Sentimento de viver uma grande figuração diplomática
Governo e oposição no Brasil vivem uma intensa campanha cada vez mais acirrada de propaganda não apenas de um contra o outro, mas de ambos contra a população, que tratam como se fosse uma clientela submissa aos argumentos enviesados preparados pelos marqueteiros.
O governo dispõe dos canais oficiais e de milhões e milhões de verbas de publicidade. A oposição se articula nas redes sociais, disparando milhares de msgs e vídeos também recheados de mentiras vergonhosas.
Na esfera que a minha de interesse pessoal, e que foi meu objeto de trabalho durante décadas, constato os vieses deliberados expressos na propaganda diplomática, ressaltando triunfos exagerados e omitindo de maneira vergonhosa o apoio objetivo do governo ao criminoso de guerra, já procurado por crimes contra a humanidade no caso dos sequestros contra crianças ucranianas remetidas para adoção ilegal na Rússia.
Constato a total imoralidade do silêncio do governo sobre os crimes sendo repetidamente perpetrados pelas forças russas de ocupação. Não apenas silêncio, mas colaboração ativa com os crimes de guerra, sob a forma de importações maciças de combustíveis e fertilizantes russos, que sustentam o esforço de guerra dos invasores contra o povo da Ucrânia.
A diplomacia perdeu, pelo menos neste caso, qualquer sentido moral, o que me é insuportável contemplar.
Estou certo que dezenas de colegas diplomatas partilham desse sentimento, mas não ousam se manifestar por medo de represálias ou de censura direta. Eles também vivem uma grande figuração em torno de uma política externa novamente “ativa e altiva”, quando ela só consegue ser tacanha e submissa a interesses que não são os nossos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29/12/2025
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