valor, uma realidade da qual o Brasil está ausente.

RCEP shows how China is overcoming U.S. challenge on trade
First Voice

The exterior of the International Convention Center in Hanoi, capital of Vietnam, November 12, 2020. /Xinhua

Editor's note: CGTN's First Voice provides instant commentary on breaking stories. The daily column clarifies emerging issues and better defines the news agenda, offering a Chinese perspective on the latest global events.

Fifteen nations in the Asia-Pacific are coming together on Sunday to sign the world's largest trade agreement, the Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP), ending years of negotiations.

The deal includes China, South Korea, Japan, the nations of the ASEAN bloc, as well as Australia and New Zealand. It constitutes up to a third of the world's gross domestic product. Although India departed from the agreement, it is being hailed as a milestone for regional integration, common prosperity and a shared economic future in Asia, especially in an international environment which has become increasingly beset by protectionism, a unilateral approach to trade and geopolitical hostility.

This is good news for China and the wider region. Beijing has played an instrumental role in shaping and bringing forwards the agreement and has kept it alive despite the challenges it has faced.

This makes clear some realities: China's approach to the region is not cliche "aggression" as misrepresented by Western media, but well contemplated diplomacy. In addition, what the West should understand is that China is integral and core to the regional and global economy, and that this trade pact is an affirmation of that. Ideas such as so-called "decoupling" with China are nonsense, and the RCEP illustrates that nations who pursue such are likely to end up on the outside of the world's economic gravity.

Rational diplomacy, not mindless confrontation

The Western media and their governments constantly misrepresent China and its actions in the world. They often caricature Beijing's responses to the world around it as irrational, threatening and reckless. We hear misleading discourses such as "wolf warrior diplomacy" and an assumption that China's actions are always "backfiring" when it does not align with the West's perspectives or interests. Therefore, it is assumed in line that China is not capable of rational and pragmatic diplomacy. The atmosphere of zero-sum confrontation against Beijing pushed by the Trump administration made this perception worse.

Containers deposited at the Qinzhou Free Trade Port Area in Guangxi Zhuang Autonomous Region, south China, November 9, 2017. /Xinhua

However, in reality, China places more emphasis on diplomacy and dialogue than confrontation. The completion of the RCEP, and more trade deals as set out below, is a testament to that.

While the Trump administration has weaponized tariffs, coercion and unilateralism to secure preferential trade benefits for itself, China has quietly engaged in a robust diplomatic effort to secure multilateral free trade and its role within it. Moreover, while the United States has amplified confrontational policies against China and espoused the rhetoric of "decoupling," China has avoided responding aggressively and locking itself into the Cold War paradigm. Instead of reacting, it has intensified its diplomacy and economic engagement with other countries.

Shared futures

The RCEP is an enormous step forwards for economic integration in Asia.

Although by far the largest and most significant, it is just one of the many trade agreements China has negotiated during the tenure of the Trump administration, including one with the Eurasian Economic Union (Russia, Belarus, Kazakhstan, Armenia, Kyrgyzstan), Cambodia, Mauritius, as well as upgrades in agreements with New Zealand, Pakistan, Singapore and a geographical indications agreement with the EU.

On a diplomatic level, these agreements matter because they uphold the norms of multilateral trade but more significantly, diminish American attempts to decouple China from the global economy.

China has in effect responded to the American challenge, not through confrontation as the media sensationalize it to be, but through deepening its integration with others and staking out its trade future.

The RCEP includes multiple U.S. allies; their agreement to the deal is an affirmation that China will remain an intrinsic economic partner for them and that the region will ultimately work and cooperate together.

While the White House preaches "decoupling," the RCEP is in fact the "coupling" of a geographic area into an economic bloc, meaning that it is not a zero-sum game. For example, commentators enjoy talking about the prospects of Chinese manufacturing shifting to Vietnam, but such a deal means that China gains access to Vietnam's market and vice versa, therefore the gains are mutually beneficial. Trump's policies, however, have ensured that America now sits outside of both major trading blocs in Asia (the RCEP and the TPP).

In this case, critics might want to question, who has really isolated itself in the end? And who has really lost on trade? Diplomacy and multilateralism ultimately triumphs above confrontation and Cold War politics, and China's careful approach has come out well in the end.

(If you want to contribute and have specific expertise, please contact us at opinions@cgtn.com.)

O papel das Forças Armadas - Editorial Estadão, 14/11/2020

O papel das Forças Armadas

Editorial Estadão, 14/11/2020

Em duas ocasiões recentes, o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, manifestou de forma inequívoca o compromisso das Forças Armadas, em especial o da Força Terrestre, com a missão inarredável que lhes é atribuída pela Constituição. Em evento online promovido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) sobre defesa e segurança, no dia 12 passado, o general Pujol afirmou que não só as tropas não querem “fazer parte da política”, como “muito menos deixar que ela entre nos quartéis”. No dia seguinte, durante o Seminário de Defesa Nacional, realizado pelo Ministério da Defesa na Escola Superior de Guerra, o general Pujol voltou a tratar do assunto ao abrir a sua exposição sobre o plano estratégico do Exército enfatizando que a Força sob seu comando é e sempre será “uma instituição de Estado, permanente, e não de governo”, uma instituição cujo compromisso é “com a Constituição e com o País”. As mensagens de Pujol foram reforçadas pelo vice-presidente da República. Ao portal G1, Hamilton Mourão disse que “não se admite política nos quartéis porque isso acaba com os pilares básicos das Forças Armadas, a disciplina e a hierarquia”.

São raras as manifestações públicas do comandante do Exército, sobretudo para tratar de tema tão sensível nestes tempos estranhos de flerte desabrido com ideias autoritárias. Qual é, afinal, o papel das Forças Armadas num Estado Democrático de Direito, como é o Brasil? Como impedir que a política “entre nos quartéis”, se o próprio presidente da República, o comandante em chefe das Forças Armadas, insiste em se utilizar delas para intimidar adversários e demonstrar prestígio político? O estrito respeito à Lei Maior e às leis complementares que tratam da atuação dos militares é a resposta. Elas delimitam muito bem quando e como as Forças Armadas devem ser empregadas. Não há espaço para confusão que dê azo a interpretações mais extravagantes desses marcos legais. As Forças Armadas se destinam “à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, como determina o art. 142 da Constituição. Portanto, um seminário sobre defesa nacional, como o organizado pelo Ministério da Defesa, tem fundamental importância, antes de tudo, por ampliar o debate sobre um tema que está longe de estar restrito aos quartéis. A defesa nacional é um assunto de interesse de toda a sociedade, e esta deve ter uma visão clara sobre as condições republicanas para o emprego de suas Forças Armadas. Dirimir as contendas próprias da seara política não está entre elas.
Não por outra razão, a lei determina que o Ministério da Defesa submeta à apreciação do Congresso a Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro Branco de Defesa Nacional, o que ocorreu em julho deste ano. As Forças Armadas são os meios pelos quais se executam as altas diretrizes de defesa e soberania definidas pela sociedade por meio de seus representantes. A elas devem se ater os planejamentos estratégicos de cada uma das Forças singulares. O comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa, salientou muito bem a necessidade de preparação da Força Naval para o cumprimento de sua missão constitucional diante da “multiplicidade de ameaças” no século 21, que é absolutamente distinta do contexto que marcou grandes guerras do passado. O brigadeiro Antônio Carlos Bermudez, comandante da Aeronáutica, ressaltou a necessidade de inserir o Brasil no mercado global de defesa ao apresentar o planejamento estratégico da Força Aérea, em especial com a inauguração do Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão. O diálogo permanente entre as Forças Armadas e a sociedade, por meio de fóruns como os realizados pelo IREE e pelo Ministério da Defesa, é vital, por um lado, para a compreensão do papel dos militares na democracia e, por outro, para que a sociedade também possa ter mais clareza sobre a importância da defesa nacional.

Impacto da minha página na plataforma Academia.edu nos 30 dias desde 15/10 a 14/11/2020 - Paulo Roberto de Almeida

 Impacto da minha página na plataforma Academia.edu nos 30 dias desde 15/10 a 14/11/2020:


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