Velhos instintos guerreiros de volta à superfície?
A Europa ocidental conquistou e dominou o mundo quase inteiro desde o final do século XV até o início do século XX. Nesse longo período, o continente também viveu em guerras contínuas, monarquias e impérios entre si e contra nações e impérios em terras distantes. O colonialismo europeu também provocou guerras entre países distantes pelas suas divisões arbitrárias de fronteiras e etnias, até hoje redundantes.
Depois, tendo provocado duas guerras globais na primeira metade do século XX, ela se cansou desses morticínios e se entregou aos dois superpoderes do momento, durante as quatro décadas da primeira Guerra Fria. Tratou do seu próprio bem-estar e sob o guarda-chuva nuclear dos EUA. Durou mais quarenta anos.
No século XXI, a China renasce em toda a sua pujança antiga, e dois autoritários da antiga Guerra Fria retomam a agressividade unilateral das velhas aventuras coloniais, sendo que a Segunda Guerra Fria se dá entre o poder hegemônico do século XX e a nova potência econômica, talvez militar, do século XXI.
Os dois antigos adversários da primeira Guerra Fria parecem hoje singularmente unidos na mesma agressividade contra o liberalismo político, contra a integração social, a diversidade cultural, com foco na recusa de regras e princípios multilaterais que tentam reduzir o uso da força nas relações internacionais.
No caso da potência hegemônica, já em declínio relativo, pode tratar-se de fenômeno passageiro, vindo de um presidente completamente à margem dos padrões usuais da democracia americana. No caso do neoczar, é uma recusa da sua antiga preeminência mundial e o deslocamento para a condição de potência menor, talvez até vassala do novo Império do Meio, restaurado em sua superioridade durante séculos na vanguarda da criatividade e inovação tecnológica.
Tanto o presidente demencial quanto o neoczar saudosista representam o principal foco de desordem mundial e de ameaças à paz e segurança dos demais países.
O Brasil, como potência média e interesses nacionais voltados para a integração regional na América do Sul, não deveria, a qualquer pretexto, vincular-se a um ou outro desses grandes poderes em suas eventuais fricções temporárias ou conflitos estruturais. Preservar sua autonomia decisória em política externa e total independência e autonomia em face dessas tensões externas aos nossos interesses nacionais, deve ser o foco e o núcleo de uma diplomacia sensata e compatível com os objetivos de desenvolvimento econômico e social.
Não tenho certeza de que essas características de velhos padrões de atuação externa da nação estejam sendo seguidos de forma coerente no atual governo, guiado bem mais por considerações partidárias e também ideológicas do que por valores e princípios da diplomacia tradicional.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/12/2025
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