O trabalho a seguir foi preparado para uma publicação coletiva, que acabou não sendo publicada, e não tenho notícias de que o será em breve:
4199. “Antiglobalismo”, Brasília, 20-22 julho 2022, 9 p. Contribuição a uma nova edição do "Dicionário dos Antis: a cultura brasileira em negativo"; enviado em 22/07/2022. Inédito.
Antiglobalismo
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor (www.pralmeida.net; pralmeida@me.com)
Contribuição à 2ª edição do Dicionário dos Antis: a cultura brasileira em negativo.
Antiglobalismo não é um termo muito conhecido da opinião pública brasileira, justamente por não ser muito disseminado fora de um círculo restrito de iniciados nas artes conspiratórias de uma suposta ameaça de um “governo mundial manipulado por um grupo fechado de grandes milionários progressistas e pelos movimentos esquerdistas”, segundo um de seus mais conhecidos propagadores no Brasil, o já falecido polemista Olavo de Carvalho. O termo, assim como a sua raiz – globalismo – talvez tenha existido efemeramente, apenas durante a ascensão, curta euforia e rápido declínio durante a vida breve do bolsolavismo diplomático, o assim chamado período, de janeiro de 2019 a março de 2021, de domínio ideológico dos discípulos de Olavo de Carvalho sobre a política externa brasileira. Mas ele já vinha sendo usado e abusado há bem mais tempo, justamente em função dos artigos desse ideólogo, nos quais ele pretendia interpretar a essência do fenômeno:
O globalismo não tem finalidades essencialmente econômicas ou mesmo político-militares: é todo um conceito integral de civilização, uma verdadeira mutação revolucionária da espécie humana, incluindo a total erradicação das religiões tradicionais ou sua diluição numa religião biônica universal cuja expressão mais visível é o movimento da ‘Nova Era’. (Carvalho, 2006)
O termo se tornou mais frequente no debate público depois da assunção do governo Jair Bolsonaro, mais especificamente a partir da escolha do seu primeiro chanceler, um obscuro diplomata respondendo pelo nome de Ernesto Araújo, um devoto discípulo do já citado autodenominado “filósofo”, um antigo comunista convertido em obcecado arauto do anticomunismo mais extremado, depois de passar pela astrologia e pelo islamismo (talvez um expediente para construir um “harém” temporário). Esse guru do governo Bolsonaro – pelo menos enquanto durou sua primeira fase ideológica, antes deste se converter ao realismo político do Centrão – não foi, contudo, o inventor do termo, mas apenas um dos propagadores pouco imaginativos das teorias conspiratórias que frequentam o debate público desde praticamente os tempos da Revolução francesa, o vulcão criador das teorias políticas mais resilientes da modernidade, estendendo-se até a atualidade.
(...)
Ler a íntegra neste link:
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