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sábado, 5 de março de 2022

Mikhail Bulgákov: o maior literato e dramaturgo simbolista russo (autor desconhecido)

Recebido de um amigo, em 5/03/2022, sem indicação de autoria; antes que se perca, registro o texto, pois ele é muito instrutivo.

Paulo Roberto de Almeida

Bulgakov, o ucraniano: o fantástico que espelhou a desagregação do socialismo e a criação de Putin!


 Foi a geração dos grandes artistas e intelectuais da década de 1890 que produziu o maior literato e dramaturgo simbolista russo: Mikhail Bulgákov

Ele era dono de um simbolismo todo especial, definido por Franz Roh, em 1925, como “realismo mágico”, e quase meio século depois, adotado pelos principais escritores latino-americanos sob regimes autoritários, como Cortazar, Vargas Llosa, Garcia Marques e Bioy Casares. 

O ucraniano Bulgákov insinuava literariamente as coisas, os homens, as situações e a realidade em que vivia. Como numa espécie de contraponto ao realismo de um Pasternak, trouxe o fantástico para o mundo soviético e a metáfora daquilo que seria o mundo pós-soviético.

 

O quarto moscovita onde residia o escritor Mikhail Bulgákov com sua esposa ficava no corredor de um prédio senhorial, coletivizado após a Revolução. Um dia, a administradora do imóvel, de tão ansiosa quase arrombou a porta de seu quarto pela manhã, anunciando que alguém no Kremlin estava ao telefone. Ainda sonolento, Bulgákov atendeu: 

“Agora o camarada Stalin vai lhe falar”. 

Deveria ser uma brincadeira, e ele bateu o telefone, que, no entanto, voltou a soar, insistente. Do outro lado, a voz branda e adocicada do “Pai dos Povos” disse ao escritor: “Como vai, camarada Mikhail Afanasievich? Li sua carta, talvez tenha razão em algumas coisas, mas o camarada deve estar com nojo de nós. Está pedindo para deixar o país [...]”. Bulgákov sentiu o golpe, uma possível sentença de morte, e respirou fundo antes de responder-lhe: “Eu tenho pensado muito ultimamente, mas pode um escritor russo viver longe da pátria? Não, não pode. ” 

Stalin o retrucou de imediato: “Tem razão. Se quer ficar conosco diga-me se ainda deseja trabalhar no Teatro de Arte”. Perante a afirmativa, o líder prosseguiu: “Envie um requerimento para o teatro, agora eles o aceitarão. E precisamos nos encontrar para conversar”. 

Bulgákov animou-se: “Quando, camarada? ”. Respondeu-lhe Stalin: “Vamos ver, vamos ver”. Bulgákov tentou inúmeras vezes novo contato com o líder soviético, mas foi em vão. Escreveu-lhe nova e novamente sem nunca obter outra resposta. 

Quiçá, o grande recado que ele teria para Stalin estaria contido na obra-prima em que ele se debruçaria nos últimos de dez anos de vida, o romance O mestre e Margarida. Entretanto, o romance permaneceu escondido até mesmo de sua esposa e dos amigos mais próximos, vindo à luz somente no princípio do ano de 1960, sendo publicado trinta anos após a morte do escritor!

Pois foi esse romance que permitiu que a literatura soviética ganhasse novas e desafiadoras cores. Pode-se mesmo dizer que, com sua publicação, o próprio Simbolismo se revolucionou!

 

Bulgákov, nascido na Ucrânia, jamais se considerou russo; era médico quando eclodiu a Primeira Guerra; nacionalista alistou-se como voluntário na Cruz Vermelha, atuando no front de 1916 a 1917. Quando explodiu a guerra civil após a Revolução Russa, ele serviu como médico no Exército Branco. No entanto, ao contrário de seus irmãos, um ano após o início dos combates, abandonou a contrarrevolução e decidiu se integrar ao Socialismo e permanecer na Rússia Soviética.

Cansara-se para sempre de conviver com a morte e a violência, definia-se por tratá-las apenas metafisicamente, pela linguagem. Larga para sempre a medicina e torna-se jornalista. Em 1921, muda-se para Moscou, onde inicia o trabalho de escritor e teatrólogo. Publica vários trabalhos durante a década de 1920, até que por volta de 1926 começa a sofrer acusações de comportamento literário antissoviético. 

Como frutos de sua magia criativa, seus escritos eram a essência de um simbolismo modernista que nada tinha a ver com o “realismo socialista”. Não tardou muito para que suas críticas ao sistema soviético, advindas de metáforas, provocassem reações.

A primeira execração pública veio através do Izvetia quando Larissa Reissner, a mulher-símbolo do socialismo soviético, acusou Bulgákov de traição à pátria, num artigo intitulado “Contra o banditismo literário”. A seguir, foi Lunatcharski, que no Rabotchaia Moskva conclamou: “Derrotemos o bulgakovismo! Desarmemos o inimigo de classe no teatro, no cinema e na literatura”.

Imediatamente, o romance D’yavoliada foi retirado de circulação. O conto “O ovo fatal” não encontrou editor que o publicasse e A guarda branca (que nada tinha a ver com a guerra civil e que era publicada em fascículos pela revista Rossiia) levou o periódico ao fechamento.

 

Bulgákov, mesmo proibido de editar, preparou um novo livro em segredo, destinado a ser uma sátira mordaz e agressiva ao mecanicista conceito de o “homem novo soviético”, Coração de cãoum ser do futuro!

Coração de cão foi escrito em 1925, mantido escondido dentro de um forno por décadas e apenas publicado na União Soviética em 1987, com a Perestroika. Um cientista especializado em rejuvenescimento faz uma experiência em um cão vadio, depois de ganhar sua confiança. O professor realiza vários transplantes e manipulações genéticas, e, no futuro, produz um homúnculo chamado Polygraf Polygrafovitch Sharikov: o mais arrogante, perfeito e acabado idiota com que qualquer burocrata poderia ter sonhado! Mal pela própria desumanidade canina!

Como Polygraf se auto intitula amante do proletariado, o professor vê-se perseguido por comitês e comissões estatais proletárias, deslumbrados com o cão que se transformara em “um homem novo”,numa experiência de laboratório que pensavam em centuplicar e reproduzir ao infinito. 

A vida muitas vezes imita a arte. Polygraf Polygrafovitch Sharikov constitui um exemplar literário que a vida buscou imitar, na figura de Vladmir Putin, quase um século depois!

 

A censura e a impossibilidade de publicar obrigaram Bulgákov a trabalhar na escrita e montagem de peças teatrais. Submetendo-se a cortes, encenou Os dias de Turbini. Por incrível que pareça, Stalin, que já censurara seus livros, apaixonou-se pela peça, chegando a assisti-la 12 vezes. 

Não obstante, em 1929, outro jornal soviético estampou: “Os teatros se libertam das peças de Bulgákov”. 

A partir desse momento, sua carreira estava destruída; toda e qualquer manifestação de trabalho intelectual do artista foi proibida. Sem nem mesmo registro sindical, pois o Sindicato dos Escritores Proletários retirara sua carteira, Bulgákov e a mulher chegaram a passar fome, coletando restos de comida pelas ruas. Em desespero, apelou a Górki para que ao menos conseguisse uma autorização para eles viajarem para o exterior, a fim de se reunirem com os irmãos em Paris. 

“Tudo me foi proibido, estou na miséria, acossado, em completa solidão”.

Em 1930, ele escreveu, aconselhado pelo amigo, o teatrólogo Zamiatin, uma longa carta à burocracia soviética e a Stalin. Em um de seus trechos, confessa que: 

a luta contra a censura, seja esta qual for e qualquer que seja a autoridade, é meu dever de escritor, como o são meus apelos à liberdade de imprensa. Sou um adepto fervoroso dessa liberdade e suponho que um escritor que pensasse em demonstrar que ela não lhe seria importante, este seria como um peixe que declarasse não necessitar de água. 

Stalin leu e, provavelmente, conversou com Górki. Em seguida, realizou aquela ligação telefônica que pegou de surpresa o escritor. Como consequência dela, no dia seguinte, o teatrólogo foi recebido de braços abertos no teatro e nomeado diretor-assistente. No entanto, apesar de seu trabalho, os projetos que realizou não alcançaram um sucesso maior, sendo constantemente submetidos a cortes e censuras, outras vezes a apupos de jovens konsolmols.

Por interferência de Górki, ainda atuou algum tempo no Teatro Bolshoi como roteirista, mas demitiu-se depois de seus roteiros não terem sido produzidos. Até mesmo suas adaptações de peças clássicas, como as de Shakespeare, foram censuradas e recusadas.

Na pobreza em 1936, durante o clima terrível dos processos de Moscou, Bulgákov tentou uma jogada de mestre. Se por um lado, ele segredou à esposa “é minha esperança de sobreviver”; por outro, nutria esperanças de que Stalin, um dia, ainda se desembaraçaria dos demônios burocráticos que o impediam de ser “um homem justo”. Ele acreditava sinceramente no Grande Líder. 

Escreveu uma peça teatral que denominou de Batum, tendo como referência um porto do mar Negro onde, em 1902, Stalin comandara uma greve terrivelmente reprimida pelo czarismo. Stalin seria o grande herói. Com a atriz Helena Chilovskaia, sua terceira esposa, parte com toda a direção do teatro para a preparação da montagem, naquilo que se pretendia ser uma homenagem ao sexagésimo aniversário do comandante. No meio do caminho, entretanto, uma ordem originada de Moscou fez com que todos retornassem. 

Convocado, Bulgákov soube que o partido considerava inaceitável que Stalin fosse exposto no teatro como um “herói romântico”, dizendo palavras e situações inventadas pelo teatrólogo. 

Foi ao desespero. Escreveu para um amigo: 

“Nos últimos sete anos conclui dezesseis obras de diferentes gêneros, e todas se perderam. Em minha casa há trevas e uma absoluta falta de perspectivas, nem velas posso mais comprar”. 

A seguir, o fundador do realismo mágico russo desenvolveu uma doença neurológica grave e degenerativa, que o deixaria praticamente cego e sem movimentos voluntários, conduzindo-o à morte, em 1940. 

Nesse período, em que pesem todos os sofrimentos e dificuldades, trabalhou com o auxílio da esposa todos os dias e noites na obra-prima iniciada em 1928, O mestre e Margarida, cujo primeiro manuscrito fora por ele mesmo queimado em 1930, por medo da N.K.V.D.. 

A primeira impressão do livro sem cortes ocorreu somente em 1974. Foi um incrível sucesso! O antigo apartamento do escritor em Moscou, no qual se passa parte da trama, virou local de culto por parte da juventude soviética. No final da década de 2000, o apartamento foi transformado no Museu Bulgákov.

 

O Mestre e Margarida, na URSS de ontem e nos dias de hoje.

O romance trata do combate metafísico entre o bem e o mal, a inocência versus a culpa, do consciente e do inconsciente, da ilusão e da verdade, e, fundamentalmente, da liberdade de espírito num mundo autoritário, assim como da irresponsabilidade daqueles que, embora tenham autoridade, tentam fugir ou negar a realidade dos fatos.

A epígrafe é tirada do Fausto, de Goethe, que influencia todo o desenvolvimento do roteiro. Principia com a pergunta de Fausto a Mefistófeles: 

“[...] mas, quem é você, afinal? ”. Mefistófeles responde: “Sou a parte da força que quer sempre o mal, mas sempre faz o bem”.

O realismo mágico de Bulgákov nos conduz a diversas possibilidades interpretativas: humor ácido, profunda alegoria místico-religiosa, sátira profunda da Rússia soviética. Talvez ele seja um pouco de cada uma dessas alternativas. Do que sem dúvida a obra trata é da clara superficialidade das pessoas em geral, principalmente da burocracia e da intelectualidade que escreve apenas o que “as massas devem ler”. 

A Moscou de 1929 é visitada pelo diabo, com o nome de Wolland. Mas como o diabo nunca chega só, acompanha-o um séquito de fiéis seguidores, como Koroviev, também chamado de Fagote (tal qual o instrumento musical); um enorme gato negro, Bieguemot ; o anão Azazello, o auxiliar Abadon e uma mulher em forma de bruxa, Hella, nua e gelada.

Wolland é um visitante estrangeiro, mas um estrangeiro que tudo sabe dos russos e da Rússia, sendo que em momento algum se propõe a ser um opositor de Deus. A verdade é que o diabo chega do nada à Moscou de 1929 e pune todos os que cruzam com o seu séquito, meio a esmo, porém acertando sempre na mesquinharia e na covardia humana que ele mesmo cita como as piores das fraquezas da carne.

Já os agentes do demônio Wolland andam em Moscou, surpreendendo a população com seus atos e desesperando a burocracia do regime, que tenta explicá-los racionalmente, cientificamente. A polícia tenta prendê-los, mas fracassa de imediato. 

Como muitos soviéticos afetados pelo diabo pedem para serem mantidos em celas blindadas e outros em clínicas psiquiátricas, a polícia conclui, de forma racional, que eles foram vítimas de um bando de hipnotizadores capazes de agir a distância. Seria essa uma reprodução das confissões absurdas dos processos de Moscou?

A mais famosa citação do livro é “os manuscritos não queimam”. Constitui uma clara referência à censura e tem cunho autobiográfico, pois os primeiros manuscritos de O Mestre e Margarida, apesar de queimados pelo próprio autor em função do medo, reviveram em nova versão. É a consciência que não pode ser anulada pela ação de burocratas e censores, porque, de alguma forma, a liberdade de criação construirá sempre um espaço e sobreviverá.

O Mestre do romance, como tanto os fizera Bulgákov, escrevera um livro que não foi aceito pela crítica. Então, ele se interna em uma clínica para loucos. Margarida, sua paixão, aceita uma oferta dos assistentes de Wolland, que a transformam em bruxa, e ela voa, invisível, por Moscou em uma vassoura. Sua primeira ação foi destruir o apartamento de um dos críticos de arte que haviam aniquilado a carreira do Mestre. Depois disso, voa para o sul e passa até pela Ucrânia, terra natal do escritor! 

Mas Margarida volta a Moscou e aceita uma proposta de Koroviev: ser a anfitriã de Wolland em um baile, o “baile dos cem reis”; uma espécie de “Noite de Walpúrgis”, à la Fausto. Como todos os que seguem de forma irrestrita as ordens de Wolland, a bruxa Margarida será recompensada. 

Como recompensa ela recupera a vida do seu amor, o Mestre.

O romance também estabelece uma interessante correlação entre Jerusalém, a Parúsia cristã, e Moscou, a Parúsia socialista. São dois capítulos especiais em que, com tintas de um Tolstói, Bulgákov estabelece um realismo puro: no primeiro, Wolland narra o interrogatório e a condenação de Jesus por Pilatos, por ele presenciada, e, ao final, o Mestre escritor liberta Pilatos de seu pesadelo condenatório de Jesus, que não é Deus, mas sim, “humano, profundamente humano”, através da ficção. No romance, o apóstolo Mateus se encontra com Wolland, diz-lhe que Jesus leu o romance do Mestre e pede para o demônio dar-lhe a paz. 

Então, o Mestre abandona o hospício para alienados e vai viver com Margarida em um refúgio. A paz lhes é garantida. Quem sabe, um dia, lhe seria permitido ser editado e lido?

 

Alguns insistem em verem no diabo Wolland uma metáfora de Stalin, mas isso é provavelmente uma interpretação equivocada. Wolland é muito mais que Stalin, é ele e toda a burocracia estatal que se encastelara no poder, destruindo dia a dia, como que pela ação de um demônio, o socialismo. 

E que, no seu estertor, criaria um Polygraf Polygrafovitch Sharikov, na figura de Vladmir Putin, o autocrata russo do século XXI!

 

Por que Vladimir Putin já perdeu esta guerra - Yuval Noah Harari

 Por que Vladimir Putin já perdeu esta guerra

Yuval Noah Harari


“Com menos de uma semana de guerra, parece cada vez mais provável que Vladimir Putin esteja caminhando para uma derrota histórica. Ele pode ganhar todas as batalhas, mas ainda assim perder a guerra. O sonho de Putin de reconstruir o império russo sempre se baseou na mentira de que a Ucrânia não é uma nação real, que os ucranianos não são um povo real e que os habitantes de Kiev, Kharkiv e Lviv anseiam pelo governo de Moscou. Isso é uma mentira completa – a Ucrânia é uma nação com mais de mil anos de história, e Kiev já era uma grande metrópole quando Moscou ainda não era uma vila. Mas o déspota russo contou sua mentira tantas vezes que aparentemente ele mesmo acredita nela.


Ao planejar sua invasão da Ucrânia, Putin podia contar com muitos fatos conhecidos. Ele sabia que militarmente a Rússia supera a Ucrânia. Ele sabia que a Otan não enviaria tropas para ajudar a Ucrânia. Ele sabia que a dependência europeia do petróleo e do gás russos faria países como a Alemanha hesitarem em impor sanções rígidas. Com base nesses fatos conhecidos, seu plano era atingir a Ucrânia com força e rapidez, decapitar seu governo, estabelecer um regime fantoche em Kiev e enfrentar as sanções ocidentais.


Mas havia uma grande incógnita sobre esse plano. Como os americanos aprenderam no Iraque e os soviéticos aprenderam no Afeganistão, é muito mais fácil conquistar um país do que conservá-lo. Putin sabia que tinha o poder de conquistar a Ucrânia. Mas o povo ucraniano simplesmente aceitaria o regime fantoche de Moscou? Putin apostou que sim. Afinal, como ele explicou repetidamente a qualquer pessoa disposta a ouvir, a Ucrânia não é uma nação real, e os ucranianos não são um povo real. Em 2014, as pessoas na Crimeia dificilmente resistiram aos invasores russos. Por que 2022 deveria ser diferente?


A cada dia que passa, fica mais claro que a aposta de Putin está falhando. O povo ucraniano está resistindo de todo coração, conquistando a admiração do mundo inteiro – e vencendo a guerra. Muitos dias sombrios estão por vir. Os russos ainda podem conquistar toda a Ucrânia. Mas para vencer a guerra, os russos teriam que controlar a Ucrânia, e eles só podem fazer isso se o povo ucraniano permitir. Isso parece cada vez mais improvável de acontecer.


Cada tanque russo destruído e cada soldado russo morto aumenta a coragem dos ucranianos de resistir. E cada ucraniano morto aprofunda o ódio dos ucranianos pelos invasores. O ódio é a mais feia das emoções. Mas para as nações oprimidas, o ódio é um tesouro escondido. Enterrado no fundo do coração, pode sustentar a resistência por gerações. Para restabelecer o império russo, Putin precisa de uma vitória relativamente sem derramamento de sangue que levará a uma ocupação relativamente sem ódio. Ao derramar cada vez mais sangue ucraniano, Putin garante que seu sonho nunca será realizado. Não será o nome de Mikhail Gorbachev escrito na certidão de óbito do império russo: será o de Putin. Gorbachev deixou russos e ucranianos se sentindo como irmãos; Putin os transformou em inimigos e garantiu que a nação ucraniana daqui em diante se defina em oposição à Rússia.


Em última análise, as nações são construídas sobre histórias. Cada dia que passa acrescenta mais histórias que os ucranianos contarão não apenas nos dias sombrios que virão, mas nas próximas décadas e gerações. O presidente que se recusou a fugir da capital, dizendo aos EUA que precisa de munição, não de carona; os soldados da Ilha das Cobras que mandaram um navio de guerra russo “vá se foder”; os civis que tentaram parar os tanques russos sentando-se em seu caminho. Este é o material de que as nações são construídas. A longo prazo, essas histórias contam mais do que tanques.


O déspota russo deveria saber disso tão bem quanto qualquer um. Quando criança, ele cresceu com uma dieta de histórias sobre as atrocidades alemãs e a bravura russa no cerco de Leningrado. Ele agora está produzindo histórias semelhantes, mas se colocando no papel de Hitler.


As histórias de bravura ucraniana dão determinação não apenas aos ucranianos, mas ao mundo inteiro. Eles dão coragem aos governos das nações europeias, ao governo dos EUA e até mesmo aos cidadãos oprimidos da Rússia. Se os ucranianos se atrevem a parar um tanque com as próprias mãos, o governo alemão pode ousar fornecer-lhes alguns mísseis antitanque, o governo dos EUA pode ousar cortar a Rússia do Swift, e os cidadãos russos podem ousar demonstrar sua oposição a esse absurdo. guerra.


Todos podemos nos inspirar a ousar fazer algo, seja fazer uma doação, receber refugiados ou ajudar na luta online. A guerra na Ucrânia moldará o futuro do mundo inteiro. Se a tirania e a agressão vencerem, todos sofreremos as consequências. Não vale a pena permanecer apenas observadores. É hora de se levantar e ser contado.


Infelizmente, essa guerra provavelmente será duradoura. Tomando diferentes formas, pode muito bem continuar por anos. Mas a questão mais importante já foi decidida. Os últimos dias provaram ao mundo inteiro que a Ucrânia é uma nação muito real, que os ucranianos são um povo muito real e que definitivamente não querem viver sob um novo império russo. A principal questão deixada em aberto é quanto tempo levará para que essa mensagem penetre nas grossas paredes do Kremlin.”


Yuval Noah Harari é historiador e autor de Sapiens: Uma Breve História da Humanidade

As grandes metas econômicas da China em 2022 (CGTN)

 China 13:19, 05-Mar-2022

Graphics: What are China's targets in 2022?
CGTN

Chinese Premier Li Keqiang presented a government work report at the fifth session of the 13th National People's Congress in Beijing on Saturday, reviewing China's achievements in 2021 and setting targets for 2022.

The country's GDP reached 114 trillion yuan ($17.7 trillion) in 2021, ranking second in the world and accounting for more than 18 percent of the global economy, with a growth rate of 8.1 percent. 

The report said China accomplished the main targets and tasks for last year and got the 14th Five-Year Plan (2021-2025) off to a good start. 

In 2022, China has set its GDP growth target at around 5.5 percent. The other main projected targets include creating over 11 million new urban jobs, keeping a surveyed urban unemployment rate at no more than 5.5 percent, keeping the CPI increase – the main gauge for inflation – at around 3 percent and grain output of over 650 million tonnes. 

As the Chinese economy faces the triple pressure of shrinking demand, disrupted supply and weakening expectations this year, the premier stressed that the country must pursue progress while making economic stability the priority. 

Based on Li's government work report, a word map highlights the words and phrases most frequently appeared in the report. The frequency of word choices makes it clear that development is of paramount importance in this year's government work report, along with stabilizing the economy and employment. 

Li said the major tasks for this year are to "achieve stable macroeconomic performance and keep major economic indicators within the appropriate range, and keep the operations of market entities stable and maintain job security by strengthening macro policies." 

Additionally, the report highlighted stabilizing foreign trade and making greater use of foreign investment in the year ahead by ensuring observance of the negative list for foreign investment and national treatment for all foreign-invested enterprises in the country.

Noting that the regional comprehensive economic partnership has created the largest free trade zone in the world, Li said China will continue to pursue high-standard free trade agreements with more countries, and promote high-quality cooperation under the Belt and Road Initiative.

For domestic development, innovation will continue to be a key priority for China, with further efforts to boost the role of enterprises through tax deductions and bringing them together with research institutes, universities and end-users. 

Li promised the country will continue to grant an extra tax deduction of 75 percent on enterprises' research and development costs and will raise it to 100 percent for manufacturing enterprises.

Adam Tooze on Russian President Vladimir Putin, Ukraine, and the West’s economic war against Russia (Foreign Policy)

Q&A

 

‘This Is a Man Who, When Backed Into the Corner, Raises the Stakes’

FP columnist Adam Tooze on Russian President Vladimir Putin, Ukraine, and the West’s economic war against Russia.

By Cameron Abadi, a deputy editor at Foreign Policy

March 4, 2022, 1:14 PM

https://foreignpolicy.com/2022/03/01/sanctions-russia-central-bank-united-states-europe-ukraine-slam-dunk/ 

 

The West’s sanctions against Russia over its invasion of Ukraine are already leading to a crash in the Russian ruble that will affect the country for years to come. Those measures, specifically against the central bank, make it impossible for Russia to access the foreign currency reserves it had built up over the years.

But when do sanctions become more than just penalties and turn into economic warfare? That’s the question that informed much of the conversation I had this week with Foreign Policy columnist Adam Tooze for the podcast we co-host each week, Ones and Tooze.

We discussed whether the measures can be expected to bring an end to Russian President Vladimir Putin’s war—or whether they’re designed instead to instigate regime change.

What follows is a transcript of the interview, edited for clarity and length.


Cameron Abadi: Should we say now that the West is at war, by which I mean an economic war? Or is there such a thing in the first place: economic war?

Adam Tooze: I think this is a very profound question and a really serious one, and it’s been haunting me all week. Europe and the United States acting in concert launched this bomb of an economic measure—sanctions by central banks on another central bank. And that does create a condition, which, if you had to choose anyway, the phrase which I think brings home the gravity of the situation that we’re in is economic war, financial war. Because we are aiming to inflict massive damage on the Russian financial system, and by way of that, on the Russian economy in the middle of a shooting conflict, which is unresolved and the consequences of which are yet unclear. And we are clearly taking sides. To me, the difference is between sanctioning an assailant in the courts after an assault has taken place and us throwing ourselves into the fight on the side of the party that’s been aggressed against.


 CA: If we are calling this a kind of economic war, how does that compare to the methods of military war? Can this method of war be just as vicious and violent?

AT: I don’t think I’m establishing equivalence here. We should at all costs avoid that because the gravity of what’s happened in the Ukraine is not something that one should obfuscate. The point I’m making is really that this doesn’t seem to be any longer, strictly speaking, in the realm of sanctions.

For the entire conversation, and episodes in the weeks ahead on this subject and others, subscribe to Ones and Tooze on your preferred podcast app.

What I’m particularly worried about here is the alignment of thinking between the measures that we’re taking towards Russia and the measures that the U.S. has been taking for many years now towards Iran. Because the fundamental terrifying misunderstanding there is that Iran is really, in a sense, helpless in the face of these measures. Whereas Russia is anything but, as Putin demonstrated so forcefully on Sunday. [Russia’s] not an aspirant nuclear state that’s desperately struggling to develop a nuclear program in the face of Western opposition. [Putin] commands the second-largest nuclear arsenal in the world, and that used to be the dominating fact of global politics until the 1990s. And somehow in the last couple of decades, that has slipped our mind. So that’s really what I think is terrifying.

Yes, in the details, of course, it’s not really a shooting war. It’s legalistic; it’s forensic. In cases where countries are under the most severe economic pressure, it can be lethal. The blockade of Germany in World War I is estimated to have cost the lives of hundreds of thousands of people, if not more than that, through starvation and malnutrition. This sanctions regime doesn’t even come close to that. It specifically exempts the trade in food and medical supplies. But in the limit, this is coercion, and it has material impacts which are very real, and you could therefore qualify it as a kind of violence. But it would be metaphorical—we have to insist on that.


CA: Could there be economic blowback for the rest of the world from these sanctions on Russia—and what form would it take?

AT: At the global level, one shouldn’t exaggerate the significance of Russia as an economy. It is a major supplier of oil and gas, and nothing has been done so far to interrupt that. The interruptions which are occurring in the oil market had to do with private actors deciding they don’t want a piece of the Russian oil action anymore. But the Russian economy makes up just 1.7 percent of global GDP. If you were to cut Russia’s imports in half, it would be a fraction of a fraction of 1 percent of global GDP that was affected.

Where the impact is felt more severely is in Russia’s smaller and more dependent neighbors. Central Asia, for instance, is a place to watch because those economies and states are not just within Russia’s grip in terms of politics and security policy. Their workforces travel to Russia for work. There are 4.5 million workers from Uzbekistan in Russia, 2.4 million from Tajikistan, 920,000 from Kyrgyzstan. And all of those have been hit by these central bank actions because one of the responses of the Russian central bank was to stop foreigners from selling rubles and buying foreign exchange. And those workers are there not for the love of Russia but because they need to make remittances to their families at home. It’s the immediate environment that takes the hit.


CA: What about the effect on the U.S. dollar? In previous crises, the U.S. dollar acts as a safe haven for investors around the world. Are we already seeing that kind of thing in this crisis, and how would that affect the United States more generally—for example, with inflation?

AT: Investors did run strongly into the dollar, especially in that terrifying Sunday to Monday as the day began with a nuclear threat. The [U.S.] dollar did surge. This has a complicated set of impacts on the U.S., but first and foremost, one ought to stress that this has a hugely contractive effect on the global economy because, essentially, a huge part of global trade and finance is done in dollars. And if the dollar is rising relative to everything else, which it was in that early phase of the crisis, it exerts a squeeze on everyone. Everyone who owes dollars, who happens to need to settle dollar bills that week—whether it’s for oil or gas or anything else—all of those suddenly become more expensive as the dollar rises. So, it’s a very bad sign for the global economy generally if the dollar is rising sharply because it will produce financial pressure.

We know how the [U.S. Federal Reserve System] can respond to this. In extremis, it can fill the world with dollars, which is what it most recently did in the spring of 2020. The tension there, though, is that if the Fed floods the world with dollars, it counteracts its efforts to stabilize inflation at home.

Why the West’s economic response is entirely unprecedented—and the effects are impossible to fully predict.


CA: Could the global economic order itself be damaged as a result of the sanctions? One of the big reasons that the international economic system works are the legal norms that everyone trusts, including that central banks can place their deposits with one another without worrying. Will the underlying trust necessarily survive the crisis?

AT: Well, I think as far as Russia is concerned, evidently not. I think what this exposes is there’s a kind of hierarchy—that the rules of property, the relationship of trust among central banks, is conditional on the willingness of governments to respect what we, the West, regard as basic norms of international legality. The entire private property regime, all the intergovernmental civility and respect of law, is conditional on [the idea of] more basic respect for international boundaries, which Russia has absolutely violated.

And does that shift the parameters? Absolutely, it does. And … if you’re managing the Saudi Arabia Foreign Exchange Reserves or the China Foreign Exchange Reserves, those are the two countries in the list of large reserve holders that might conceivably find themselves in the sort of situation Russia is—a conflict between what they understand to be national security objectives and their economic interest. You would think that Saudi and China would be taking a long, hard look at where they put their money and who’s holding it. For the Saudis, that might be a soluble problem because they’ve got something like $450 billion worth of reserves, somewhat less than the Russians. But for China, it’s $3.5 trillion worth of assets. If you’re not going to put them into something which is either euro or dollars, where on Earth do you go? There isn’t an asset market really large enough to absorb that kind of money and to place it outside the reach of sanctions—I mean, the only other place you could put it would be China, and of course, that doesn’t help China, right? So that creates a very different set of tensions. It’s a dramatic moment.


CA: Just how bad could things get for the Russian economy? What are the worst-case economic and political scenarios here?

AT: Let’s take Iran as our benchmark instead to kind of get a view of how this might work out. The first thing which the phase that we’re in currently right now is the acute shock phase, in which you’re going to see financial panic, market closures, this repressed inflation as a result of the devaluation, which is quite serious. And that could take months to work its way through until they figure out exactly where the damage is, whose balance sheet has taken a hit. Then there’s the big recession that follows: a hit to confidence, to investment spending, to exports, to trade, and so on. Folks right now think that, by the end of this year, could amount to a recession of about 10 to 14 percent. Something like that would be reasonable. That would be half of Russia’s exports as a share of GDP, which is 28 percent. So that cut in half.

Then you get, however—and this is crucial, and this is what Iran’s experience shows us—adaptation, recovery, adjustment. In the end, Iran ended up around 7 to 8 percent below where it was before the sanctions hit. And then, of course, the question is: What is the longer-term impact in terms of the slowing down of growth? And that’s where the real shock and horror for many Russians comes in because they look to the future and they see a broken future at this point.


CA: It seems ordinary Russian people will suffer the most—and that’s the logic of the sanctions, to kind of instrumentalize the discontent of ordinary Russians?

AT: It is. And that’s obviously very ambiguous in its morality and in its politics. Those at the very bottom are going to suffer if we get generalized inflation, but they don’t have assets to speak of and their standard of living probably doesn’t include a lot of expensive imported goods. And so it’s probably really the Russian middle class who have a bit to lose and can really ill afford to lose it, unlike the oligarchs that will feel this pinch most. There’s a risk of a proletarianization of the Russian middle class that comes into view with these kind of sanctions. And I guess the theory may be that it’s also they that matter most in terms of mass politics. This is the educated, aspiring, upwardly mobile element of society that may feel that its hopes and dreams are being dashed at this moment.


CA: So you mentioned the economic elites: the oligarchs. Do they have ways of insulating themselves from this kind of general crisis? Are there ways that parts of Russia can even profit from this kind of isolation?

AT: Yes, there are. I mean, at the ultra-oligarch level, of course, they simply employ the very best tax avoidance specialists and, with various types of dark finance, they can bury assets very deep in the Caribbean or in Cyprus or Malta or wherever. And they will, to that extent, be able to rescue huge nest eggs through this entire crisis.

Sanctions also create markets and opportunities. Russia, for example, in response to Europe’s sanctions after the seizure of Crimea, imposed a boycott on the import of West European food. And so one of the results of this is a huge surge in the Russian poultry industry, a huge surge in the Russian dairy industry. And believe it or not, Russia now has its own brand of parmesan cheese. There is a Russian cheese industry as a result of the sanctions measures.


CA: Could these sanctions directly affect Putin’s prosecution of this war? Could they make it too costly for him to continue this invasion and end the war early that way somehow?

AT: If we’re asking whether the sanctions could stop the military offensive and halt the campaign due to shortages of some kind or not, I think that’s very unlikely. They have enough, surely enough equipment stockpiled to carry this through. I think the escalation of the violence on the battlefield, which is such a horrific reality in the current moment, is independent of this problem.

Insofar as the sanctions have a logic beyond the punitive, I think the idea is that they raise the pressure on the home front of the regime, to such a point that Putin has to change his mind. And I have to say, I find that vision, too, quite unrealistic. And so I’m a bit worried that—more than a bit worried—that there’s actually some sort of vision of regime change that is animating this. Because anything else implies that you’ve got to believe that the Russian population en masse will shift against Putin on the basis of economic deprivation. There’s no reason particularly to believe that’s the case. You’d also, then, have to believe that faced with that kind of opposition, Putin would choose to back down. And if we know anything about his character, it seems to point in the opposite direction—that this is a man who, when backed into the corner, raises the stakes and becomes more aggressive. And if that’s the case, then it would seem that the model is premised on a further assumption, which is that, when he really begins to escalate in an extremely dangerous fashion, that some members of the elite will intervene to stop him—which is essentially a story about regime change.

And that just seems to me a mountain of, as it were, imponderables and high-risk scenarios and assumptions that—I just don’t see what you would found that model on. But in the short run, I think it’s about inflicting pain and showing consistency and solidarity.


Cameron Abadi is a deputy editor at Foreign Policy. Twitter: @CameronAbadi

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

BRICS: alguns trabalhos mais importantes que escrevi sobre esse grupo que não serve para quase nada - Paulo Roberto de Almeida

 Eu já escrevi muito sobre o BRIC, o BRICS, cada um dos Brics, e nunca encontrei nada de mais significativo sobre essa coisa disforme, que não se sabe para o que serve.

Fiz uma seleção apenas dos trabalhos mais importantes: 


1) 'To Be or Not the Bric - Paulo Roberto de Almeida (Insight Inteligencia, 2008)' - https://t.co/gSa4TbsRzH ; https://www.academia.edu/72941097/PRAlmeida_BRICs_Inteligencia_Dez

2) “O papel dos BRICs na economia mundial (corrigindo alguns equívocos de compreensão)”, Brasília, 26 novembro 2006, 5 p. Postado no blog Diplomatizzando (28/05/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/os-brics-antes-de-existirem-os-brics.html).

3) “A democracia nos Brics”, Brasília, 25/01/2009. Blog Diplomatizzando (22/10/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/10/brics-pequeno-debate-sobre-seu-papel.html).

4) "O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico (perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global)”, Disponível na plataforma Academia.edu (link: http://www.academia.edu/5794579/086_O_Bric_e_a_substitui%C3%A7%C3%A3o_de_hegemonias_um_exerc%C3%ADcio_anal%C3%ADtico_perspectiva_hist%C3%B3rico-diplom%C3%A1tica_sobre_a_emerg%C3%AAncia_de_um_novo_cen%C3%A1rio_global_2010_).
 
5) “Pequeno debate sobre os Brics: comentando seu papel na ordem mundial”, Brasília, 22 outubro 2011, 6 p. Blog Diplomatizzando (22/10/2011; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2011/10/brics-pequeno-debate-sobre-seu-papel.html

6) “O futuro econômico dos Brics (se existe um...)”, 2012. Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2012/06/os-brics-e-seu-futuro-economico-paulo.html

7) Sempre desconfiado da solidez da coisa: “O grupo Brics no contexto da crise econômica mundial”, 2012. Postado no blog Diplomatizzando (26/08/2012; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2012/08/o-grupo-brics-no-contexto-da-crise.html

8) “Brasil no Brics”, 2014. In: Jorge Tavares da Silva (ed.), Brics e a Nova Ordem Internacional (Aveiro: Mare Liberum, 2015, p. 71-115). Disponível no Academia.edu (links: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_ e https://www.academia.edu/attachments/36883658/download_file?s=work_strip


A Rússia NÃO é uma economia de mercado - Eric Chaney (Institut Montaige)

  

Institut Montaigne, Paris – 2.3.2022

La Russie a-t-elle les moyens de sa politique ?

Eric Chaney

 

Pour justifier l’injustifiable, l’invasion de l’Ukraine quelques heures plus tard, Vladimir Poutine a longuement musé du côté de la Russie de la Grande Catherine et de l’erreur historique des Bolcheviks de ne pas en avoir maintenu l’unité. S’ensuit de cette vision historique que le Président russe s’estime en droit de rétablir une “Grande Russie” en subjuguant ses voisins. Mais la Russie de 2022 a-t-elle les moyens d’une telle politique ? La tentative de blitzkrieg subie par l’Ukraine semble montrer que les puissants moyens militaires russes ne sont pas nécessairement convaincants. Et derrière une armée et une diplomatie, il y a des femmes et des hommes, et l’économie qu’ils animent et dont ils vivent. C’est là que les doutes sur la soutenabilité de la politique expansionniste dessinée par Poutine sont les plus sérieux. Pour y voir plus clair, passons en revue quelques éléments des fondamentaux économiques de la Fédération de Russie.

 

Le PIB russe vaut 43 % de celui de l’Allemagne

 

Commençons par la richesse produite annuellement, telle que mesurée par le produit intérieur brut (PIB), probablement la mesure permettant les meilleures comparaisons internationales. En 2019, dernière année non perturbée par la pandémie, le PIB de la Fédération de Russie pesait 62 % du PIB français, 43 % de l’allemand, 12 % du chinois, et 8 % de celui des États-UnisLe PIB est important, car c’est la base fiscale sur laquelle un État peut financer son effort militaire. De ce point de vue, la Russie vit plutôt au-dessus de ses moyens, puisque son budget militaire de 2019 était estimé par l’Institut de Stockholm (SIPRI) à 3,8 % du PIB, contre 3,4 % pour les États-Unis et 1,7 % pour la Chine. On reste très loin du fardeau écrasant qu’il représentait pour l’URSS, dont les dépenses militaires atteignaient 15 % à 17 % du PIB dans les années 80 selon les estimations américaines, ce qui contribua de façon décisive à l’effondrement de l’économie soviétique.

 

Tant que la population l’accepte, le poids des dépenses militaires russes paraît soutenable. Le conditionnel est cependant de rigueur, car la pérennité de l’équipe Poutine dépend en partie du niveau de vie de la population et celui-ci est lui-même étroitement lié au prix du pétrole, dont les exportations constituent la principale source de revenu de la Fédération. Le cru 2019, à 64$ le baril, était plutôt bon pour la Russie, et pourtant, le revenu national par habitant mesuré en parité de pouvoir d’achat n’y atteignait que 47 % de l’allemand, 56 % du français, 65 % de l’espagnol et 83 % du polonais - oui, les Russes vivent nettement moins bien que les Polonais, et la dépréciation du rouble ne va faire qu’aggraver l’écart.

Si le prix du pétrole se maintenait au voisinage de 100$, le niveau de vie des Russes en profiterait, mais, comme ils l’ont durement appris à la fin des années 1990 (13$/bl en 1998) ou encore en 2016 (44$/bl), le marché pétrolier est très volatile, et les mauvaises années ont vite fait de suivre les bonnes. De ce fait, pour la population russe, la comparaison avec le niveau de vie des pays européens ne peut qu’être un profond motif d’insatisfaction, qui, en cas de baisse du prix du pétrole, pourrait rendre le coût des aventures militaires insupportable.

 

Les niveaux de vie moyens n’informent que très grossièrement sur les conditions de vie de la population, conditionnées par la distribution statistique des revenus. Le pouvoir économique et politique étant aux mains d’un clan restreint, il n’est pas étonnant que les inégalités de revenus et de richesses soient particulièrement élevées en Russie. Selon la base de données WID de Thomas Piketty et Emmanuel Saez, la part du revenu national allant au 1 % des plus hauts revenus était de 21,4 % en 2021 en Russie, contre 18,8 % aux États-Unis et 9,8 % en FranceLes inégalités de richesse sont encore plus fortes  : 48 % de la richesse en Russie est détenue par les 1 % les plus riches, contre 35 % aux États-Unis ou 27 % en France.

17 % de la richesse de la Russie était entre les mains de 0,01 % des ménages, qui parquaient environ la moitié de leurs avoirs hors de Russie.

La réalité est probablement encore plus inégalitaire, en raison du secret qui entoure le patrimoine des oligarques. Un article de recherche consacré aux détenteurs d’actifs financiers dans les paradis fiscaux, publié dans le Journal of Public Economy en 2018, lève une partie du voile. Les auteurs, dont Gabriel Zucman de Berkeley, montrent qu’en 2015, 17 % de la richesse de la Russie était entre les mains de 0,01 % des ménages, qui parquaient environ la moitié de leurs avoirs hors de Russie.

L’amère réalité russe est que les revenus générés par l’exploitation des richesses naturelles de la Russie vont essentiellement à ses dirigeants et leurs proches, la population n’en retirant que des miettes. Ceci explique l’impérieuse nécessité pour le clan Poutine de ne tolérer aucune opposition. Pour reprendre le cadre analytique développé par l’économiste Daron Acemoglu dans son ouvrage fondateur Le corridor étroit, dont le titre fait référence à un espace où les tensions entre appareil d’état et société entretiennent une dynamique propice à la liberté et la prospérité, la Russie était trop loin du corridor lors de l’effondrement de l’URSS pour avoir une chance d’y entrer. 

 

Pétrole: principal revenu. Gaz: principale richesse

 

En 2019, la Russie produisait 12,3 % du pétrole extrait dans le monde, à égalité avec l’Arabie Saoudite, distancés seulement par les États-Unis (18 %). Plus important, ses exportations de pétrole, 8,4 millions de b/j la plaçaient à égalité avec l’Arabie saoudite (8,5mb/j) et au-dessus des États-Unis, dont la production est essentiellement consommée sur le marché intérieur. En 2019, avec un baril à 64$, le pétrole rapportait 190 milliards de dollars à la Russie. À 100$ le baril, la recette monterait à 306 milliards de dollars, soit 18 % du PIB ! En comparaison, les ventes de gaz fossile, qui ont atteint un record en 2021 à 62 milliards de dollars, contre 179 milliards de dollars pour le pétrole, sont plus modestes.

La hiérarchie est inversée pour les réserves. Estimées à 108 milliards  de barils pour le pétrole, soit le tiers des réserves saoudiennes, les réserves russes ne dureraient que 25 ans au rythme d’extraction courant.

En revanche, les réserves de gaz de la Fédération sont gigantesques, comptant pour 20 % du stock mondial, contre 17 % pour l’Iran, 13 % pour le Qatar, 7,2 % pour le Turkménistan et 6,7 % pour les États-Unis. Au rythme d’extraction du moment, les réserves russes pourraient tenir près de 60 ans. Or, les pays engagés dans la décarbonation de leurs économies et encore dépendants du charbon, comme l’Allemagne et la Chine, misent sur le gaz, qui émet moitié moins de CO2 que le charbon à puissance thermique équivalente.

Les réserves de gaz de la Fédération sont gigantesques, comptant pour 20 % du stock mondial.

Le gaz est donc, pour la Russie, bien plus stratégique que le pétrole. Jusqu’à présent, le gros des exportations se fait par gazoducs, même si les géants Gazprom ou Novatek investissent dans la liquéfaction, de façon à pouvoir servir le marché mondial plutôt que de dépendre d’accords de long terme bilatéraux. En 2021, le GNL représentait 12 % de la valeur des exports de gaz russe.

 

Mais le gaz est aussi un facteur de faiblesse structurelle

 

La principale richesse de la Russie devrait être son capital humain, doté entre autres d’un solide niveau scientifique. Le score PISA de la Russie en 2018 (482) est comparable à celui des États-Unis (495) ou de la France (494). Les physiciens et les mathématiciens russes parviennent à se maintenir aux premiers rangs mondiaux, malgré une importante fuite des cerveaux. Mais, comme ce fut le cas de l’URSS, mis à part les activités économiques liées à l’effort militaire - le nucléaire civil en étant dérivé - ce capital humain n’a pas permis l’émergence d’entreprises suffisamment compétitives pour croître sur le marché mondial, à la grande différence de la Chine. Alors que Pékin misait sur le marché et la concurrence pour que se développe un secteur privé innovateur et compétitif - du moins jusqu’au virage opéré récemment par Xi Jinping - la main mise d’une poignée d’oligarques sur l’économie a réduit à la portion congrue les opportunités offertes aux Russes les plus talentueux et les plus entreprenants.

Vue sous cet angle, la rente gazière risque de bloquer la société pour longtemps, puisqu’elle permet à la clique au pouvoir de s’y maintenir, de bénéficier d’immenses revenus, et d’en redistribuer ce qu’il faut lorsque le mécontentement devient dangereuxAlors que Deng Xiaoping avait bien compris que sans l’énergie créatrice de l’économie de marché et l’importation des technologies occidentales, la Chine n’avait aucune chance de sortir de la misère (quitte à serrer la vis une fois le processus bien enclenché), les dirigeants russes, toutes factions confondues, ont tenu un raisonnement différent  : oui à la technologie occidentale, qu’ils avaient d’ailleurs coutume de piller illégalement du temps de l’URSS, mais non à un marché concurrentiel, puisque la rente pétrolière et gazière permet de se passer de cette étape risquée pour leur pouvoir.

 

La Russie n’est jamais véritablement passée à une économie de marché, comme le montre fort bien Daron Acemoglu dans l’ouvrage précité. La manipulation des privatisations, par le jeu des “prêts pour actions” en 1995, a rapidement abouti à la concentration des actifs les plus rentables, l’extraction des matières premières, entre quelques mainsMais la gestion catastrophique des finances publiques et l’explosion de la masse monétaire liées à ces manipulations eurent vite fait de déclencher une grave crise monétaire avec assèchement des réserves en devises et profonde récession, encore aggravée par la chute des prix du pétrole (20$/bl en moyenne de 1995 à 2000).

Le passage du pouvoir d’Eltsine à Poutine avec à la clef l’élimination d’un clan d’oligarques par un autre, s’est également accompagné d’une profonde réforme de la gestion macro-économique du pays. La nomination à la tête de la Banque de Russie (BdR) d’Elvira Nabiullina, ancienne conseillère économique de Vladimir Poutine, en fournit un bon exemple. 

Le passage du pouvoir d’Eltsine à Poutine [...] s’est également accompagné d’une profonde réforme de la gestion macro-économique du pays.

Sous la direction de Nabiullina, la politique monétaire fut détachée des influences des oligarques et rationalisée. La gestion du rouble et des taux d’intérêt, fondée sur les réalités économiques et non pas sur tel ou tel intérêt, est devenue un cas d’école de bonne pratique, comme le montre les récentes décisions de la BdR, qui n’a pas hésité à hausser son taux directeur neuf fois depuis début 2021 pour contrer la montée de l’inflation et de plus de 10 points le 22 février pour contrer la chute du rouble. Aucune autre centrale dans le monde n’a fait preuve d’une telle détermination.

Également aidé par la remontée du prix du pétrole, le résultat est impressionnant : les réserves de change ont atteint 630 milliards de dollars (37 % du PIB) début février selon la BdR, une puissance de feu lui permettant en théorie d’intervenir pour soutenir le rouble sans crainte de manquer de munitions. 

… qui rend l’économie russe moins sensible aux aléas économiques et politiques

Parallèlement, la Russie a constitué un fonds de réserve souverain abondé par les recettes pétrolières et gazières, dont l’encours s’élevait à 175 milliards de dollars$ début février, soit 10 % du PIBMême si l’objectif du fonds est de financer les futures retraites et de soutenir le budget en cas de chute des recettes, sa taille, combinée à celle des réserves de change, contribue à la résilience de l’économie en cas de mauvaise conjoncture ou de sanctions économiques.

À ces amortisseurs financiers viennent s’ajouter une balance courante en large excédent (7 % du PIB en 2021, année exceptionnelle), et une certaine diversification du commerce extérieur: en 2006, les hydrocarbures représentaient 63 % des exportations totales, en 2021, cette part était tombée à 46 %. Du côté des importations, la part de l’Union Européenne est passée de 39 % en 2010 à 34 % en 2020, une modeste diversification au profit de la Chine, mais qui laisse la Russie néanmoins dépendante de l’Europe.

Dans ces conditions, on peut comprendre le mépris affiché par les dirigeants russes à propos des sanctions économiques que les pays occidentaux menaçaient de mettre en place avant l’invasion : à l’horizon d’un an, la Russie paraissait en effet avoir les moyens financiers d’absorber le choc de sanctions visant à réduire ses revenus.

 

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Para acessar a íntegra:

https://www.institutmontaigne.org/blog/la-russie-t-elle-les-moyens-de-sa-politique

 

Eric Chaney est conseiller économique de l'Institut Montaigne depuis janvier 2017. De 2008 à 2016, il est le chef économiste d’AXA pour ses activités mondiales. Il conseille également diverses entreprises, financières et non-financières, sur les questions économiques et géopolitiques, par l’intermédiaire de sa société, EChO. Au sein d’AXA Investment Managers, Eric dirige l’équipe Recherche et Stratégie d’Investissement et conseille la direction sur les potentialités de l’intelligence artificielle